30 março 2005
"O pior que há para a sensibilidade é pensarmos nela, e não com ela. Enquanto me desconheci ridículo, pude ter sonhos em grande escala. Hoje que sei quem sou, só me restam os sonhos que delibero ter." Fernando Pessoa
28 março 2005
«Gato que brincas na rua»
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa, 1-1931
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa, 1-1931
22 março 2005
«Amor Verdadeiro» [AV] e «Amor... somente» [AS]
Aproveito o comentário do Pedro - «A inocência não vai toda. Não vai» - para continuar o tema do meu último post. Acho crucial distinguir que se no «Amor Verdadeiro» (AV) a inocência é total, no «Amor... somente» (AS) - o que vulgarmente se chama de «Amor» - essa inocência é parcial. AV e AS são qualitativamente diferentes e é esta distinção que importa mais que tudo - porque a inocência que há no AV só é percebida a posteriori, e esta consciencialização impossibilita o retorno: o AV é irreplicável. Mas isto não implica que os subsequentes AS sejam destituídos de valor - sobretudo (mas não só) - porque ainda há alguma inocência na pessoa. [De acordo ser a[lguma] inocência uma pré-condição para o amor?]
Por os AS terem um remanescente de inocência que se vai perdendo com o passar do tempo (tornando-os apenas quantitativamente diferentes entre si), parece resultar que a relação-que-se-segue será sempre menos rica. Mas há um factor que se contrapõe a isto: as pessoas são multi-dimensionais e inimitáveis. É possível que a descoberta que uma nova relação proporciona se sobreponha ao efeito que a erosão fatal do tempo provoca sobre a nossa [in]consciência - se a «unicidade» do objecto amado num certo contexto espácio-temporal tiver um efeito suficientemente [re]compensador no [que sente o] sujeito amante. Só que por mais descobertas que se vivam... a inocência original é irrecuperável.
No fundo, buscar o AS depois de ter vivido o AV é um pouco como - quais Adão e Eva expulsos do Paraíso - tentarmos lá regressar de «foguetão»... ainda que saibamos perfeitamente que o combustível nunca chegará... porque o paraíso pertence a outra dimensão, porque «o céu não mora aqui». Mas, contudo - desculpem (!): sobretudo - não esqueçamos o poeta quando nos diz essa coisa tão simples e tão valiosa: o sonho comanda a vida...
Por os AS terem um remanescente de inocência que se vai perdendo com o passar do tempo (tornando-os apenas quantitativamente diferentes entre si), parece resultar que a relação-que-se-segue será sempre menos rica. Mas há um factor que se contrapõe a isto: as pessoas são multi-dimensionais e inimitáveis. É possível que a descoberta que uma nova relação proporciona se sobreponha ao efeito que a erosão fatal do tempo provoca sobre a nossa [in]consciência - se a «unicidade» do objecto amado num certo contexto espácio-temporal tiver um efeito suficientemente [re]compensador no [que sente o] sujeito amante. Só que por mais descobertas que se vivam... a inocência original é irrecuperável.
No fundo, buscar o AS depois de ter vivido o AV é um pouco como - quais Adão e Eva expulsos do Paraíso - tentarmos lá regressar de «foguetão»... ainda que saibamos perfeitamente que o combustível nunca chegará... porque o paraíso pertence a outra dimensão, porque «o céu não mora aqui». Mas, contudo - desculpem (!): sobretudo - não esqueçamos o poeta quando nos diz essa coisa tão simples e tão valiosa: o sonho comanda a vida...
09 março 2005
Pessoalismos 39 [escritos autobiográficos22]
"Não sei que diga. Pertenço à raça dos navegadores e dos criadores de impérios. Se falar como sou, não serei entendido, porque não tenho Portugueses que me escutem. Não falamos, eu e os que são meus compatriotas, uma linguagem comum. Calo. Falar seria não me compreenderem. Prefiro a incompreensão pelo silêncio." Fernando Pessoa
Pessoalismos 38 [escritos autobiográficos21]
"Fui sempre, e através de quantas flutuações houvesse, por hesitação da inteligência crítica, em meu espírito, nacionalista e liberal; nacionalista - quer dizer, crente no País como alma e não como simples nação; e liberal - quer dizer, crente na existência, de origem divina, da alma humana, e da inviolabilidade da sua consciência, em si mesma e em suas manifestações.
