O homem na sua essência pode ser dividido em 5 tipos:
A- Génio
B- Superior
C- Inteligente
D- Mediano
E- Medíocre
À primeira vista, a categorização proposta parece ser exclusivamente derivada da inteligência humana, o que é verdade, mas não toda a verdade. Uma forma subtil e muito útil de abordar esta questão [embora não totalmente imune a um paradoxo] baseia-se na categorização ela própria e na "consciência" que cada um dos tipos propostos tem acerca dela. Passo a explicar.
A- Os "génios" são pessoas absolutamente raras, capazes de mudar o mundo. São de tal maneira diferentes dos outros que vivem num mundo à parte, não se apercebendo muitas vezes das pequenas coisas que se passam à sua volta. Cientistas, filósofos, matemáticos, músicos, artistas são fontes comuns de tais "espécimes". Einstein, Kant, Nash, Beethoven, Dali. O carácter de genialidade não raro está associado a um estado de "loucura" - se é que tal não é mesmo uma condição necessária para tal. Por isto, os génios verdadeiros em geral identificam-se - instintivamente - uns aos outros, mas não distinguem os outros: B, C, D ou E. Melhor: eles "poderiam", se quisessem, fazê-lo. Mas a sua vivência é de tal forma uma abstracção da realidade (quotidiana) que os rodeia que não estão minimamente preocupados com os "outros", e nesse sentido esses "outros" acabam por parecer iguais. Haverá 1 em cada milhão - se tanto.
B- O "homem superior" caracteriza-se sobretudo por um estado de consciência sobre si que é inultrapassável. Poderia ser ultrapassado apenas pelos "génios" mas, como dissemos, estes em geral têm a eles associados um estado tal de alienação do mundo real que perdem muitas vezes tal consciência. O homem superior sabe - com pena - que não é um génio. Reconhece um génio em pouco tempo. Admira-o, comunga das suas preocupações, embora o faça a um nível - que ele reconhece - inferior. [Na carta de recomendação de John Nash para Princeton vinha escrito apenas "This man is a genius"]. É capaz de distinguir, também, um homem inteligente. Vê-o como pessoa capaz, embora inferior. Em geral fá-lo com alguma complacência, em parte por (como veremos adiante) o homem inteligente ter a ele associado uma certa vaidade que provoca um riso (interior) enorme ao homem que lhe é superior [e que, por definição nossa, o percebe].
É-lhe normal um certo desdém pelo mundo exterior, ao mesmo tempo que nutre um verdadeiro interesse por ele; preocupam-no as grandes questões do mundo, da metafísica, da ciência, os limites do bem e do mal, o conhecimento da natureza humana e do que o homem é capaz de fazer - no mundo físico e no mundo moral. Mas vê nos outros um certo obstáculo não só a essa análise, como por vezes a um mundo também ele "superior" - no seu ponto de vista, claro. Nesta categoria encontram-se especialmente escritores, poetas, filósofos. Dostoievsky, Pessoa, Nietzsche. Outra característica que distingue B é ter uma inabalável honestidade intelectual. Contudo, não raro é movido por algum sentimento de vaidade que poderá obscurecer tal postura, sobretudo devido - e eles compreende isso melhor que ninguém [se não mesmo unicamente] - à incompreensão dos que o rodeiam.
Neste sentido, também o homem superior vive num mundo à parte. Contudo, esta vivência é muito mais dura do que para o "génio": i) por ser consciente, enquanto a do génio é insconciente; e ii) por não ser reconhecido como tal - os génios não se preocupam com tal distinções, e os inferiores não têm capacidade de os identificar e compreender. Por isso, vivem em geral num estado profundo de solidão interior. Haverá 1 em cada 10.000, grosso modo.
C- "Homens inteligentes" serão cerca de 20% da população. Percebem que são i) superiores a D e E e ii) inferiores a A. Não distinguem em geral entre D e E e, embora reconheçam A têm dificuldade em lidar com B, por se acharem na mesma categoria que estes últimos. São - está visto - vaidosos q.b. ainda que no interior por vezes admitam que não valem tanto quanto (por vezes) pensam - mas isto será mais uma luta entre super-ego e infra-ego (simplificando, claro). São pessoas em geral de bem com a vida, bem sucedidas, que não se preocupam com "grandes questões", vivem o seu dia-a-dia. Empresários e líderes em geral, na política, na sociedade, na academia, são casos comuns. Também abundam escritores (que não raro se julgam melhores do que realmente são).
D / E - Numa distinção um pouco arbitrária, esta massa de 80% da população poder-se-á melhor dividir tendo em conta as suas diferenças qualitativas. Os "medíocres" são pessoas que não conseguem distinguir nada acima deles. De certa forma vivem também num mundo à parte, tal como os génios. Em geral têm amizades e círculos de pessoas do mesmo nível, o que faz prolongar (estavelmente) o ciclo de que nunca sairão.
Os "medianos" são pessoas que percebem ser superiores a E e inferiores a A, B e C, mas sem ter capacidade para distinguir entre estes últimos. Uma distinção importante neste grupo faz-se entre os "invejosos" e os "acomodados". O primeiro grupo reinvindica por vezes ser do tipo C (embora reconhecendo que não o é, mas querendo aparentar), enquanto o segundo assume a sua mediania. Claro que esta distinção varia de cultura para cultura. No país à beira mar plantado todos sabem o que vale a inveja - palavras para quê.
É assim a vida. Desigual, mas nem por isso menos bela.