aforismos e afins

26 junho 2005

Sexualidade

Um ensaio que já recomendei tanta vez e sem nunca me cansar. Por um dos mais influentes moral philosophers do séc. XX, Robert Nozick.

«THE MOST INTENSE WAY we relate to another person is sexually. Nothing so concentrates the mind (...) as the prospect of being hanged. (...) Sex is not simply a matter of frictional force. The excitement comes largely in how we interpret the situation and how we perceive the connection to the other. Even in masturbatory fantasy, people dwell upon their actions with others (...)

In the arena of sex, our very strongest emotions are expressed. (...) It is not only the other person who is known more deeply in sex. One knows one's own self better in experiencing what it is capable of: passion, love, aggression, vulnerability, domination, playfulness, infantile pleasure, joy. The depth of relaxing afterward is a measure of the fullness and profoundity of the experience together, and a part of it. (...)

The realm of sex is or can be inexhaustible. There is no limit to what can be learned and felt about each other in sex; the only limit is the sensitivity or responsiveness or creativity or daring of the partners. There always are new depths -- and new surfaces -- to be explored. (...) in sex one also can engage in metaphysical exploration, knowing the body and person of another as a map or microcosm of the very deepest reality, a clue to its nature and purpose.»

30 Comments:

  • De facto o ensaio é MUITO BOM!!!! É na exploração do corpo que nos perdemos; algo de metafísico se passa. Chamamos metafísico porque ainda não o compreendemos fisicamente.
    Para que serve o prazer? Não só o prazer mais fácil da fricção, mas também o outro, aquele que nos faz sentir que deixamos de ser pessoas.
    Como animais (às vezes) racionais, porque é que sentimos prazer?
    Para que serve?

    By Blogger jmnk, at 9:51 da tarde  

  • Ainda bem que gostaste, jmnk :)

    E ainda é para o compridote, mas acho que vale a pena ler, reler, imprimir, reimprimir, guardar uma cópia em arquivo, levar a outra connosco, ler a 2, partilhar, declamar, tudo isso, porque como dizes é uma descoberta, sempre.

    À tua pergunta - inteiramente legítima - sobre "para que serve o prazer", vejo "obrigado" a (re)citar o que já publiquei aqui do Pessoa:

    «O pior que há para a sensibilidade é pensarmos nela, e não com ela. Enquanto me desconheci ridículo, pude ter sonhos em grande escala. Hoje que sei quem sou, só me restam os sonhos que delibero ter.»

    Acho que a busca de prazer é natural no ser humano, pelas reacções químicas que despertam.

    Já a busca do "amor" acho que envolve questões mais complicadas, tanto que há anos que o Homem nao fala de outra coisa. :)

    Acho que no caso do amor, é inseparável (mas não exclusivamente justificável) com a temática da morte e da existência. Já o prazer é mais espontâneo, e procurá-lo-íamos mesmo que fossemos imortais.

    É, ponhamos assim, mais "biológico", e apenas a consciência o pode diferenciar, mas repara que mesmo sem consciência procuramos - tal como os animais - o prazer. O bebé que chucha o dedo, etc.

    By Blogger T. M., at 10:06 da tarde  

  • Tudo muito certo Tiago, mas a pergunta final era "Para que serve?"
    Em que é que nos é benéfico, como animais, sentir prazer?
    Porque é que a mutação genética que nos permite desfrutar do prazer, foi escolhida positivamente na Evolução do Homem?

    By Blogger jmnk, at 10:20 da tarde  

  • Não tenho resposta cabal, caro jmnk. Mas acho que uma resposta possível pode estar na inversão da prova. Porque razão não haveriam os animais de sentir prazer? POrque repara que sentir a dor é necessário, porque é isso que "sinaliza" feridas, etc, que os animais poderão ter em conta e lamber e isso tudo.

    Ora o prazer talvez sinalize apenas que a parceira (no mundo aniaml) nos satisfaz. Acho que é uma pergunta muito legítima mesmo, tenho que pensar mais sobre isso.

    Nos homens é simples: sem prazer a taxa de suicídios era gigantesca. Mas isso vem da consciência e da dificuldade em aceitar a morte.

    Quanto aos animais (não conscientes) acho que o prazer tem muito a ver com a socialização e a reciprocidade de mostrar que se gosta de estar juntos. As crias leoas têm prazer a brincar, é indiscutível.

    Acho que sem prazer, mesmo não tendo dilemas existenciais, os animais sobreviveriam menos, porque teriam menos "gosto" em viver, menos gosto em brincar, e daí menos incentivos a caçar. E a procriar.

