MST - um homofóbico inconsciente? (2)
Sobre o artigo de MST, há mais leituras essenciais a fazer:
1. Francisco Jósé Viegas n'A Origem das Espécies
2. Fernanda Câncio no Glória Fácil
3. Bernardo Sousa de Macedo no Notas Várias
4. Eduardo Pitta no Da Literatura
5. Júlio Machado Vaz no Murcon
Quanto à história do politicamento correcto e de ser contra a corrente, eu gostaria de lembrar que aquilo que uma pessoa diz tem que ser avaliado, em termos da sua political incorrectness, sobretudo em relação ao seu grupo de referência e não à população em geral. Porque é isso que revela coragem. Ir contra a opinião geral da população mas em consonância com aquilo que os que nos estão próximos defendem não demonstra grande coragem. O que seria verdadeiramente politicamente incorrecto seria ver certos blogs liberais de direita assumirem este texto de MST como sendo um atentado às liberdades individuais.
De resto, há certos cronistas que quer pelo estilo de escrita, quer pela atitude, quer pelo prestígio que adquiriram, podem dizer o que quer que seja. O que implica que muito dificilmente se possa interpretar o que dizem como sendo de facto um sinal de coragem. Vasco Pulido Valente e Miguel Sousa Tavares juntam ao (merecido) prestígio um azedume crescente. MST está cada vez mais próximo de VPV. Mais pessimista, mais irascível, mais descrente nos portugueses. José António Saraiva junta ao (merecido) prestígio uma vontade excessiva de ser do contra. É um tipo diferente de VPV e MST. Não mostra azedume, mas do alto da sua posição iluminada, gosta de dar o seu sermão às massas indo contra a opinião vigente. Como já disse e repeti, ser do contra só por ser do contra não tem muito mérito em si.
João Pereira Coutinho é um caso diferente. A juntar ao (mais que merecido) mérito, o cronista de 29 anos tem um estilo de escrita em que a ironia e o politicamente incorrecto andam de mãos dadas, surgindo mais como estilo de escrita autorial do que não como excesso figadal e azedo à la VPV ou (cada vez mais) MST, ou sobranceria de JAS. Mais à la Miguel Esteves Cardoso. JPC, como eu o leio, é e gosta de ser do contra sobretudo por uma questão de estilo - de opção. E é também isso que faz com que seja um dos melhores (o melhor?) cronistas da nação. De resto, julgo que ele se destaca num certo e virtuoso triunvirato.
Voltando à vaca fria. O que me faz grande confusão nisto tudo é que os liberais se silenciem com questões que lidam com os direitos básicos do indivíduo. O direito de se exprimir, nas formas que bem entender, sem que isso lese o interesse dos que a rodeiam. De poder agir de forma A ou B sem que certos arautos venham interpretar essa acção como "colectiva". Falar da obesidade mórbida do Estado é necessário mas também é fácil. Há silêncios que dizem muito. Eu pensava que a soberania do indivíduo, e a responsabilidade que dele decorre, eram as pedras de base dos liberais. É com pena que observo que muito pouca gente na dita direita liberal aborde esta questão racionalmente e não com a atitude de barricada do género "se os tipos do BE e da ILGA defendem isto, nós temos que defender o contrário!". Sobre os que falam da "maricagem" (sic), prefiro não me pronunciar. Não sendo casos únicos - felizmente - não queria deixar de saudar o Adolfo Mesquita Nunes e o António Amaral d'A Arte da Fuga por terem uma abertura de espírito que escasseia à direita portuguesa.
Aos liberais que não sentem qualquer ímpeto para defender estas "causas menores", vulgarmente conotadas como "de esquerda" e ligadas a "lobbies gay", e potencialmente perigosas para o status de macho-ultramontano, deixo Francisco José Viegas falar:
«A tenebrosa moral do povoléu precisa de um choque: transforma um beijo roubado num acto de exibicionismo, exibe aquilo que estava escondido, esconde a pequena miséria quando encontra vítimas a propósito. A pequena moralzinha, além do mais, é imbecil: como não conhece a tolerância, nem as palavras certas, nem a suavidade, trata de excitar os pobres de espírito com a rudeza e o erotismo dos valores morais. Erro sobre erro.
Gore Vidal dizia que sexo é política; eu acho que não. Não é uma luta minha, se me entendem. Mas se se trata de rir de cavernícolas e de defender as duas alunas, contem comigo. Como um liberal à moda antiga.»
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PS: Relembro ainda este texto, inspirado nisto.
