aforismos e afins

30 novembro 2005

70 anos



Passaram desde a morte de Fernando Pessoa. Veja-se o que dizem o Expresso, o DN1 e DN2. Fotos e retratos aqui. Dos escritos autobiográficos, destaco um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze. E ainda um décimo-terceiro:

«Sucede que tenho precisamente aquelas qualidades que são negativas para fins de influir, de qualquer modo que seja, na generalidade de um ambiente social. Sou, em primeiro lugar, um raciocinador, e, o que é pior, um raciocinador minucioso e analítico. Ora o público não é capaz de seguir um raciocínio, e o público não é capaz de prestar atenção a uma análise. Sou, em segundo lugar, um analisador que busca, quanto em si cabe, descobrir a verdade. Ora o público não quer ver a verdade, mas a mentira que mais lhe agrade. Acresce que a verdade - em tudo, e mormente em coisas sociais - é sempre complexa. Ora o público não compreende ideias complexas. É preciso dar-lhe só ideias simples, generalidades vagas, isto é, mentiras, ainda que partindo de verdades; pois dar como simples o que é complexo, dar sem distinção o que cumpre distinguir, ser geral onde importa particularizar, para definir, e ser vago em matéria onde o que vale é a precisão - tudo isto importa em mentir. Sou, em terceiro lugar, e por isso mesmo que busco a verdade, tão imparcial quanto em mim cabe ser. Ora o público, movido intimamente por sentimentos e não por ideias, é organicamente parcial.»