aforismos e afins

14 novembro 2005

Os limites da ciência (2)

A discussão metafísica que redonda na incompletude dos sistemas axiomáticos e no problema da «auto-evidência» de certas teorias religiosas pode-se resumir nestas reflexões de Vergílio Ferreira:

O "problema":

As coisas são o que está aí sem mais significação. Mas o aparecimento do homem trouxe com ele a fatalidade do como e porquê. Assim ele inventou o mistério e levou o resto da vida a tentar explicá-lo. E é essa obsessão de explicar que transmite aos que vierem depois dele. É uma obsessão absurda. Mas sem ela, em que é que se distinguiria do boi ou da minhoca?

A "solução" [(im)possível]:

Vê se não insistes muito em perguntar porquê ou para quê, se não queres ficar paralítico. Porque a maior grandeza da vida tem o valor nela própria e não fora dela. Não se pode justificar a vida senão nela. (...) . Toda a cultura ou civilização assenta em pressupostos que não exigem uma demonstração e permanecem assim no intocável que é seu.

4 Comments:

  • estas passagens do Virgilio Ferreira parecem-me muito Heideggerianas...a vida nao encontra justificacao para alem dela propria. Muito bem!!! E a ciencia nao e uma actividade que pertence a vida? E se assim for sera que o objectivo dela e a Verdade ou contribuir para a vida? A nao ser que concebas que a procura da Verdade e um modo de vida (que o e), mas olha que as religioes tambem procuram a verdade...Esta e uma provocacao obviamente. Mas e apenas para recordar algo que o Rorty disse: o desejo de verdade e sobretudo religioso e se a Verdade for mais do que algo instrumental para a ciencia, entao ela transforma-se em religiao!

    Ass,
    Mistico Obscurantista

    By Blogger Joao Galamba, at 2:48 da tarde  

  • este tipo de religiao e visivel em atitudes persecutorias de ateus para quem o seu objectivo de vida e livrar os crentes das suas obscuridades. Antes de quererem contribuir para a felicidade dos tipos importa liberta-los do erro. E e aqui que a o ateismo se cruza com a religiao, inverte-a, mas nao a transcende.

    By Blogger Joao Galamba, at 2:50 da tarde  

  • O VErgilio (com "E" e nao com "I") e' um existencialista, claro que ias gostar dele :)

    Embora nao seja tao mistico, e de resto tenha sido ateu. Quanto ao teu "Mas e apenas para recordar algo que o Rorty disse: o desejo de verdade e sobretudo religioso e se a Verdade for mais do que algo instrumental para a ciencia, entao ela transforma-se em religiao!" eu nao acho que o desejo de verdade tenha que ser "religioso" (acho que percebo o que ele quer dizer) - isso e' uma questao de preferncias.

    Tambem nao acho que se nao for mais do que instrumentla, se torna religiao. Temos que separar as dimensoes da(s) coisa(S): ciencia e religiao.

    Quanto ao "este tipo de religiao e visivel em atitudes persecutorias de ateus para quem o seu objectivo de vida e livrar os crentes das suas obscuridades. Antes de quererem contribuir para a felicidade dos tipos importa liberta-los do erro." eu tenho uma vaga ideia de um tipo que andava na Nova e tinha uma certa mania de "iluminar" algumas mentes mais obscuras. Estas a ver, ou nao? :)

    By Blogger Tiago Mendes, at 5:34 da tarde  

  • Nestas discussões todas já não me lembro onde se falou de estética e evolução (se é que se falou...). Mas penso que este artigo do Conta Natura talvez meta mais alguma lenha na fogueira (como se precisasse, não é?)
    http://contanatura.weblog.com.pt/arquivo/2005/11/post_9.html

    By Anonymous Anónimo, at 5:08 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home