Pássaro ferido
Começou por dizer que a sua candidatura era um «acto poético». Tradução simultânea: não tenho obviamente quaisquer condições para vencer Cavaco - não quero tal - e candidato-me exactamente porque sendo um perdedor natural a minha candidatura poderá ser um poema em acção. Estão a ver, uma coisa tipo as candidaturas do PCP (ou CDU, mais verdes menos verdes, vai tudo dar ao mesmo) mas com uma rima de métrica superior. A verdade crua (sobretudo para ele) é que o homem simplesmente não se imaginava como presidente. Depois, é traído pelo velho «amigo» Soares, e fica combalido; faz o papel de vítima, e desiste da candidatura. Quando já não aguenta a dor, pergunta-se: pensando melhor... o que é que eu tenho a menos que os outros candidatos? E, depois de reunidos alguns apoios financeiros, atira-se para a frente num vôo esplêndido e anuncia a ressurreição do seu projecto poético.
Cavaco vai rindo (só pode). A esquerda vai gangrenando. Os portugueses, esses, surpreendem-se ao ver que mesmo depois do fenómeno Santana Lopes ainda é possível alguém - de livre e espontânea vontade - cobrir-se de ridículo. Por falta de falta de leitura política mas sobretudo por agir com base em emoções e ressentimentos. Manuel Alegre candidata-se não para se vingar de Soares mas para salvar a sua honra. Não percebe que ela já estava perdida quando se emaranhou em declarações contraditórias com a sua ideia inicial do «acto poético». A única "racionalidade" na sua candidatura é que na esquerda portuguesa o prevalecente sentimento de "pena do coitadinho" trará votos a Alegre - a pobre vítima traída pelo maldoso Soares.
Manuel Alegre encarna uma categoria especial da política portuguesa - a dos políticos "mortos-vivos", em que se destaca o Manuel do "Diga lá ao". O anúncio da candidatura mistura algo de "Mr. Bean" e "The Night of the Living Dead". E o país, com tanta emoção e loopings estratégicos, assemelha-se perigosamente a um arenal de «buggeiros» brasileiros.
Com tanta emoção, podemos dispensar um qualquer «Príncipe», mas precisamos desesperadamente dum trago de Maquiavel.
Cavaco vai rindo (só pode). A esquerda vai gangrenando. Os portugueses, esses, surpreendem-se ao ver que mesmo depois do fenómeno Santana Lopes ainda é possível alguém - de livre e espontânea vontade - cobrir-se de ridículo. Por falta de falta de leitura política mas sobretudo por agir com base em emoções e ressentimentos. Manuel Alegre candidata-se não para se vingar de Soares mas para salvar a sua honra. Não percebe que ela já estava perdida quando se emaranhou em declarações contraditórias com a sua ideia inicial do «acto poético». A única "racionalidade" na sua candidatura é que na esquerda portuguesa o prevalecente sentimento de "pena do coitadinho" trará votos a Alegre - a pobre vítima traída pelo maldoso Soares.
Manuel Alegre encarna uma categoria especial da política portuguesa - a dos políticos "mortos-vivos", em que se destaca o Manuel do "Diga lá ao". O anúncio da candidatura mistura algo de "Mr. Bean" e "The Night of the Living Dead". E o país, com tanta emoção e loopings estratégicos, assemelha-se perigosamente a um arenal de «buggeiros» brasileiros.
Com tanta emoção, podemos dispensar um qualquer «Príncipe», mas precisamos desesperadamente dum trago de Maquiavel.
4 Comments:
; ) Sim e não, isto é, claramente Manuel Alegre demonstrou não saber mover-se dentro do jogo de xadrez e é evidente que Cavaco deve estar em delírio por ver e ouvir todos á sua volta tecendo comentários à sua figura, aliás como qualquer narcisista gostaria; ) mas pondo as coisas noutro prisma e sabendo nós que a candidatura de Soares não é de todo aclamada pela esquerda e que despoletou, por certo, descontentamento nos outros partidos da esquerda ,vindo estes a apresentar as suas próprias candidaturas, entende-se que a larga maioria da esquerda se vê confrontada com o não querer votar em Soares mas ter duas hipóteses menos viáveis ainda ,pelo que, julgo, esta sim , foi talvez uma boa jogada pq, não tendo, repito, feito as coisas de uma forma mais correcta( Alegre ), acaba por ser uma pessoa bem mais interessante e muito menos Balofa que o Sr. Soares.Espero que aqueles que , provavelmente ponderariam votar em branco por não acreditarem já nesta rotina estúpida de votar PS para PSD não ganhar tenham aqui uma hipótese.Não poderá haver aqui uma certa renovação, ou pensas que por ter sido tb um homem de Abril perdeu o sentido de olhar para a frente e para o Futuro?
