A lógica do direito à adopção
«David Cameron, probable future conservative leader in the UK, favours adoption by gays/lesbians, on the very reasonable grounds that the law allows adoption by singles/individuals»
(via O Blogue do Nuno e da Chiara)
Por princípio, defendo que uma criança tenha o direito a ter pai e mãe, de diferentes sexos, porque isso é o natural. Este «natural» é positivo e não normativo. É natural porque é de um homem e uma mulher que nasce uma criança. É desejável também, a meu ver, que a criança possa crescer num ambiente onde homem e mulher possam providenciar, num ambiente harmonioso, os papéis masculino e feminino, desejáveis ao seu desenvolvimento.
Em Portugal, e no Reino Unido, uma pessoa solteira pode adoptar uma criança. Esse solteiro poderá adoptar independentemente da sua orientação sexual. Não me parece haver qualquer argumento forte para negar essa possibilidade de adopção a quaisquer duas pessoas que vivam na mesma casa, e dentro duma certa relação, uma vez que se permite que apenas uma o faça. Não me parece muito fácil (mas admito que seja possível) defender logicamente a impossibilidade de adopção por casais homossexuais quando se é a favor da adopção monoparental.
Acho que seria mais coerente que os que são contra o direito de adopção por parte de homossexuais defendessem simplesmente o fim da possibilidade de adopção por parte de um indivíduo. Acredito que este pequeno exemplo poderá ilustrar a diferença na qualidade do debate em Portugal e Inglaterra. David Cameron não teme afirmar aquilo que parece uma consequência lógica de se aceitar que, se uma pessoa individualmente possa adoptar uma criança, qualquer casal o deva poder fazer, mesmo indo contra a posição mais "natural" dos conservadores.
O argumento vulgarmente usado, de que não se podem "impor" os direitos do casal à criança (claro que não) e que haverá um risco grande de "promiscuidade", parece-me pouco respeitável para as instituições que regem a adopção e/ou intelectualmente desonesto. É que adoptar é muito difícil. Demora tempo. O direito da criança prevalece, felizmente, e assim deverá continuar a ser. E as pessoas que o fazem são escolhidas a dedo. O problema de quem é contra é que imagina que a adopção por parte de homossexuais vai ser um "direito adquirido". Quase um "quero, posso, e mando" dos casais homossexuais que pretendem adoptar. Não. Só poderão adoptar se satisfizerem os critérios existentes. Imaginar umas "bichas histéricas" em grandes orgias e manobras "desviantes" para a criança adoptada é absurdo e pouco honesto.
A haver a possibilidade de adopção, ela só se concretizará se os proponentes estiverem à altura. Por isso o argumento de que "em média" os homossexuais serão menos capazes para isso é falacioso. Não é a média da população alvo que conta. O que conta - e isto devia ser caro aos liberais - são os indivíduos em questão. E é bem provável que haja um problema de selecção amostral, i.e., que os indivíduos mais propensos a adoptar sejam muito provavelmente menos "histéricos" que a média. Claro que certa direita, sempre que se toca nestes temas, mostra uma grande dificuldade (sobretudo em Portugal) em se livrar da aversão (perfeitamente respeitável, naturalmente) ao "fenómeno gay", reagindo habitualmente com muita "emoção" e pouca "razão". Pouco salutar para um debate sereno e esclarecedor.
Pessoalmente, não considero ter informação suficiente sobre aquilo que pode influenciar o crescimento duma criança para ter uma posição definitiva sobre este assunto. Inclino-me, por disposição, para a hipótese de que seria ideal que a adopção fosse permitida apenas a casais heterossexuais, homem e mulher, e não a pessoas singulares, por 1) estes serem a forma natural de geração de vida, e 2) proporcionarem um modelo masculino e feminino ao redor da criança que julgo (mas não escondo alguma ignorância sobre a psicologia envolvida) salutar e desejável. Não sei qual é a proporção de adopções mono-parentais. Sei que há muitas crianças por adoptar e sei que um processo leva em geral 3 anos.
A alternativa ao adoptante é uma instituição estatal, cujas condições também desconheço. Creio que é inevitável ponderar um trade-off entre o apoio do Estado e a adopção, mas sem nunca, repito, nunca, por em causa os direitos e o bem-estar da criança. A eventual lógica de avaliação calculista, ou instrumental, não fará um trade-off entre os direitos da criança e os (supostos) direitos dos adoptantes, mas sim entre o bem-estar da criança numa instituição estatal e no seio duma família X.
Independentemente da minha preferência - que é mais uma inclinação, porque não tenho informação suficiente para ter uma opinião mais forte sobre o assunto - a conclusão parece-me aqui bastante clara, em linha com o que David Cameron disse:
Se uma pessoa individual tem o direito a adoptar, e se os critérios de adopção são igualmente rígidos para qualquer proponente, e nunca, nem por um momento, deixam de ter como preocupação fulcral o bem-estar e os direitos da criança, duas pessoas, inseridas numa relação estável e baseada no amor, também deverão poder adoptar, e isto independentemente da forma que rege a sua coabitação, nomeadamente, da sua orientação sexual.
O resto parece-me fantochada, dum e doutro lado da barricada.
PS1: vejam também o que diz João Miranda sobre o assunto.
PS2: os argumentos que se baseiam na opção de adopção por parte de mais de 2 pessoas parecem-me manobras de diversão, pouco honestas, senão mesmo demonstrando alguma má fé.
(via O Blogue do Nuno e da Chiara)
Por princípio, defendo que uma criança tenha o direito a ter pai e mãe, de diferentes sexos, porque isso é o natural. Este «natural» é positivo e não normativo. É natural porque é de um homem e uma mulher que nasce uma criança. É desejável também, a meu ver, que a criança possa crescer num ambiente onde homem e mulher possam providenciar, num ambiente harmonioso, os papéis masculino e feminino, desejáveis ao seu desenvolvimento.
Em Portugal, e no Reino Unido, uma pessoa solteira pode adoptar uma criança. Esse solteiro poderá adoptar independentemente da sua orientação sexual. Não me parece haver qualquer argumento forte para negar essa possibilidade de adopção a quaisquer duas pessoas que vivam na mesma casa, e dentro duma certa relação, uma vez que se permite que apenas uma o faça. Não me parece muito fácil (mas admito que seja possível) defender logicamente a impossibilidade de adopção por casais homossexuais quando se é a favor da adopção monoparental.
Acho que seria mais coerente que os que são contra o direito de adopção por parte de homossexuais defendessem simplesmente o fim da possibilidade de adopção por parte de um indivíduo. Acredito que este pequeno exemplo poderá ilustrar a diferença na qualidade do debate em Portugal e Inglaterra. David Cameron não teme afirmar aquilo que parece uma consequência lógica de se aceitar que, se uma pessoa individualmente possa adoptar uma criança, qualquer casal o deva poder fazer, mesmo indo contra a posição mais "natural" dos conservadores.
O argumento vulgarmente usado, de que não se podem "impor" os direitos do casal à criança (claro que não) e que haverá um risco grande de "promiscuidade", parece-me pouco respeitável para as instituições que regem a adopção e/ou intelectualmente desonesto. É que adoptar é muito difícil. Demora tempo. O direito da criança prevalece, felizmente, e assim deverá continuar a ser. E as pessoas que o fazem são escolhidas a dedo. O problema de quem é contra é que imagina que a adopção por parte de homossexuais vai ser um "direito adquirido". Quase um "quero, posso, e mando" dos casais homossexuais que pretendem adoptar. Não. Só poderão adoptar se satisfizerem os critérios existentes. Imaginar umas "bichas histéricas" em grandes orgias e manobras "desviantes" para a criança adoptada é absurdo e pouco honesto.
A haver a possibilidade de adopção, ela só se concretizará se os proponentes estiverem à altura. Por isso o argumento de que "em média" os homossexuais serão menos capazes para isso é falacioso. Não é a média da população alvo que conta. O que conta - e isto devia ser caro aos liberais - são os indivíduos em questão. E é bem provável que haja um problema de selecção amostral, i.e., que os indivíduos mais propensos a adoptar sejam muito provavelmente menos "histéricos" que a média. Claro que certa direita, sempre que se toca nestes temas, mostra uma grande dificuldade (sobretudo em Portugal) em se livrar da aversão (perfeitamente respeitável, naturalmente) ao "fenómeno gay", reagindo habitualmente com muita "emoção" e pouca "razão". Pouco salutar para um debate sereno e esclarecedor.
