Discordo, caro ADolfo (acho que chega o meu contra-exemplo).
Na musica, como na arte, temos que separar a etica da estetica. Posso gostar da musica "independentemente" da letra, e ate' posso gostar da letra sem concordar com ela ou com o que ela "representa / alui", apelas pelo "simbolismo" ou "brincadeira" que ela acarreta (isto e', "para alem" da musica/melodia em si).
A vida e' demasido seria para nos so' podermos ouvir coisas com as quais concordamos. A "Carmina Burana" tem um lado nazi? Pois que tenha. EU continuo a ouvir e a vibrar e saltar da cadeira sempre que a ouco.
As "cancoes de intervencao" apelam a un estadoi gordo e a uma sociedade que adora a "vitimizacao"? Pois que o facam. eu continuarei a ouvir algumas nao so' pela musica mas ate "por nao concordar com elas" - por serem uma forma de brincar, democraticamentem, com quem a gente nao concorda.
Para acabar com esse preconceito que acho muito nefasto para um sao convivio e debate entre pessoas, seria o primeiro a propor que se cantasse o Embucado, a Grandola Vila Morena e qualquer grande exito do Candidato Vieira.
Vindo de mim, que gosta de Zeca Afonso e muita da música de intervenção, portuguesa e europeia, o meu primeiro comentário era apenas uma provocação.
As barreiras ideológicas não me servem para escolher manifestações culturais, apenas me obrigam a refinar os aspectos artísticos que merecem a minha aprovação.
Por exemplo, Benito Lertxundi, cantor de intervenção nacionalista basco, tem verdadeiras obras primas de música de intervenção. O conteúdo do que ele canta, até me pode enojar, mas como canta e a força com que o faz, não deixam de me agradar. O conteúdo obriga-me, pois, a afastar-me de alguns aspectos e a atentar noutros: na métrica, na voz, nos arranjos, na melodia...
Se assim não fosse Tiago, quase todas as manifestações culturais me passariam, grosso modo, ao lado. Porque quase nenhumas transportam os valores políticos e sociais em que acredito.
O mesmo se passa no teatro, de que sou frequentador assíduo. Se fosse atentar nos valores do texto enquanto mecanismo de difusão de ideias, estava feito...
Disto isto, gosto muito, mas mesmo muito, de fado. E não gosto do Embuçado. Abraço a.
Eu gosto do Embucado porque gosto de Portugal - porque retrata parte do que nos somos (muito porque retrata parte do que fomos). Nao levo e' esse simbolismo numa optica "intervencionista". Nao sou monarquico, embora nutra cada vez mais simpatia pela causa. Nao defendo privilegios, nem castas, nem nada disso. E acho imensa piada imaginar o cenario do "beija-mao real" e do desfile da nobreza mais ou menos marialva que "por la' passa". E' uma forma de celebrar a historia, de celebrar quem somos (la' voltamos nos ao "contexto" e ao papel da "cultura").
Nao implica "saudosismo" - implica memoria. Implica nao rejeitar nem apagar nem reintrepertar o passado, que sao grandes perigos que se veem em todo o lado, com destaque para a esquerda "historicista".
Implica compreensao do que somos hoje 'a (tambem) 'a luz do que fomos ontem. Nao acho que isso implique ser "conservador". Porque nao iumplica que eu queira que essa "ordem (mais ou menos) espontanea" se mantenha. Nem o contrario. Apenas implica que o que quer que suceda eu possa "apreciar" a expressao artistica dos povos em cada momento da sua historia e independentemente das causas politicas ou outras que possam estar por detras delas e esta frase e' propositadamente grande e sem virgulas para fazer uma para-homenagem ao Saramago e lembrar que a arte pode ser apreciada por si so' e ja' agora que nao sou um conservador que ainda nao saiu do armario nem muito menos o contrario nem sequer outra coisa alguma que seja insistemntemente passivel de rotulagem pela indigente intelligentsia ou anti-intelligentsia que por ai se passeia nos passeios ou nas lojas da av. da liberdade ou onde quer que seja porque em relacao a isso nao posso dizer mais do que disse e tenho dito.
"o meu primeiro comentário era apenas uma provocação."
Claro que sim, caro! :)
E volto a agradecer por dares o mote 'a questao e ao debate. Eu gosto muito de fado e sinceramente acho que so' gosto do Embucado pelo lado (citando a Ines) de "tema-fetiche" que ele tem. A musica e' muito basica (quase todos os fados antigos de lisboa [e de Coimbra tambm] sao fracos em termos estritamente musicais). E' mesmo o lado "teatral" do fado e a "viagem" que ele proporciona que me faz divertir um bocado.
