aforismos e afins

08 novembro 2004

Paradoxos 2

1. Ainda inspirado pelo paradoxo de Russell [ver "Paradoxos 1"]: que sentido terá a seguinte afirmação A dita pelo sujeito X:

A - "Tudo o que eu digo é mentira."

Se A é uma afirmação verdadeira, isso implicaria que tudo o que o sujeito X diz é mentira. Como esse "conjunto" inclui a afirmação A, há uma contradição, dado que assumimos A ser verdadeira.

E se A for uma afirmação falsa? Neste caso, a negação de A é "Nem tudo o que eu digo é mentira" - ou, "Algo do que eu digo é verdade". Talvez a primeira reacção fosse dizer o "contrário" de A é "Tudo o que eu digo é verdade", mas isso não é correcto. Para que uma afirmação "geral" seja falsa basta [é suficiente]que exista um contra-exemplo. Por exemplo, se "Todos os homens têm menos de 2 metros de altura" é falsa, então "Pelo menos um homem têm mais de 2 metros de altura" é verdadeira.

Ou seja, no caso de a afirmação de facto ser falsa, isso não é logicamente impossível - desde que o sujeito diga "pelo menos uma verdade".

Portanto, este exemplo não é um verdadeiro paradoxo, mas apenas um "semi-paradoxo".

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2. E o que dizer da frase "Não faço comentários." (Pensemos também no magazine "no comment" que passa na Euronews).

Ao dizer "no comment" não estamos implicitamente a fazer um comentário? Ainda que seja um comentário "neutro" (no sentido de não comentar), isto é também uma forma de comentar.

O que isto ilustra é que os caminhos da lógica são muito exigentes, mas no dia-a-dia certas afirmações são toleradas, dada a compreensão universal que provocam.

Ou imaginamos algum político a dizer: "O único comentário que eu faço é que não tenho comentários. Quer dizer, isto é um comentário em si mesmo, portanto o que eu quero dizer é que não tenho quaisquer outros comentários para além deste: que não tenho comentários".

Ou lhe chamavam de maluquinho, ou dizia que tinha a mania que era intelectualóide... É a vida, como dizia o outro...