Pessoalismos 7 [O Ideal Pagão]
"O ideal é a noção de que a Vida não basta. Pode considerar-se a vida como não bastando por uma de 3 razões: (a) por ser falsa, (b) por ser vil, (c) por ser imperfeita. São os modos [.] metafísico, ético e estético de encarar a vida e o ideal. São os conceitos budista, cristão (judaico) e pagão da existência. (...)
O ideal tem 3 formas: na sua relação com o universo - a Verdade; na sua relação com os homens - a Virtude; na sua relação consigo próprio - a Beleza. A Beleza é o Ideal Puro; é superior à Verdade e ao Bem porque é a própria substância do ideal, inaplicado e irrefracto. A Beleza é o que se prefere à vida, sem razão outra que a sua preferência.
O ideal pagão é o mais justo e acertado de todos, porque, assim como a relação fundamental entre o homem e o universo é a sensação, o conceito metafísico mais acertado é o que baseie o universo na sensação: portanto, o Misticismo, cujo ponto de partida é a crença na realidade da sensação, a «crença na sensação» (mais curtamente). Como a essencial relação entre os homens é a sociedade, ou a cidade, em que vivem, a essência da virtude está nas virtudes familiares e políticas. Como a essencial relação do ideal consigo próprio é o de ser uma afirmação de que a vida não satisfaz, a noção mais absoluta e pura do ideal é a de que a vida é imperfeita, sem se considerar as razões porque o é, se é por ser falsa, se é por ser vil, se por outra qualquer. Assim o ideal pagão, a que estas 3 formas correspondem, é o mais certo e justo de todos.
O ideal pagão é directo; os outros translatos e explicativos.
E o grego, amando a Beleza mais essencialmente do que a Virtude e a Verdade, prova a sua superioridade, porque demonstra o seu idealismo superior, pois que a Beleza seja, como revelei, a própria essência, a própria face do ideal.
O budismo é uma religião essencialmente científica, metafísica. A sua preocupação central é a Verdade. O budista despreza o mundo porque é falso. Se o acha também e às vezes vil ou feio, é porque, antes disso, o acha falso.
O judaísmo e a sua derivada, o cristismo, é uma religião sobretudo moral, rigorosamente messiânica e nacional; e se é tão radicalmente nacional e nacionalista (até ao ponto moderno do «velho Deus alemão») é que se baseia no facto político, mais do que em outro."
Ricardo Reis
O ideal tem 3 formas: na sua relação com o universo - a Verdade; na sua relação com os homens - a Virtude; na sua relação consigo próprio - a Beleza. A Beleza é o Ideal Puro; é superior à Verdade e ao Bem porque é a própria substância do ideal, inaplicado e irrefracto. A Beleza é o que se prefere à vida, sem razão outra que a sua preferência.
O ideal pagão é o mais justo e acertado de todos, porque, assim como a relação fundamental entre o homem e o universo é a sensação, o conceito metafísico mais acertado é o que baseie o universo na sensação: portanto, o Misticismo, cujo ponto de partida é a crença na realidade da sensação, a «crença na sensação» (mais curtamente). Como a essencial relação entre os homens é a sociedade, ou a cidade, em que vivem, a essência da virtude está nas virtudes familiares e políticas. Como a essencial relação do ideal consigo próprio é o de ser uma afirmação de que a vida não satisfaz, a noção mais absoluta e pura do ideal é a de que a vida é imperfeita, sem se considerar as razões porque o é, se é por ser falsa, se é por ser vil, se por outra qualquer. Assim o ideal pagão, a que estas 3 formas correspondem, é o mais certo e justo de todos.
O ideal pagão é directo; os outros translatos e explicativos.
E o grego, amando a Beleza mais essencialmente do que a Virtude e a Verdade, prova a sua superioridade, porque demonstra o seu idealismo superior, pois que a Beleza seja, como revelei, a própria essência, a própria face do ideal.
O budismo é uma religião essencialmente científica, metafísica. A sua preocupação central é a Verdade. O budista despreza o mundo porque é falso. Se o acha também e às vezes vil ou feio, é porque, antes disso, o acha falso.
O judaísmo e a sua derivada, o cristismo, é uma religião sobretudo moral, rigorosamente messiânica e nacional; e se é tão radicalmente nacional e nacionalista (até ao ponto moderno do «velho Deus alemão») é que se baseia no facto político, mais do que em outro."
Ricardo Reis
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