Ou seja, e aproveitando a discussao da cultura - e' um fenomeno eminentemente social, mais que individual. Enquanto outros fados (ex: Loucura) sejam mais "intimistas" do que "extrovertidos" ou propensos ao sao convicio entre hostes mais ou menos marialvas :)
O Embuçado é pobre em letra, em métrica e em melodia. E é frequentemente assassinado por quem o edita em disco.
Sou muito apreciador de fado em vários contextos. E venha de lá o fado vadio e o fado marialva, sempre acompanhado de alcool, que não pode faltar, que vem muito bem e em boa hora!
A metrica acho ok. A harmonia e' absolutamente basica, mas isso e' geral. A melodia (em parte, mas nao totalmente, em consequencia da harmonia) tambem e' fraquita, coitada. Na letra discordo, mas compreendo. O que eu gosto mesmo e' da letra, de ela ser algo tao "revivalista", tao "nobre" e "real", e' isso que me faz rir e divertir um bocado. Tal como acho piada aos fados que falam de cavalos e touros e "selins" sendo totalmente contra as touradas (isto fica para outra altura). Mas consigo distinguir as coisas e divertir-me com a letra! Alias, em geral esses fados sao todos iguais, muito pobres, se nao for pela letra aquilo espremido nao da' nada!
PS: temos que combinar uma bela fadistagem um dia destes - bem regada, c(l)aro :)
Não tenho qualquer simpatia pela causa monárquica e, a ter, seria por uma vertente totalmente discriminada nesses fados, para quem D. Miguel reúne os atributos necessários e suficientes...
Mas também gosto do fado marialva de Sol e Touros, desde que bem cantado. E aí reside o problema, no que aos discos editados diz respeito (no fado vadio, qualquer fífia deve ser aplaudida e incentivada!).
Felizmente, a nova gesração de fadistas trouxe um fado rico, em letras, métricas, melodias, ritmos e técnica, sem ter que recorrer ao estafado repertório das casas de discos ali do Chiado.
a ARTE só sobrevive se for bela, se isso não acontecer a arte (assim com minúcula) corre o risco de ser panfletária e ficar esquecida, mas as duas coisas podem coexistir (beleza e consciência social)...
mas acima de tudo não podemos deixar que as nossas concepções ideológicas distorçam gravemente a forma como olhamos para um objecto artístico
"Felizmente, a nova gesração de fadistas trouxe um fado rico, em letras, métricas, melodias, ritmos e técnica, sem ter que recorrer ao estafado repertório das casas de discos ali do Chiado."
Sem duvida. O Camane e' impar. A Mariza tambem, embora por vezes (ao vivo - sobretudo no estrangeiro) tenha algum "ultra-modernismo" que nao me agrada. No fado sou algo conservador, confesso. OU melhor, na "forma" de o cantar. E' preciso, como no tango, como no flamenco, ter uma determinada "atitude". Ter algum respeito pela tradicao e pelo que ele significa. Isto nao significa que e' imutavel! No caso do tango, por exemplo, eu nao aprecio muito GOtham Project - mil vezes as fifias de qualquer casa de danca duvidosa em Buenos Aires!
E no fado irrita-me algum exagero "diferenciador" de alguns cantores, mas respeito claro. Tambem so' compra discos quem quer. So' queria frisar que dentro da evolucao normal e - muito mais importante - do espaco de criacao e interpretacao do autor (impressao minha ou pareco o Sampaio a falar??) ha' que atender 'a simbologia do fado.
De resto, gosto muito tambem do fado de coimbra. Ja' estou a cantalorar "O amor p'ra ser amor... dura sempre a vida inteira (...) quem amou segunda vez... nao amou bem da primeira", o que me lembra isto que escrevi em tempos:
Tiago, não poderia estar mais de acordo quanto a uma certa tradição do fado.
Não sou fã de Mariza exactamente pelo que dizes e também pela excessiva necessidade de brilhar mais do que a própria canção, algo que não costumo apreciar.
Camané e Mafalda Arnauth recolhem o meu louvor incondicional. Cristina Branco também, que recorre a magistrais arranjos de guitarra nos álbuns de fado.
Estes três livraram-se do (excelente) fado dos anos 50 e 60 e renovaram, mesmo com sonoridades novas, sem trairem a tradição do fado.
