Prostituição
Afinal as pessoas têm ou não o direito a prostituir-se? Quer dizer, têm ou não o direito a «escolherem» vender o corpo e a ver que a sociedade as olha como seres autónomos? Ou estão condenadas a ser vistas como pessoas que caíram na desgraça, perderam a auto-estima e tudo isso? Claro que muitas delas - certamente as drogadas - perdem capacidade de controlo delas próprias. E há outros casos de desgraça também conhecidos. Mas não devemos tirar a discussão do ponto de vista (também) teórico - isto é, do ponto de vista dos «princípios» e do «direito à prostituição». As prostituas em Amsterdão parecem-me, não diria alegres por não me arrogar conseguir ver isso mas «de bem com a vida». Fazem o seu trabalho com orgulho e «assumem-se». Podemos achar isso moral ou imoral, mas elas são parte da sociedade - e são respeitadas. São parte da história, muitas vezes «nobre», como nos recorda a Espelho.
Eu sou a favor da legalização da prostituição, para bem das prostitutas sobretudo. Quem fica a perder são os clientes que adoram passear pelas ruas de Lisboa a mirar quem se vende. A Isabela não concorda com isto - vejam aqui. Esta é também daquelas questões em que homens e mulheres estão condenados a ter opiniões (estatisticamente) diferentes. Acho que nunca vi uma mulher portuguesa, não prostituta, que olhasse para a prostituição como uma questão de «escolha» e não como a desgraça das «pobrezinhas», «coitadinhas», que «tiveram que» cair na má vida. O discurso típico da Odete Santos. Um bocadinho mais de responsabilização e respeito pelo outro só fazia bem a este país à beira mar afundado.
Eu sou a favor da legalização da prostituição, para bem das prostitutas sobretudo. Quem fica a perder são os clientes que adoram passear pelas ruas de Lisboa a mirar quem se vende. A Isabela não concorda com isto - vejam aqui. Esta é também daquelas questões em que homens e mulheres estão condenados a ter opiniões (estatisticamente) diferentes. Acho que nunca vi uma mulher portuguesa, não prostituta, que olhasse para a prostituição como uma questão de «escolha» e não como a desgraça das «pobrezinhas», «coitadinhas», que «tiveram que» cair na má vida. O discurso típico da Odete Santos. Um bocadinho mais de responsabilização e respeito pelo outro só fazia bem a este país à beira mar afundado.
5 Comments:
Direito, certamente que têm. A pergunta seria realmente essa?
Prostituição, prostituição que me preocupa é a outra...
As prostitutas de Amsterdam sempre me chamaram a atenção, também: sindicalizadas, com plano de saúde e plano dental. Talvez previdência.
Carolas e os falsos moralistas dizem que isso é um absurdo. O que é um absurdo? De onde vem esta palavra, afinal?
Correndo o risco de soar meio piegas e lugar-comum, mas absurdo são as crianças dormindo nas ruas, são as lavadeiras sem plano de saúde, são os bóias-frias sem sindicato, é a malária ainda matar tanta gente.
Mobilizar a sociedade por algo que de fato dê frutos, e mude a qualidade de vida dos desvalidos, assim penso eu...
Isso é absurdo. Vemos tantos absurdos, todo dia, a toda hora, que nossos olhos se adormecem e se fecham e prefiro não pensar nisso. Há muito fog nos meus olhos.
By Daniela, at 10:00 da manhã
Caro Espelho: essa tua expressão resume bem a forma de os portugueses (e não só) verem as coisas e viverem a sua vida (o "irem andando" como a cabeça mais ou menos entre as orelhas): o "fazer-de-conta". A vida em sociedade, na sociedade portuguesa, é demasiado um faz-de-conta...
By T. M., at 3:25 da tarde
Acho graça que associes o meu discurso ao das mulheres que dizem "coitadinha", quando passam pela prostituta! Como se eu não tivesse afirmado, antes, que se precisasse de me prostituir o fazia valentemente. As mulheres portuguesas também costumam afirmá-lo publicamente? Ou será, "eu nunca, jamais, preferia morrer!"
Um questão só pode ser equacionada economicamente depois de ser resolvida filosoficamente.
Quando falas de mais responsabilização e repeito pelo outro não estarás certamente a referir-te a mim!
By Isabela Figueiredo, at 3:28 da tarde
Calma Isabela, acho que não interpretaste bem, talvez por culpa minha que escrevi à pressa.
Não é bem o chamar "coitadinha" quanda passas por ela na rua, é mais ao nível do debate intelectual, quando estás fora do contexto e falas delas como tendo sendo sempre "lavadas para a má vida", porque - coitadas - não tinham outra escolha.
É este "coitadinhas" que é profundamente paternalista e que retira capacidade de escolha (e consequente "responsabilização") à mulher como o qual eu discordo profundamente.
O teu "se me prostituísse, fazia-o valentemente" fez-me lembrar - NÃO LEVES A MAL - o Pessoano "põe quanto és no mínimo que fazes" :) :)
Quanto á escolha económica ser posterior à filosófica - ie., à questão de princípios - percebo, e concordo em geral, embora tu possas ter na tua hierarquia de princípios o "dinheiro" como valor máximo. E aí a escolha que tu chamas "económica" seria simultaneamente filosófica e a primeira a ser ponderada.
FInalmente, eu de facto quando falava de "respeito" dirigia-me a ti mas apenas a ti enquanto pessoa que me parece retirar alguma da carga (tou-me a repetir) da escolha e responsabilização. Não era para TU te responsabilizares! Era para deixares uma dimensaõ de responsabilidade na escolha de ser prostituta.
E de qualquer maneira dirigia-me a "ti" enquanto entidade intelectual num debate aberto e (acho que) civilizado, por isso se levaste alguma coisa a peito e/ou com má intenção, please accept a reparation, as that was not my intention.
By T. M., at 3:47 da tarde
(A procura d)o reconhecimento e (d)o estatuto, essas metas tão portuguesinhas, acho que é isso mesmo, Marta.
By Tiago Mendes, at 1:50 da manhã
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