Pessoalmente, não considero ter informação suficiente sobre aquilo que pode influenciar o crescimento duma criança para ter uma posição definitiva sobre este assunto. Inclino-me, por disposição, para a hipótese de que seria ideal que a adopção fosse permitida apenas a casais heterossexuais, homem e mulher, e não a pessoas singulares, por 1) estes serem a forma natural de geração de vida, e 2) proporcionarem um modelo masculino e feminino ao redor da criança que julgo (mas não escondo alguma ignorância sobre a psicologia envolvida) salutar e desejável. Não sei qual é a proporção de adopções mono-parentais. Sei que há muitas crianças por adoptar e sei que um processo leva em geral 3 anos.
A alternativa ao adoptante é uma instituição estatal, cujas condições também desconheço. Creio que é inevitável ponderar um trade-off entre o apoio do Estado e a adopção, mas sem nunca, repito, nunca, por em causa os direitos e o bem-estar da criança. A eventual lógica de avaliação calculista, ou instrumental, não fará um trade-off entre os direitos da criança e os (supostos) direitos dos adoptantes, mas sim entre o bem-estar da criança numa instituição estatal e no seio duma família X.
Independentemente da minha preferência - que é mais uma inclinação, porque não tenho informação suficiente para ter uma opinião mais forte sobre o assunto - a conclusão parece-me aqui bastante clara, em linha com o que David Cameron disse:
Se uma pessoa individual tem o direito a adoptar, e se os critérios de adopção são igualmente rígidos para qualquer proponente, e nunca, nem por um momento, deixam de ter como preocupação fulcral o bem-estar e os direitos da criança, duas pessoas, inseridas numa relação estável e baseada no amor, também deverão poder adoptar, e isto independentemente da forma que rege a sua coabitação, nomeadamente, da sua orientação sexual.
O resto parece-me fantochada, dum e doutro lado da barricada.
PS1: vejam também o que diz João Miranda sobre o assunto.
PS2: os argumentos que se baseiam na opção de adopção por parte de mais de 2 pessoas parecem-me manobras de diversão, pouco honestas, senão mesmo demonstrando alguma má fé.
40 Comments:
Caro Tiago,
«Por princípio, defendo que uma criança tenha o direito a ter pai e mãe, de diferentes sexos, porque isso é o natural. Este natural é positivo e não normativo».
Noto algum apriorismo aqui, ou será já do avançado da hora;)
Um grande abraço,
Rodrigo Adão da Fonseca
PS: Li o que escreveste, apreciei, e vou responder com a dignidade que merece:)
By RAF, at 2:14 da manhã
"Noto algum apriorismo aqui, ou será já do avançado da hora ;)"
Grande RAF!
Não me posso desculpar com o avançado da hora porque escrevi isto há tempos e estava "draftado" à espera do momento certo :)
Não acho que aqui haja "apriorismo", no entanto, meu caro. Quando muito um "extremismo biológico", mas não (necessariamente) Darwinista. Repara que não há apriorismo exactamente porque a nossa existência, e a possibilidade de eu estar a escrever isto, procede do facto de ter nascido de pai e mãe. Ora isso é uma evidência "física". "Factual". "Inegável".
Sem querer ofender ninguém, acho que não podemos por esta EVIDENCIA ao mesmo nível das «Laws» do nosso estimado Hayek, não concordas? :)
Fico à espera então do teu comentário mais aprofundado. De resto, como digo no post, apresento as minhas "premissas" à discussão, de forma aberta, mas admito que a conclusão possa ser diferente consoante a "informação factual" que diz respeito ao desenvolvimento da criança.
O que me parece difícil de discordar é do "elo LÒGICO" entre a possibilidade de adopção de 1 indíviduo e de 2 indivíduos.
Grande abraço,
By Tiago Mendes, at 2:20 da manhã
"O que me parece difícil de discordar é do "elo LÒGICO" entre a possibilidade de adopção de 1 indíviduo e de 2 indivíduos."
...numa relação "estável", de "amor", e conducente ao "bem-estar" do adoptado. Bolas, sinto-me uma uma mistura de César das Neves e Maria Barroso a escrever estas coisas - mas o que tem de ser tem muita força e a "ideia" tem sempre que prevalecer sobre o "sujeito"! :)
By Tiago Mendes, at 2:22 da manhã
Claro, acima de tudo os direitos da criança. Porém, não me choca nada a adoptação por homossexuais, desde que não sejam 'aquelas bichas estéricas' que se pavoneiam por tudo quanto é sítio só para chamarem a atenção, sinal de quem é frustrado por algum motivo. Isso sim, também não concordo. Mas é sempre melhor um lar, com amor,sério, mesmo que homossexual, do que qualquer instituição, pois o carinho e o aconchego, a atenção que uma criança exige é sempre melhor.Não se brinca com o bem estar e o crescimento saudável das crianças e elas não podem ser,nunca, o móbil para limar as nossas frustrações. Elas merecem respeito e carinho. Isto é muito bom, porque ajuda a criança a crescer em segurança e com auto confiança. É óbvio que o mais natural seria sempre uma família 'tradicional' - pai e mãe -mas quando isso não é possível, mehor será uma outra família, até porque hoje os padrões são bem diferentes e as crianças e os jovens compreendem-no melhor que muitos adultos e isso não é drama nenhum - drama são os maus tratos, fisicos ou psicológicos, passando pela fome e graves restrições que as crianças sofrem. Quem lida com elas sabe bem os traumas e as dificuldades por que muitas passam, mesmo em seios de famílias ditas tradicionais.
O post do Tiago Mendes está óptimo e revela muita sensibilidade para o mundo da criança, mesmo que haja um ou outro ponto menos 'correcto'.
By Anónimo, at 9:44 da manhã
Caro anonymous,
Obrigado pelo seu comment. Notaria apenas duas coisas.
"Porém, não me choca nada a adoptação por homossexuais, desde que não sejam 'aquelas bichas estéricas' que se pavoneiam por tudo quanto é sítio só para chamarem a atenção, sinal de quem é frustrado por algum motivo."
Como referi, nem faz sentido pensar nessa hipótese, porque os critério s adopção serão os mesmos, senão mesmos mais apertados (mesmo que na lei sejam iguais, todos somos humanos e é pouco provável que não haja algum preconceito e exigências maiores a casais gay). Repare que também há pessoas heterossexuais histéricas - imagine o que seria a Lili Caneças a adoptar crianças :)
Quanto ao segundo ponto, e sem querer obviamente tirar a liberdade de se expressar, acho que exagera um pouco na sua interpretação do "histerismo". Ele pode não ser motivado por um desejo de chamar a atenção (admito que em geral o seja, mas temos que ter cuidado a generalizar) e mesmo que o seja, acho abusiva a ideia de que isso vem duma frustração qualquer.
Enfim, eu próprio não gosto dessas manifestações dum ponto de vista "estético". Mas não retiro o direito a elas existirem, nem as interpreto abusivamente. Os indivíduos são soberanos e as suas intenções e motivações profundas devem ser respeitadas e aqui o perigo da generalização é muito grande e prefiro não o fazer.
By Tiago Mendes, at 11:38 da manhã
gostei bastante do teu post, mas acho que te escapuliste um pouco, sobre o porquê da possível polémica.
Tu partiste do pressuposto de que uma criança fica melhor ou nas mesmas condições sendo adoptado por um casal do que apenas por uma pessoa. o que eu concordo. Independentemente deste casal serem dois homens.
a questão que eu coloco é que tu deverias na realidade estar a fazer a relação entre um casal tradicional e um casal homosexual.
Quando colocas a questão da comparação entre uma pessoa solteira e um casal homosexual, também podes inverter a análise e dizer que esse casal neste momento já pode adoptar, sendo responsável apenas uma dessas pessoas do casal.