Paulos Braganças e Mísias, respeito, mas não é o meu estilo...
Braganca ja' nem me lembrava dele. Comprei um CD da Misia, ouvi e voltei a ouvir, a "ver se gostava" ('as vezes so' ao fim de muito ouvir e' que "descobrimos" que gostamos de algo... nem tudo entra 'a primeira) mas confesso que nao me conquistou. Dos "velhos", gosto do Carlos do Carmos (tira para la' essa vaidade), e dos fadistissimos Manuel de Almeida e Argentina Santos. E o saudoso Carlos Zel, e tantos por ai fora... os "da Camara" e' que nunca me fascinaram muito, mas de vez em quando la' aturo os "trotear" dessa rapaziada :)
Classico e imprescindivel, e' tambem o grande Fernando Machado SOares.
PS: parecmos uns velhos (nao marretas) a bater bolas sobre fado - fixe :)
Gosto de bater bolas sobre tudo, é o que vale. Qual é o próximo desafio? ;)
Nos mais antigos, Carlos do Carmo muito bom, especialmente no fado-canção, Herminia Silva (anda daí Pacheco!), Maria Teresa de Noronha, especialmente o Rosa Enjeitada, Carlos Zel, claro! E não há nada como uma bela Anita Guerreiro a puxar do tacão.
Nem Câmaras nem Pintos Bastos. Sinceramente, não gosto mesmo.
"Gosto de bater bolas sobre tudo, é o que vale. Qual é o próximo desafio? ;)"
Pois, tambem eu! E' o nosso "problema" :)
Concordo com tudo. Alias acabo de ouvir agora o inultrapassavel "Rosa Enjeitada" :) E a MTN tb muito boa!
"desculpa tiago, mas agora fiquei baralhada :s"
Era so' uma brincadeirinha... como e' que ideias de uma pessoa, vistas por ela propria, podem nao ser "boas"? Seria um contradicao, nao? Se a pessoa "se" afirma nelas, a nao ser que tenha uma auto-estima muito baixa, achara que elas sao boas, right? E se tivesse auto-estima baixa provavelmente nao afirmaria nada :)
O dispensar da "na tua visao" era um elogio meio mascarado, pretendendo dizer que no teu caso a "self-recognition" da "bondade" das ideias ("proprias") era dispensavel, por elas serem objectivamente boas, e nao apenas subjectivamente so :)
"Nem Câmaras nem Pintos Bastos. Sinceramente, não gosto mesmo."
Me neither. Um tipo "intermedio" - tambem esse descontado da imensa vaidade - seria o Joao Braga, sobretudo a cantar o (ah, grande maschista!) "O Fado da Sina" :)
Tendo um estilo um bocado marialva-bravio-machao para o meu gosto, tem uma boa voz e "atira-se" muito bem ao "Fado do Estudante" (que nao e' assim tao facil...).
O Fado da Sina é só uma obra-prima. Absolutamente maravilhoso. Juntamente com o Rosa Enjeitada é dos meus fados favoritos. Também lhe dou forte no Foi Deus...
Habitualmente, prefiro vozes femininas no fado. Para mim é mais ou menos isto, em termos de vozes, com inúmeras excepções à regra, como é evidente e bom de ver: rock/masculino, pop/feminino, intervenção/masculino, fado/feminino, world music/both e last but not the least, pimba/both!!
O meu ponto era apenas referir que em termos logicos o "elogio" nao e' muito apropriado, porque existe apenas um reconhecimento de opinioes identicas. Assim, que merito e' que eu teria em ter a mesma opiniao que a tua? Ou melhor, que significado teria o elogio basear-se na "parecenca"? O meu ponto era so' esse - claro que nao era por em causa a tua (boa) intencao, de reconhecer a nossa semelhante visao sobre as coisas.
Era mesmno so' descascar a natureza dum "elogio" e - estritamente dum ponto de vista logico-racional - perceber quando e' que ele tem significado "real" ou apenas "simbolico". No caso em estudo, creio que so' pode ter caracter "simbolico", ao expressao de "alegria" pela coincidencia de opinioes, mas nao ao expressar "merito", ate' porque - e tu acho que compreenderas isto bem, pelo que leio da tua apreciacao da "competencia" (que subscrevo) - isso poderia sugerir algum "paternalismo" quanto 'a competencia do interlocutor (no caso, eu, ou o Antonio, que tambem esta' ao barulho mas do lado de la' - o que sugeriria que tu apelidasses as ideias dele de "mas").
