Ciência e conhecimento (2)
Caro Timshel: nunca escrevi que a moral era apenas um produto da biologia ou que a explicação evolucionista da cooperação era suficiente - apenas necessária. Ignorar a evidência que outras ciências trazem ao estudo do comportamento humano porque isso vai contra certas "certezas" e/ou quanto a certa moral que se preconize é anti-científico e/ou desonesto intelectualmente. Embora não subscreva integralmente as palavras do zoólogo G. G. Simpson, vale a pena transcrevê-las para focar o essencial:
«All attempts to answer that question ['What is man?'] before 1859 are worthless». E não vamos sequer falar da descrição criacionista que depois de 1859 deixou subitamente de ser "literal" para ser "metafórica". Claro que não. Até porque errar é humano. Vamos restringir-nos à questão da moral. E aqui digo apenas digo que mesmo (n)a moral kantiana [que me é particularmente cara] não pode(mos) afastar à priori a hipótese que haja também uma explicação evolucionista por detrás da "reciprocidade" que se observa no comportamento entre os humanos - e não só.
Nota 1: a tua menção aos "neo-liberais" é despropositada, simplesmente porque estamos no campo positivo da ciência
(de tentar entender o comportamento humano), e não no campo normativo da moral (de recomendar determinado comportamento ou forma de organização da sociedade). O epíteto de "neo-liberais" é demasiado fácil, e só ofusca e desvia a questão. Não ia por aí.
Nota 2: a questão da consciência é mais uma vez fulcral. Imagina que tu ages de forma X e achas que agiste por um motivo "moral". Imagina que a ciência aponta para que X seja um comportamento que tenha evoluído e se imposto como comportamento primordial. Como reagirias a isto? Da minha parte, eu não quero de modo algum negar a dimensão moral do ser humano. Mas daí a adoptar uma atitude anti-científica é que vai uma grande diferença.
Nota 3: acho que essa "desconfiança" quanto às ciências sociais encaixa muito bem no ponto #4 desta lista.
Nota 4: leitura sugerida (obrigado, Ana): Darwin's Dangerous Idea, do filósofo Daniel Dennet. Vejam uma breve descrição aqui.
«All attempts to answer that question ['What is man?'] before 1859 are worthless». E não vamos sequer falar da descrição criacionista que depois de 1859 deixou subitamente de ser "literal" para ser "metafórica". Claro que não. Até porque errar é humano. Vamos restringir-nos à questão da moral. E aqui digo apenas digo que mesmo (n)a moral kantiana [que me é particularmente cara] não pode(mos) afastar à priori a hipótese que haja também uma explicação evolucionista por detrás da "reciprocidade" que se observa no comportamento entre os humanos - e não só.
Nota 1: a tua menção aos "neo-liberais" é despropositada, simplesmente porque estamos no campo positivo da ciência
(de tentar entender o comportamento humano), e não no campo normativo da moral (de recomendar determinado comportamento ou forma de organização da sociedade). O epíteto de "neo-liberais" é demasiado fácil, e só ofusca e desvia a questão. Não ia por aí.
Nota 2: a questão da consciência é mais uma vez fulcral. Imagina que tu ages de forma X e achas que agiste por um motivo "moral". Imagina que a ciência aponta para que X seja um comportamento que tenha evoluído e se imposto como comportamento primordial. Como reagirias a isto? Da minha parte, eu não quero de modo algum negar a dimensão moral do ser humano. Mas daí a adoptar uma atitude anti-científica é que vai uma grande diferença.
Nota 3: acho que essa "desconfiança" quanto às ciências sociais encaixa muito bem no ponto #4 desta lista.
Nota 4: leitura sugerida (obrigado, Ana): Darwin's Dangerous Idea, do filósofo Daniel Dennet. Vejam uma breve descrição aqui.
2 Comments:
Tiago
O teu blogue foi um dos que efectivamente suscitou aquela reflexão. Julgo que o outro foi o Blasfémias e também julgo que li algo do LA-C. Contudo, a falta de tempo que me levoou a não colocar os links, permanece (espero contudo responder-te até ao - ou no - fim de semana próximo). Aliás foi a mesma falta de tempo (entre outras coisas) que me levou a colocar aqui aquele post pouco fundamentado (como bem referes na tua nota 1). (quando não há tempo ou quando se é preguiçoso, substitui-se o trabalho de uma argumentação estruturada por uma provocação barata – que é mais fácil tanto para o emissor como para a maior parte dos receptores).
Está a aparecer muita coisa e não tenho tempo para intervir mas talvez seja melhor assim. Porque isto exige algo mais do que as bocas que ando a atirar para o ar. Está na altura de elevar o debate. :)
Um abraço
timshel
By timshel, at 7:43 da tarde
Nesse caso, caro Timshel, so' tenho a agradecer a tua honestidade e a aguardar uma eventual resposta. REcomendo vivamente o seguimento no www.puraeconomia.blogspot.com e de resto recomendo que tentes separar ciencia de moral! Se bem que haja pontos de interseccao, o "conhecimento" nao deve servir para arremesso ideologico. Mas tenho que concordar que a tua tactiva de provocacao facil resultou em termos de visitas acrescidas e de prosseguimento do debate :)
Abraco,
By Tiago Mendes, at 7:51 da tarde
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