aforismos e afins

18 novembro 2005

MST - um homofóbico inconsciente?

Sempre apreciei, quer na escrita, quer na TV, Miguel Sousa Tavares. Aprendi a mudar de canal ou a não ler o que escreve sempre que fala de tabaco ou de futebol. Hoje, a lista aumenta para três: MST é um homofóbico puro e duro, e que - como tantos outros - acha que não o é. Ele próprio diz "nunca descobri em mim, vários exames de consciência feitos, qualquer orientação sexual homofóbica". Espantoso! Eu a pensar que ser ou não homofóbico era uma questão de orientação "política", do foro das "ideias". Mas para MST, ser "homofóbico" é em si mesmo uma orientação "sexual". A ver se isto entra nos manuais de psicologia.

MST deturpa no seu artigo de hoje no Público o "episódio do beijo" que se passou no liceu de Gaia. E demonstra quão liberal é nestes assuntos. Tolerância sim, desde que não se façam quaisquer manifestações "afectivas" (as aspas cínicas são dele) em público. CAA - do Blasfémias, aprecia-o por "ir contra a corrente" e por ser uma voz isolada e frontal contra as "verdades consabidas". Bom. Ser do contra só para não ser politicamente correcto não me parece em si mesmo louvável - parece-me praticamente idêntico em termos formais. Já nem falo da honestidade intelectual que percorre o seu texto, certamente entendível à luz da lucidez que o invade quando fala de tabaco e futebol. Vejam os comentários a esse post e o que se diz no Da literatura e no Renas e Veados.

O ponto é muito simples: MST tem obviamente direito a ser homofóbico, mas não me parece que tenha direito a enganar os outros (já nem falo dele eventualmente se enganar a si próprio).
E essa pseudo tolerância de achar que uma pessoa não tem direito a expressar-se em público por isso poder atentar contra a "moral" dos outros é naturalmente válido... mas discutível, sempre que haja conflito de valores. A coerência de MST é bem patente se recordarmos a sacralidade que ele vocifera sobre o seu direito a poder fumar em qualquer lugar sem a mínima preocupação com os direitos dos outros. Ai de quem lhe queira tirar o "inalienável" direito a fumar "em público", com maior ou menor "exibicionismo", mesmo se "chocando" e incomodando a sua "plateia"! É que a bílis nunca foi nem será uma boa fonte para manter a coerência!

O mais supreendente é mesmo quando MST, para além de referir erradamente jovens de 14 e 15 anos (elas tinham 17 e 19), parece definir à priori qualquer acto público homossexual como sendo necessariamente exibicionista e com o intuito de chocar os outros, ao dizer "Duas miúdas de 14 ou 15 anos foram chamadas e repreendidas pelo conselho directivo da respectiva escola pelo facto de andarem a exibir a sua mútua atracção, através de beijos e apalpões, perante a plateia da escola." Estão a ver a coisa? Se todo e qualquer acto homossexual tem por definição o intuito de chocar, então não só é perfeitamente aceitável como será absolutamente imperativo que ele seja proibido em público.

Esperaríamos que MST tivesse alguma acrescida contenção verbal pelo facto de se referir a jovens (supostamente) com 14 e 15 anos. Sugerir que elas agem de forma exibicionista apenas porque algumas organizações ou "comunidades" o fazem demonstra um cinismo e uma desonestidade intelectual que roçam perigosamente a cretinagem e até a imbecilidade. E que, na essência, deslocam a soberania da escolha do indivíduo para o colectivo - algo que deveria ser suficiente para irritar qualquer liberal íntegro. Mas há silêncios que são cómodos. Não se vá pensar que se está a defender os "lobbies", ou o BE, ou, pior ainda, que se tem uma masculinidade dúbia, quando vista à lupa do bem portuguesinho e politicamente correcto (ei-lo!) transmontanismo grunho.

PS: Para uma desconstrução mais completa dos vários argumentos falaciosos e/ou mentirosos deste artigo de MST, aconselho que leiam com atenção este post.

5 Comments:

  • Não li o artigo, mas do que leio aqui, estou inteiramente de acordo contigo, recordando o que aqui te disse sobre o beijo de gaia.
    Um abraço
    a.

    By Blogger AMN, at 7:35 da tarde  

  • Imaginava que sim, caro... tx 4 letting me know anyway. E' bom saber que ha' mais liberais que nao so' concordam com estas visoes como nao tem medo de as dizer, sobretudo quando e' demasiado facil ve-las interpretadas de maneiras travessas por certas hostes conservadoro-marialvas, que gostam de se pavonear despeitadamente como donas e senhoras de certa masculinidade "pura", que no fundo nao passa de um absesso de proto-masculinidade algo ultrapassada e nao raro cheia de insegurancas, de que MST parece ser exemplo (a seguir). Entao quanto mais a norte, mais a coisa pia mais fino. E' o pais que temos. Enfim.

    Abraco,

    By Blogger Tiago Mendes, at 7:44 da tarde  

  • Ora nem mais.

    By Blogger /b/, at 6:10 da manhã  

  • Apoiado - quanto ao post e quanto ao comentário sobre a grunhice proto-masculina à direita, embora à esquerda a coisa ande também enraízada num grunho-lusitanismo profundo que perdura cá por estas bandas...

    By Blogger Susana Bês, at 8:52 da manhã  

  • Viva!! Não se pode apelidar a crítica dele como homofóbica...!! O problema que ele lança é acerca de um suposto enraizamento cultural...que ainda não existe e até aí tem toda a razão!!

    Paz*

    By Blogger Bola de Sabão Pragmática, at 2:04 da tarde  

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