Bom, all in all, o meu comentario era um preciosismo meramente logico-formal - e espero que nao interpretes mal nada do que eu disse!! :)
Indeed! (espero que nao haja por ai muita feminista-empertigada a levar isto 'a letra).
Quanto 'a tua descricao das vozes femininas/masculinas concordo em geral, embora me pareca descortinar algum complexo de Edipo por detras da preponderancia feminina no fado :)
(esotu a brincar)
Eu diria que ha' espaco para as duas vozes, muito porque a tematica e' variada e - felizmente! - reflecte as diferencas que ha entre os sexos e que tantos por vezes parecem querer eliminar. A tematica dos amantes traidos, historias de faca-e-alguidar, a saudade do que partiu, o amor nao correspondido, o amor impossivel, mas tambem a boa taberna, os cavalos e afins, tudo cabe no fado, e alguns mais ajeitados para o masculino, outros para o feminino. Estaria inclinado para dizer que no fado "intimista" o feminimo e' mais adequado, mas nao so' acho que nao e', como acho que isso advem de sermos homens e de haver essa atraccao natural por preferir (ou nao? estou a escrever ao ritmo que penso) ouvir o sexo oposto a cantar.
NUma coisa sou mesmo velho-guarda: fado de Coimbra e' sagrado e e' para ser cantado por homens. Pronto, podem-me atacar 'a vontade!
E discordo quanto ao pimba: ai preferia mesmo o silencio a qualquer dos sexos.
A música pimba veio para ficar, é o que está a dar e ainda bem! Pimba forever! Os alemães têm o schlager, os espanhois têm a hortera, os suecos a dansband e nós a pimba. Nada como um pouco de civlização europeia no nosso cenário musical.
Fado de Coimbra. 100% de acordo. Lembras-te de um escândalo, há anos sem fim, da Manuela Bravo (a do balão) ter lançado um disco com fados de Coimbra?!
Well! My comment is "agree in agreeing" (Ah! Ah! Ah!)...
Quanto ao fado de Coimbra (Éh! Machões !),a mulher que melhor o cantou - se bem me lembro ! -, foi uma tal SÁ DA BANDEIRA (?: "Ó meu menino tão lindo, Ó meu lindo amor perfeito, Vou levá-lo, pequenino, Sempre agarrado ao meu peito ...", ou coisa parecida.
30 Comments:
Definitivamente, não.
By AMN, at 3:56 da tarde
Discordo, caro ADolfo (acho que chega o meu contra-exemplo).
Na musica, como na arte, temos que separar a etica da estetica. Posso gostar da musica "independentemente" da letra, e ate' posso gostar da letra sem concordar com ela ou com o que ela "representa / alui", apelas pelo "simbolismo" ou "brincadeira" que ela acarreta (isto e', "para alem" da musica/melodia em si).
A vida e' demasido seria para nos so' podermos ouvir coisas com as quais concordamos. A "Carmina Burana" tem um lado nazi? Pois que tenha. EU continuo a ouvir e a vibrar e saltar da cadeira sempre que a ouco.
As "cancoes de intervencao" apelam a un estadoi gordo e a uma sociedade que adora a "vitimizacao"? Pois que o facam. eu continuarei a ouvir algumas nao so' pela musica mas ate "por nao concordar com elas" - por serem uma forma de brincar, democraticamentem, com quem a gente nao concorda.
Para acabar com esse preconceito que acho muito nefasto para um sao convivio e debate entre pessoas, seria o primeiro a propor que se cantasse o Embucado, a Grandola Vila Morena e qualquer grande exito do Candidato Vieira.
By Tiago Mendes, at 4:06 da tarde
Meu caro,
Vindo de mim, que gosta de Zeca Afonso e muita da música de intervenção, portuguesa e europeia, o meu primeiro comentário era apenas uma provocação.
As barreiras ideológicas não me servem para escolher manifestações culturais, apenas me obrigam a refinar os aspectos artísticos que merecem a minha aprovação.
Por exemplo, Benito Lertxundi, cantor de intervenção nacionalista basco, tem verdadeiras obras primas de música de intervenção. O conteúdo do que ele canta, até me pode enojar, mas como canta e a força com que o faz, não deixam de me agradar. O conteúdo obriga-me, pois, a afastar-me de alguns aspectos e a atentar noutros: na métrica, na voz, nos arranjos, na melodia...
