aforismos e afins

27 julho 2005

O silêncio

«"As pausas são tão música como as notas", explicava o maestro com um sorriso natural. (...) Que o silêncio também é música. Que o silêncio também se ouve. E o som valoriza o silêncio que se aproxima, tal como o silêncio valoriza o som que se lhe segue. (...) Porque o amor sabe falar com palavras, mas sabe também (sobretudo?...) falar com o silêncio. (...) mas entre duas pessoas que se amam, pelo contrário, nunca o silêncio é constrangedor, nunca é o vazio, nunca é a distância entre palavras. É um dizer de dentro, da alma, dos olhos, do fundo. E diz-se tudo. E ouve-se tudo. Em silêncio.» A ler no PÚBLICO online, ou aqui em baixo.

8 Comments:

  • "Há muitos anos, naqueles concertos de música clássica da televisão em que um maestro nos ia ensinando os caminhos menos evidentes do ouvir e do fruir, comecei a aprender como o silêncio também é música.

    Por vezes a orquestra, tocando, parava; mas não parava por qualquer incidente. Parava porque estava escrito na música que parasse. Que, por assim dizer, tocasse as "pausas" desejadas pelo compositor - e não as "notas". Que tocasse silêncio. Para que o silêncio se ouvisse e, depois, viesse de novo som.

    "As pausas são tão música como as notas", explicava o maestro com um sorriso natural. E lá mostrava como, no escrever música, se usam uns sinais (as notas) que duram um tempo, outros que duram dois tempos, outros três... E logo mostrava como, no mesmo escrever música, se usam igualmente uns sinais (as pausas) que duram um tempo, outros que duram dois tempos, outros três...

    Estas e aquelas, pausas e notas, tão necessárias umas como outras à totalidade da música. Ora som, ora silêncio. Que o silêncio também é música. Que o silêncio também se ouve. E o som valoriza o silêncio que se aproxima, tal como o silêncio valoriza o som que se lhe segue.

    Assim as palavras também, assim o falar, assim o dizer, o escrever. Há tantas palavras, há sempre tantas palavras, tanto barulho em volta, tanto ruído, tanta aparente necessidade de preencher o suposto vazio de uma folha em branco, ou de um olhar apenas olhar, ou de um momento em alguma companhia. E as palavras, de tantas, correm o risco de se ir corroendo ("Já gastámos as palavras, meu amor...", escreveu Eugénio de Andrade), de ir perdendo sentido próprio, substância, verdade, cor. E música. Mas música mesmo - lá está, música de notas e de pausas, música de sons e de silêncios.

    Valem-nos os poetas, o que seria de nós, e o que seríamos nós com as palavras, se não fossem os poetas! Porque eles, decerto em silêncio, procuram como ninguém a palavra, aquela, a única, a que diz o que nós sentimos, mas não sabemos dizer. E, ao fazê-lo, como dizia Ruy Belo (era?...), resgatam as palavras da erosão do seu gasto quotidiano, mecânico e banal, e devolvem-no-las com a pureza inicial que é a delas e que se tinha perdido no ruído. Por isso são poucas as palavras dos poetas.

    E para ler devagar, no meio de muito silêncio. Para que valham a pena e sejam de novo nossas - inteiras.

    Valem-nos os poetas.
    E vale-nos o amor, o que seria de nós, e o que seríamos nós com o silêncio, se não fosse o amor! Porque o amor sabe falar com palavras, mas sabe também (sobretudo?...) falar com o silêncio. Dizer tudo, dizer só o essencial, dizer-se a si - não só, mas com.

    Como alguém também já explicou, quando estamos com pessoas mais ou menos conhecidas, medianamente próximas, medianamente amigas, sentimos necessidade de encher o aparente vazio dos momentos em que a conversa pára; mas entre duas pessoas que se amam, pelo contrário, nunca o silêncio é constrangedor, nunca é o vazio, nunca é a distância entre palavras. É um dizer de dentro, da alma, dos olhos, do fundo. E diz-se tudo. E ouve-se tudo. Em silêncio.
    (Boas férias.)"

    JOAQUIM FIDALGO

    By Anonymous Anónimo, at 2:41 da tarde  

  • :) :) :) :)

    By Anonymous Anónimo, at 4:13 da tarde  

  • gostei do texto.

    para além da importância do silêncio na música ou do silêncio entre as palavras, também gosto das pausas na dança ou das imagens paradas nos filmes.

    para além disso acredito que só no silêncio, no isolamento conseguimos de facto retirar do lufa-lufa do quotidiano as coisas que realmente tem importância para nós...

    a sociedade de entretenimento que temos tem muito por onde não fazermos silêncio. a resistência tb passa por aqui.

    By Blogger ana, at 4:15 da tarde  

  • Gabs: I knew you'd like it, and most of all, understand it and feel it deep inside :)

    Ana: exacto. WE have to learn to slow down, and to learn how to enjoy the moment, and there's nothing like the beauty of sharing silence with someone. Abrandar o ritmo nao e' mandar a nossa sociedade 'as urtidas e ser preguicoso, e' apenas encontrar um equilibrio na nossa vida. Isto pode parecer uma grande "fatelice" de conversa de "auto-ajuda", mas nao e'. Ou melhor, ate' e', ou ate' "deveria ser". E' preciso e' pensar nas coisas como deve ser, em vez de so' procurar a leitura facil no que se le. Mas cada um e' livre para escolher a vida que leva. Isso e' sagrado.

    By Blogger T. M., at 4:19 da tarde  

  • «and to learn how to enjoy the moment, and there's nothing like the beauty of sharing silence with someone.»

    É isso!...Por acaso ainda um dia destes tinha esta conversa com um amigo: é tão bom não ter de procurar palavras para encher o silêncio...poder simplesmente usufruir dele (partilhá-lo, como dizes), sem constrangimentos e, mais que tudo, com prazer! (Na verdade, nesses momentos, nem se dá conta que o silêncio existe.... E só qd, de repente, caímos em nós que se percebe: «hmmm.....nao se dizia palavra há tempos!.. :) »)

    By Anonymous Anónimo, at 4:36 da tarde  

  • Gabs: lucky you, lucky you both :)
    Nao ha' muitos amigos assim, porque a cumplicidade e intimidade que isso requer e' muito grande. Por isso trata-o bem!

    By Blogger T. M., at 4:43 da tarde  

  • para estar bem no silêncio com alguém é preciso ter aquele confiança que o silêncio não vai ser confundido com o vazio total.

    é preciso não ter medo que o outro pense que não temos nada para dizer.

    é preciso achar que o outro vai gostar de nós mesmo que nós não tenhamos nada para dizer, mesmo que não tenhamos nada para o entreter.

    é preciso gostarmos de nós mesmos mesmo quando não temos nada para dizer a ninguém.

    silence IS sexy

    By Blogger ana, at 6:10 da tarde  

  • "silence IS sexy".

    Hmmm, gostei. Muito sexy isto que disseste. Very yummy. (emoticon de lingua de fora aqui).

    By Blogger T. M., at 6:18 da tarde  

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