aforismos e afins

31 outubro 2005

Hora de simplificar

Como acho que as simplificações são essenciais nas ciências sociais, embora discorde quase sempre de João Miranda, aprecio a sua arte de simplificar. Parece-me que no caso referido dos horários de Verão há um exagero óbvio, provavelmente motivado pela sempre omnipresente vontade de mostrar como o Estado em tudo se intromete. Porque qualquer horário que se escolha prejudicará inevitavelmente "milhões de interesses individuais".

Seja mudar o horário de Verão ou mantê-lo. O tempo é, por natureza, e apenas, uma convenção. Dizer que o "o estado modifica milhões de contratos sem consentimento das partes" é verdade - mas sê-lo-ia em qualquer caso. De resto, as pessoas são livres de não "acatar" isso, e viver no seu horário preferido.

Apenas têm que ter em conta os outros. Mas isso é natural em sociedade. No limite, esta poderá insurgir-se contra tal "tirania" e viver no fuso que gosta. Só terá que ter em conta os horários "reais" das repartições públicas e dos telejornais. Dizer que esta prática é equivalente à desvalorização da moeda parece-me uma má analogia. Confundir efeitos reais com nominais não é honesto.

2 Comments:

  • Por acaso, até há uma analogia que pode ser estabelecida entre a hora legal e a politica monetária (ou melhor, entre a reacção de alguns liberais a uma e a outra):

    O JM considera a mudança de hora "intervencionismo estatal", quando, a partir do momento em que existe uma "hora legal", é tão intervencionismo o Estado mudar a hora como não a mudar.

    O mesmo se passa com a moeda - penso que a maioria esmagadora dos liberais considera "intervencionismo" a ideia do governo (ou o banco central) expandir/contrair a moeda de acordo com a conjuntura. No entanto, a partir do momento em que existe uma moeda com curso legal, é tão intervencionista o Estado expandi-la/contrai-la como manté-la fixa.

    Curiosamente, no séc. XIX, nos tempos do padrão-ouro (ou seja, quando havia uma moeda com curso legal e quantidade fixa), os anarquistas criticavam a intervenção estatal (ou seja, o padrão-ouro) por causar "escassez de moeda" (tal como hoje os liberais criticam a intervenção estatal por causar inflacção)

    Será que é por as intervenções "conservadoras" se notarem menos que as "transformadoras" que os liberais se incomodam mais com as segundas do que com as primeiras?

    By Anonymous Anónimo, at 1:02 da tarde  

  • Muito interessante essa tua descrição, Miguel. Tx.

    By Blogger Tiago Mendes, at 1:10 da tarde  

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