Se assim não fosse Tiago, quase todas as manifestações culturais me passariam, grosso modo, ao lado. Porque quase nenhumas transportam os valores políticos e sociais em que acredito.
O mesmo se passa no teatro, de que sou frequentador assíduo. Se fosse atentar nos valores do texto enquanto mecanismo de difusão de ideias, estava feito...
Disto isto, gosto muito, mas mesmo muito, de fado. E não gosto do Embuçado.
Abraço
a.
By AMN, at 4:15 da tarde
Eu gosto do Embucado porque gosto de Portugal - porque retrata parte do que nos somos (muito porque retrata parte do que fomos). Nao levo e' esse simbolismo numa optica "intervencionista". Nao sou monarquico, embora nutra cada vez mais simpatia pela causa. Nao defendo privilegios, nem castas, nem nada disso. E acho imensa piada imaginar o cenario do "beija-mao real" e do desfile da nobreza mais ou menos marialva que "por la' passa". E' uma forma de celebrar a historia, de celebrar quem somos (la' voltamos nos ao "contexto" e ao papel da "cultura").
Nao implica "saudosismo" - implica memoria. Implica nao rejeitar nem apagar nem reintrepertar o passado, que sao grandes perigos que se veem em todo o lado, com destaque para a esquerda "historicista".
Implica compreensao do que somos hoje 'a (tambem) 'a luz do que fomos ontem. Nao acho que isso implique ser "conservador". Porque nao iumplica que eu queira que essa "ordem (mais ou menos) espontanea" se mantenha. Nem o contrario. Apenas implica que o que quer que suceda eu possa "apreciar" a expressao artistica dos povos em cada momento da sua historia e independentemente das causas politicas ou outras que possam estar por detras delas e esta frase e' propositadamente grande e sem virgulas para fazer uma para-homenagem ao Saramago e lembrar que a arte pode ser apreciada por si so' e ja' agora que nao sou um conservador que ainda nao saiu do armario nem muito menos o contrario nem sequer outra coisa alguma que seja insistemntemente passivel de rotulagem pela indigente intelligentsia ou anti-intelligentsia que por ai se passeia nos passeios ou nas lojas da av. da liberdade ou onde quer que seja porque em relacao a isso nao posso dizer mais do que disse e tenho dito.
PS: obrigado pelo "picanco" :)
By Tiago Mendes, at 4:18 da tarde
"o meu primeiro comentário era apenas uma provocação."
Claro que sim, caro! :)
E volto a agradecer por dares o mote 'a questao e ao debate. Eu gosto muito de fado e sinceramente acho que so' gosto do Embucado pelo lado (citando a Ines) de "tema-fetiche" que ele tem. A musica e' muito basica (quase todos os fados antigos de lisboa [e de Coimbra tambm] sao fracos em termos estritamente musicais). E' mesmo o lado "teatral" do fado e a "viagem" que ele proporciona que me faz divertir um bocado.
Ou seja, e aproveitando a discussao da cultura - e' um fenomeno eminentemente social, mais que individual. Enquanto outros fados (ex: Loucura) sejam mais "intimistas" do que "extrovertidos" ou propensos ao sao convicio entre hostes mais ou menos marialvas :)
By Tiago Mendes, at 4:23 da tarde
O Embuçado é pobre em letra, em métrica e em melodia. E é frequentemente assassinado por quem o edita em disco.
Sou muito apreciador de fado em vários contextos. E venha de lá o fado vadio e o fado marialva, sempre acompanhado de alcool, que não pode faltar, que vem muito bem e em boa hora!
By AMN, at 4:32 da tarde
A metrica acho ok. A harmonia e' absolutamente basica, mas isso e' geral. A melodia (em parte, mas nao totalmente, em consequencia da harmonia) tambem e' fraquita, coitada. Na letra discordo, mas compreendo. O que eu gosto mesmo e' da letra, de ela ser algo tao "revivalista", tao "nobre" e "real", e' isso que me faz rir e divertir um bocado. Tal como acho piada aos fados que falam de cavalos e touros e "selins" sendo totalmente contra as touradas (isto fica para outra altura). Mas consigo distinguir as coisas e divertir-me com a letra! Alias, em geral esses fados sao todos iguais, muito pobres, se nao for pela letra aquilo espremido nao da' nada!
PS: temos que combinar uma bela fadistagem um dia destes - bem regada, c(l)aro :)
By Tiago Mendes, at 4:38 da tarde
Não tenho qualquer simpatia pela causa monárquica e, a ter, seria por uma vertente totalmente discriminada nesses fados, para quem D. Miguel reúne os atributos necessários e suficientes...
