Silogismo de fim de ano
Factos:
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1. Os blogues representam uma selecção elitista da sociedade;
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2. A participação de mulheres na blogosfera política - ponderando as participações de mulheres (e o seu peso) na escrita autorial e/ou comentarista em blogues políticos - é diminuta. Digamos que é de X%;
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3. A participação das mulheres na política "real" é de Y%.
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4. A blogosfera é, senão "livre", bastante mais livre , ou até melhor, isenta de restrições (de acesso, etc) que o mundo real. Logo, é de crer que a presença das mulheres na blogosfera corresponda a um retrato relativamente mais fiel das suas preferências. Se a escolha é possível, escolha feita revela necessariamente preferência.
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As conclusões seguem-se consoante as hipóteses que se juntem a estes factos:
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Hipótese A: o mundo real não apresenta grandes restrições à participação política das mulheres. Conclusão A: A diferença significativa entre X e Y significaria que no cohorte seccional de mulheres que pertencem a elites, o interesse pela política é proporcionalmente menor. Justificação A: a mulher elitista tem interesses relativamente mais mundanos que a mulher média (tipo "gente gira" e coisas do género feminino).
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Hipótese B: o mundo real apresenta grandes restrições à participação política das mulheres (que justificariam quotas, etc). A conclusão anterior são reforçada.
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Há mais hipóteses, claro. Isto é só um convite à discussão. O que me parece inegável é que existe uma diferença abissal na presença masculina e feminina na blogosfera. Isso é inteiramente natural. Temos preferências diferentes. O que irrita qualquer santo são as pessoas que pretendem igualar tanta coisa que difere entre os sexos. Não há mal nenhum nos chamados "blogues de gajas". A liberdade de expressão deve ser a única coisa que nos deve preocupar. O exercício da criatividade, ainda que permita a crítica, não o pode fazer com base na escolha substantiva, mas apenas no formal-dado-o-substantivo escolhido.
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Ou seja, cada um fala do que quer. Seria uma pena era não pensar nessa evidência abrupta que é a pouca representatividade (não digo nula, claro, veja-se o Semiramis, por exemplo) das mulheres no debate político na blogosfera. E pode ser que depois de se perceber isto, também se perceba que a participação efectiva das mulheres na política real não tenha que ser igual. O que tem de ser igual são as condições de acesso. O processo, não o seu resultado. Depois, que cada um escolha o seu modo de vida consoante as suas preferências. E um bom 2006.
1 Comments:
Há um pressuposto que o Tiago não refere, mas acho que está implicito na argumentação: que X menor que Y.
Agora, o ponto 1:"1. Os blogues representam uma selecção elitista da sociedade". Depende do que entendermos por "elitista": se entendermos "elitista" no sentido de "restrita", concordo (o que, aliás, torna, "selecção elitista" um pleonasmo).
Se entendermos "elitista" no sentido de "elite social" (como o Tiago parece sugerir ao falar dos "interesses mundanos" da "mulher elitista"), já não sei se será verdade.
Ora, se a "elite" em questão forem "os maluquinhos por internet, computadores e afins", talvez isso possa ser uma boa explicação para a escassez de mulheres na blogosfera politica.
By Miguel Madeira, at 5:04 da tarde
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