Atlantismo jacobino?
«E, em 2005 tal como em 1936, as palavras de Álvaro Morna são duma profunda lucidez: "Considero esta base [a presença do crucifixo nas escolas públicas] um erro político; e os erros políticos são sempre graves, sobretudo quando tocam a consciência de cada um de nós."»
Serena, assertiva, e nada acidental - Helena Matos no Público.
Serena, assertiva, e nada acidental - Helena Matos no Público.
10 Comments:
Muito bom o artigo da Helena Matos. E eu que normalmente nao suporto aquela necessidade permanente de ajustar contas com o passado...mas hoje bato-lhe palmas.
By Joao Galamba, at 3:09 da tarde
Precisamente por tocar a consciência de cada um de nós, a decisão não deve ser feita apenas consciência da pessoa que reside no Ministério da Educação.
By Bruno Gouveia Gonçalves, at 4:30 da tarde
Caro Bruno,
Creio que não. Sem exageros, o respeito pela consciência de "cada um" (repara que não falamos da consciência "social", o que quer dizer que não apelamos à "tradição", etc) implica que o Estado deve ser tão neutral quanto possível. Isto não é radicalismo nenhum, é apenas cumprir o que está na lei, e que é um estado, não indiferente ao peso da história e da tradição (que justifica os feriados, os nomes religiosos nas ruas, monumentos, etc), mas "formalmente" laico.
Juro que me custa a entender a atitude de barricada numa questão tão simples. Não me interessa o que diz a Associação Repúlica Laica, ou lá como se chama, nem o que pensam os maçons. Interessa um estado laico, formalmente laico, que respeite, entenda, e promova a tolerância para com as religiões. Mas, cruzes nas escolas, ou nos tribunais (como aconteceu na Itália há dias, com um juiz a ser condenado por se recusar a julgar num tribunal com crucifixos), parece-me algo objectivamente errado.
Sem exageros, mas sem cedências. O-b-j-e-c-t-i-v-a-m-e-n-t-e errado. Só isso.
By Tiago Mendes, at 5:34 da tarde
Concordo, mas preferia que houvesse mais (alguma?) descentralizacao das directivas e na politica educativa em geral. Ai concordo com a acusacao de excessos centralistas de inspiracao francesa que o JCE aponta. Como escrevi, e sem concordar com as conclusoes do JCE,preferia que as coisas nao fossem feitas uniformemente e com indiferenca e desrespeito total pelas comunidades locais.
Na questao dos crucifixos quem sabe se a conclusao nao teria sido a mesma (acho que sim), mas numa estrategia geral do ministerio e da politica educativa urge desmantelar o monstro.
By Joao Galamba, at 6:03 da tarde
Tiago,
Se todos os pais de uma turma, estivessem de acordo em que os seus filhos fossem ensinados numa sala com um crucifixo, isso faria com que o Estado deixasse de ser laico? Isso seria estar a retirar "objectividade" ao ensino?
By Bruno Gouveia Gonçalves, at 6:23 da tarde
Bruno,
Eu não ia por aí. O estado ou é laico ou não é. Não é que eu responda "não" à tua pergunta. Apenas acho que ela está mal colocada. O "default" é não haver símbolos religiosos - period.
Imagina que na tua pergunta substituias "crucifixo" por uma coisa menos "óbvia", mas que mesmo assim fosse aprovada "unanimemente" pelos pais. Não vou dar exemplos para não chocar ninguém nem acirrar a questão.
Isto é uma questão de princípio, ou não. Não quer dizer que não possa haver excepções. Agora estar a pretender que a escola seja um sítio onde os pais, etc, "votam" para decidir sobre a "decoração" das salas, etc, parece-me um exagero.
Acho que não é com esses (pseudo) contra-exemplos que se argumenta a favor, sinceramente.