    Questão difícil, que se calhar par aum biólogo é muito simples. Há aí algum??

    By Blogger T. M., at 10:36 da tarde  

  • não sou biólogo... sou químico... às vezes tb serve :)

    o problema é que a questão (ainda?) não tem resposta.
    Se extrapolares para o prazer que o Homem sente em ver um quadro, ler um poema, ou ouvir uma música a pergunta torna-se ainda mais complexa... e é aí que começa a ficar interessante :) think about it...

    By Blogger jmnk, at 10:48 da tarde  

  • Ok, "bolo" a autoridade toda para o meu caro, então :)

    Quanto à questão dos livros, da música, etc, acho que é uma questão algo enviesada de ver as coisas. Porque a questão tem a ver com a química do prazer nos animais em geral. O homem existe há pouco tempo e há muito menos tempo que o homem tem prazer nos livros, música, etc. Mesmo que vás buscar outros exemplos, sabes bem que os nmilhares de anos que temos às costas sáo muito pouco em termos de "evolução".

    Os genes são muito preguiçosos :)

    Mas que a química tem um papel fulcral em tudo, isso tem. Até o amor, lembro-me de ler algures na Revista (oops, a Unica) do Expresso, leva a certas reaações químicas bem definidas. E o sexo, etc. POr isso é que se diz que o chocolate é uma espécie de metadona do sexo :)

    By Blogger T. M., at 10:54 da tarde  

  • Questões muito interessantes...E complexas...E pergunto eu «tem de servir para alguma coisa?»..Nem tudo nesta vida tem um propósito, e mais ainda: nem tudo tem resposta! Mas são essas perguntas, a que não sabemos responder que paradoxalmente nos cativam mais e nos estimulam a continuar à procura.
    Quanto à questão dos animais...O meu cão simplesmente é muito mais feliz qd está a fazer alguma coisa que lhe dá prazer (seja esfregar-se numa piscina de lama!, ou comer o biscoito favorito que é, nada mais nada menos, que tendão de pénis de boi!)..Acho q o Tiago tem razão: têm mais «gosto» em viver!
    Quanto a nós, e particularmente à questão da arte levantada agora pelo jmnk...é ainda mais complexo pelo facto de, p.ex., algumas pessoas terem prazer a ouvir Webern, e outras não sentirem absolutamente nada, ou ainda outras sentirem repugnância. É tudo muito, muito subjectivo... (Tb acredito que haja cães que não gostem daqueles biscoitos, embora a veterinária garanta que todos deliram- qq coisa a ver com o cheiro, que é absolutamente repugnante- mas enfim, parece-me uma questão bem menos cativante..mais «primária»)

    By Anonymous Anónimo, at 11:00 da tarde  

  • Química, sem dúvida que a questão passa por aí... Não é à toa que dizemos referindo-nos a alguém «Há uma química!...» Realmente entendemo-nos, encaixamos, melhor com umas pessoas que com outras...vá-se la explicar...

    By Anonymous Anónimo, at 11:06 da tarde  

  • não quero ser chato, mas o post é para puxar a conversa para o SEXO meus caros! SEXUALIDADE! :D :D

    By Blogger T. M., at 11:09 da tarde  

  • os genes são preguiçosos e egoístas.
    Se lemos livros há pouco tempo, a verdade é que o prazer do sublime sempre existiu.

    Os mecanismos do prazer estão bem estudados pela química e biologia, a sua razão é que não

    By Blogger jmnk, at 11:22 da tarde  

  • O prazer sempre existiu, de acordo. O "sublime" é que só apareceu quando o homem ganhou consciência e "inventou" o conceito de "sublime" (antes ainda de inventar a palavra para isso). Ou seja, há que não confundir o que é uma reacçao química que existe também noutros animais e o que desencadeia essa reacção.

    Mas eu quero é falar de SEXO, náo há aí ninguém que me ajude? Isabeeeeeeeeeela, acode-me! :)

    By Blogger T. M., at 11:31 da tarde  

  • Lol. Então fala, que a malta segue-te ;)

    By Anonymous Anónimo, at 11:44 da tarde  

  • Tiago, acho que o biológico muitas vezes se transcende. O sexo é uma prática poderosa, tão poderosa e tão abrangente que por vezes, transcende o físico. Entendermo-nos muito bem sexualmente, com alguém, de forma continuada, pode tornar-se extremamente "perigoso" do ponto de vista dos sentimentos, se queres a verdade, porque a certa altura, sem querermos mais do que isso, sem darmos por nada, tudo se transformou e já não é só físico. E isto não vale só para as mulheres, mas para os homens, também. Porque como diz o autor que citas, o sexo é uma forma de conhecimento singular. E, às vezes, conhecemos os outros e gostamos do que conhecemos.
    Mas o sexo, quando é bom, é bom, ponto final e deve fazer-se sem medos, sem pensar muito. Nessa perspectiva não interessa o que virá, mas o que existe. Se não é bom, mais vale estar quieto! Não sei se te ajudei muito.

