aforismos e afins

30 dezembro 2005

A propósito do «Constant Gardener»

De que falei aqui, há uma cena em que a miúda lhe diz que quer ir com ele para África, «be it as a mistress, lover, or wife». A tradução dada no filme foi «amiga, amante, ou mulher». É curioso, porque o mistress é a amante de alguém que está casado, enquanto o lover é um conceito mais abrangente. Logo, e dado o sentido que as palavras têm no contexto português, julgo que seria mais apropriado falar de «amante, namorada, ou mulher». O que é uma pena, note-se. O «ser amante», no sentido original da palavra, é provavelmente das coisas mais bonitas que há. Como o ser amador, aquele que faz as coisas porque as ama e não porque tem necessidade de (esse será o profissional). O ser amante em Portugal é visto como coisa promíscua e quase sempre adúltera. E como (ainda por cima) lembra o imaginário francês duma certa libertinagem (polvilhada de romances como o de Sarte e Beauvoir), o conservador-tradicionalista português fica em pulgas se lhe mencionam esta expressão, imaginando de imediato malta do Bloco de Esquerda que se ama de forma X ou Y para ser politicamente incorrecta, transgressora, bla, bla, bla. Ser um puro amante é muito difícil. Mas é bonito. E, quer-me parecer, ainda acontece por aí.

2 Comments:

  • também vejo a palavra "amante" mal intencionada e mal aproveitada, mas interessa-me sobretudo essa tua visão do puro amante (ou amante puro?); será:

    alguém quem ama um(a)? ;
    alguém que ama bem [o(a) melhor]? ; ou
    alguém que ama muito(a)s [todo(a)s]?

    humm....

    By Blogger jmnk, at 5:12 da tarde  

  • JMNK,

    alguém que ama. Ponto. Não?

    By Blogger inês s., at 6:29 da tarde  

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