1. Francisco Jósé Viegas n'A Origem das Espécies
2. Fernanda Câncio no Glória Fácil
3. Bernardo Sousa de Macedo no Notas Várias
4. Eduardo Pitta no Da Literatura
5. Júlio Machado Vaz no Murcon
Quanto à história do politicamento correcto e de ser contra a corrente, eu gostaria de lembrar que aquilo que uma pessoa diz tem que ser avaliado, em termos da sua political incorrectness, sobretudo em relação ao seu grupo de referência e não à população em geral. Porque é isso que revela coragem. Ir contra a opinião geral da população mas em consonância com aquilo que os que nos estão próximos defendem não demonstra grande coragem. O que seria verdadeiramente politicamente incorrecto seria ver certos blogs liberais de direita assumirem este texto de MST como sendo um atentado às liberdades individuais.
De resto, há certos cronistas que quer pelo estilo de escrita, quer pela atitude, quer pelo prestígio que adquiriram, podem dizer o que quer que seja. O que implica que muito dificilmente se possa interpretar o que dizem como sendo de facto um sinal de coragem. Vasco Pulido Valente e Miguel Sousa Tavares juntam ao (merecido) prestígio um azedume crescente. MST está cada vez mais próximo de VPV. Mais pessimista, mais irascível, mais descrente nos portugueses. José António Saraiva junta ao (merecido) prestígio uma vontade excessiva de ser do contra. É um tipo diferente de VPV e MST. Não mostra azedume, mas do alto da sua posição iluminada, gosta de dar o seu sermão às massas indo contra a opinião vigente. Como já disse e repeti, ser do contra só por ser do contra não tem muito mérito em si.
João Pereira Coutinho é um caso diferente. A juntar ao (mais que merecido) mérito, o cronista de 29 anos tem um estilo de escrita em que a ironia e o politicamente incorrecto andam de mãos dadas, surgindo mais como estilo de escrita autorial do que não como excesso figadal e azedo à la VPV ou (cada vez mais) MST, ou sobranceria de JAS. Mais à la Miguel Esteves Cardoso. JPC, como eu o leio, é e gosta de ser do contra sobretudo por uma questão de estilo - de opção. E é também isso que faz com que seja um dos melhores (o melhor?) cronistas da nação. De resto, julgo que ele se destaca num certo e virtuoso triunvirato.
Voltando à vaca fria. O que me faz grande confusão nisto tudo é que os liberais se silenciem com questões que lidam com os direitos básicos do indivíduo. O direito de se exprimir, nas formas que bem entender, sem que isso lese o interesse dos que a rodeiam. De poder agir de forma A ou B sem que certos arautos venham interpretar essa acção como "colectiva". Falar da obesidade mórbida do Estado é necessário mas também é fácil. Há silêncios que dizem muito. Eu pensava que a soberania do indivíduo, e a responsabilidade que dele decorre, eram as pedras de base dos liberais. É com pena que observo que muito pouca gente na dita direita liberal aborde esta questão racionalmente e não com a atitude de barricada do género "se os tipos do BE e da ILGA defendem isto, nós temos que defender o contrário!". Sobre os que falam da "maricagem" (sic), prefiro não me pronunciar. Não sendo casos únicos - felizmente - não queria deixar de saudar o Adolfo Mesquita Nunes e o António Amaral d'A Arte da Fuga por terem uma abertura de espírito que escasseia à direita portuguesa.
Aos liberais que não sentem qualquer ímpeto para defender estas "causas menores", vulgarmente conotadas como "de esquerda" e ligadas a "lobbies gay", e potencialmente perigosas para o status de macho-ultramontano, deixo Francisco José Viegas falar:
«A tenebrosa moral do povoléu precisa de um choque: transforma um beijo roubado num acto de exibicionismo, exibe aquilo que estava escondido, esconde a pequena miséria quando encontra vítimas a propósito. A pequena moralzinha, além do mais, é imbecil: como não conhece a tolerância, nem as palavras certas, nem a suavidade, trata de excitar os pobres de espírito com a rudeza e o erotismo dos valores morais. Erro sobre erro.
Gore Vidal dizia que sexo é política; eu acho que não. Não é uma luta minha, se me entendem. Mas se se trata de rir de cavernícolas e de defender as duas alunas, contem comigo. Como um liberal à moda antiga.»
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PS: Relembro ainda este texto, inspirado nisto.
3 Comments:
O CAA e um "liberal" sui generis. La esta ele no Blasfemias a destilar os seus preconceitos...Liberais a la carte so mesmo em Portugal...
By Joao Galamba, at 3:22 da tarde
Obrigado pelo reparo, caro Pedro. Obviamente foi uma gralha, eu queria dizer INcorrecto - acho que o contexto o comprova :)
By Tiago Mendes, at 3:30 da tarde
Meu Caro,
Liberdade individual eh o fundamento basico de QUALQUER liberal. Assim, qualquer pessoa que va contra essa corrente tem muito pouco em comum com a corrente liberal.
Importante lembrar que um liberal NAO critica associacoes coletivas DESDE que as mesmas se deem por mutuos acordos e NAO por imposicao do estado.
Adolfo (www.bdadolfo.blogspot.com)
By Unknown, at 1:21 da manhã
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