Por isso me foram sempre origem de repugnância e asco todas as formas de internacionalismo, que são três: a Igreja de Roma, a finança internacional e o comunismo." Fernando Pessoa
Por isso me foram sempre origem de repugnância e asco todas as formas de internacionalismo, que são três: a Igreja de Roma, a finança internacional e o comunismo." Fernando Pessoa
05 março 2005
Aforismos 40 [Auto-conhecimento III]
"Todas as coisas estão contidas em nós. Não há maior prazer do que descobrir isso cultivando-nos a nós próprios." Mengzi
"Conhecer os outros é sabedoria. Conhecermo-nos a nós mesmos é uma sabedoria superior." Laozi
"Aquele que se conhece é o único senhor de si próprio." Pierre de Ronsard
"Conhecer os outros é sabedoria. Conhecermo-nos a nós mesmos é uma sabedoria superior." Laozi
"Aquele que se conhece é o único senhor de si próprio." Pierre de Ronsard
Aforismos 39 [Auto-conhecimento II]
"Cada um de nós é um abismo; a cabeça anda-nos à roda quando olhamos lá para o fundo." Georg Buchner
"Quando um homem olha de mais para si próprio, chega ao ponto de não saber qual é a sua cara ou a sua máscara." Pio Baroja
"A nuca é um mistério para a vista." Paul Valéry
"Quando um homem olha de mais para si próprio, chega ao ponto de não saber qual é a sua cara ou a sua máscara." Pio Baroja
"A nuca é um mistério para a vista." Paul Valéry
Aforismos 38 [Auto-conhecimento I]
"Conheço tudo, excepto a mim próprio." François Villon
"Considero o conhecimento de nós mesmos como uma fonte de preocupações, de inquietações e de tormentos. Convivo comigo mesmo o menos possível." Anatole France
"Podemos conhecer tudo, salvo a nós próprios." Stendhal
"Considero o conhecimento de nós mesmos como uma fonte de preocupações, de inquietações e de tormentos. Convivo comigo mesmo o menos possível." Anatole France
"Podemos conhecer tudo, salvo a nós próprios." Stendhal
Aforismos 37 [Sonho]
"O rasto de um sonho não é menos real do que o de um passo." Georges Duby
"Os homens, enquanto não forem completos e livres, hão-de sonhar sempre de noite." Paul Nizan
"Julgar-se-ia bem mais correctamente um homem por aquilo que ele sonha do que por aquilo que ele pensa." Vitor Hugo
"Os homens, enquanto não forem completos e livres, hão-de sonhar sempre de noite." Paul Nizan
"Julgar-se-ia bem mais correctamente um homem por aquilo que ele sonha do que por aquilo que ele pensa." Vitor Hugo
04 março 2005
Aforismos 36 [Tolice]
"Um parvo não tem categoria suficiente para ser bom." La Rochefoucauld
"Um imbecil pode, por si só, levantar dez vezes mais problemas que dez sábios juntos não conseguiram resolver." Lenine
"Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta." Einstein
"Um imbecil pode, por si só, levantar dez vezes mais problemas que dez sábios juntos não conseguiram resolver." Lenine
"Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta." Einstein
Pessoalismos 37 [escritos autobiográficos20]
"Sucede que tenho precisamente aquelas qualidades que são negativas para fins de influir, de qualquer modo que seja, na generalidade de um ambiente social.
Sou, em primeiro lugar, um raciocinador, e, o que é pior, um raciocinador minucioso e analítico. Ora o público não é capaz de seguir um raciocínio, e o público não é capaz de prestar atenção a uma análise.
Sou, em segundo lugar, um analisador que busca, quanto em si cabe, descobrir a verdade. Ora o público não quer ver a verdade, mas a mentira que mais lhe agrade. Acresce que a verdade - em tudo, e mormente em coisas sociais - é sempre complexa. Ora o público não compreende ideias complexas. É preciso dar-lhe só ideias simples, generalidades vagas, isto é, mentiras, ainda que partindo de verdades; pois dar como simples o que é complexo, dar sem distinção o que cumpre distinguir, ser geral onde importa particularizar, para definir, e ser vago em matéria onde o que vale é a precisão - tudo isto importa em mentir.
Sou, em terceiro lugar, e por isso mesmo que busco a verdade, tão imparcial quanto em mim cabe ser. Ora o público, movido intimamente por sentimentos e não por ideias, é organicamente parcial."
Fernando Pessoa
Sou, em primeiro lugar, um raciocinador, e, o que é pior, um raciocinador minucioso e analítico. Ora o público não é capaz de seguir um raciocínio, e o público não é capaz de prestar atenção a uma análise.
Sou, em segundo lugar, um analisador que busca, quanto em si cabe, descobrir a verdade. Ora o público não quer ver a verdade, mas a mentira que mais lhe agrade. Acresce que a verdade - em tudo, e mormente em coisas sociais - é sempre complexa. Ora o público não compreende ideias complexas. É preciso dar-lhe só ideias simples, generalidades vagas, isto é, mentiras, ainda que partindo de verdades; pois dar como simples o que é complexo, dar sem distinção o que cumpre distinguir, ser geral onde importa particularizar, para definir, e ser vago em matéria onde o que vale é a precisão - tudo isto importa em mentir.
Sou, em terceiro lugar, e por isso mesmo que busco a verdade, tão imparcial quanto em mim cabe ser. Ora o público, movido intimamente por sentimentos e não por ideias, é organicamente parcial."
Fernando Pessoa
Pessoalismos 36 [escritos autobiográficos19]
"Não encontro dificuldade em definir-me: sou um temperamento feminino com uma inteligência masculina. A minha sensibilidade e os movimentos que dela procedem, e é nisso que consistem o temperamento e a sua expressão, são de mulher. As minhas faculdades de relação - a inteligência, e a vontade, que é a inteligência do impulso - são de homem." Fernando Pessoa