aforismos e afins

31 outubro 2004

Paradoxos 1 [Russell]

O famoso «parodoxo do barbeiro» ou «paradoxo de Russell», proposto por Bertrand Russell para ilustrar o paradoxo existente na teoria de conjuntos proposta por Cantor e Frege:

«Quem barbeia um barbeiro que barbeia todos aqueles que não se barbeiam a si próprios, e apenas esses?»

Voltaremos mais tarde ao paradoxo lógico-matemático, mas para já propomos uma aplicação à  política: «Deve ou não a democracia permitir que se possa escolher um regime anti-democrático?». Isto é, deve ou não o conjunto de regras que regem e caracterizam a democracia incluir regras que permitam os cidadãos optar democraticamente por alternativas anti-democráticas?

Fica aqui esta proposta de reflexão, que me parece ainda mais oportuna neste tempo em que tanto se fala do «contraditório» e em que pululam declarações heroicamente paradoxais...

Aforismos 9 [Polí­tica]

"Em política, a sensatez está em não se responder às perguntas; a arte, em não se permitir que elas sejam feitas." André Suarès

[segundo Suarès, o ministro dos Assuntos Parlamentares deverá achar-se um verdadeiro «artista», por tentar impedir tanta coisa de ser feita. "À bruta", admitamos, mas cada um tem o seu estilo. (Eu teria preferido a expressão "cada macaco no seu galho" mas tal puderia ser mal entendido por tão peculiar inteligência). E «sensatez» também não lhe faltará; é vê-lo fugir sem dizer "ai!" nem "ui!" às perguntas dos jornalistas, para bater com a cara numa porta fechada. Ah, a vontade feroz que não deve ter tido de arrombar a porta, sr. ministro! Sabe... é a «lei de Murphy» que o persegue - «Anything that can go wrong will go wrong» (aprenda lá qualquer coisinha, vá, não seja pessimista que ainda tem idade para isso, mesmo que não perceba que uma cabala involuntária é uma coisa sem nexo; e ensine isso ao seu amigo Pedro, que ele certamente gostará do efeito "soundbyte"). O remédio, caso ainda não tenha adivinhado, é calar-se, desaparecer, não fazer absolutamente nada. É que assim pelo menos deixa alguma loiça na loja!]

Aforismos 8 [Polí­tica]

"Quando estais no estrangeiro, sois um homem de Estado; quando estais no vosso próprio paí­s, não passais de um homem político". Harold Macmillan

[relemos o «Aforismos 5» e não percebemos aqueles que criticam os polí­ticos que trocaram o seu paí­s pelo estrangeiro. Então uma pessoa já não pode almejar «poder ser» finalmente um homem de Estado? Ou será que os crí­ticos não percebem que é Portugal que os corrompe? Parece até que em Portugal já não se pode ter sentimentos nobres...]

Aforismos 7 [Polí­tica]

"O coração de um homem de Estado deve estar na sua cabeça." Napoleão

[lembram-se da campanha da "Razão e emoção"? Viu-se no que deu tanta emoção...]

Aforismos 6 [Polí­tica]

"A diferença entre o político e o homem de Estado é a seguinte: o primeiro pensa na próxima eleição, o segundo na próxima geração." James Freeman Clarke

[por que então se queixam os políticos dos seus rendimentos? Pois se há excesso de oferta...]

Aforismos 5 [Polí­tica]

"A polí­tica é a única profissão para a qual se considera desnecessária qualquer preparação." Robert Louis Stevenson

[um artigo muito interessante de Jaime Nogueira Pinto no Expresso de ontem descreve quanta preparação involve o projecto de um aspirante a «primeiro» nos dias que correm. Citando:

Perante comentários «apocalí­pticos» sobre tal decadência da polí­tica e dos políticos, tentemos começar pelas razões: a questão é, o que é preciso hoje para ser primeiro-ministro de Portugal? Ser lí­der do PSD ou do PS! E para ser lí­der do PSD ou do PS? Fora a hipótese do «legado», é preciso ganhar os respectivos congressos. E para ganhar os congressos? É preciso cortejar os delegados ou militantes, agarrá-los, conquistá-los. E para tal o que se faz? Faz-se, conforme o ní­vel considerado, o acompanhamento daquelas 80 ou 800 pessoas que formam o «aparelho»! (Ou garantem o voto «certo» dos militantes, na nova versão do PS). E para garantir tal lealdade e apoio dos «aparatchiques», o que é preciso? É preciso dar-lhes atenção, ir visitá-los à «terras», empregar-lhes os amigos e os parentes, apoiá-los em Lisboa, ou onde seja; e ter a agenda e contabilidade destes favores...