    By Blogger Isabela Figueiredo, at 1:38 da manhã  

  • Isabela, subscrevo palavra-por-palavra o que escreveste. O mito de uma relação "estritamente" sexual (ou "física") é isso mesmo, um mito. É impossível isso perdurar, porque os sentimentos batem à porta. Ou há desinteresse e as coisas acabam, ou se continuam é inevitável surgir não só o envolvimento como esse afrodisíaco poderoso que dá pelo nome de "posse"... Ninguém consegue amar (no sentido lato) alguém sem sentir uma pulsão de posse sobre o objecto amado, ainda que o seu código de valores seja, digamos, libertino, e "justo", no sentido de permitir a libertinagem também ao parceiro.

    Grazie per tutti gli comments.

    By Blogger T. M., at 1:58 da manhã  

  • era isso mesmo que eu queria demonstrar... que muitas vezes o sexo (ou o prazer) transcende o físico, é metafísico.

    By Blogger jmnk, at 10:37 da manhã  

  • Isso mesmo, agora releio o que escreveste. O unico ponto foi que tu questionavas "racionalmente" (o que e' natural e nao ha outra forma de o fazer) o porque dessa metafisica. Eu acho que isso esta superiormente proposto no ensaio, e tem a ver com o sexo ser um espaco - por definicao - para tudo. O conhecimento de nos, do outro, de nos atraves do outro, e nesse micro-cosmos, o conhecimento de "tudo" o que ha para conhecer. O "por definicao" tem a ver com o facto de estarmos completamente "expostos" e abertos 'a maior das intimidades possiveis. E como tal, o que nao pudermos descobrir no sexo, possivelmente nao descobriremos em qualquer outro lado...

    PS: paradoxo: entao porque e' que os filosofos de ditos "intelectuais" tem em geral uma vida sexual miseravel? :)

    By Blogger T. M., at 10:46 da manhã  

  • A isso posso responder eu !!! Porque passam demasiado tempo enamorados dos livros, claro !!!!! Os filósofos em geral têm sérios problemas em se aceitarem enquanto corpo, é um problema da filosofia de tradição continental, que até muito tarde separou a categoria do intelecto de tudo quanto fosse orgânico. Felizmente, chegando o século XX, no despontar de uma filosofia mais despojada de adjectivos literários, tipos como o rebelde Nozick, Bertrand Russel, e outros têm menos vergonha de se assumirem como carne. Devemos muito a Darwin e Freud nesse aspecto, que nos tiraram do pecado agostiniano e nos devolveram à "inocência" da animalidade original. Sobre a sexualidade recomendo a leitura de "Why I'm not a Christian" do Russell. Gostaria ainda de dizer que apesar disto, alguns houve ainda antes do séc XX que tentaram, dentro do que a moral académica e social lhes permitiu, regressar ao corpo, como por exemplo Ludwig Feuerbach, através do "leitmotif" da Sensibilidade. Mas tratou-se sobretudo de mensagens subreptícias, que para bom entendedor ... De qualquer modo, são muitos séculos de muita reflexão sobre o assunto, mas nem sempre de experimentação suficiente ...

    By Blogger Ginja, at 2:24 da tarde  

  • Sobre o prazer através de objectos estéticos (e na verdade, o corpo do Outro também pode proporcioanr prazer estético, ou não ?), há uma explicação filosófica interessante na Crítica da Faculdade de Julgar, do Kant. Mas esse era dos tais que tinha uma vida sexual miserável ....

    By Blogger Ginja, at 2:26 da tarde  

  • ginja: adorei o teu comentario, grazie! se calhar vou po-lo a post... tens razao nisso tudo (es de filosofia?) e o livrinho do Russel e' uma leitura que recomendo muito tambem... a par com o outro "Em busca da felicidade" ou algo assim. Parece um titulo de "auto-ajuda" e e' um bocado! mas com "qualidade", digamos :)

    Freud e Darwin, em acordo absoluto. O que mais me irrita a mim nem e' os filosofos, sao os padres que insistem em fazer comentarios sobre coisas que nunca experimentaram! acho que e' intelectualmente repugnante ouvir essses senhores a quere "doutrinar" sobre sexo, sinceramente (deixo de lado os casos de partilha com joves e criancinhas, e isto nao e' para ofender ninguem, e' a verdade dos factos).

