aforismos e afins

12 julho 2005

O Intelectual (3/10)

«Nunca tive ideias sobre um assunto qualquer, que não buscasse logo ter outras. Achei sempre bela a contradição, assim como criador de anarquias me pareceu sempre o papel digno de um intelectual, dado que a inteligência desintegra e a análise estiola. (...)

Tenho na vida o interesse de um decifrador de charadas. Paro, decifro e passo adiante. Não emprego nenhum sentimento. Mas eu não tenho princípios. Hoje defendo uma cousa, amanhã outra. Mas não creio no que defendo hoje, nem amanhã terei fé no que defenderei. Brincar com as ideias e com os sentimentos pareceu-me sempre o destino supremamente belo. Tento realizá-lo quanto posso.»

[Fernando Pessoa]

PS: the never ending story is finally coming to an end...

4 Comments:

  • É uma ideia! Interessante e possível!
    Ass: Abruta

    By Anonymous Anónimo, at 1:20 da tarde  

  • Penso que ele jamais conseguirá envolver-se num pensamento, ou ideia, sem o emprego de sentimentos.
    Similarmente acredito que ele não conseguirá não ter princípios, até porque com a tomada de informação existe sempre a sua valorização. A perda disto implicaria a perda da própria pessoa e do seu passado. (homem sem memórias..triste)
    Mas devo concordar na ideia do desafio do: porquê!

    By Anonymous Anónimo, at 6:14 da tarde  

  • Podemos sempre dizer que ele tem o sentimento de nao ter sentimentos... ou o sentimento de destruir as ideias. Ha sempre um paradoxo quando queremos ter sistemas axiomaticos completos e inteiramente coerentes (Godel).

    Eu acho que e' possivel NAO ter principios, no sentido que nao tens "principios morais". claro que tens os principios da "logica", da "gramatica", and so on.

    E concordo plenamente qunado dizes que isso seria em parte perder a "identidadE" - mas eu acho que o intelectual e' mesmo isso.

    Mas repara que esse "perder" nao e' nem perder para sempre, nem sequer perder momentaneamente - e' apenas "por de lado" para se "tentar" chegar 'a verdade "o mais objectiva" possivel.

    Sendo que a objectividade total e' impossivel, tentar ser IMPARCIAL (como diz WIlde) e' o que o intelectual procura.

    Mas e' como ir para um ringue de boxe. Depois do 12o assalto terminar, voltas a ter memoria e identidade e tudo.

    COm mais ou menos nodoas negras, sais feliz para a tua vida "completa". Mas um debate inteletual devia ser isso mesmo- so' luvas, so' suor, e nada de truques baixos.

    By Blogger T. M., at 6:29 da tarde  

  • Sim acho que deveria ter interpretado princípios como opiniões pré formadas. Pensei que ele pretendia levar a “coisa” mais à frente e defender deitar o edifício mental abaixo, levantá-lo descartando a memória (o vivido) apenas incrementando a lógica (processador). Ou seja seria algo como ter as experiências apenas para melhorar a performance do processamento.
    Donde se poderia assumir que passado x tempo o refazer da tomada de decisão estaria tão exercitado que levaria menos tempo que termos rotinas e hábitos (como resposta a sua situação similar a uma outra passada).

    By Anonymous Anónimo, at 8:44 da manhã  

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