O beijo
Numa escola de Gaia, discute-se se os adolescentes podem ou não beijar-se no recreio. (...) Esta pequena história só ganhou relevância por envolver actos de natureza homossexual. (...)
A discriminação na escola, pública ou privada, com base nas orientações sexuais não é aceitável, desde logo porque contraria a Constituição. (...) Mas fica o fundamental, o que interessa a todos os pais - como deve a escola lidar com o natural despontar da sexualidade dos jovens que a frequentam?
A discriminação na escola, pública ou privada, com base nas orientações sexuais não é aceitável, desde logo porque contraria a Constituição. (...) Mas fica o fundamental, o que interessa a todos os pais - como deve a escola lidar com o natural despontar da sexualidade dos jovens que a frequentam?
5 Comments:
Não conheço os contornos da história e sou absolutamente contra qualquer tipo de discriminação com base na orientação sexual.
Coisa diferente é a aceitação, por parte dos colegas, do comportamento das raparigas. Posso, aí, aceitar (embora não entenda) que as jovens sejam postas de parte pelos colegas. Como são postos de partes os gordos, os caixinhas de óculos, os feios, os bufos, os tótós, os meninos da mamã...
Isto para dizer que as minha convicção sobre a neutralidade do Estado serve para proteger as raparigas (neste caso) no sentido de não serem impedidas de exercer a sua cidadania e viver a sua vida, gozando todos os seus direitos. Mas a neutralidade do Estado não pode servir para obrigar o resto da sociedade a aceitar o que não quer aceitar ou o que tardará em aceitar, o que passará por políticas, a meu ver, de neutralidade e não de discriminações positivas impostas.
É tarde e sinto que não me estou a explicar muito bem.. mas aqui fica.
By AMN, at 11:58 da tarde
Acho que te explicaste bem, caro. Percebo e concordo com o teu ponto. É esse equilíbrio que é difícil. COnfesso que só li o artigo de opinião e não a descrição "factual" mais detalhada. Penso que o essencial é questionar a forma de abordar estes problemas. O que referes quanto a outras discriminações é muito bem apontado. E, por si só, também levanta a ques~tão interessante de saber se alguma coisa deve ser feita em relação a isso (à discriminação dos gordos, caixas de óculos, etc).
Acho que "neutralidade" é palavra-chave aqui. Também não gosto muito de discriminações positivas em excesso e por-tudo-e-por-nada. Daniel Sampaio propunha (Expresso) que os temas fulcrais a tratar na dita disciplina de "Educação para a Saúde" seriam os comportamentos de risco, aborto, e homossexualidade. Acho isso importante. Não creio que seja uma "intervenção" excessiva do estado. [Atenção que não conheço os pormenores, estou apenas a concordar em abstracto]. As mentalidades não mudam de um dia para o outro. No caso das crianças, é ponto assente que a escola serve para as "formar". Não gosto da palavra porque parece demasiado estatista, e porque, obviamente, os pais t~em um papel chave.
Falo de "formar" num sentido abrangente e com a melhor intenção (clássica, grega) do termo. Parece-me que incluir nesse processo questões ligadas à sexualidade - mesmo que controversas, mesmo que rejeitadas por sectores mais conservadores da nossa sociedade - e, particularmente, à orientação sexual, são não só necessárias como muito pertinentes.
Não quero uma escola que "dite" regras e comportamentos. Mas também não partilho da ideia conservadora de apenas "deixar as coisas evoluir" por si só. É um equilíbrio difícil. Lembra-te também que o "ser neutro" em si mesmo pode ser interpretado como... não ser neutro. A neutralidade pode ser visto como um "statement" em si mesmo.
Enfim, mais perguntas que respostas. É preciso diálogo entre as partes envolvidas e poucos extremismos. Obrigado pelo comment/incentivo.
By Tiago Mendes, at 12:20 da manhã
A neutralidade de que falo implica uma educação sexual neutra e, dessa forma, abre os horizontes de quem a recebe e não formata previamente.
Ou seja, não se educa no e para o preconceito mas sem qualquer preconceito. Legitimando que o espaço individual de cada um seja preenchido como se quer, sem colidir com o dos restantes.
Se, entretanto, por convicções morais, religiosas, éticas, uma pessoa quiser manter os seus preconceitos, será livre de o fazer, no seu espaçom ou seja, sem colidir com os restantes.
Ninguém pode ser educado para aceitar a homosexualidade, Tiago. Custa-me essa diferenciação. Mas já pode ser educado a não fazer juizos de valor sobre as opções sexuais dos restantes. Isso é que me parece o desafio e não sei se é o caminho que vai ser seguido.
abraço noctívago
a.
By AMN, at 12:30 da manhã
Continuo a achar (nao leves a mal) que a tua ideia de "neutralidade" e' um pouco naiv (ou dificil de sustentar). Eu "percebo" o que queres dizer, mas acho que nao e' possivel tal coisa - em termos estritamente logicos. E' um pouco como alguem responder a um jornalista "Nao faco comentarios". Mas isto ja' e' um comentario! (Viva o Godel e os paradoxos).
