«Virgindade» (d)e amor
Faz-se muita batota quando se fala de «virgindade». É que a virgindade que interessa não é a do sexo, mas a do amor. A perda de virgindade sexual é sobretudo uma etapa que abre as portas a [melhores] experiências futuras [e que em geral nem corre bem, no wonder if it is the first]. Necessária e quase irrelevante, portanto. A perda de virgindade no amor é que importa - infinitamente mais. Porquê? Diz o povo que «amor só há um - o primeiro e mais nenhum». E porque está bêbado amiúde também diz que «não há amor como o primeiro», o que é um contra-senso claro. A verdade é que «não há amor depois do primeiro». Só se pode amar uma vez. Quem amou sabe disso. Quem discorda é porque nunca amou verdadeiramente. [Ser único é então condição necessária mas não suficiente para caracterizar o amor. Uma definição, pois então.]
O «primeiro amor» de que falo tem em geral que ser vivido na adolescência - a idade ainda inocente; da descoberta. Sobretudo da falta de consciência. Vivem-se as coisas sem as perceber - e certamente menos ainda de se perceber que se não as percebe. Apenas se vive - e isso não é tudo? O primeiro amor é um turbilhão de sentimentos que nos ultrapassam, é um pulsar descontrolado que não desgruda. É «estar na lua». É como se alguém tomasse conta de nós - vivemos que nem possuídinhos da Silva. Quando deixamos escapar o primeiro amor ficamos condenados para sempre - porque ganhamos consciência. E com a consciência vem a desgraça: toda. Nunca seremos capazes de amar novamente; apenas procuraremos sensações que antes vivemos. Não voltaremos a amar uma pessoa mas apenas buscaremos possibilidade de - através dela - nos lembrarmos de como amámos [e de como um dia fomos felizes]. De viajarmos no tempo em busca dessas «recollections». [O que seríamos nós sem memória?]
O amor é um comboio que vemos passar - se tanto - uma vez na vida. É difícil reconhecê-lo, mas se nele entramos a embriaguez é imediata. No entanto não identificamos, porque isso só pode vir depois... na consciente pós-ressaca. Mas ainda mais difícil é resistir a sair nas inúmeras estações que se nos vão aparecendo no caminho - esse impulso natural de visitar outros comboios, de partir noutras viagens... Por isso é que a virgindade do amor é tão especial: porque nela existe necessariamente um começo e um fim. O amor é como um empregado empertigado de restaurante fino, que se apresenta muito sorridente e ao nosso dispor, brindando-nos com um bom vinho. Mas assim que reclamamos algo ele desaparece sem dar explicações. E só depois nos apercebemos da dolorosa [conta] que ele deixou para pagar. «Fodido», o amor? Não...
PS: Texto que publiquei há uns tempos aqui. Recomendo vivamente a leitura da discussão que se seguiu na caxa dos comments.
O «primeiro amor» de que falo tem em geral que ser vivido na adolescência - a idade ainda inocente; da descoberta. Sobretudo da falta de consciência. Vivem-se as coisas sem as perceber - e certamente menos ainda de se perceber que se não as percebe. Apenas se vive - e isso não é tudo? O primeiro amor é um turbilhão de sentimentos que nos ultrapassam, é um pulsar descontrolado que não desgruda. É «estar na lua». É como se alguém tomasse conta de nós - vivemos que nem possuídinhos da Silva. Quando deixamos escapar o primeiro amor ficamos condenados para sempre - porque ganhamos consciência. E com a consciência vem a desgraça: toda. Nunca seremos capazes de amar novamente; apenas procuraremos sensações que antes vivemos. Não voltaremos a amar uma pessoa mas apenas buscaremos possibilidade de - através dela - nos lembrarmos de como amámos [e de como um dia fomos felizes]. De viajarmos no tempo em busca dessas «recollections». [O que seríamos nós sem memória?]