Podes argumentar a dizer segundo a lei,
Não há diferença entre um casal normal ou um adulto. Pois bem, mas há.
Mas porque é que este pressuposto existe?
Bem por várias razoes mas podemos avançar: um casal pode ter filhos e se uma das pessoas do casal morrer não terá lógica separar essa criança da mãe ou pai.
Depois temos o ponto (via histórico), ter uma pessoa é melhor do que deixar o miúdo sem ninguém. (Para que não caías na tentação, reafirmo que há critérios de selecção!)
ou seja o ponto que te deverias focar não era via condição mínima mas de equiparado, ie, um casal homosexual está no mesmo patamar do casal tradicional.
By Anónimo, at 2:13 da tarde
O valor fundamental inerente ao instituto da adopção é o da estabilidade do futuro da criança.
Ora se a lei admite a adopção por solteiros, mesmo que estes integrem um lar no qual vivem com uma pessoa do mesmo sexo, também deveria permitir a adopção por um casal homossexual, solução mais estável para a criança e, por isso, melhor.
Não colhe o argumento do JM da irreversibilidade da adopção, na medida em que há modalidades da adopção - a adopção restrita - que não implicam um corte radical com a família biológica, pelo que não é lícito concluir-se que uma criança adoptada por um casal homossexual nunca terá possibilidade de ter uma mãe e um pai. Pode tê-lo se a adopção restrita for decretada, mantendo assim laços com a família biológica e com a família dos adoptantes.
Da mesma forma, não faz sentido admitir a adopção 3, 4 ou mais pessoas, porque estas são tipicamente situações em que a estabilidade do futuro da criança dificilmente será assegurada.
O vínculo jurídico que une os adoptantes - seja o casamento ou a união de facto - não é requisito necessário para adoptar; mas não há dúvida que, nesses casos, a estabilidade da vida da criança é melhor assegurada. Precisamente, o vínculo jurídico traduz a vontade das pessoas de terem um futuro em comum, o que pode não suceder com solteiros que vivam no mesmo lar com outras pessoas e que queiram integrar a criança nesse lar.
By Anónimo, at 6:56 da tarde
Caro José Barros, temos que tentar encontrar um tópico onde discordemos :)
By Tiago Mendes, at 7:04 da tarde
Tiago para tornar este blog mais polemico eu sugiro que publiques posicoes simplistas com as quais estejas em profundo desacordo.If you know what I mean :):)
By Joao Galamba, at 7:14 da tarde
"Tiago para tornar este blog mais polemico eu sugiro que publiques posicoes simplistas com as quais estejas em profundo desacordo.If you know what I mean :):)"
Confesso que o João Miranda já me inspirou varias vezes :)
Tenho algumas postas na calha para simplificar e bombardear. A ver se isto fica *ainda* mais polémico ;)
By Tiago Mendes, at 7:16 da tarde
E se a criança se tornar orfã muito cedo e fôr educada pelas tias? Deve ser retirada a criança Às educadoras por falta de exemplo masculino? E se fôr internada num colégio interno, deverá ser tirada a tutela aos pais? E se os pais também se envolverem em grandes orgias, deverá ser-lhes tirada a tutela? E se os pais se divorciarem cedo e optarem ambos por estabelecer relações homossexuais, a quem deverá ser conferida a tutela?
(...)
Essa posição do que é natural levanta inúmeras questões. Meu caro Tiago, nos dias de hoje o que é "natural" é uma criança ser adoptada por uma televisão e uma playstation e alguém que as alimenta e dê carinho. O género ou as preferências sexuais pertencem ao foro íntimo de cada um e jamais devem ser tidas em conta
By Carlos Guimarães Pinto, at 12:51 da tarde
«nos dias de hoje o que é "natural" é uma criança ser adoptada por uma televisão e uma playstation e alguém que as alimenta e dê carinho. O género ou as preferências sexuais pertencem ao foro íntimo de cada um e jamais devem ser tidas em conta» concordo. aliás nos dias de hoje um casal de lésbicas poder ter um filho [uma vez que um dos elementos do casal, ou até os dois, pode engravidar] e neste caso como resolver a questão dos tradicionais modelos feminino/masculino? fazem eles hoje, ainda, algum sentido??
By aL, at 12:56 da tarde
"E se a criança se tornar orfã muito cedo e fôr educada pelas tias? Deve ser retirada a criança Às educadoras por falta de exemplo masculino?"
Calma, Karloos... Acho que este exemplo é muito mau e não a melhor forma de começar o debate. Uma coisa é uma criança que é abandonada pelos pais e como tal entregue ao cuidado do estado, outra é uma criança que, no seio da sua família, vê falecer um dos progenitores.
"E se fôr internada num colégio interno, deverá ser tirada a tutela aos pais?"
Mais uma vez, esta criança não é abandonada pelos pais. Po-la num colégio interno ou não é uma escolha educativa, soberana, concordemos ou não com ela (pessoalemente), dos pais.
"E se os pais também se envolverem em grandes orgias, deverá ser-lhes tirada a tutela?"
O estado pode retirar o poder paternal em caso de abusos e maus tratos, como sabes. Falar aqui de orgias é inapropriado. Repara que nestes exemplos todos (quanto a mim infelizes), tu pareces inverter o ónus da prova. Uma coisa é uma criança no seio familiar, que pode ser retirada dele em condições IN EXTREMIS. Outra cosia é uma criança que está do lado do estado porque foi abandonada, ser entregue a uma família. Isso so poderá acontecer se certas condições estiverem cumpridas, e elas serão - em média - superiores ao que se verifica na prática.
OU seja, se em média uma famíli tem determinado número de maus tratos, etc, isso náo justifica que a barreira para os critérios de adopção desça, porque assumimo que os direitos da criança prevalecem, e que o estdo é capaz de garantir condições X ou Y (idealmente, claro).
"E se os pais se divorciarem cedo e optarem ambos por estabelecer relações homossexuais, a quem deverá ser conferida a tutela?"
Isto deve ser determinado pelo tribunal, julgo que independentemente da orientação sexual, mas concedo que a questão aqui é complicada. Sei que há casos em que pais homossexuais conseguiram ganhar o processo. Diria que NA MARGEM a homossexualidade pode (ou melhor, "deve ter", falo do desejável e não do verificado na prática) um EFEITO PARICAL negativo. Isto não é discriminar os homossexuais, mas apenas considerar essa variável como tantas outras, que têm a ver com o equilíbrio psicológico de pai e máe, etc (enfim, critérios do juiz e da lei, não queria entrar por aí).
"Essa posição do que é natural levanta inúmeras questões. Meu caro Tiago, nos dias de hoje o que é "natural" é uma criança ser adoptada por uma televisão e uma playstation e alguém que as alimenta e dê carinho."
Totalmente de acordo (infezlimente). Mas repara que nãp devemos inverter o ónus da prova. Mesmo que a educação "média" hoje em dia seja um desastre (é-o) não acho que isso seja argumento (pelo menos deve ser muito bem ponderado) para diminuir as exig~encias para adopção.
" O género ou as preferências sexuais pertencem ao foro íntimo de cada um e jamais devem ser tidas em conta."
Sim... uma vez que concordemos com a adopção de indivíduos. Esse era o ponto fundamental do post.
Repar que eu concordo com a tua frase "em abstracto" mas não para o caso da adopção porque também se têm que considerar - e preponderantemente - os direitos da criança. É isso, e so isso, que justifica (eventualmente) alguma discriminação.
By Tiago Mendes, at 1:07 da tarde
"aliás nos dias de hoje um casal de lésbicas poder ter um filho [uma vez que um dos elementos do casal, ou até os dois, pode engravidar] e neste caso como resolver a questão dos tradicionais modelos feminino/masculino? fazem eles hoje, ainda, algum sentido??"
Tal como o Karloos, acho que o teu argumento, cara Alaíde, padece desse desejo de inverter o ónus da prova e olhar demasiado para o que se passa "na realidade" - que não é nem sequer a "média", mas "excepções", como o caso das lésbicas - para tentar mudar os critérios de adopção.
As lésbicas podem ter filhos como tu os referiste? SIm, claro que sim. Têm auto-determinação sobre o seu corpo. Pode o estado retirar o filho por elas serem 2 mães? Claro que não.
