aforismos e afins

17 abril 2005

Pessoalismos 44 [escritos autobiográficos27]

"Nota Biográfica:

Ideologia política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservadorismo, e absolutamente anti-reaccionário.

Posição religiosa: Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta de Israel (a Santa Kabala) e com a essência oculta da Maçonaria.

Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.

Posição partidária: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abollida toda infiltração católica-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação».

Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima."

Fernando Pessoa

Pessoalismos 43 [escritos autobiográficos26]

"(...) de facto, fui sempre fiel, por índole, e reforçado ainda por educação - a minha educação é toda inglesa -, aos princípios essenciais do liberalismo, que são o respeito pela dignidade do Homem e pela liberdade do Espírito, ou, em outras palavras, o individualismo e a tolerância, ou, ainda, em uma só frase, o individualismo fraternitário." Fernando Pessoa

13 abril 2005

Fados 1 - "Loucura"

É loucura querer-te bem,
Sou irmã da desventura
Tinhas razão minha mãe

É loucura adorar-te
Estar cedente de ternura
Sem mesmo poder beijar-te

Chorai, chorai
Guitarras da minha terra
O vosso pranto encerra
Minha vida amargurada

E se é loucura
Amar-te desta maneira
Quer eu queira quer não queira
Não posso amar-te calada

Hei-de ser sombra tua
Hei-de subir e descer
Os degraus da tua rua

Adorar-te, serei louca
Mas a loucura é bem pouca
Para o que tenho passado

Chorai, chorai
Guitarras da minha terra
O vosso pranto encerra
Minha vida amargurada

E se é loucura
Amar-te desta maneira
Quer eu queira quer não queira
Não posso amar-te calada

11 abril 2005

Aforismos 46 [Amizade V]

"É mais vulgar ver um amor absoluto que uma amizade perfeita." Jean de la Bruyère

"Permanece sozinho, ou então, se preferes a amizade, aceita o amigo tal como ele é." Bachâr Ibn Burd

"Fazei amigos sempre dispostos a censurar-vos!" Nicolas Boileau

Aforismos 45 [Amizade IV]

"Ter muitos amigos é não ter nenhum." Aristóteles

"O amigo de toda a gente só é amigo de si próprio." Claude Aveline

"Um verdadeiro amigo é o maior de todos os bens e igualmente, de todos, aquele que menos nos preocupamos em adquirir." La Rochefoucauld

Aforismos 44 [Amizade III]

"A única amizade que vale a pena é aquela que nasce sem qualquer motivo." Arthur van Schendel

"O destino faz os parentes, a escolha os amigos." Jacques Delille

"A amizade não se busca, não se sonha, não se deseja; ela exerce-se (é uma virtude)." Simone Weil

Aforismos 43 [Amizade II]

"Convém tratar as amizades como os vinhos, desconfiando das misturas." Collette

"Não tenhas pressa em fazer novos amigos nem em abandonar aqueles que tens." Sólon

"Queimai velha lenha, bebei velhos vinhos, lede velhos livros, tende velhos amigos." Afonso X, rei de Castela

Aforismos 42 [Amizade I]

"Viver sem amigos é morrer sem testemunhas." George Herbert

"Parece-me que arrancam o sol deste mundo, esses que afastam a amizade das suas vidas." Cícero

"A amizade é uma alma com dois corpos." Aristóteles

Aforismos 41 [Admiração]

"Admiramos o mundo através do que amamos." Alphonse de Lamartine

"Diz-me quem te admira e dir-te-ei quem és." Charles-Augustin Sainte-Beuve

"Gostamos sempre de quem nos admira, mas nem sempre gostamos daqueles que admiramos." La Rochefoucauld

06 abril 2005

Pessoalismos 42 [escritos autobiográficos25]

[Explicação de um livro]

"Um leitor atento de
Mensagem, qualquer que fora o conceito que formasse do mérito do livro, não estranharia o anti-romanismo, constante-, embora negativamente, emergente nele. Um leitor igualmente atento, mas instruído no entendimento, ou ao menos na intuição, das coisas herméticas, não estranharia a defesa da Maçonaria em o autor de um livro tão abundantemente embebido em simbolismo templário e rosacruciano. E a este leitor seria fácil de concluir que, tendo as ordens templárias, embora não exerçam actividade política, conceitos sociais idênticos, no que positivos e no que negativos, aos da Maçonaria; e girando o rosacrucianismo, no que social, em torno das ideias de fraternidade e de paz (Pax profunda, frater! é a saudação rosacruciana, tanto para Irmãos como para profanos), o autor de um livro assim pensado seria forçosamente um liberal por derivação, quando o não fosse já por índole.

Mas, de facto, fui sempre fiel, por índole, e reforçado ainda por educação - a minha educação é toda inglesa -, aos princípios essenciais do liberalismo, que são o respeito pela dignidade do Homem e pela liberdade do Espírito, ou, em outras palavras, o individualismo e a tolerância, ou, ainda, em uma só frase, o individualismo fraternitário."

Fernando Pessoa

02 abril 2005

Pessoalismos 41 [escritos autobiográficos24]

"Se faço estas análises de um modo lasso e casual, não é senão porque assim retrato mais o que sou. De uma análise propriamente profunda não só sou incapaz, mas sou também artista demais para a pensar fazer; pensar em fazê-la seria pensar em dar de mim a ideia de que sou uma criatura disciplinada e coerente, quando o que sou é um analisador disperso e subtilmente desconcentrado. A minha arte é ser eu. Eu sou muitos. Mas, com o ser muitos, sou muitos em fluidez e imprecisão." Fernando Pessoa