aforismos e afins

19 novembro 2005

A dádiva da Ciência

Excelente artigo de João Lin Yun no Expresso desta semana.

«É através do raciocínio lógico-dedutivo e do método experimental científico, assente em regras claras, que têm sido possíveis as descobertas científicas. Quando treinamos a mente no raciocínio matemático, desenvolvemos a capacidade de abstracção, de elaborar operações mentais com símbolos (...) A Ciência e a racionalidade são preciosas, das coisas mais valiosas que temos, mas não as únicas. E a maior dádiva da Ciência, tornar-nos seres humanos mais racionais, não deve ser desvirtuada pela negligência e repressão das restantes dimensões humanas.»

Bom para... já sabem quem. Copiado também como comentário.

2 Comments:

  • NESTE ano de 2005 celebra-se o centenário da publicação por Albert Einstein de alguns dos mais importantes resultados e descobertas científicas de toda a história da humanidade. Einstein dizia que «comparada com a realidade, a ciência é algo de tosco e primitivo, mas é também aquilo que temos de mais precioso».

    A Ciência é de facto preciosa e por mais do que uma razão. Aquilo que tem sido realçado vezes sem conta são as suas aplicações práticas que permitiram que a espécie humana se tenha libertado de muitas das suas limitações naturais, como a sua força física e estatura. Através da Ciência, o Homem manipula hoje poderes físicos enormes, para o bem ou para o mal. Através das máquinas que constrói, domina o voo e alcança mesmo outros astros, cura doenças, prolonga o tempo de vida, ou envenena o ambiente e destrói a vida. Mas a Ciência é preciosa também por outras razões, porventura menos presentes no espírito das pessoas. A Ciência permite o treino da racionalidade, permite o treino de uma forma de pensar rigorosa e disciplinada, com efeitos positivos ou negativos tal como no caso das suas aplicações práticas.

    A mente humana é complexa. Nela, os aspectos racionais co-existem com aspectos mais instintivos ou emocionais. Através do desenvolvimento da racionalidade, o ser humano conseguiu distinguir-se dos outros animais. E é através do raciocínio lógico-dedutivo e do método experimental científico, assente em regras claras, que têm sido possíveis as descobertas científicas. Quando treinamos a mente no raciocínio matemático, desenvolvemos a capacidade de abstracção, de elaborar operações mentais com símbolos. Este treino em raciocínio matemático-científico, rigoroso como ele é, nem sempre é fácil. Exige, tal como com qualquer treino físico-desportivo, esforço, insistência, empenho, durante algum tempo, até que se notem progressos. É por essa razão que é necessário desenvolver nas crianças e jovens a noção de que não podem desistir perante algo que é (inicialmente) difícil.

    Uma mente que se treina no raciocínio científico (e que não se feche às outras dimensões que compõem a vida psíquica humana) traz grandes benefícios ao seu dono. Confere-lhe a capacidade de análise de situações que caracteriza a inteligência, a capacidade de abstracção que lhe permite uma vida psíquica mais rica, e o rigor e a honestidade que as regras científicas naturalmente exigem. Contudo, há que precaver de um perigo bem actual: quando as nossas sociedades esmagam todas as manifestações mais instintivas ou emocionais, elevando a razão a um deus único, criam seres desequilibrados que sofrem pela incapacidade de viverem livremente as suas dimensões instintivas e emocionais. A Ciência e a racionalidade são preciosas, das coisas mais valiosas que temos, mas não as únicas. E a maior dádiva da Ciência, tornar-nos seres humanos mais racionais, não deve ser desvirtuada pela negligência e repressão das restantes dimensões humanas. A Astronomia, através da contemplação e descoberta do Universo gigantesco, pode porventura ajudar-nos no reencontro com o misterioso, com a fascinação que é ser-se um ser humano, sem idolatrar a racionalidade. Tal como afirmei anteriormente: «... a contemplação das leis do Universo, o estudo da Ciência, pode ajudar a preservar uma das dádivas principais que fazem de nós seres humanos: o deslumbramento de sermos tão pequenos e efémeros num Universo que se rege por leis de grande beleza estética, e a consciência de que é um Universo que faz sentido, gostemos ou não do papel que nele desempenhamos».

    Director do Observatório Astronómico de Lisboa

    By Anonymous Anónimo, at 8:47 da tarde  

  • Exacto, Cláudio! Cada coisa no seu lugar, mas é preciso saber que há UM lugar - nada de extremismos! ;)

    Abraço,

    By Blogger Tiago Mendes, at 12:23 da manhã  

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