Significa isto que - apenas por havr a POSSIBILIDDE de 2 lesbicas terem filhos - se devem alterar os critérios de adopção, nomeadamente em mudar a ênfase na DESEJABIIDADE de modelos masculinos e femininos para a criança? Julgo que não.
Eu acho que as lésbicas têm todo o direito a fazerem o que querem, como de resto as maes solteiras. Acho que "idealmente" uma criança deve ter pai e mãe que a tenham desejado.
É aliás, por isso, e porque não considero que se viole o princípio da sacralidade da vida, que defendo a possibilidade do aborto, porque acho que é pouco desejável trazer ao mundo uma criança por acidentee. Mas isto, atenção, apenas porque NAO considero haver uma violação da vida humana. É uma argumento que vem DEPOIS e não que faz um trade-off directo. De qualquer forma, pedia que não pegassem no tema do aborto para não dispersar. Apeasn o mencionei para focar aquilo que é quanto a mim "desejável" paara uma crinaça.
By Tiago Mendes, at 1:12 da tarde
a questão da maternidade das lésbicas, foi de facto excessiva, pois há aí um poder inaleanável, porque aquela mulher +é mão daquele filho... foi só por achar que a questão está muito masculinizada [alías os exemplos das "bichas histéricas" confirmam isso mesmo].
não compreendo bem os conceitos do modelo masculino/feminino? quer isso dizer: pai caçador/mae cuida da prole???
By aL, at 1:30 da tarde
"foi só por achar que a questão está muito masculinizada"
Por estar de facto masculinizada é que eu peguei em certos exemplos para desfazer essa falácia, da parte de quem argumenta contra a adopção com base nas "bichas histéricas", orgias, etc. Porque os critérios seriam (pelo menos) tão exigentes quanto para heterossexuais.
Quanto aos conceitos de masculino/feminino, não leves a mal, mas se achas que não há masculino/feminino e que somos todos iguais, não vou ser eu (eñtão aqui...) a contrariá-lo. Mas é a coisa mais insuportável dos dias de hoje, esse politicamente correcto de achar que os homens e mulheres tenham que ser iguais em tudo. OU melhor, que as mulheres tenham que ser iguais, tão capazes para fazer A ou B, par gostar de C ou D, para ter comportamento E ou F, que os homens.
É isso que me tira fora do sério nos "gender issues".
Quanto ao pai-caçador/mãe-cuida-da-prole, e para não dar demasiada bola a essa provocação, digo apenas que quem quiser ignorar a biologia, a evolução da espécie, e os papéis que o macho e a fêmea tiveram durante milhares e milhões de anos e a forma como isso PARCIALMENTE influencia o comportamento nos dias de hoje... é porque não quer de factro abraçar o CONHECIMENTO mas sim sugerir certas visões "normativas" sobre a vida. Sobre o que devia ser e não sobre o que é.
By Tiago Mendes, at 1:55 da tarde
"Isto não é discriminar os homossexuais, mas apenas considerar essa variável como tantas outras, que têm a ver com o equilíbrio psicológico de pai e máe"
Um homossexual é então um desequilibrado mental?
By Carlos Guimarães Pinto, at 2:12 da tarde
Karloos... claro que não. Acho que pelo que tenho escrito sobre estes temas saberás mais ou menos o que penso sobre estes assuntos.
Confesso que a expressão que usei foi infeliz. O que eu queria referir eram as "condições para exercer paternalidade e prover um ambiente X ou Y À criança".
O que eu queria dizer era o seguinte: imagina dois casais em tudo iguais, onde a mulher é heterossexual. Imagina que num casal, o homem é homossexual e noutro não. Imagina que todos (os 4) viveriam com um parceiro.
O meu ponto é que o pai homossexual terá NA MARGEM uma menor probabilidade de conseguir a paternalidade, relativamente ao pai que é heterossexual.
De quaqluer forma, não faço ponto de honra nisso. O que faço, isso sim, é nos outros pontos que tu náo tocaste, e que achei bastante graves.
By Tiago Mendes, at 2:18 da tarde
Não tenho os dados para Portugal, mas nos EUA as famílias ditas normais (pai, mãe, filhos) representam 20% dos casos.
A educação de uma criança depende pouco do sexo ou preferências sexuais de quem a educa ( as crianças aperecebem-se numa fase muito avançada da sua educação da vida sexual dos pais). A educação de uma criança depende sim dos métodos utilizados pelos educadores e da atenção por eles dada às crianças.
Os exemplos que expus não visam inverter o onus da prova apenas demonstrar que uma criança pode ter uma educação tão boa ou melhor num meio familiar fora dos padrões conservadores comuns e que não devem ser esses padrões a influenciar o processo de adopçao. O facto de os educadores serem duas tias, um casal de homossexuais, ou pessoas que, vai-se lá perceber porquê, gostam de orgias não influencia a educação da criança, apenas os métodos por eles utilizados.
By Carlos Guimarães Pinto, at 2:26 da tarde
Falar em métodos só acho falacioso, porque redutor. Falar em "demonstrar" é desadequado, porque tu não demonstraste nada. Apenas recorreste a exemplos - fugindo ao assunto - para tentar passar o teu preconceito (no sentido de "conceito à priori").
Eu estou aberto ao debate. Disse que não tenho informação que chegue sobre o assunto. Não gosto é que se acho que é "óbvio" que todas as pessoas são igualmetne capazes de educar uma criança. Não digo que não. Só rejeito é o dogmatismo.
O problema não está obviamente no que os pais fazem na intimidade, mas apenas em 1) nas coisas que possam estar correlacionadas com isso e que possam influenciar a educação, e 2) com o facto de haver ou não modelos masculinos/femininos e de isso ser improtante ou não.
O teu exemplo das tias é particularmente falacioso porque é do género "se há (facto, positivo) crianças que são criadas com tias, então não há razão para achar que uma criança passível de ser adoptada deve ter o direito (juízo de valor, normativo) a reivindicar pai e máe".
Eu não gosto nem da falácia nem da subversão do direito da criança. Acho que com dogmatismo e pseudo-cientismo (de impor considerações com base em 1 ou 2 estudos) não se vai longe.
A minha posição base é que se as pessas (en geral, não falo so neste caso) tem caracteristicas diferentes, seja na vida publica, seja na vida privada, isso em prinicpio PODERA ter implicações para certas áreas. Isto é, poderá estar CORRELACIONADO com outras variáveis que as influenciem.
A questão é, portanto, se essa DIVERSIDADE é um motivo para diferenciar os direitos ou não.
Eu náo gosto- detesto - é a hipótese de negação dessa iversidade, que é quanto a mim profundamente anti-individualista.
By Tiago Mendes, at 2:49 da tarde
Estimado Tiago, eu NUNCA disse que o masculino era igual ao feminino [bom, posso até ter insinuado isso, num ataque mais feminista, mas em minha defesa afirmo que estava sob o efeito de leituras que de alguma forma poderiam ser potencialmente nocivas…].
A minha questão é a ideia de “modelo” masculino/feminino, para mim não faz muito sentido enquanto “modelo”, ou melhor o “modelo” “tradicional” não é o mais adequado está obsoleto, necessita de evoluir… era apenas isso que eu contestava.
Para além disso a capacidade adaptativa dos homens é muito mais reduzida do que a das mulheres, talvez seja esse o problema, que estará também relacionado com o maior pragmatismo e imediatismo feminino vs a maior propensão masculina para reflexão metafísica
By aL, at 3:24 da tarde
Eu também acredito que há pessoas que não são capazes de educar uma criança mas não penso que nessa avaliação deva ser utilizado o critério de preferência sexual.
Eu não acredito que a existência de modelos masculino e feminino deve ser importante para uma criança. No seu meio social a criança convive com várias pessoas de diversos sexos que lhe podem servir de modelo. Mas parece que nisto difilmente iremos concordar :)
By Carlos Guimarães Pinto, at 3:48 da tarde
Caro Tiago,
Parabéns pelo post, numa temática em que os "alçapões" são mais que muitos.
