Mário e Fernando
«Houve um ministro do actual governo, Silva Pereira, que disse, a respeito da minha candidatura, uma frase que me pareceu interessante: ao princípio estranha-se, depois entranha-se.» Foi o que Soares disse ontem em Coimbra. A frase original de Pessoa é: primeiro estranha-se, depois entranha-se; bem conhecida, foi usada para a campanha de lançamento da Coca-Cola em Portugal, em 1928. Dada a declaração feita pelo candidato presidencial apoiado pelo Partido Socialista, das três uma: 1) ou Soares não sabe hoje, nem nunca soube disto; 2) ou Soares não sabe hoje, mas já o soube em tempos; 3) ou Soares sabe-o hoje, mas não o mencionou. As conclusões seguem-se com naturalidade: 1) Soares não é o "humanista culto" que tanto gosta de alardear; 2) Soares está meio chalupa (vulgo, PDI); 3) Soares é pouco respeitador das fontes e da dignidade autorial. A escolha é liberalmente vossa.
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PS: em nota dum leitor anónimo, é dito que Soares terá referido Pessoa no seu discurso. Isso não passou na RTP. Assim, a citação descontextualizada torna-se falaciosa, por omitir factos relevantes para a conclusão proposta. A coisa só não é estupidamente grave porque neste post se faz sobretudo uma brincadeira. Se fosse um argumento sério, naturalmente teria pesquisado mais para saber dos eventuais dados omitidos que pudessem mudar consideravelmente as conclusões.
10 Comments:
Parece que se Mário Soares não conhece ou não tenha referido que a frase "primeiro estranha-se e depois entranha-se" pertencer a Fernando Pessoa possa permitir concluir que não seja um humanista culto.
Como venho a ler o seu blog com muita atenção parece que caiu claramente numa manifestação falaciosa que tanto gosta de condenar a outros.
By Anónimo, at 11:33 da manhã
"Parece que se Mário Soares não conhece ou não tenha referido que a frase "primeiro estranha-se e depois entranha-se" pertencer a Fernando Pessoa possa permitir concluir que não seja um humanista culto."
Caro leitor atento, era uma piada, claro... não me leve demasiado a sério. Como ele gosta muito de pavonear uma certa cultura e intelectualidade que não tem (tanto quanto alardeia, pelo menos), achei por bem apontar isso, e de resto defender o grande Fernando Pessoa, que ontem deve ter dado uma volta na tumba. Apareça sempre.
By Tiago Mendes, at 12:39 da tarde
Caro Tiago
Ia escrever o que o Leitor Atento escreveu. Lamento, mas quem anda sempre à cata de erros lógicos não pode cometer falácias destas, mesmo sendo à laia de brincadeira. Ou então tem de passar a aceitar as brincadeiras dos outros...
Grande abraço
LA-C
By Anónimo, at 5:59 da tarde
Soares é o pior que esta democracia pariu
By Anónimo, at 7:02 da tarde
"Lamento, mas quem anda sempre à cata de erros lógicos não pode cometer falácias destas, mesmo sendo à laia de brincadeira."
Caros LA-C e Leitor Atento,
O que eu fiz não é uma falácia. Seria apenas definir como CONDIÇÂO NECESSÁRIA para se ser "humanista e culto" conhecer a frase de Pessoa. Essa é a condição mínima para o que eu disse fazer sentido.
A minha resposta anterior ao Leitor Atento deve ser lida como "cordial e bondosa", porque de facto não há qualquer falácia ou contradição (formal). Apenas poderá ser apontado o "excesso" de eu achar (ou melhor, ter proposto no post, em tom jocoso) que quem não conhece esta frase de Pessoa não pode ser apelidado de humanista e culto, independentemente do resto que saiba. Tal como foi suficiente para tal Cavaco não saber o número de cantos dos Lusíadas, ou Santana não saber que Chopin não compôs concertos para violino.
