aforismos e afins

30 outubro 2005

Uma questão de «direitos»

Soares irrita-se com Cavaco por este dizer que não é um político profissional, recordando que ele foi 1º ministro durante 10 anos, e terminando - em berros apoteóticos - com a pérola invejosa:

«Então porque tem direito à reforma de antigo primeiro-ministro

Incrível, esta deliciosa sugestão que Cavaco deveria renunciar à reforma por não se assumir como político profissional. É a visão
Robin-Woodesca desta esquerda. Soares não percebe que Cavaco sempre foi um professor, e as incursões que fez na política foram "excepções" a isso. O facto de elas terem sido prolongadas e exercidas em cargos de destaque não retira a "natureza-base" do homem, que sempre teve uma posição de auto-suficiência assente fora da política, ao contrário de Soares ou Santana, por exemplo.

De qualquer modo, ambos têm direito a interpretar a expressão «político profissional» com alguma subjectividade. O que é estranho é que Soares não perceba que esta forma de luta constante anti-Cavaco, com insultos e berros infantis, só o prejudica. Oxalá continue assim. Mas claro que isso não tem nada a ver com a lucidez dos seus oitentinhas - ai de quem refira a PDI! Deve ser mesmo das cócegas feitas pelos seus bichos carpinteiros.

PS1: o DN escolhe para título, em lugar de parafrasear Soares, o mais suave «Se não é político profissional porque recebe a reforma?» Não sei se estamos perante mais outro desvio editorialista, mas a palavra «direito» é essencial. E omitida.

PS2: a bem da verdade, acabo de verificar que o Público também opta por um título "ligeiro": «Soares diz que Cavaco é um político profissional». Não se percebe tanto temor, ainda para mais quando a salva de palmas maior aconteceu no momento invejoso. Deve ser o efeito das queixinhas de Soares aos media por estes andarem a "levar ao colo" o (então ainda não) candidato da direita.