Alguns pontos:
A adopção é a resposta social ao problema do abandona das crianças. Logo, não me parece que exista uma "solução natural". A pergunta que deve ser feita é: no contexto dos interesses da criança, ela está melhor numa instituição pública com mais umas centenas, OU num ambiente familiar estavél, em que por acaso os tutores (pais) são homossexuais?
Um outro aspecto prende-se com a pergunta de porquê o receio da adopção de uma criança por pessoas homossexuais? resposta ligeira: porque a criança pode transformar-se num homossexual!! Bom, primeiro, está por demonstrar esta ligação; segundo, se ainda não é permitida adopção por homossexuais, temos que assumir que os que já existem tem a sua origem na geração espontanea.
ISto para dizer apenas ( que nos estritos interesses da criança,se o processo de adopção seguir o mesmo percurso de rigor (e como bem realças no teu post) a adopção por homossexuais parece uma solução muito melhor do que os actuais "depósitos" de crianças abandonadas.
Filipe
By Anónimo, at 3:51 da tarde
Caro Filipe,
Diria que na adopção há que não esquecer "procura" e "oferta". Tu focas apenas a oferta, mas a verdade é que mesmo se não houvesse abandono, haveria pessoas dispostas a adoptar (se isso fosse possível) por não conseguirem gerar vida.
Percebo a tua crítica ao meu "solução natural", mas mantenho-a, ainda que sem dogmatismos. Julgo que a questão que pões, de forma clara, e centrada nos direitos da criança, é perfeitamente aceitável e justa.
O teu segundo parágrafo refere um ponto importanteo, mas cuidado com a falácia final. O importante é perceber (esse é o estado de conhecimento das coisas hoje em dia) que a homossexualidade é parte "nature" parte "nurture". Logo, o normal é que "possa" haver alguma influência nas crianças. Isto ou é ou não é verdade. Questão positiva, não normativa.
O meu ponto é que não devemos por aquilo que desejamos À frente da verdade. Por isso frisei a falta de informação e o espírito aberto. Espírito aberto não so ao debate mas sobretudo aos avanços e descobertas da ciência.
Ou seja, a tua menção da "geração espontânea", ainda que seja um toque humorístico, é naturalmente falaciosa. Do que se trata é de estudar eventuais "efeitos parciais" sobre a potencial homossexualidade da criança ou não, e avaliã-los.
A minha hipótese é que o efeito marginal será positivo - isto é, que uma criança adoptada por homossexuais será "marginalmente" mais provável de (vir a ) ser homossexual, mas - élas - acho que isso não deve contar para o critério de escolha.
Porquê? 1) porque o efeito é marginal, e 2) porque a sexualidade é demasiado complexa para fazer análises extremadas. Toda e qualquer variável poderá ter um efeito na orientação sexual e a orientação sexual dos adoptantes deve, concomitantemente, ser tida como outra coisa qualquer passível de influenciar a sexualidade da criança.
Isto é, repito, a minha "intuição", pouco informada. Acho que há um efeito, pequeno que seja, e acho que ele não deve ser relevante.
By Tiago Mendes, at 4:12 da tarde
Tiago,
Sim ,concordo é claro com "nature-nurture". E existem outros problemas que não só a sexualidade em potência de uma criança criada num "ambiente homessexual" (numa outra discussão, isto pode não ser um problema). Podemos pensar nos efeitos no relacionamento interpessoal (a criancinha que diz na escola que tem dois pais ou duas ma~es e leva um tabefe!!). Mas, tudo somado, é para mim muito mais relevante uma criança criada num ambiente saudavel (segundo os tais criteiros rigorosos de selecção), que num "depósito" sem aquelas coisas essenciais que designamos de carinhos!
Era mesmo um toque humorístico :), mas apenas para realçar o quanto de desconhecimento ainda temos sobre este (e outros) assuntos...
Abraço
By Anónimo, at 4:42 da tarde
Caro Tiago,
Acho que uma pessoa que admita a possibilidade de casais homossexuais adoptarem só tem de provar que numa ou noutra situação concreta pode ser melhor a criança ser adoptada por um casal homossexual do que por um casal heterossexual.
Tal não invalida, obviamente, que, na maioria esmagadora dos casos, seja preferível que a criança seja adoptada por casais heterossexuais, na medida em que aí terá um pai e uma mãe. Em princípio, pois, os casais heterossexuais terão preferência, o que não significa que numa situação concreta a criança não seja adoptada por um casal homossexual.
Quanto à questão das instituições: qualquer pessoa que tenha algum conhecimento das mesmas, sabe que é infinitamente melhor para a criança ser adoptada do que arrastar-se por instituições que não lhe podem dar atenção e carinho. Há, pois, sempre mais oferta que procura; o problema é que o risco que o Estado assume com a adopção é tão grande que o processo necessariamente tem de ser complexo e moroso (não tão moroso quanto é agora).
By Anónimo, at 4:43 da tarde
Aliás, há que ter em conta o seguinte:
Se há uma grande procura em relação a bebés e crianças pequenas, já nas crianças acima dos 5 ou 6 anos há muito pouca procura. Os candidatos à adopção normalmente não querem crianças que já evidenciam problemas inerentes à falta de família ou até maus tratos.
O que significa que o destino normal de uma criança dessa idade é uma instituição, onde não terá uma família (logo, faltar-lhe-á a atenção e cuidado devidos) e provavelmente terá os problemas inerentes a essas instituições (más companhias, etc, etc...).
O que significa que a adopção por casais homossexuais pode eventualmente minorar o problema da falta de candidatos para adopção no caso de crianças acima dos 5, 6 anos.
By Anónimo, at 4:50 da tarde
Caro Jose' Barros,
Acho que em relacao ao ultimo ponto e que devia acontecer era uma "pre-seleccao" de candidatos. Assim, logo que houvesse uma crianca nova "disponivel" (passo a expressao...), nao haveria necessidade de estar 'a espera.
Percebo os seus comentarios mas teria mais cuidado talvez para nao parecerem demasiado "instrumentais". Acho que e' importante perceber se o que defende e' mesmo que os homossexuais tenham esse direito mas APENAS como 2a escolha - isto e' - se nao houver procura para determinada crianca por parte de casais heterossexuais, ou se estao em pe de igualdade.
Eu defendo que ou estao em pe de igualdade (legal, e processual, em termos de avaliacao, pelo menos formal) ou entao o melhor e' nem dar esse direito, poruqe para a crianca e para o sistema seria um pessimo sinal.
By Tiago Mendes, at 7:11 da tarde
Caro Tiago:
Geralmente estou de acordo com o que escreve, mas neste post não. Especificamente, com a parte final, onde após ter uma visão clara sobre o absurdo jurídico que é ser permitida a adopção por uma pessoa singular e não por um casal homossexual, cai no erro moralista costumeiro: "os casais heterossexuais (são) a forma natural de geração de vida, e proporcionam um modelo masculino e feminino ao redor da criança". Estas ideias têm uma evidente origem moral e histórica (uma vez que toda a moral é histórica) e carecem de base ciêntifica que não seja a papagueada dos psicanalistas. De facto, Freud não foi um cientista honesto (i.e., não usou do método ciêntifico), uma vez que partiu do pressuposto (moral) que a educação pai/mãe era justamente a "natural", e ocupou a sua vida a tentar provar (sem sucesso, diga-se) que os traumas infantis vêm da ausência de uma figura parental e/ou maternal. Note-se: não da ausência de uma, ou mais, figuras, mas de uma figura com um valor específico, este sim, apriorista, o "Pai", ou a "Mãe". Mas nós sabemos que ao longo da História houve muitas maneiras de se educar as crianças, não necessariamente tendo de respeitar o princípio de "quem as concebeu", e que não é por isso que essas crianças desenvolveram traumas terríveis. Recomendo-lhe a este respeito o "Anti-Édipo" de Deleuze e Guattari. Resta, a meu ver, um pseudo-argumento, este completamente fixista e saudosita, o de que "estas crianças estariam em desvantagem, porque ao se compararem com as outras notariam ter uma família diferente", argumento este rebuscado, como se vê, dos primeiros debates sobre as famílias monoparentais, onde também nos tentaram impingir o mesmo. A adopção por homossexuais resulta da modificação dos padrões sociais (e não é por acaso que já é permitida, sem grande celeuma, p.ex. na Holanda) e também, o que é mais importante, do interesse das crianças- que devem ter uma família, ou seja, sentirem-se queridas, amadas e protegidas. Se não formos freudianos de olhos tapados percebemos rapidamente que a influência familiar na orientação sexual da criança é mínima, muito mais importante serão as sua primeiras experiências sexuais autónomas. O que Deleuze e Guattari dizem, e bem, não é que o pai ou a mãe não sejam as figuras mais importantes da educação das crianças, mas que são apenas figuras como tal, e só são mais importantes por serem omnipresentes na sua vida, nem que seja pela sua falta (a criança que sabe que tem um pai mas nunca o viu, p. ex.). Não têm é o valor quase "divinizado" que Freud lhes atribui, são tão figuras como o professor, a primeira namorada, o melhor amigo, etc.