Imagina 2 cenários:
A. Proibição abosluta de símbolos religiosos
B. Permissão de símbolos quando houver votações unânimes
Agora imagina que num determinado ano entra um muçulmano para a turma, que se sente "incomodado" com o crucifixo. Será que se devia retirar o crucifixo? Será que isso seria "provável", uma vez que haveria 1 voto contra 20 ou 30?
Ou temos regras ou não temos. E isto não é "multiculturalismo", nem "relativismo", nem "jacobinismo", nem nenhum outro "ismo" que certa direita gosta de atirar contra a barricada do outro lado.
É pura e simplemente uma "formalidade", e uma tentativa, tanto quanto possível, de ter um espaço plural, tolerante, mas tendencialmente neutro e imparcial naquilo que são representações simbólicas.
By Tiago Mendes, at 6:30 da tarde
Caro Tiago,
Se segui este rumo, é porque os argumentos que têm sido fornecidos para apoiar esta decisão prendem-se quase sempre na laicidade do Estado. Apenas por isso. É sempre muito bonito quando se fala em descentralização de poderes, e de conferir às pessoas os meios para decidir, de modo a que sejam elas livres de escolher a melhor maneira e as melhores condições para os seus filhos estudarem. Mas levar isto à prática, é outra história completamente diferente...
Não se trata de se fazerem votações entre pais e contra pais. Trata-se de um assunto em que se existe um consenso, será assim tão difícil acatar essa decisão? Posso dizer que inicialmente quando abordaste o tema, referiste que este não é, nem deve ser a preocupação dos pais e dos responsáveis pela educação em Portugal. Posso dizer que estou completamente de acordo com isso, mas esta questão chegou a um ponto que é impossível tentar focarmo-nos noutros assuntos, dado que chega a roçar a intolerância.
"Acho que não é com esses (pseudo) contra-exemplos que se argumenta a favor, sinceramente."
Não creio que se tratem de pseudo-exemplos, até porque nem sei bem o que achas por exemplo a 100%, mas tudo bem.
Pedes-me para imaginar a situação de entrada de um aluno muçulmano para uma destas salas de aula. Sinceramente não vejo qual o dilema. Nada que um diálogo entre todos não resolva! E não acho que os pais se importem de retirar o crucifixo para que o novo aluno não se sinta incomodado, caso não cheguem a outro consenso! Este sim, é um exemplo de um espaço plural e tolerante, onde as pessoas resolvem as seus problemas e divergências no seio da sua comunidade.
By Bruno Gouveia Gonçalves, at 6:56 da tarde
Caro Bruno,
O "pseudo" não era menorizante; era apenas para dizer que eu achava que de facto isso não era um contra-exemplo válido.
Simplesmente, a escola pública é a escola pública. Não acho que devam haver símbolos religiosos. POdem haver capelas, aulas de reflexão, meditação, todas elas com símbolos eventualmente escolhidos pelos pais. A escola deve ser um espaço de tolerância e pluralistmo.
Isso não invalida que a sua "base" deva ser tão neutral quanto possível. Por muito que não queiramos, um crucifixo numa sala de aula, simbolicamente, e ainda para mais tendo em conta a idade das crinças e adolescentes, tem um apelo imediato de não separação entre Estado e Igreja e sou totalmente contra isso.
A escola é para aprender. Se querem escolher símbolos para as paredes, ponham figuras geométricas, quadros do Boticeli, um mapa mundo, o que queiram. Mas crucifixos não.
By Tiago Mendes, at 7:02 da tarde
"tem um apelo imediato de não separação entre Estado e Igreja".
Se pensasse isso, também seria contra...
Mas acho que percebeste a minha opinião, não insito mais.
Um abraço
By Bruno Gouveia Gonçalves, at 7:05 da tarde
Ok, caro Bruno. Acho que percebi. É apenas porque acho que o simbólico e o formal são muito importantes nestas coisas. Também não insisto mais.
Um abraço,
By Tiago Mendes, at 7:06 da tarde
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