Quanto ao "aceitar", eu tambem nao quero uma educacao que "force" alguem a "aceitar" a homossexualidade, como nao quero que force a aceitar outra coisa qualquer. Trata-se de "entendimento", nao "aceitacao forcada". E aqui - perdoa-me o pendor cientifico-racionalista - tem que ser a ciencia a ter o papel primordial. No sentido de explicar as coisas como "elas sao" e nao "como elas deveriam ser".
Ja' la' vai o tempo (sera' que vai?) em que os homossexuais "iam para o inferno". Nos anos 70 a Associacao de Psiquiatria Americana retirou a homossexualidade da lista de "doencas mentais". Desde ai, inumeros estudos tentam perceber qual a importancia "genetica" (calma, Joao Galamba) na determinacao desse comportamento (porque e' um "comportamento" e nao uma "identidade", como gostam de fazer crer Francisco Loucas e outros lobbies: nao ha "o Homossexual", mas apenas "comportamentos homossexuais"). E a ideia - grosso modo, e sem grande surpresa - e' que parte e' explicada pela "nature" (genes), parte pela "nurture" - e esta inclui quer a tua "individualidade", quer o "contexto" que te rodeia, a forma como foste educado, sobretudo a infancia, a cultura onde vives, etc, etc.
Eeu percebo o teu ponto de "ser educado para nao fazer JUIZOS DE VALOR" sobre os outros. Mas eu acho que e' preciso mais: e' preciso educar para que todos possam fazer JUIZOS DE FACTO sobre coisas que sao PASSIVEIS de ser "entendidas" mais ou menos factualmente (calma, Joao, eu disse "mais ou menos", i.e., "em parte").
Porque, repara - ainda que nao seja o teu caso - essa coisa de nao fazer juizos de valor soa-me um bocadinho (isto nao e' pessoal, claro...) aquela "pseudo-tolerancia" que eu falei ha tempos num post que versava este tema. Eu nao quero uma "aceitacao", mas quero uma atitude mais "activa" que "passiva" (salvo seja, bolas que as palavras traem-nos). EU acho que um liberal nao pode neste como noutros temas "morais" apenas escudar-se numa "tolerancia negativa" - de nao discriminar o outro. Nao tem que os abracar nem ir a festas X ou Y. Mas acho que tem que fazer um esforco mais "activo" para compreender a questao.
E isso passa pela ciencia. Mas, claro, para muitos conservadores (mais uma vez isto nao e' pessoal...) so' de falar em "ciencia" eles ficam todos ericados e sacam logo do "argumento-fetiche". Por causa do cientismo, do perigo do relativismo moral, e essas coisas todas. Eu nao vou por ai. Conheco nem os perigos de alguns "iluminismos", mas ainda assim prefiro um iluminismo temperado e cauteloso que um conservadorismo que se constroi nas trevas, 'a luz de velas, e baseado em auto-alimentacoes mais ou menos fetichistas.
Recordo esse post, que estou seguro na altura leste:
http://aforismos-e-afins.blogspot.com/2005/08/liberalismo-moral-e-costumes-2.html
Abraco,
PS: Joao (Galamba): se estiveres por ai e estiveres com tempo e pachorra, gostava que desses aqui algum contributo, sobretudo na questao da "neutralidade" e da identidade do "Homossexual" (com maiuscula) versus o "comportamento homossexual". Atencao que eu nao digo que a palavfa "homossexual" seja apenas um "adjectivo"> Nao: acho que pode ser um "substantivo". Aquilo que nao gosto e' da visao "identitaria" que alguns tem, porque isso e' redutor. Quer dizer, cada um tem direito a achar o que quer para si (nada de paternalismos). Mas em termos de arena publica e de discussao meramente "filosofica", nao me parece um uso aceitavel.
By Tiago Mendes, at 10:53 da manhã
Olhando para o post que escrevi, confesso que mais parece uma resposta a eventuais propostas do Bloco de Esquerda do que uma conversa contigo.
Porque eu concordo absolutamente com tudo o que escreveste sobre o assunto. Quis realçar e chamar a atenção, sendo manifestamente desnecessário no teu caso :), para derivas discriminadoras pela positiva e pela imposição de conteúdos pré-formatados, conducentes à imposição de valores. Este é habitualmente o método a Esquerda propõe e que mais não é do que fazer mais do mesmo, mas ao invés.
Defendo uma educação neutra no sentido de factual (os factos, sempre os factos...). E sendo factual permite que os juizos de valor sejam livremente feitos por quem recebe os factos.
Os factos são simples: a orientação sexual e o afecto entre pessoas do mesmo sexo são manifestações em tudo idênticas às manifestações "so called" hetero. Retirando o conceito do normal e do desvio, teremos uma educação neutra.
Ao mesmo tempo, uma educação cívica inspirada na liberdade e nesses factos permite a cultura social necessária para que se assumam essas diferenças sem dramatismos.
Concordo, em resumo, plenamente com o que escreveste!
abraços,
a.
By AMN, at 5:03 da tarde
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