By André Carapinha, at 8:27 da tarde
Caro André,
Eu nunca defendi teorias freudianas, nem deixei de as fazer. Só pus algumas cartas na mesa, e só posso agradecer o seu comentário, independentemetne de concordar com ele ou náo, tal como a todos os outros.
Quando diz:
"Se não formos freudianos de olhos tapados percebemos rapidamente que a influência familiar na orientação sexual da criança é mínima, muito mais importante serão as sua primeiras experiências sexuais autónomas."
Não sei. Há que estudar. Aceito as suas contribuições mas não seria tão assertivo porque é preciso "experimentar" e depois "testar". Método científcio - nada demais. Certezas não tenho, mas prefiro evitar essas rotulagens de freudiano, etc.
"cai no erro moralista costumeiro: "os casais heterossexuais (são) a forma natural de geração de vida, e proporcionam um modelo masculino e feminino ao redor da criança". Estas ideias têm uma evidente origem moral e histórica (uma vez que toda a moral é histórica) e carecem de base ciêntifica que não seja a papagueada dos psicanalistas."
Eu não caio em erro nenhum moralista, porque o meu intuito não é ser moralista - é tentar ser cientista. Não prego nada a ninguém. Apenas não compreendo como é que o André no meio disso tudo esquece a coisa simples que é a BIOLOGIA. Se acha que é assim táo indiferente uma criança ser gerada de homem e mulher, só posso achar isso algo extremado. Não percebo como pode falar de propaganda aqui, sinceramente.
O argumento que o André menciona da "pressão social" também não o acolho, porque não sou conservador. Se é "justo" que certas coisas mudem, então que sejam mudadas. Ponderadamente, mas sem entrar no fetiche conservador de manter tudo como está. Claro que se alguma coisa mudar em Portugal, isso será inicialmente difícil para as crianças. Mas também é preciso que as mentes evoluam um pouco.
Aquilo que eu vejo em geral no seu argumento - que não só respeito como acho fundamentado - é um excesso de "certeza", e mesmo alguma "agressividade" (inteletual, não pessoal, claro...) que eu não partilho, de todo.
PS: Registei a recomendação de leitura, obrigado.
By Tiago Mendes, at 9:01 da tarde
Caro Tiago:
Sobre a "agressividade" talvez tenha razão. Este é um tema onde facilmente me "salta a tampa". É que eu sou mesmo um "anti-freudiano primário", if you know what I mean.
Só queria esclarecer o seguinte: quando falei em "erro moralista" referia-me à questão do "modelo masculino" e "modelo feminino", e não, obviamente, a quaisquer nuances biológicas. E aproveito para completar esta parte da minha argumentação, que me parece ter sido insuficiente. Mais uma vez, a questão não é a positividade "per si" da existência do "modelo masculino" e "feminino" (que é inquestionável), mas 1- A confusão entre o "modelo" e a figura quase "metafísica" do Pai e da Mãe; porque o modelo pode ser representado por quem quer que seja; e 2- A dogmatização desta questão, que esquece o que se passa no mundo real, fora da cabeça dos psicólogos. Ou seja: é necessário colocar a questão dos "modelos educacionais" no seu devido lugar, e, sobretudo, saber hierarquizar a importância dos aspectos educacionais para uma criança. Concretizando: é mil vezes pior para uma criança ser, p. ex., vitima de injustiça crónica por parte dos pais, ou ignorada pelos mesmos (como tantas e tantas vezes se vê acontecer), já para não falar, obviamente, de "levar porrada a sério", do que a ausência de um elemento masculino ou feminino na sua educação.
Só para terminar, e lateralmente, acho espantoso o argumento (não estou a dizer que o usou, apenas que o ouço demasiado) de que uma criança educada por homossexuais teria mais hipóteses de se tornar homossexual. É que além de nada ter de ciêntífico, é um argumento homófobo até à medula, pois parte do princípio que é negativo ser homossexual; pois se não o fosse, qual seria o problema?
Cumprimentos
By André Carapinha, at 1:42 da tarde
CAro Andre,
Por pontos, e comecando por agradecer os contributos:
1. Concordo com o problema da dogmatizacao desta questao, de ambos os lados, e confesso que desde ontem, quer porque estou a ler um livro interessante que toca em alguns destes pontos ("The future of man"), quer porque reflecti naquilo que escreveu, concordo que o perigo de dogmatizacao do lado dos que falam muito em modelos e' perigoso;
2. Nao chamaria "erro moral", embora perceba o que quer dizer, porque, claro, ha' um intuito normativo em muito do que se pretende ser "ciencica";
3. Quanto ao argumento da "porrada", etc, ser pior que a ausencia dos modelos masculinos/femininos, acho que nao abomna em seu favor. O problema auqi nao e' esse, porque falamos de adopcao e o direito da crianca esta' em primeiro lugar, e por alguma razao os processos de adopcao demoram em media cerca de 3 anos. Exactamente para evitar o tipo de "porrada" de que fala, fisica e nao so';
4. Vai-me perdoar mas discordo totalmente do ultimo paragrafo. Que haja homofobos que usem esse argumento com "preconceito", tudo bem. Mas a questao de uma crianca ser ou nao influenciada e' uma questao cientifica. Em aberto. Eu acredito que haja uma inflencia pequena e "marginal" (quando digo "marginal", quero dizer "na margem", isto e', mantendo todos os outrso factores constantes).
Ora, para quem como eu, esta' disposto, por por a CIENCIA em primeiro lugar, a que este problema seja investigado sem preconceito, nao aceito que se fale de homofobia. Nao esta' em causa que a homossexualidade seja negativa ou nao. Trata-se apenas de entender se DE FACTO existe ou nao uma influencia.
De resto, eu referi que a minh a inclinacao era para achar que havera' uma influencia, aidna que pequena (tambem referida no livro que apontei) MAS - repito: MAS - que isso nao deveria ser tido em conta. E isto, nao porque ache que deva haver discrimincao positiva de homossexuais, mas porque acho que a sexualidade e' muito complexa e a evolucao dela nas pessoas (e nas criancas) deve ser tao "natural" (isto e', livre de intervencao e restricoes) quanto possivel.
Logo, e porque a homossexuliade nao e' "boa" nem "ma", nao deve haver discriminacao com base nessa influecnia existir ou nao. Mas isto e' muito diferente do que aquilo que o ANdre parece fazer, que e' propor A PRIOR e DOGMATICAMENTE que NAO HA, PONTO FINAL, e quem disser o contrario e' homofobico.
Isso, perdoe-me, e' disparate e uma atitude anti-cientifica.
So' para terminar: julgo que ha' anos a maioria dos homossexuais e das organizacoes homossexuais tinham HORROR 'a ideia de que a homossexualidade pudesse ter uma causa genetica, porque isso parecia tirar-lhes "liberdade", e, consequentemente, "orgulho" em ser o que sao. A ideia era que a homossexualidade era uma escolha, da qual eles tinham grande orgulho.
Ora hoje em dia ha' imnesos estudos que indicam que existe uma forte influencia dos genes, para alem da relacao com a mae (nao se irrrite demasiado com Freud, calma...) e do meio ambiente, etc. Ou seja, com o tempo vieram aceitar aquilo que e' CONHECIMENTO cientifico. Eu so' luto por isso mesmo: que se tente debater da forma mais imparcial possivel, sem reagir com preconceitos aprioristicos nem emocoes 'a flor da pele (nem sempre o consigo, claro, tb sou humano).