By Anónimo, at 4:43 da tarde
Ok, sr. bloguista. O seu artigo faz-me lembrar os estrangeirados do séc. XVIII, que lá do assento do país onde se encontram olham para este 'little'Portugal com olhos frios, racionais e 'pena' sempre afiada para a análise nua e crua da situação portuguesa. De facto tem razão, mas... Como alguém disse podemos perder os bens materiais, até a dignidade, mas não devemos nunca perder a coragem. Faltou, em devido tempo, a coragem a M. Alegre. de facto perdeu-se, empatou, tornou-se desejado, mas ninguém o ouviu e nem todos o desejaram. As hostes socialistas vivem atadas dentro dum saco de lacraus. Vão-se picando uns aos outros até que algum é ferido de morte e sai de cena, ou então sai ferido, mas não de cena. Quando sai, pode levar algum tempo a lamber as feridas, mas os homens corajosos fazem das fraquezas forçAs e voltam à RIBALTA.
talvez possa parecer um pouco bacoca a sua atitude, mas acho que foi corajosa, até porque sabe que provavelmente não ganha, nem à 1a., nem à 2a., nem à 3a.Hoje a esquerda está mais dividida, é certo, mas pode ser que perceba que a raposa velha da direita está a fazer um jogo sujo, cínico, hipócrita, e que a única coisa que merece é um não rotundo. Talvez (digo talvez porque na política como em tudo não há certezas) (só o outro é que nunca se enganava e não tinha dúvidas, o que me faz lembrar alguma fábula de La Fontaine) ñão vá ver um poeta em Belém, mas juro mesmo, e faço figas, que um pau seco, um queixo esticado prá frente, a comer bolo -rei de boca aberta, mesmo que seja no Alentejo profundo, não me agrada ver em Belém. Isso tentava-me, ao olhar para aquele palácio,a ter de ler a Paula Bobone para não me esquecer das boas maneiras - passava-se a chinelar por essas avenidas fora. Não vou ter um poeta, mas tammbém não quero 'o príncipe', mesmo que seja MAQUIAVÉLICO e que Portugal,esteja a precisar de entrar definitivamente nos carris. Veja lá se muda a sua 'pena' mais para a esquerda, porque o país merece melhor e não qualquer chinelo no pé ou xailinho à tiracolo.Cavaco, não, obrigada. Espero que o povo português se lembre dos seus anos de reinado e meta de uma vez por todas na cabeça que ser presidente da república não é ser primeiro ministro.
By Anónimo, at 5:41 da tarde
Obrigado pelos 2 comments, caros "anonymous" e (semi-anonymous) "ypslon".
A coragem é de facto uma grande virtude. Só acho que ter demasiadas emoções e dúvidas na política não é bom. Alegre começou por dizer que nunca seria candidato, etc. Depois, à falta de melhor (é mesmo assim) aceitou ser "empurrado", mas sem conviccção. As cúpulas do PS não gostaram da falta e confiança nele próprio e começaram a conspirar. O homem levou uma rasteira que não merecia - Soares teve um comportamento que me dispensa um adjectivo por ser tão forte.
Depois, Alegre reage como um "pássaro ferido". Ele tem todo o direito a candidatar-se e por uma questão de justiça, Soares merece-o. Mas isso não é contraditório com o ponto essencial do meu texto, que era lamentar que a política esteja tão cheia de ressentimentos e desejos de (pequena ou grande) vingança. Foi apenas nesse sentido que eu "ironizei" ser preciso um pouco mais de sangue frio - "um pouco de Maquievel". Não se trata de trazer um príncipe iluminado.
De resto, não defendo Cavaco neste texto, pelo que as demais interpretações são abusivas. A seu tempo falarei de tal - se o homem se candidatar...
By Tiago Mendes, at 6:29 da tarde
Incôngruencias à parte, julgo que Alegre não será um adversário fácil.
By Elise, at 10:16 da manhã
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