Mas, estritametne falando, isso não é nenhuma falácia. Pode ser vistas curtas, ter defiições demasiado apertadas, mas não é uma falácia. Uma falácia envolve um erro formal num ARGUMENTO e o que eu fiz foi apenas propor uma PREMISSA, logo, o termo falácia está mal aplicado.
By Tiago Mendes, at 8:20 da tarde
Mário Soares fez referência ao que disse Silva Pereira, fazendo igualmente referência a Fernando Pessoa.
Houve eventualmente algum canal televisivo que não passou a peça completa.
Devia haver mais rigor por parte dos meus amigos que fazem comentários e "posts"...
By Anónimo, at 9:41 da tarde
Ok, caro anonymous, vou referir isso em PS. Obrigado. Na RTP não passou de facto. Eu acho que Mário Soares deveria ter referido isso quando disse a frase, mas admito que o tenha feito (bastante) antes ou depois, e aqui retirar a frase fora do contexto é falacioso.
By Tiago Mendes, at 10:19 da tarde
Tiago Mesdes:
Depois de ler todos os comentários e ver em letra pequenina o PS a sua resposta ao meu comentário não é uma falácia?
«Caro leitor atento, era uma piada, claro... não me leve demasiado a sério.»
Eu ando a aprender lógica consigo
By Anónimo, at 9:23 da manhã
"definir como CONDIÇÂO NECESSÁRIA para se ser "humanista e culto" conhecer a frase de Pessoa."
Inventar definições erradas ou redutoras, é em si mesmo uma falácia argumentativa meu caro. Dá as voltas que quiseres, este ‘post’ não é intelectualmente honesto e não te merece.
By Anónimo, at 9:49 da manhã
"Inventar definições erradas ou redutoras, é em si mesmo uma falácia argumentativa meu caro."
Meu caro, não quero tornar isto um "caso de polícia", mas concordarás que cada um de nós tem liberdade para escolher algumas definições que são SUBJECTIVAS. Por exemplo, eu tenho direito a ter uma certa concepção do "belo", como tenho direito a achar que uma pessoa não conheça X não se pode *arrogar* de ser culta (ainda que o seja "broadly speakig").
OU seja, quanto a mim o teu erro está em achares que há uma "definição objectiva" de "humanista". Não há. É subjectivo. [Pelo menos num país onde haja liberdade de expressão]. Logo, eu tenho direito a achar que é uma condição necessária para se ser culto saber quem é o autor desta frase, como poderia achar outras condições necessárias (não digo suficientes, atenção) saber quem disse "Ser ou não ser, eis a questão".
"Dá as voltas que quiseres, este ‘post’ não é intelectualmente honesto e não te merece."
Não é dar voltar, meu caro. É somente porque há subjectividade e eu tenho direito a definir para "mim" o que é uma pessoa "humanista" e "culta". Quanto muito, podeerias chamar-me de snob, elitista, fascista o que queiras, por ter uma (aparente) definição tão "apertada". Mas isso não tem a ver com "honestidade intelectual".
Mas mesmo que tivesse... repara que o tom do post é jocoso. Admito que tenha ficado com um ar sério, porque eu indico três explicações exaustivas. Problemas hermenêuticos, e de resto tens todo o direito à tua opinião, claro. Mas acho excessiva essa tua interpretação. Os pontos eram: 1) relembrar e proteger Fernando Pessoa, que é o santo padroeiro desta casa, 2) brincar um pouco com Soares (a história da PDI é uma boa pista de que se trata de brincadeira, pelo menos parcial), 3) fazê-lo de forma lógica.
Caro Leitor Atento,
De facto, a interpretação da minha "intenção" não era linear. DIgo apenas isto: se eu passar a indicar no final do post um "isto era irónico", ou "isto era humor", ou "isto é 100% sério" a coisa fica meio sem piada. O leitor tem todo o direito a fazer a sua interpretação, e acho que é para isso também que servem as caixas de comenta´rios, para esclarecer algumas coisas.
Obrigado aos dois.
By Tiago Mendes, at 10:46 da manhã
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