A atitude do Andre' de negar 'a prior que possa haver uma influencia na crianca e' de resto contraditoria, porque levaria a pensarmos que o meio ambiente nao conta, e que a homossexualidade seria exclusivamente genetica: em que ficamos afinal? ARgumentaos duma maneira e de outra totalmente oposta quando nos convem, so' para manter o epiteto de "homofobicos" aos que tentar argumentar com base em "factos"?
Eu ja escrevi varias vezes que acho que a orientacao sexual e' a-moral, porque nao e' uma escolha. Isto nao quer dizer que seja pre-determinada pelos genes, mas apenas que nao pode ser alterada a bel-prazer e de forma "automatica" pela pessoa. Isso nao me impede - antes reforca - a vontade de perceber o fenomeno sem preconceitos e atendendo 'a ciencia.
Nao leve a mal algum excesso que possa ter ocorrido aqui, mas 'as vezes tambem me salta um pouco a tampa, sobretudo quando se poe em causa a ciencia de forma tao directa :)
Renovado obrigado,
E um abraco,
By Tiago Mendes, at 2:31 da tarde
Hoje é um daqueles dias que mais valia não aceder a este Blog... Quando começei a ler os argumentos do Karloos passei-me! E começo logo a duvidar da minha boa vontade e achar se o João Miranda não terá razão em ter um concepção de poder enquanto zero sum! É isto quando digo que as organizações homossexuais têm todo um programa. É só demagogia. Já para não falar de que a ideia de não existe masculino e feminino não diz rigorosamente nada- é de facto o grau zero da argumentação porque não explica por exemplo e isto é um exemplo propositadamente mesquinho mas podia desenvolver outros argumentos à exaustão) porque é que então escolhem parceiros do mesmo sexo!
Eu acho que alguns dos argumentos que avançados pelo Tiago Mendes foram excelentes, e o José Barros com a moderação que o caracteriza também já disse o óbvio: que na maior parte dos casos isso é o desejável. O resto é crise civilizacional (desculpema lá está deriva conservadora)! Podemos arranjar mil e um argumentos para demonstrar pequenos pormenores. O facto de a psicologia dizer que temos elementos masculinos e femininos não nos diz nada sobre a relação entre os mesmos. Isto é constantemente esquecido.
Mas o que me chamou a atenção foi o pormenor dos 20% de crianças educadas por famílias “normais”. Ora estando a discussão à volta da adopção acho que por famílias normais se entende crianças educadas por homem e mulher independentemente de ser o pai e mãe biológicos. Ora o número 20% (tias, avós, entravados e tudo o mais que se queira arranjar) só se podia dar em casos como catástrofes naturais em larga escala (tipo fim do mundo, enfim interessante notar no subtexto estas escatologias…(ok está foi um pouco má mas estou possesso)), guerras mundiais e interglácticas, num mundo em que homens e mulheres a viverem sobre a mesma casa (nem que fosse temporariamente) tinha passado a ser mesmo muito baixo e outros cenários que tais. Como não quero alongar-me mais envio uns “números” que constatam o óbvio: nos EUA as crianças que vivem com pais e mães( postiços ou não ) é perto dos 70 ! E dou um desconto pois sei que os números valem o que valem!
E ainda há outras questões : a saber, as implicações das crianças viverem em famílias monoparentais (associação com pobreza), se o facto se comparar um país neste caso os EUA com o resto do Mundo e depois tirar daí conclusões lógicas é legítimo. Os USA (que representam quanto no mundo?)têm 20% logo o resto do mundo pode usar esse exemplo como exemplo e fazer generalizações universais. Além de que facto de um país mostrar determinados comportamentos não significa que isso seja em si um
bem, a nao ser claro que estejamos a fazer barricada…
AH, e depois eu não precebi o que se entende por educação? Definam lá educação: alimentar e pôr crianças na escola? Claro que isso toda a gente é capaz de fazer. Há todo um conjunto de variáveis que são simplsmente atirados para o lixo neste tipo de argumentos e de facto sim é inverter o ónus da prova.
By Anónimo, at 4:46 da tarde
A discussão vai bem interessante!
Há no entanto alguns aspectos que necessitam de clarificação.
Por exemplo a questão da determinação da sexualidade humana (ou animal de um modo geral) é complexa e não deve na minha opinião ser misturada com problemática da adopção.
No entanto formulemos os aspectos relevantes:
1. A adopção constitui uma solução SOCIAL (leia-se da sociedade) face ao problema do abandono infantil;
2. A colocação de crianças em instituições públicas é tudo menos uma solução;
3. Os casais de homossexuais tem á priori o mesmo tipo de relacionamento interpessoal (leia-se emocional) que casais heterossexuais;
4. O impacto da educação na determinação sexual, sendo EVENTUALMENTE um factor, não é BY NO MEANS, o factor (num parenteses maior, a sexualidade não é um meme do Dawkins, um concepto cultural. Também o será. MArginalmente como refere o Tiago, mas a sexualidade é antes de mais um fenómeno biológico que vive de moléculas e da biologia e muito dificilmente da aprendizagem comportamental. Basta olhar a Natureza).
Estes pontos considerados, estamos como sempre, perante uma decisão. O nosso actual PM Sr. Sócrates (!) nas últimas eleições referiu apropósito deste tema que "não entra em experimentalismos sociais". Ora, a espécie humana é por excelência a ESPÉCIE dos experimentalismos socias! Em Portugal, mesmo que as soluções nos pareçam boas (e esta será uma boa solução), só as adoptamos quando TODA a gente as tiver entretanto posto em prática. É assim no social, mas é também assim no económico, no político ou educacional. Chegamos lá mas sempre em último. Nunca beneficiamos da vantagem "do primeiro". Somos em boa verdade avessos à MUDANÇA. E esta é o fenómeno biológico e social mais relevante com que os organismos vivos se enfrentam.
Bom se calhar estiquei-me...:)
By Anónimo, at 10:39 da tarde
Caro Tiago:
Antes de mais, parece-me que existe entre nós uma divergência, talvez de perspectiva.
Não sendo eu homossexual nem psicólogo, sinto-me no entanto bem à vontade para entender o dano que a cartilha dos psicólogos (nem todos, claro, mas a corrente maioritária) que, neste caso, representarão o que chama de "ciência", têm causado. Num campo que, para mim (modesta opinião) deveria ser tão óbvio: o interesse das crianças.
Aquilo que chamamos de "ciência"; como sabemos, também não é nem um dogma nem sequer algo que seja assim tão evidente, mesmo na sua aparência. Muitas "ciências" eram embustes, assim como muitas ciências que não eram embustes nenhuns falharam e falham por descarada falta de auto-crítica (chamo-lhe soberba). Por isso também os filósofos (esses chatos) insistem e insistirão nisso da Epistemologia (a brincar, até porque é a disciplina nº1 da Filosofia moderna).
