Ser | Estar
A diferença do «ser» para o «estar» é a diferença que há entre a consciência e a não-consciência do «eu». Um indivíduo só «é» se conseguir «ser», ao invés de apenas «estar». Há frases que nós ouvimos desde crianças e tão repetidamente que acabamos por nunca pensar nelas seriamente. Só agora julgo entender o que o poeta quis dizer com o «To be or not to be, that is the question». E esta questão fulcral vou-a repensando com Vergílio Ferreira, que a problematizou como poucos - e com uma angústia mais sóbria que a de Pessoa.
Há quem ache que este é um problema falso e eu acho que essa opinião está para além da crítica, porque cada um tem o direito a escolher para si os problemas que quer ter ou não ter (que resolver) na vida. A maioria das pessoas não «é»: «existe». «Está». «Anda por aí». Isso não tem mal nenhum, mas é preciso, se se tiver a pretensão de «saber», saber as coisas como elas «são», ou, e aqui podemos dizê-lo intersticiamente, como elas «aí estão». Pensar que se «é» quando se «está» é que me parece ofensivo para o «ser humano».
Em inglês e em francês é difícil exprimir o «ser» e o «estar» porque eles se dizem ambos nos verbos «to be» e «être». Eu acho que Shakespeare gostaria de ter sabido português para dizer antes isto:
«Ser ou estar, eis a questão.»
Há quem ache que este é um problema falso e eu acho que essa opinião está para além da crítica, porque cada um tem o direito a escolher para si os problemas que quer ter ou não ter (que resolver) na vida. A maioria das pessoas não «é»: «existe». «Está». «Anda por aí». Isso não tem mal nenhum, mas é preciso, se se tiver a pretensão de «saber», saber as coisas como elas «são», ou, e aqui podemos dizê-lo intersticiamente, como elas «aí estão». Pensar que se «é» quando se «está» é que me parece ofensivo para o «ser humano».
Em inglês e em francês é difícil exprimir o «ser» e o «estar» porque eles se dizem ambos nos verbos «to be» e «être». Eu acho que Shakespeare gostaria de ter sabido português para dizer antes isto:
«Ser ou estar, eis a questão.»
11 Comments:
Questão muito pertinente, principalmente nos dias de hoje... mas acho que antes de se "ser" é necessário ter consciência do "estar", um estou "aqui", ou melhor, um "aqui" estou pronto para "ser". Numa derivação cartesiana, poderia ser, "penso onde estou, logo posso ser".
By jmnk, at 12:25 da manhã
Ou ainda "sei onde estou, e é aí, porque penso, que posso ser."
Muito interessante o comentário, também acho que o "estar" precede o "ser", e mais que isso, tem de estar contido dele. É impossível "ser-se" sem que se "esteja" (conscientemente).
Gosto muito do "um «aqui» estou para «ser»". Palavras sábias, mais uma vez, caro jmnk. Obrigado pelo comment.
By T. M., at 12:33 da manhã
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By T. M., at 12:33 da manhã
ando estando. menos sendo, mais cismando.
ou a estar e a cismar?
pronta para ser?
se calhar, a diferença está não apenas no verbo, mas no tempo e modo.
texto muito bom, que me fez pensar. ainda pensando. a cismar...
By Daniela, at 11:49 da manhã
E eu lendo, relendo, saboreando seu comentário, meu bem, e sem cismar nem um pouco. :)
By Tiago Mendes, at 2:11 da tarde
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By Joao Galamba, at 1:40 da manhã
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By Joao Galamba, at 1:41 da manhã
Podiamos dizer que o "ser" do homem é um ser-com e ser-em. Ou seja a essência do homem é a existência (é um estar). Por isso a frase do jmnk é muito certeira: penso onde estou, logo posso ser. Mas é tudo menos Cartesiana, ela é Heideggeriana, e muito.
By Joao Galamba, at 1:42 da manhã
Sim, João, obrigado. Também me pareceu que não seria lá muito Cartesiana, mas fiquei-me pela ideia em si.
Algo surpreendentemente (talvez), o próprio Vergílio Ferreira insiste muito que o "ser" é uma "vivência", que eu prefiro ao tal "estar", e até me parece que "vivência" será ainda mais Heideggeriano do que o que tu regeriste. Mas isso saberás tu melhro que eu, e de qualquer forma eu fico-me pelas ideas "em si", dondo quer que elas venham...
Abraço.
By T. M., at 10:14 da manhã
João, fiz agora o link e publiquei o tal trecho em que ele fala dessa "vivência", no outro blog www.mydrishti.blogspot.com
Claro que antes de tudo há a linguagem... ele tem um trecho algo engraçado sobre o Rorty e o Deleuze, com o qual não sei se concordo totalmente, embora me sinta inclinado a fazê-lo. Quando mergulhar no W., aí é que vão ser elas. A ver se arranjo tempo.
By T. M., at 10:43 da manhã
tens razão joão a minha derivação cartesiana está mais próxima do dasein de Heidegger. Deveria ter escrito devaneio cartesiano.... :)
Obrigado pelas palavras
By jmnk, at 11:30 da tarde
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