Mas também gosto do fado marialva de Sol e Touros, desde que bem cantado. E aí reside o problema, no que aos discos editados diz respeito (no fado vadio, qualquer fífia deve ser aplaudida e incentivada!).
Felizmente, a nova gesração de fadistas trouxe um fado rico, em letras, métricas, melodias, ritmos e técnica, sem ter que recorrer ao estafado repertório das casas de discos ali do Chiado.
PS: Temos. Vamos a isso.
By AMN, at 4:46 da tarde
a ARTE só sobrevive se for bela, se isso não acontecer a arte (assim com minúcula) corre o risco de ser panfletária e ficar esquecida, mas as duas coisas podem coexistir (beleza e consciência social)...
mas acima de tudo não podemos deixar que as nossas concepções ideológicas distorçam gravemente a forma como olhamos para um objecto artístico
By aL, at 4:49 da tarde
"Felizmente, a nova gesração de fadistas trouxe um fado rico, em letras, métricas, melodias, ritmos e técnica, sem ter que recorrer ao estafado repertório das casas de discos ali do Chiado."
Sem duvida. O Camane e' impar. A Mariza tambem, embora por vezes (ao vivo - sobretudo no estrangeiro) tenha algum "ultra-modernismo" que nao me agrada. No fado sou algo conservador, confesso. OU melhor, na "forma" de o cantar. E' preciso, como no tango, como no flamenco, ter uma determinada "atitude". Ter algum respeito pela tradicao e pelo que ele significa. Isto nao significa que e' imutavel! No caso do tango, por exemplo, eu nao aprecio muito GOtham Project - mil vezes as fifias de qualquer casa de danca duvidosa em Buenos Aires!
E no fado irrita-me algum exagero "diferenciador" de alguns cantores, mas respeito claro. Tambem so' compra discos quem quer. So' queria frisar que dentro da evolucao normal e - muito mais importante - do espaco de criacao e interpretacao do autor (impressao minha ou pareco o Sampaio a falar??) ha' que atender 'a simbologia do fado.
De resto, gosto muito tambem do fado de coimbra. Ja' estou a cantalorar "O amor p'ra ser amor... dura sempre a vida inteira (...) quem amou segunda vez... nao amou bem da primeira", o que me lembra isto que escrevi em tempos:
http://ometablog.blogspot.com/2005/03/virgindade-de-amor.html
http://ometablog.blogspot.com/2005/03/amor-verdadeiro-av-e-amor-somente-as.html
PS: definitely.
By Tiago Mendes, at 4:55 da tarde
"a ARTE só sobrevive se for bela"
By definition, nem mais! ;)
By Tiago Mendes, at 4:57 da tarde
"não podemos deixar que as nossas concepções ideológicas distorçam gravemente a forma como olhamos para um objecto artístico"
Pois. Tambem o disse aqui:
http://ometablog.blogspot.com/2005/05/arte-e-tica.html
http://ometablog.blogspot.com/2005/05/cultura-e-tica.html
By Tiago Mendes, at 5:02 da tarde
Tiago, não poderia estar mais de acordo quanto a uma certa tradição do fado.
Não sou fã de Mariza exactamente pelo que dizes e também pela excessiva necessidade de brilhar mais do que a própria canção, algo que não costumo apreciar.
Camané e Mafalda Arnauth recolhem o meu louvor incondicional. Cristina Branco também, que recorre a magistrais arranjos de guitarra nos álbuns de fado.
Estes três livraram-se do (excelente) fado dos anos 50 e 60 e renovaram, mesmo com sonoridades novas, sem trairem a tradição do fado.
Paulos Braganças e Mísias, respeito, mas não é o meu estilo...
By AMN, at 5:07 da tarde
tiago, confesso que não foi plágio, foi apenas coincidência de ideias [boas, by the way] ;)
By aL, at 5:13 da tarde
Braganca ja' nem me lembrava dele. Comprei um CD da Misia, ouvi e voltei a ouvir, a "ver se gostava" ('as vezes so' ao fim de muito ouvir e' que "descobrimos" que gostamos de algo... nem tudo entra 'a primeira) mas confesso que nao me conquistou. Dos "velhos", gosto do Carlos do Carmos (tira para la' essa vaidade), e dos fadistissimos Manuel de Almeida e Argentina Santos. E o saudoso Carlos Zel, e tantos por ai fora... os "da Camara" e' que nunca me fascinaram muito, mas de vez em quando la' aturo os "trotear" dessa rapaziada :)
Classico e imprescindivel, e' tambem o grande Fernando Machado SOares.
