aforismos e afins

30 novembro 2005

a Morte

«Ninguém o confessa senão a si próprio. O nosso sonho é não morrer. Quando a gente se esquece um bocado a vida tem já passado. E quando a vida tem já passado é que nos agarramos com mais saudades à vida. E como a morte é inevitável, como tenho por força de me resignar, como não lhe posso fugir, para não se perder tudo, criei outra vida. E afinal quem sabe se este sonho que a humanidade traz consigo desde que pôs o pé no mundo não é o maior de todos os sonhos e o único problema fundamental? (...) A questão suprema é esta e só esta: Deus existe ou Deus não existe. Se não há Deus, a vida, produto do acaso, é uma mistificação. Aproveitemo-la para satisfazer instintos e paixões.»

Raúl Brandão, «Húmus»