Áreas de especialidade
Já tivemos um jurista que ficou celebre por dizer que «há mais vida para além do défice». Quando passou um dia aqui por Oxford (na altura em que se discutia se o défice era de 6% ou 7%) para dar uma palestra na série anual de conferências em honra de Isiaih Berlin*, o jurista corou nervosamente quando um jornalista lhe perguntou se ele mantinha esse anti-economicismo. [Mesmo!].
Agora, arriscamo-nos a que para além do défice, haja não só vida, mas forró, irreverência e interactividade. O novo jurista fala do economista como precisando de saber mais sobre história e filosofia. O referido economista afirmou em entrevista que só falava das suas áreas de especialidade. O que parece sensato.
Que não quer dizer que não se tenham opiniões sobre outros assuntos. Apenas que se faz questão em não opinar publicamente sobre eles nem julgar sobre elas fazer doutrina. [Lembrem-se do tão esquecido «quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão»!]
O jurista escreveu semanalmente no Expresso durante meses e meses e não mudou nada à sua volta. O economista escreveu dois ou três artigos que deram que falar. Mostrando perspicácia e oportunidade. Enquanto o jurista repetia semanalmente diatribes anti-globalização e anti-capitalismo que oscilavam entre o primarismo e o autismo, o economista falava serenamente sobre assuntos que dominava - e tinha impacto. O jurista pode invocar que o economista nunca discursou sobre certos temas. Certo. Mas daí a dizer que esse silêncio significa que ele tem que saber (mais) de história e filosofia vai a distância que separa o debate do achincalhamento. O que, claro, qualifica mais o acusante do que o acusado! Será que a guerra das «áreas de especialidade» veio para ficar? Parece que sim. [É o Portugal dos pequeninos!]
Por mim, não digo «Economistas de todo o país, uni-vos!» - não!
Tal seria uma contradição. E globalmente uma provável chatice. Muito melhor é apreciar individualmente certos e conhecidos personagens anti-economicistas que por aí botam palavra fácil e de quem num futuro breve poderemos dizer - parafraseando um comparsa meu - que estão «desde há muito desacreditados».
Em uníssono. [Concordando em concordar!]. Aguardemos.
*sobre quem, apesar da formação humanista, não revelou saber muito, tendo sido opinião unânime a sua palestra sobre Portugal ter sido uma providencial seca! Asseguro-vos que até a esquerda mais radical que por aqui anda tal achou.
Agora, arriscamo-nos a que para além do défice, haja não só vida, mas forró, irreverência e interactividade. O novo jurista fala do economista como precisando de saber mais sobre história e filosofia. O referido economista afirmou em entrevista que só falava das suas áreas de especialidade. O que parece sensato.
Que não quer dizer que não se tenham opiniões sobre outros assuntos. Apenas que se faz questão em não opinar publicamente sobre eles nem julgar sobre elas fazer doutrina. [Lembrem-se do tão esquecido «quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão»!]
O jurista escreveu semanalmente no Expresso durante meses e meses e não mudou nada à sua volta. O economista escreveu dois ou três artigos que deram que falar. Mostrando perspicácia e oportunidade. Enquanto o jurista repetia semanalmente diatribes anti-globalização e anti-capitalismo que oscilavam entre o primarismo e o autismo, o economista falava serenamente sobre assuntos que dominava - e tinha impacto. O jurista pode invocar que o economista nunca discursou sobre certos temas. Certo. Mas daí a dizer que esse silêncio significa que ele tem que saber (mais) de história e filosofia vai a distância que separa o debate do achincalhamento. O que, claro, qualifica mais o acusante do que o acusado! Será que a guerra das «áreas de especialidade» veio para ficar? Parece que sim. [É o Portugal dos pequeninos!]
Por mim, não digo «Economistas de todo o país, uni-vos!» - não!
Tal seria uma contradição. E globalmente uma provável chatice. Muito melhor é apreciar individualmente certos e conhecidos personagens anti-economicistas que por aí botam palavra fácil e de quem num futuro breve poderemos dizer - parafraseando um comparsa meu - que estão «desde há muito desacreditados».
Em uníssono. [Concordando em concordar!]. Aguardemos.
*sobre quem, apesar da formação humanista, não revelou saber muito, tendo sido opinião unânime a sua palestra sobre Portugal ter sido uma providencial seca! Asseguro-vos que até a esquerda mais radical que por aqui anda tal achou.
3 Comments:
Sim, os silencios nao sao tao poeticos como isso, claro... apenas inteligentes ou estrategicos. E claro que nao fica mal a ninguem ter uma cultura solida! E claro que o presidente DEVERIA te-la!
