O poder das sondagens (I)
Serão as sondagens um reflexo da opinião pública, ou será a opinião pública um reflexo das sondagens? Provavelmente, ambas.
É este o mote para a crónica desta semana no Diário Económico, que fica também disponível nos arquivos d'aponTaMentos. Vejam no Mão Invisível a discussão que se gerou a propósito deste tema, e já agora o desafio da IDI e a minha consequente resposta.
É este o mote para a crónica desta semana no Diário Económico, que fica também disponível nos arquivos d'aponTaMentos. Vejam no Mão Invisível a discussão que se gerou a propósito deste tema, e já agora o desafio da IDI e a minha consequente resposta.
9 Comments:
Uma pergunta: achas que num mundo cada vez mais atomizado em que os individuos decidem sozinhos sobre a sua orientacao de voto as sondagens acabam sobretudo por contribuir para um certo afastamento da politica? Repara que se houvesse um envolvimento colectivo em debates (com a malta a reunir-se e a debater...) a relacao entre sondages e accao individual seria diferente (se eu sei que face a uma sondagem desfavoravel os 2000 tipos com quem tenho andado a debater tem meios de coordenar a sua votacao...), mas num mundo atomizado as sondagens sao algo que e assumido como fixo onde o meu voto tem pouco impacto...So uma ideia...o que achas?
Abracos,
Joao
By Joao Galamba, at 7:47 da tarde
Muito bem ! "Expecting" o/os próximo/s sobre o tema.
Já agora: 1. Há muitos (muitos) anos vi um filme (americano !) sobre um sujeito que adivinhava as votações ao milímetro ... Investigado, acabou por se saber que não era um "fortune teller", mas simplesmente que havia descoberto uma pequenina localidade onde as votações coincidiam (também)milimétricamente com a votação total ... E foi o fim a aura do "adivinho" e ... talvez ... o princípio das sondagens; 2. Na nossa actualidade política parece-me que os "opinion makers" e as sondagens vão todas no sentido do "Botas" da década de 80/90 ... Ideias firmes (de uns) e resultados objectivos (de outras) ... ou "cabala" em favor do candidato mais messiânico ?
Continua ! Abração ! Maynas
By Anónimo, at 8:20 da tarde
Vou responder no Mão Invisivel, para agregar a discussão. Aqui fica o link para quem quiser por lá passar:
http://www.maoinvisivel.com/blog/archives/2005/11/publicidade_ins_7.php
By Tiago Mendes, at 12:14 da tarde
Estive há cerca de duas semanas numa conferência com o Pedro Magalhães (Margens de Erro), e é interessante verificar a semelhança da tua opinião com a dele.
By Bruno Gouveia Gonçalves, at 11:15 da tarde
"e é interessante verificar a semelhança da tua opinião com a dele."
No wonder, caro Bruno... aqui estamos mesmo no domínio da "ciência" (ou dos "factos") e não tanto da opinião. Agradeço o teu reparo no entanto. TIve algum feedback algo surpreso de pessoas que acho que não compreenderam bem o ponto principal da crónica, que é este:
QUanto mais credível uma sondagem - tudo o resto constante - mais provável é que as suas previsões NÃO se confirmem.
Ora isto é contrário ao common sense.
ªPorque as pessoas não pensam em "isolar" o efeito CREDIBILIDADE, mas pensam no "conjunto" do efeito como querendo ser um sinal da "qualidade intrínseca" da sondagem.
Mas a credibilidade POR SI SÓ faz com que uma sondagem tenha menos hipóteses de se confirmar porque é mais provável que haja mais votantes a mudar de voto... porque "acreditaram" relativamente mais na sondagem. Enfim... não é fácil explicar estas coisas em táo poucas palavras, espero que isso possa ter ajudado a alguma confusão (não certamente a tua, creio).
Abraço,
By Tiago Mendes, at 11:45 da tarde
Caro Tiago,
compreendo o que queres dizer, embora não goste de me referir ao tema das sondagens, através ou apenas pela ciência. O Pedro Magalhães dizia que por vezes as explicações para determinadas deslocações de votos eram relativamente simples, mas a sua comprovação é que não.
É este factor e obviamente pelo facto de estarmos a lidar com pessoas e respectivas opiniões (que nunca são absolutamente fiáveis), que torna as sondagens uma "ciência", com poucos métodos de análise.
Compreendi o que queres dizer. Acho que diria de uma forma mais simples:
As pessoas sentem uma tendência para apostar no cavalo vencedor. Se um cavalo vai à frente nas sondagens, com um grau de confiança elevado, as pessoas tendem a alterar o seu voto, ou simplesmente outras deixam de o exercer na convicção de que este vai ganhar. Daí as incongruências de certas sondagens e
respectivos resultados.
Espero não ter cometido nenhuma falácia.
Abraço
P.S. O termo "cavalo" foi absolutamente aleatório.
By Bruno Gouveia Gonçalves, at 9:55 da manhã
Caríssimo,
Espero que não me tenhas interpretado mal. O que dizes do PM - "as explicações para determinadas deslocações de votos eram relativamente simples, mas a sua comprovação é que não" - é exactamente o meu ponto.
Eu não digo que seja fácil "aferir" ou "comprovar" certas motivações e mudanças de opinião. O meu ponto era apenas teórico - de referir que, independentemente de isso ser fácil ou difícil de comprovar - o efeito isolado da MAIOR credibilidade é fazer com que a probabilidade das previsões acertares seja MENOR.
O teu exemplo de apostar no cavalo que vai ganhar tem um nome técnico - "bandwagon effect". Também pode haver o contrário - "underdog effect". Entre outros. Repara que o teu exemplo é apenas *um* exemplo de como as sondagens podem alterar as intenções de voto e mesmo o voto. Mas não é o único.
O teu termo "cavalo", apesar de ser totalmente aleatório, é muito bem usado - diria que melhor é impossível. Isto porque desde um paper dos anos 60 de Aumann e Anscombe, que ficou célebre o exemplo das corridas de cavalo versus a roleta dum casino para ilustrar a diferença entre probabilidades "subjectivas" e "objectivas".
E de facto nas eleições, os eleitores têm que fazer avaliações probabilísticas de cenários, e isso envolve probabilidades subjectivas e não objectivas - como num baralho de cartas ou na roleta.
Abraço,
By Tiago Mendes, at 11:59 da manhã
Esqueci-me de referir isso, mas obviamente era apenas um exemplo. Esqueço-me sempre deste teu pedantismo (e não é em tom depreciativo que uso a palavra...)
Fiquei com vontade de ler esse paper, pela "feliz" coincidência da minha palavra.
Abraço
By Bruno Gouveia Gonçalves, at 12:13 da tarde
Entendo, mas aqui sim tenho que ser pedante, e dizer que acho que antes não fui pedante, mas sim "preciosista". Porque falávamos de coisas "objectivas" e que poderiam dar um entendimento diferente da coisa. COntundo, esta minha sugestão (neste comment), essa sim é pedante, porque apenas etilísticas :)
Vou-te enviar o paper, com o "bónus" do «Agreeing to disagree». Quando tiveres dá-me algum feedback, nomeadamente sobre se do último é perceptivel mais ou menos a(s) ideia(s) que eu tentei desrever na crónica "Os limites do consenso".
Abraço,
By Tiago Mendes, at 12:19 da tarde
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