Sobre este aspecto específico, digo-lhe que, apesar de não ser psicólogo nem homossexual, tenho tido, feliz ou infelizmente, demasiados (opinião pessoal de quem lhe falta o espírito de santo) contactos com esta realidade. E que, perdoe-me ser tão radical (temos de ser radicais de vez em quando), cheguei à seguinte conclusão:
1- Aquilo que geralmente se chama a "Psicologia", neste aspecto específico a "Psicologia Infantil", ou, como gostam de chamá-la, a "Psicopedagogia" não passa de um embuste, uma estorieta com pretensões de ciência porque:
a) não obedece a qualquer método científico, antes se reduz à malfadada indução. Uma vez que parte dos "casos de sucesso" para justificar teorias que têm de ser gerais;
b) não tem, (felizmente, porque também não deve ter), perspectiva sobre quaisquer outras das disciplinas da teoria que lhe são laterais: p. ex. a história, a ética, a ontologia;
c) É no fundo uma "não-ciência" no sentido em que se não encontra qualquer teoria que tenha pretensões de ser Ciência; e isto embora a Psicologia original a tivesse- daí a questão do Freud, e pior, de todos os "freudianos" (digo-lhe: 95% dos psicólogos portugueses) (mas atencão: PORTUGUSESES); o que não teria problema algum, e seria mesmo lógico no sentido que a Psicologia como estudo do Homem deveria ser entendida como uma "ciência social"; infelizmente, não é assim que a maioria dos psicólogos vê a disciplina que abraçam. Demasiadas vezes se vê o argumento "científico" nesta disciplina. Nas ciências sociais, este argumento soa sempre a "argumento de autoridade" (perspectiva muito pouco ciêntífica)
d) estas questões, mais infelizmente ainda, não são diferenciadas entre a Psicologia (uma ciência social) e a Psiquiatria (uma disciplina médica), abundando os psicólogos/psiquiatras. Estes são (com excepções, obviamente, mas infelizmente poucas) a pior coisa que pode acontecer a um paciente, como no caso concreto uma criança, porque não percebem que a psicologia não é uma ciência exacta, nem (contradigo-me?), uma ciência social, mas uma terapéutica individual. Assim mesmo, com o mesmo valor endógeno que o budismo, embora com um valor exógeno superior derivado da sua praxis.
2- Uma vez assumido isto, resta-nos encarar as questões "cientificas" da Psicologia numa perspectiva verdadeiramente cientifica- sujeita à crítica radical que a ciência perscreve.
3- Assim sendo, poderemos adoptar várias posicções; a minha é radicalmente a posição "da criança" (ok, é sempre a minha posição). Simplificando: questão nº 1: "o que uma criança precisa para ser feliz e crescer e desabrochar como um ser autónomo?"- daqui se deduz que etc. etc.
Para terminar, e sem que isto deva ser qualquer ponto central da discussão, as questões sobre a homossexualidade são questões complicadas, sobretudo se discutidas entre quem não é homossexual, como nós (presumo). Jà as questões sobre as crianças são bastante mais simples, e tanto nós como o meu amigo X que é homossexual somos, tenho a certeza, perfeitamente capazes de identificar quais sejam.
Grande abraço
By André Carapinha, at 5:38 da manhã
(a propósito):
Sobre o facto de os homossexuais serem ou não "produtos" do meio-ambiente ou dos genes, acho uma questão estéril, e até irrelevante.
(embora eu- oh, lá está a soberba dos "psicólogos"- ache que não exista ningúem que seja "isto" ou "aquilo" devido aos genes- a menos que se queira considerar a questão em termos de ser "dextro" ou "canhoto", "branco" ou "preto" e- sim- com mais propênsão para desenvolver o lado X, o Y ou o Z do seu cérebro).
Mais um abraço
By André Carapinha, at 5:57 da manhã
Caro André,
As questões da homossexualidade parecem de facto ser complicadas, como bem dizes ("tu" ok?). Eu concordo com a tua crítica a um certo "cientismo". De resto, não sei se acompanhaste, mas aquui e no Metablog houve discussão enorme sobre epistemologia e ciência há temps (Outubro creio).
Mas se eu aceito a tua crítica, acho que tu apontas para uma "solução" alternativa que é igualmente dogma´tica, que é, como dizes no final, partir de certos princípios que acreditas serem importantes para a criança, e depois "deduzir" daí.
Ora, é neste deduzir que quanto a mim tem que entrar a ciência, ou se quisermos, o conhecimento científico. E, dentro disso, acho que é importante perceber as interacções que existem nestas situações "de facto", em vez de sugerir aquilo que achamos que "devia" acontecer.
Acho, por exemplo, muito estranho que para ti a questão da "origam" ou "explicação" da homossexualidade (nature/nurture) seja irrelevante. Ora, se um dos aspectos a ter em conta "pode" ser o da influência nas crianças, isso é relevante.
Repara que eu uso o "pode" apenas porque acho que temos que respeitar quem tem opiniões diferentes e, se possível, refutá-las seriamente e com base em "dados". Eu já disse que acho que existirá uma influência MAS que ela não deve ser tido em conta. Ora isso é muito diferente de achar - ou melhor, de "impor", uma vez que tu "deduzes" isso, ou simplesmente não queres estudar essas causas - que não existe qualquer causa que valha a pena estudar.
Julgo que a tua posição quanto aos genes é perigosamente anti-científica. Claro que o que "somos", num sentido filosófico do termo, não é só genético. NUnca ninguém disse isso. Apenas que há influências, parciais, mas importantes, que sãi determinantes para o nosso desenvolvimento, em conjunto com outros factores.
Um abraço,
By Tiago Mendes, at 10:29 da manhã
Caro Tiago:
Quando eu digo " "o que uma criança precisa para ser feliz e crescer e desabrochar como um ser autónomo?"- daqui se deduz que etc. etc."
não estou a entender que isto seja uma questão fechada, nem a presumir que sei a resposta. Esta é, aliás, a questão em aberto por excelência neste tema. Não me considero dogmático a este respeito. Mas aquilo que ninguém nunca me explicou convincentemente é: porque é que o facto de ser educada por um casal homossexual vai, à partida, "a priori", inibir a criança de ser feliz e crescer e desabrochar como um ser autónomo?
A adopção é, como alguém já disse, uma solução infeliz mas necessária para resolver um problema social, o das crianças abandonadas. Parecendo-me tão óbvio que não se pode, ninguém pode, nunca se pôde, deduzir que uma criança não possa ser correctamente educada por um casal homossexual, em que ficamos então? É assim que nos pomos do lado dos interesses da criança? Ou talvez prefiramos que fique na Casa Pia ou na Casa do Gaiato?
Resta, como disse e insisto, o argumento de que essa educação poderá potenciar comportamentos homossexuais no futuro; argumento homófobo, como disse e insisto, pois parte do pressuposto que ser homossexual é negativo. Senão, como faria sentido o argumento?
Ou então imagina-se terriveis menages a trois entre os pais e o filho, argumento tipo César das Neves- completamente homófobo, uma vez que a pedofilia é mais vezes praticada de modo heterossexual que homossexual, ao contrário do que se pensa.
A propósito: eu também não disse que o que "somos" não é significativamente feito pelos genes; apenas que não somos "isto" ou "aquilo": gajos porreiros, bonacheirões, facinoras, psicopatas, ou mesmo inteligentes ou burros; já quanto a ser, p. ex., "um génio", é evidente que tem de haver uma predisposição, e tem de haver um estímulo orientado posterior. Eu não me considero nada "anti-ciêntífico", antes pelo contrário, e a epistemologia é até a minha disciplina favorita na Filosofia. Sou é muito pouco ortodoxo.
Abraço
P.S.: pessoalmente, e fora de qualquer discussão cientifica sobre a matéria, até estou convencido que a generalidade dos homossexuais, masculinos ou femininos, dariam excelentes pais. Mesmo que sejam bichas histéricas- porque raio é que uma bicha histérica não há-de dar amor, carinho, protecção, e ensinar bem uma criança a viver?
P.S. 2- Esta discussão já vai longa, talvez me fique por aqui, não me leves a mal.
Re-abraço
By André Carapinha, at 6:05 da tarde
Afinal voltei só para mais duas achegas:
1- Esta questão dos homossexuais, particularmente das "bichas histéricas", parte do pressuposto (não estou a dizer que o fazes, apenas que estou farto do argumento) que a homossexualidade será um distúrbio comportamental, será, por assim dizer, "anormal"; isto não só não é científico como até é anti-científico- é um preconceito moral bem identificável na História. O próprio Freud o defendia (como é mais ou menos natural que o defendesse, afinal viveu no séc. XIX e era um tipo conservador).
2- Foi a própria epistemologia que me ensinou a questionar todo e qualquer argumento que se proponha "científico"- como não pode deixar de ser. E, por experiência própria, aprendi que a maior parte das vezes esses argumentos são tudo menos ciência. Não passam de argumentos (não estou a dizer que é o teu caso).
Mais um abraço
By André Carapinha, at 6:13 da tarde
Vale, André, obrigado pelos contributos adicionais. Acho que ficamos por aqui então - os leitores tirarão as suas conclusões :)
Abraço,
By Tiago Mendes, at 6:22 da tarde
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