Como questiona depois o articulista, será que no actual sistema em que prevalecem a imagem e a «capacidade mediática» poderemos ter pessoas capazes a comandar o paí­s? No Portugal de hoje, ocorre-me dizer que um certo perí­odo de «trial and error» possa ajudar a esclarecer como por detrás dum polí­tico que vive sobretudo preocupado com a forma e não com o conteúdo se esconde geralmente uma tremenda incapacidade. A tal «incompetência» que referiu Belmiro de Azevedo. Deste ponto de vista, não há dúvida que a decisão do Presidente de nos proporcionar um período de "namoro" em vez de propor logo um "enlace" tenha sido sensata. Agora, só mesmo os muito apaixonados quererão seguir para o casamento. Ou os (pseudo) profissionais de comunicação social que vivem despudoradamente amantizados com quem está no poder.]

Aforismos 4 [Polí­tica]

"Há duas espécies de homens polí­ticos: os que usam a palavra para dissimular os pensamentos e os que a utilizam para ocultar a falta de pensamento." Jan Greshoff

[porque será que me ocorrem os nomes Marcelo e Santana?...]

Aforismos 3 [Polí­tica]

"Só nos podemos considerar homens de Estado quando nos surpreendemos a defender habitualmente opiniões que não são as nossas." Stendhal

[terá este impluso de vaidade influenciado Sampaio na nomeação de Santana?]

30 outubro 2004

Aforismos 2 [Educação]

"Education is an admirable thing, but it is well to remember from time to time that nothing that is worth knowing can be taught". Oscar Wilde

[ou alguém acredita que se poderia ensinar ao nosso primeiro como seria imediatamente óbvio que o ministro "da Silva" teria que ser demitido? Ah... mas eles são amigos de infância, deve ser "difí­cil". Pois é, como é difícil governar em Portugal, parece até que é um crime convidar amigos, quando é óbvio que há cargos que têm de ser "de confiança".]

[acho que o primeiro deve andar a ler o livro do Pedro Paixão "Viver todos os dias cansa". Ele está visivelmente cansado. Nós, enfim, vamo-nos entretanto, pensando semi-esquizofrenicamente que Portugal, paí­s atrasado em quase tudo, entrou agora também com algum "delay" na fase do "surrealismo"...]

Aforismos 1 [Sabedoria]

A dúvida é o princí­pio da sabedoria". Aristóteles

Em Portugal poucos têm dúvidas hoje em dia. Melhor: poucos admitem publicamente que as poderão ter [esse terrí­vel sinal de fraqueza perante o "público"]. Mas também "desejos de sabedoria" são algo fora de moda, sobretudo quando tantos se sacia[va]m com o "comprimido" semanal à hora de jantar.

Se necessidade houvesse de uma cartilha de iniciação a uma carreira polí­tica em Portugal [ou, para ser mais preciso, a uma carreira polí­tico-financeiro-mediática], a qualquer um bastariam uns minutos diários de observação atenta dos nossos actores em plena "selva" para poder extrair conclusões sobre como nela sobreviver. Embora seja de crer que os novos aspirantes de tal cartilha não necessitarão, ainda assim deixo aqui uma pequena proposta [se O poeta mo permite]:

Para ser grande, Sê corrupto: nada
Teu subestima ou inclui.
Sê falso em cada coisa. Põe quanto te convém
No pouco que fazes.
Assim em cada tacho o teu Ego todo
Brilha, porque alto vive.

(ver poema em http://www.instituto-camoes.pt/escritores/pessoa/sergrande.htm)