Lisboa em poesia

Obrigado ao PPM pelo link para o aperto de mão falhado de Carmona a Carrilho, que conhecia apenas dos jornais.

Julgo que houve um um erro de interpretação neste episódio. No excerto que o vídeo contém, e após uma frase de Carrilho difícil de descortinar, Carmona dirige-se a ele com um "Doutor...", com o filósofo a desviar-se para evitar qualquer contacto físico e o engenheiro a ripostar para o jornalista (face à indiferença do visado) "Não cumprimenta? Mas... extraordinário!" E depois duma breve pausa - e aqui está o busílis da questão - avança com a rima emparelhada "Grande ordinário!", que vem acoplada com um "pá" a condizer com a imagem do "obreiro de manga arregaçada".

Carrilho é arrogante e vaidoso? É. Tem um ego infindável? Tem. Mas também tem maneiras. É um delicodoce disfarçado de metrossexual. Não cumprimentou o adversário por uma questão de vaidade e não de falta de educação. Já Carmona mostrou o berço que (não) teve, ao reagir emocionalmente com aquele palavreado e gestos deselegantes. Uma coisa é ser arrogante, outra é ser brut(t)o. Mas podemos sempre acreditar, mesmo meses depois dos Santos Populares, que o excessivo "grande ordinário!" tenha sido uma tentativa possível (e bem pobre) de poesia.

PS: E porque não ter uma mulher que é, educada, competente, séria, à frente duma Câmara que tem conhecido desvarios múltiplos, desde a soberba de Soares ao ridículo de Santana? É uma pena que «Mizé» Nogueira Pinto não tenha apresentado propostas e que tenha apostado numa votação para vereadora. Era difícil, mas não era impossível passar a perna a um pavão racionalista com tiques de ditador e a um "obreiro", deselegante ainda que bem intencionado (ex-?) Santanista.