O amor é um comboio que vemos passar - se tanto - uma vez na vida. É difícil reconhecê-lo, mas se nele entramos a embriaguez é imediata. No entanto não identificamos, porque isso só pode vir depois... na consciente pós-ressaca. Mas ainda mais difícil é resistir a sair nas inúmeras estações que se nos vão aparecendo no caminho - esse impulso natural de visitar outros comboios, de partir noutras viagens... Por isso é que a virgindade do amor é tão especial: porque nela existe necessariamente um começo e um fim. O amor é como um empregado empertigado de restaurante fino, que se apresenta muito sorridente e ao nosso dispor, brindando-nos com um bom vinho. Mas assim que reclamamos algo ele desaparece sem dar explicações. E só depois nos apercebemos da dolorosa [conta] que ele deixou para pagar. «Fodido», o amor? Não...
PS: Texto que publiquei há uns tempos aqui. Recomendo vivamente a leitura da discussão que se seguiu na caxa dos comments.
5 Comments:
Hum, li o texto e fui ver os comentários. Uma primeira nota: para minha surpresa, os comentários foram todos escritos por "meninos" . Para percebermos de uma vez por todas que somos mais parecidos do que às vezes se julga.
Depois... Essa ideia de que só se ama uma vez ... não sei. Nem quero pensar nisso, tenho PÂNICO de que possa ser verdade . Mas acho que tens razão em quase tudo o que escolheste dizer nesse texto. Há um ponto de consciência no amor que não tem volta: gostei e concordo. A questão é que se ganha consciência de coisas diferentes ao longo da vida e nem sempre identificamos essa mudança a não ser quando já é tarde demais, quando ela já virou o mundo todo do avesso e abalou tudo quanto se tem por mais seguro. Às vezes quando pensas que já viste tudo o que havia para conhecer, a vida dá-te uma lição, e aí de repente acordas e percebes que se calhar há outro "primeiro amor" , e caíste que nem um patinho ...
By Ginja, at 6:00 da tarde
pois é, só "meninos" a escrever e comentar é uma chatice, também concordo :)
como eu próprio disse nesses comentários não pretendia ter uma perspectiva (demasiado) pessimista, mas apenas realçar a inevitabilidade de a perda de inocência ser algo que não pode ser restabelecido. Mas não digo que não se possam viver grandes coisas, e sobretudo com "outras" dimensões.
simplesmente a dimensão da inocencia-consciencia fica perdida para sempre, e ela é muito importante para o amor.
um pouco como as crianças tomam consciencia da "morte".
By Tiago Mendes, at 10:01 da tarde
O amor é: (lembram-se ...? lol)
- escolha inconsciente;
- único.
Escolha inconsciente porque nasce de uma atracção involuntária que o nosso arbítrio transforma em união voluntária - o acto que transforma a servidão em liberdade. (acho que já escrevi sobre isto no Mundo Perfeito)
Único porque é exclusivo, amamos uma única pessoa a quem pedimos que nos ame da mesma forma. Único, não significa uma vez só, mas de uma vez só. Mas o primeiro amor é a nossa pedra roseta, com a qual podemos decifrar e comparar amores futuros.
By jmnk, at 10:09 da tarde
Gostei dessa frase do Disreali, é mesmo essa "magia" que se perde, porque a ignorância não volta mais...
By Tiago Mendes, at 1:33 da manhã
Sinto um quase nó no esôfago com a idéia de que "Só se pode amar uma vez", ou de ser o primeiro amor uma "pedra roseta com a qual podemos decifrar e comparar amores futuros".
Não, não acredito nisso. E não vou acreditar, enquanto puder, enquanto conservar em mim essa postura (estúpida? (in)sensata? ) naïve, enquanto eu puder parar tudo e olhar um pôr de sol, enquanto o mar ainda tiver o poder de me encontrar e me perder, enquanto ainda houver algo nada racional em mim.
É isso. Sem racionalizações. Sem mais argumentações. Sinto.
By Daniela, at 3:05 da tarde
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