    By Blogger T. M., at 2:29 da tarde  

  • espera... mas o Kant tinha uma vida sexual OPTIMA! nao nos podemos e' esquecer da sua moral sexual, e dar-lhe o direito (nao sendo paternalistas!) de ele levar a vida que levou. Era inactiva, sim. E' um facto. Mas chamas "miseravel" ja' e' um juizo de valor, e eu acho que prefiro o facto.

    E tambem honra-lo por ser coerente com os seus imperativos categoricos. Agora que o homem nao podia bater muito bem da bola (nao olhem a 2as interpretacoes disto) enquanto ser humano "completo" acho que isso e' inegavel!

    By Blogger T. M., at 2:31 da tarde  

  • Sim, tirei o curso de filosofia, mas tem estado na gaveta: a música é muito mais divertida !!! Tive profs. que correspondem a esse protótipo de filósofo de que falas, mas de uma maneira tão flagrante que até fazia pena . São uma espécie de crianças-velhas e isso reflecte-se em tudo quanto fazem e na maneira como lidam com as pessoas à sua volta. Mas depois gabam-se de ter passado 3 anos em Paris a estudar filosofia. Leia-se : 8 horas por dia de clausura na biblioteca da Sorbonne . Isto era lá vida para mim !

    By Blogger Ginja, at 8:03 da tarde  

  • Olha e se gostas de filosofia, espera pelo novo blog que está prestes a ser apresentado ao mundo ... subversivo é dizer pouco :P

    By Blogger Ginja, at 8:05 da tarde  

  • eh lá, se é subserviso ainda te vou pedir para publicar um postzito ou outro de vez em quando :)

    (tou a brincar)

    Sim, música antes da filosofia, como o próprio Nietzsche diria.

    By Blogger Tiago Mendes, at 9:35 da tarde  

  • «A arte é a missão suprema e a actividade essencialmente metafísica da vida humana» (Nietzsche) =)

    (Qt a esse novo blog, conhecendo [algumas d] as «peças», certamente será um estrondo!..)

    By Anonymous Anónimo, at 10:20 da tarde  

  • E falando em Nietzsche, e seguindo o tema do prazer, já agora, aqui fica a visão dele:
    « Não é a satisfação da vontade que é a causa do prazer (- eu quero combater esta teoria superficial- a absurda falsa moedagem psicológica das coisas próximas-), mas é o facto de que a vontade quer ir mais longe e tornar-se senhora do que se encontra sobre o seu caminho. O sentimento de prazer reside precisamente na insatisfação da vontade, na incapacidade da vontade para se satisfazer sem adversários e sem resistência».
    Para deitar mais lenha na fogueira do debate =) (e está um pouco na linha do comment do jmnk no outro post- do Oscar Wilde)

    By Anonymous Anónimo, at 10:27 da tarde  

  • puxa, vocês dão cabo de mim! :) :)

    eu que até sou assim um "cadito" Nietzschiano não concordo com o que ele diz, mas para ser franco não tenho a certeza de o ter compreendido 100%. Queres defendê-lo?

    (de qq forma agradeço a citação :))

    By Blogger Tiago Mendes, at 10:34 da tarde  

  • Já está pronto :

    www.peterofpan.blogspot.com

    Enjoy ....

    By Blogger Ginja, at 12:08 da manhã  

  • muito bom o teu pedro flautista, ginja! vou ler com calma e depois inundar as tuas caixas com provocações q.b.

    e a brincar a brincar este post já caminha para os 30 comments! um tipo desprevenido que entre aqui ainda pode ficar a pensar que isto é um blog assim meio sexual, não pode ser, pá!!!

    :) :)

    By Blogger T. M., at 12:15 da manhã  

  • Obrigados, em nome de todos os que lá escrevem.... O Peter é uma coisa que já existia entre alguns rebeldes do meu curso. Decidimos agora dar-lhe alguma visibilidade e então estamos a experimentar a blogosfera. Peter of Pan foi o nome proposto para um departamento alternativo ao dept Pedro Hispano, que é como se chama o da fac. letras ....

    By Blogger Ginja, at 10:30 da manhã  

  • nao te esquecas de adicionar o Peter of Pan ao teu profile blogger para a malta ir la espreitar mais facilmente ;) soon i'll invade the blog with comments. ;)

    By Blogger Tiago Mendes, at 10:37 da manhã  

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