PS: parecmos uns velhos (nao marretas) a bater bolas sobre fado - fixe :)
By Tiago Mendes, at 5:17 da tarde
"foi apenas coincidência de ideias [boas, by the way] ;)"
Perdoa o meu furor logicista, mas volto a repetir o meu "By definition!". Entao como e' que ideias "tuas" nao podiam ser "boas"?* :)
*dispenso o "na tua visao" dada a objectividade da coisa em questao.
By Tiago Mendes, at 5:20 da tarde
Gosto de bater bolas sobre tudo, é o que vale. Qual é o próximo desafio? ;)
Nos mais antigos, Carlos do Carmo muito bom, especialmente no fado-canção, Herminia Silva (anda daí Pacheco!), Maria Teresa de Noronha, especialmente o Rosa Enjeitada, Carlos Zel, claro! E não há nada como uma bela Anita Guerreiro a puxar do tacão.
Nem Câmaras nem Pintos Bastos. Sinceramente, não gosto mesmo.
By AMN, at 5:24 da tarde
«"foi apenas coincidência de ideias [boas, by the way] ;)"
Perdoa o meu furor logicista, mas volto a repetir o meu "By definition!". Entao como e' que ideias "tuas" nao podiam ser "boas"?* :)
*dispenso o "na tua visao" dada a objectividade da coisa em questao.»
desculpa tiago, mas agora fiquei baralhada :s
By aL, at 5:30 da tarde
"Gosto de bater bolas sobre tudo, é o que vale. Qual é o próximo desafio? ;)"
Pois, tambem eu! E' o nosso "problema" :)
Concordo com tudo. Alias acabo de ouvir agora o inultrapassavel "Rosa Enjeitada" :) E a MTN tb muito boa!
"desculpa tiago, mas agora fiquei baralhada :s"
Era so' uma brincadeirinha... como e' que ideias de uma pessoa, vistas por ela propria, podem nao ser "boas"? Seria um contradicao, nao? Se a pessoa "se" afirma nelas, a nao ser que tenha uma auto-estima muito baixa, achara que elas sao boas, right? E se tivesse auto-estima baixa provavelmente nao afirmaria nada :)
O dispensar da "na tua visao" era um elogio meio mascarado, pretendendo dizer que no teu caso a "self-recognition" da "bondade" das ideias ("proprias") era dispensavel, por elas serem objectivamente boas, e nao apenas subjectivamente so :)
clearer??
By Tiago Mendes, at 5:39 da tarde
"Nem Câmaras nem Pintos Bastos. Sinceramente, não gosto mesmo."
Me neither. Um tipo "intermedio" - tambem esse descontado da imensa vaidade - seria o Joao Braga, sobretudo a cantar o (ah, grande maschista!) "O Fado da Sina" :)
Tendo um estilo um bocado marialva-bravio-machao para o meu gosto, tem uma boa voz e "atira-se" muito bem ao "Fado do Estudante" (que nao e' assim tao facil...).
By Tiago Mendes, at 5:43 da tarde
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
By aL, at 5:46 da tarde
esclarecida!
devo dizer-te que por vezes sou um pouco kim novak...
e o "boas" eram um elogio às tuas ideias, que por acaso são identicas às minhas
By aL, at 5:50 da tarde
João Braga, a tua descrição está perfeita!
O Fado da Sina é só uma obra-prima. Absolutamente maravilhoso. Juntamente com o Rosa Enjeitada é dos meus fados favoritos. Também lhe dou forte no Foi Deus...
Habitualmente, prefiro vozes femininas no fado. Para mim é mais ou menos isto, em termos de vozes, com inúmeras excepções à regra, como é evidente e bom de ver: rock/masculino, pop/feminino, intervenção/masculino, fado/feminino, world music/both e last but not the least, pimba/both!!
By AMN, at 5:53 da tarde
Agradeco o elogio, Alaide :)
O meu ponto era apenas referir que em termos logicos o "elogio" nao e' muito apropriado, porque existe apenas um reconhecimento de opinioes identicas. Assim, que merito e' que eu teria em ter a mesma opiniao que a tua? Ou melhor, que significado teria o elogio basear-se na "parecenca"? O meu ponto era so' esse - claro que nao era por em causa a tua (boa) intencao, de reconhecer a nossa semelhante visao sobre as coisas.
