aforismos e afins

05 outubro 2005

Coincidencias

Nem a propósito do aqui citado "Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão", Eduardo Prado Coelho brinda-nos hoje com um artigo no Público (subscritores aqui e demais lá em baixo) intitulado "A linguagem da economia". Previsivelmente, escreve uma série de banalidades que estão quase sempre carregadas de ignorância, que é causa mas também consequência de muito preconceito pouco recomendável a um epistemólogo.

Exemplos? Três: 1. "A economia é uma ciência que o não chega a ser por inteiro, mas isso leva-nos a ter de aceitar aquilo que parece ser um veredicto unânime"; 2. "E a grande distinção: os que vêem apenas a economia na economia e os que vêem também a necessidade do social"; 3. "Mas há os outros que são insensíveis. Em nome de uma felicidade futura que nunca chega a ser nomeada, sacrificam tudo". [Quero crer que até o meu amigo "econo-céptico" se insurgiria contra esta prosa simplista e deturpadora.] De resto, EPC conclui fazendo publicidade descarada à casa que o acolhe, numa crónica que resulta sem pés nem cabeça, entre o planfetário-revanchista e o publicitário-amiguista.

PS: também eu geralmente ignoro o caderno de Economia do Expresso, tirando algumas colunas de opinião e manchetes. Globalmente, aquilo não tem "Economia" que me interesse muito - o que gosto de ler é, por exemplo, isto, ou isto, muito mais que isto ou isto.

1 Comments:

  • A dita cronica:

    "Foi uma vergonha. Estava eu em Bruxelas, por causa da Europália, e desloquei-me a um daqueles lugares míticos nas grandes capitais europeias "onde se vendem jornais portugueses". De regresso, Rui Vilar, comissário da iniciativa, pediu-me o Expresso emprestado e depois perguntou-me: "E o suplemento de economia?" Tive de confessar que o havia deixado no café por manifesto desinteresse. Nesses tempos eu não lia suplementos de economia.

    Hoje, tudo mudou. Os jornais e revistas económicos multiplicaram-se, os suplementos também e quase toda a gente os quer ler para discutir as taxas de juro, o PIB e o défice. A linguagem da economia entrou no nosso quotidiano. Ninguém discute ideologia, está-se em plena ideologia da economia e é a economia que se discute - ou melhor, aprende-se, não se discute, porque há uma mistura entre leis inflexíveis, conceitos rígidos e valores ideológicos sub-reptícios.

    E daí que um dos maiores, mais cultos e inteligentes economistas deste país me respondesse, quando eu lhe dizia: "Então anda a despedir pessoas?" "Não, não sou eu, é a realidade."

    A economia é uma ciência que o não chega a ser por inteiro, mas isso leva-nos a ter de aceitar aquilo que parece ser um veredicto unânime. Com pequenas variações, é claro, um bocadinho mais para a direita, um bocadinho mais para a esquerda, um bocadinho mais de IVA, um bocadinho menos de IVA. E a grande distinção: os que vêem apenas a economia na economia e os que vêem também a necessidade do social.

    E procuram reduzir o desemprego, dar-lhe um tratamento específico, criar formas de apoio. Mas há os outros que são insensíveis. Em nome de uma felicidade futura que nunca chega a ser nomeada, sacrificam tudo. Falariam com mais veemência e envolvimento, se os desempregados fossem eles. Mas entre piscinas em residências secundárias, jaguares, andares na Expo e viagens às Maldivas, o desemprego é um tema mais leve.

    O PÚBLICO acaba de lançar uma revista intitulada Dia D. O nome é relativamente arbitrário, mas designa uma publicação sobre a vida económica, ou melhor, uma publicação sobre a vida vista de um ponto de vista económico. P

    Porque encontramos também computadores, telemóveis, ecrãs plasma ou os desportos a que os executivos se dedicam. É um modelo de publicação atractiva e bem elaborada que sabe bem qual o público-alvo a que se dirige. É aos jovens que querem entrar no mundo dos negócios. Que Carlos Tavares toque guitarra e adore os Beatles, isso cabe neste tipo de informação. A questão de arranjar emprego, responder a entrevistas e ter empresas com êxito insere-se numa ideologia de sucesso que tem por contraponto uma secção anti-stress.

    Um toque de design, um recurso a certas noções psicológicas, muita Internet e meia dúzia de ideias económicas de base, e pronto: tudo carbura às mil maravilhas. O essencial está num grafismo que é um modelo de comunicabilidade e que define a nossa sociedade nos seus ideais de comunicação generalizada. Uma coisa garanto, e ao Rui Vilar também: jamais o deixarei envergonhadamente escondido na cadeira de um café."

    Professor universitário

    By Blogger Tiago Mendes, at 2:10 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home