Mas tal como refere o irascivel-mor da nacao na sua cronica de hoje (VPV, claro), estas questoes nao contarao assim tanto quanto isso. Isto para nao falar que SOares nao e' assim tao "culto" ou tao "inteligente" quanto se julga! Mas isso eram outros 500.
E o Pacheco Pereira tem muita razao tb quando diz que essa historia de "ser culto" tem muito que se lhe diga. Como e' que alguem hoje em dia pode ser culto sem perceber uma coisa tao simples como a "mao invisivel" de Adam Smith? Ou a vantagem comparativa de Ricardo? Ou a ideia do equilibrio de Nash? Ou a forca que esta por detras da teoria de Darwin? OU o principio da incerteza?
A verdade e' que alguma esquerda julga que tem o monopolio das pessoas "cultas" e "intelectuais". Enfim. Cada um poe os rotulos que quer. Eu apenas digo isto: gostaria muito se Cavaco, para alem do que sabe, soubesse ainda mais. Mas, infelizmente, o saber ocupa espaco. Nao ha almocos gratis. O homem tem as suas preferencias, especializou-se no que livremente quis, e ninguem o pode obrigar a mais.
Enxovalha-lo como Soares fez na TVI e' que e' absolutamente lamentavel. Invocar os "9 seculos de historia", etc. E como se ele ate' tivesse grande autoridade para falar! Nunca se lhe conheceou publicacao com grande valor. O sucesso vem todo da "persona", e nao da qualidade intelectual e/ou cultural do homem, que e' respeitavel, mas absolutamente mediana. O que parcialmente justifica certas invejas que sempre teve em relacao a Cunhal.
By Tiago Mendes, at 7:56 da tarde
Olá,
Antes de mais os meus parabéns pela tua recente cooperação no Diário Económico.
Em relação ao tema, não creio que o comportamento de Mário Soares tenha sido correcto e aliás, saliento também eu o artigo de Pacheco Pereira acerca desta entrevista.
Acho que estamos todos de acordo com a "mais valia" que é um presidente que domine vários temas e conheça várias realidades. Agora, talvez o enfoque esteja algo deturpado, não considero que por se ter uma formação mais técnica isso seja sinónimo de incultura noutras áreas, nem o facto de se ter uma formação dita humanista implique automáticamente incapacidade para dominar alguns temas técnicos. A questão talvez seja qual a profundidade em que se domina determinado tema e se isso é relevante ou secundário.
Não é possivel a nenhuma pessoa dominar todos os temas que hoje em dia são relevantes. A verdadeira "sabedoria" está em saber-se rodear de pessoas que sabem e que o podem ajudar.
Esta campanha promete, como a campanha autárquica resvalar para o insulto e para a esfera do pessoal o que não terá interesse nenhum.
A verdade é que o país precisa de uma mudança importante em vários sectores e não devemos olhar para a figura do Presidente da Républica como o "motor" dessa mudança mas sim como alguém que pode aconselhar o Governo trabalhando com ele.
Atendendo a este ponto de vista, é compreensivel que se ataque Cavaco Silva minimizando a sua mais valia técnica na área da economia e, também não creio que Cavaco faça demasiada "gala" em relação ao assunto não só por não precisar mas sobretudo porque também sabe que não se pode substituir ao Governo.
Ressalva - perceber a estratégia de ataque a Cavaco não implica que concorde com a forma como ela tem sido feita.
Não creio que esta discussão sobre as especialidades dos candidatos seja relevante, é o mesmo que a discussão sobre ser ou não um politico profissional, é estar a discutir o "sexo dos anjos".
Todos nós gostariamos de conhecer o pensamento concreto dos vários candidatos sobre a forma de exercerem o magistério de influência do Presidente da Républica por forma a melhorar a situação do país (que passa inevitavelmente pela questão económica e financeira).
A esta questão, a entrevista de Mário Soares foi um oportunidade perdida.
By Luis, at 11:31 da tarde
Olá Luís,
Obrigado pelo teu comentário, que subscrevo. Acho que percebeste que o meu ponto com este post era obviamente ridicularizar esta história das "áreas de especialidade"... também não acho que seja demasiado relevante, como disse o VPV. Acho que há um mínimo, no entanto. E no caso de Soares, a sua ignorância económica, emparelhada com os seus ímpetos anti-capitalismo, tornam o futuro de Portugal ainda mais perigoso. É que de "há mais vida para além do défice" já todos tivemos um amargo gosto...
By Tiago Mendes, at 12:35 da manhã
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