aforismos e afins

30 dezembro 2005

Filmes e afins

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Sobre freiras sensuais não tenho de facto autoridade para comentar. Quanto ao 2046, tenho curiosidade nessa crónica do PMS. Eu e o João concordamos aqui sobre ele. Recomendo ainda o debate que se gerou entre os dois acerca do Primavera, Verão, Outono, Inverno... Primavera (tens de ver este filme). Quanto à Crónica, estamos em perfeita sintonia. Só quis lembrar essa excepção. A ver se combinamos uns copos ou jantar antes de ir (João e demais - by email please).
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Ontem fui ver O Fiel Jardineiro. Não gostei. Também ia com alguma expectativa. Mas o filme nem é filme (com plot) nem é documentário (com informação). Quanto a mim, faz um mau serviço à "causa", ainda que valha pelo "alerta" que faz. Mas a verdade é que o filme - não sendo baseado numa história real - não acrescenta nada a duas linhas que se leiam no jornal sobre aquilo que ela versa. O flashback inicial é escusado e depois mal trabalhado. As personagens são pouco profundas. Não há história de amor. A única cena verdadeiramente bem conseguida é a inicial, em que o tímido lecturer é conduzido aos aposentos duma jovem que prometia. Ralph Fiennes é giro, relativamente bem conservado, mas é um actor muito pouco versátil. Fez um papelão n'A Lista de Schindler, e mais nada. No Paciente Inglês atura-se. Mas ele não sabe sorrir. Nem chorar. Nem consegue abrir a boca. É um típico british, que fala como ventríloquo, de boca fechadinha e sem expressar demasiadas emoções. Eu sempre que o vejo lembro-me do tipo nazi e mais nada. É ele.
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No filme sobre o holocausto nazi, há aquela frase final, dita em comoção pelo Izthak Stern - «Whoever saves one life, saves the world entire» do Talmud, quanto Schindler chora e se culpabiliza por não ter salvo mais pessoas. Neste filme, a cena do jipe, em que a mulher dele quer dar boleia a uma família (e ele recusa), e depois a outra onde é ele a querer salvar uma criança no avião que os socorre, têm pouca densidade. Já não falo da cena dele a tentar subornar o piloto africano, que lhe diz (e isto é muito british): «Regras são regras». Há coisas que poderiam resultar mas não resultam por debilidade do realizador - tão simples quanto isso. A actriz é bonitinha mas fraquinha. O seu amigo negro tem uma ou outra cena dúbia que valem bastante. O Sudin é um escroque mal caracterizado. Mesmo o jardineiro é um tipo pouco profundo, quer queiramos quer não. O "volte-face" na sua personalidade está ao nível das novelas brasileiras. Tudo previsível.
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Porque é que o realizador não optou por um registo mais próximo do documentário? Julgo que teria resultado melhor. Seria mais eficaz explorar uma pequena informação/investigação baseada em factos reais, do que oferecer-nos 2 horas de uma coisa que não vale nem pelo conteúdo nem pela estética. As alusões aos lucros das farmacêuticas e aos 3 anos que envolveria mudar a investigação, etc, são coisas (perdoa-me João, mas são, ou pelo menos resultam em tal, se analisares friamente a coisa) que roçam a propaganda do Bloco de Esquerda. Não que não tenham um fundo de verdade, e muito menos que o assunto não seja gravíssimo. Mas a forma como vêem as coisas é deturpada. Com tanto caso de corrupção em África, seria mais proveitoso fazer um fime-documentário do que esta charupada. Mil vezes uma reportagem de 2 minutos na BBC sobre o que se passa num destes países do que este filmezito, que parece uma mescla daquela chachada com o Dustin Hoffman sobre o vírus ébola com a encenação da diplomacia e bastidores dum qualquer 007.
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A única coisa boa que acontece com este filme é mesmo uma vontade imensa de rever o África Minha. Isso, sim.

1 Comments:

  • vi o filme e gostei.

    gostei pela história de amor imponderado; o amor blasfemo que vence na morte; relembro a forma como Sandy amava Tessa e a forma como Justin não amou Tessa.

    gostei pela imagens do lago Turkana; rever aquele lago também imponderado em tela de cinema foi especial.

    gostei mais (como é absolutamente óbvio) do África Minha. Isso, sim pois!

    By Blogger jmnk, at 4:37 da tarde  

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