aforismos e afins

27 novembro 2005

Correcção formal ao silogismo nº 1

Um estimável leitor-blogger, que preferiu manter o anonimato, apontou duas fragilidades na construção formal do silogismo presente neste post. A saber: 1) de duas premissas negativas não se pode retirar qualquer conclusão válida; 2) a conclusão tem de seguir sempre a premissa mais fraca: se uma das premissas é negativa, a conclusão tem de ser negativa; é o caso e o que aparece no seu argumento como conclusão é afirmativo (sic).

Assim, depois de breves rounds dialécticos, e sem que o sentido do silogismo se altere, a proposta do leitor, mais apurada e mais consentânea com o dever ser da lógica, foi rapidamente aceite:

Premissa 1: Toda a moral é escolha.

Premissa 2: Nenhuma orientação sexual é escolha.

Conclusão: Nenhuma orientação sexual é moral.

A conclusão pode ser lida, alternativa e equivalentemente, como «Toda a orientação sexual é amoral». Reitero que o sentido quer das premissas quer da conclusão não se altera. Em termos de semântica, a nova formulação poderá parecer um pouco mais "difícil de ler", mas é de facto mais correcta formalmente.
E, nestas coisas, melhor ser perfeito na forma e tentar perceber o que está por trás da construção mais contida nas palavras.

Renovado obrigado ao leitor pelo precioso contributo.

5 Comments:

  • Julgo que era aristóteles que contrapunha a lógica formal à tópica

    esta (a tópica) seria uma lógica de outro tipo, uma lógica argumentativa e probabilistica mais vocacionada para a análise de temas humanos (ao contrário da lógica formal)

    se tiver tempo espero dar uma vista de olhos por velhos livros

    By Blogger timshel, at 11:04 da manhã  

  • Assim aprendo ainda algo de lógica, com a minha idade avançada...
    Obrigado ao anónimo e ao dono desta casa!

    By Blogger lb, at 12:07 da tarde  

  • Obrigado também eu, caro Lutz. A aprendizagem no diálogo mútuo e aberto é sinceramente uma razão maior para este espaço existir e me dar especial prazer. É também uma forma eficiente de aprender, porque se consegue mais facilmente (que noutros meios) congregar tantas especialidades, com tantos consequentes e valorosos contributos, que só uma mente fechada e pretenciosa se arrogaria de nunca aprender. Para botar palavra, melhor criar uma seita cheia de dogmas e rituais. Tenho a felicidade de ir aprendendo muita coisa com o meu caro João Galamba, como o tenho também com tantos "outros" aí desse lado, e noutros blogs. Isso é bom. Satisfaz-me. Abraço,

    By Blogger Tiago Mendes, at 12:34 da tarde  

  • O que dizia o anterior leitor (cujo comentário não encontrei) é errado a não ser que ele se referia a um sistema lógico muito concreto com uma definição muito concreta de "premissa negativa" (talvez "premissa livre negativa" ou "premissa quantificada universalmente negativa"). Caso contrário, em lógica de primeira ordem como abaixo, dizer que uma premissa é negativa ou positiva não me parece fazer muito sentido. Aliás, se assim fora, não seria possível fazer a transformação que fizeste.

    Formalmente:

    "¬" é NOT, "|" é OR e & é AND e n. é equivalente a n' e a n'' e a n''':

    1. A(x) : OBJECTO-MORAL(x) => ESCOLHA(x)
    1'. A(x): ¬ OBJECTO-MORAL(x) | ESCOLHA(x)
    1''. ¬ E(x): OBJECTO-MORAL(x) & ¬ ESCOLHA(x)
    1'''. A(x): ¬ESCOLHA(x) => ¬OBJECTO-MORAL(x)

    2. ¬ E(x): ORIENTACAO-SEXUAL(x) & ESCOLHA(x)
    2'. A(x): ¬ORIENTACAO-SEXUAL(x) | ¬ ESCOLHA(x)
    2''. A(x): ¬ ESCOLHA(x) => ORIENTACAO-SEXUAL(x)
    2'''. A(x): ORIENTACAO-SEXUAL(x) => ¬ ESCOLHA(x)

    3. A(x): ORIENTACAO-SEXUAL(x) => ¬ OBJECTO-MORAL(x)
    3'. ¬ E(x): OBJECTO-MORAL(x) & ORIENTACAO-SEXUAL(x)
    3''. A(x): ¬ ORIENTACAO-SEXUAL(x) | ¬ OBJECTO-MORAL(x)

    (3. Segue de 1''' e de 2''' por modus ponens. As tranformações 1->1''', 2->2''' são triviais e seguem da definição dos símbolos).

    By Anonymous Anónimo, at 5:43 da tarde  

  • Obrigado, caro Luis Pedro. Vou actualizar logo que possa, provavelmente soº amanha. Abraco,

    By Blogger Tiago Mendes, at 6:09 da tarde  

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