aforismos e afins

28 dezembro 2005

«Saraband» e o ódio

Vi-o em reposição há umas semanas, e fiquei com as mesmas impressões do Henrique Raposo. Passo-lhe então a palavra:
.
«Primeiro: é um acontecimento porque marca o regresso de um clássico vivo. (...) Terceiro: apesar de tudo, não é uma obra-prima. (...) Bergman sempre teve o condão de arrancar a alma aos actores. Nos seus filmes, os actores revelam os excessos da condição humana. De Saraband, marquei uma cena que simboliza o excesso típico da raça: o ódio. Apenas o Homem pode odiar. A besta limita-se a reagir. Deus limita-se a amar. A máquina limita-se a estar. Só a besta humana pode odiar. E a cena é aquela da biblioteca. Entre pai e filho. O ódio, a tensão pré-suicida, o asco, enfim, todo o lixo que se concentra no ressentimento foi ali figurado. Aquele ódio é de tal forma esmagador, que, a certa altura, temos vontade de sair da sala. É demasiada realidade. É confrangedoramente real.»
.
PS: O hiato temporal entre o Saraband e o Cenas da Vida Conjugal trouxe-me à memória um dos meus filmes preferidos de sempre, As Invasões Bárbaras, de Denys Arcand, sequela d' O declínio do Império Americano. Recomendo vivamente ambos.

2 Comments:

  • "Saraband" é uma obra-prima, e concordo com a associação a "Invasões Bárbaras", que é outra obra-prima, e um dos meus filmes de sempre, também.

    By Blogger André Carapinha, at 6:02 da tarde  

  • não vi "saraband" mas vi as invasões, que é absolutamente um must, e nos deixa em paz.

    By Blogger ana, at 8:14 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home