Era mesmno so' descascar a natureza dum "elogio" e - estritamente dum ponto de vista logico-racional - perceber quando e' que ele tem significado "real" ou apenas "simbolico". No caso em estudo, creio que so' pode ter caracter "simbolico", ao expressao de "alegria" pela coincidencia de opinioes, mas nao ao expressar "merito", ate' porque - e tu acho que compreenderas isto bem, pelo que leio da tua apreciacao da "competencia" (que subscrevo) - isso poderia sugerir algum "paternalismo" quanto 'a competencia do interlocutor (no caso, eu, ou o Antonio, que tambem esta' ao barulho mas do lado de la' - o que sugeriria que tu apelidasses as ideias dele de "mas").
Bom, all in all, o meu comentario era um preciosismo meramente logico-formal - e espero que nao interpretes mal nada do que eu disse!! :)
By Tiago Mendes, at 5:57 da tarde
"O Fado da Sina é só uma obra-prima."
Indeed! (espero que nao haja por ai muita feminista-empertigada a levar isto 'a letra).
Quanto 'a tua descricao das vozes femininas/masculinas concordo em geral, embora me pareca descortinar algum complexo de Edipo por detras da preponderancia feminina no fado :)
(esotu a brincar)
Eu diria que ha' espaco para as duas vozes, muito porque a tematica e' variada e - felizmente! - reflecte as diferencas que ha entre os sexos e que tantos por vezes parecem querer eliminar. A tematica dos amantes traidos, historias de faca-e-alguidar, a saudade do que partiu, o amor nao correspondido, o amor impossivel, mas tambem a boa taberna, os cavalos e afins, tudo cabe no fado, e alguns mais ajeitados para o masculino, outros para o feminino. Estaria inclinado para dizer que no fado "intimista" o feminimo e' mais adequado, mas nao so' acho que nao e', como acho que isso advem de sermos homens e de haver essa atraccao natural por preferir (ou nao? estou a escrever ao ritmo que penso) ouvir o sexo oposto a cantar.
NUma coisa sou mesmo velho-guarda: fado de Coimbra e' sagrado e e' para ser cantado por homens. Pronto, podem-me atacar 'a vontade!
E discordo quanto ao pimba: ai preferia mesmo o silencio a qualquer dos sexos.
By Tiago Mendes, at 6:24 da tarde
A música pimba veio para ficar, é o que está a dar e ainda bem! Pimba forever!
Os alemães têm o schlager, os espanhois têm a hortera, os suecos a dansband e nós a pimba. Nada como um pouco de civlização europeia no nosso cenário musical.
Fado de Coimbra. 100% de acordo. Lembras-te de um escândalo, há anos sem fim, da Manuela Bravo (a do balão) ter lançado um disco com fados de Coimbra?!
By AMN, at 6:45 da tarde
Nao sei se me lembro disso da Manuela Bravo... mas acho que tenho uma vague recollection. Mulher maldita! :) :)
QUanto 'a musica pimba, caro, temos que saudavelmente concordar em discordar :)
By Tiago Mendes, at 6:51 da tarde
Temos ;)
By AMN, at 6:59 da tarde
Well! My comment is "agree in agreeing" (Ah! Ah! Ah!)...
Quanto ao fado de Coimbra (Éh! Machões !),a mulher que melhor o cantou - se bem me lembro ! -, foi uma tal SÁ DA BANDEIRA (?: "Ó meu menino tão lindo, Ó meu lindo amor perfeito, Vou levá-lo, pequenino, Sempre agarrado ao meu peito ...", ou coisa parecida.
Quanto à FARRA ... na festa do doutoramento ?
Abração!
Maynas
By Anónimo, at 8:22 da tarde
Ói, fadistas !
Afinal a letra era mais assim:
Ó meu menino tão lindo,
ó meu lindo amor perfeito,
queria ter-te pequenino,
sempre juntinho ao meu peito.
Mais:
O meu menino é um anjo,
deu-mo Deus, não o mereço,
não o troco por ninguém,
o menino não tem preço.
P.S. (não é CS !!!!!):
Não se esqueçam da Kátia Guerreiro, da Teresa Tapadas (e outras, do clã J. Braga)da Maria Armanda, da (não sei quê) Pires ...
Abraços fadistas.
Maynas
By Anónimo, at 6:36 da tarde
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