Crime e Castigo (7)
«Não existe na terra um único homem que não seja capaz, de ânimo mais ou menos leve, de mandar matar o seu próximo. (...) Se, deste ponto de vista, os homens vierem a mudar, perderão a sua qualidade fundamental. Já não serão homens, mas uma espécie diferente de criaturas.
(...)
- A maior parte das pessoas evoluem num círculo idílico entre a casa e o trabalho - disse Jakub. - Vivem num território sossegado para além do bem e do mal. Ficam sinceramente aterradas ao verem um homem que assassina. Mas, ao mesmo tempo, basta fazê-las sair desse território tranquilo, para vermos as mesmas pessoas tornarem-se em assassinos, sem saberem como. Há provas e tentações a que a humanidade só se vê submetida de longe a longe na sua história. E ninguém resiste.
(...)
Porque pouco importava que o comprimido azul pálido fosse ou não veneno, o que contava é que ele (Jakub) julgava que era e apesar disso o tinha dado à desconhecida e nada fizera para a salvar. (...) Além disso, sabia que todo o homem deseja o morte de algum outro e que só duas coisas o desviam do assassínio: o medo do castigo e a dificuldade física do acto de matar. Jakub sabia que se todos so homens tivessem a possibilidade de matar em segredo e à distância, a humanidade desapareceria em poucos minutos. Portanto, tinha que concluir pela fatuidade total da experimentação de Raskolnikov.
(...)
Raskolnikov, quando assassinara à machadada a velha usurária, sabia perfeitamente que estava a ultrapassar um limiar aterrador; que transgredia a lei divina. (...) Raskolnikov, depois de ter matado a velha usurária, não tivera forças para dominar a formidável tempestade do remorso. Ao passo que Jakub, que estava profundamente convencido de que o homem não tem o direito de sacrificar a vida dos outros, não sentia remorsos nenhuns. (...) Raskolnikov viveu o seu crime como uma tragédia e acabou por sucumbir sob o peso do seu acto. E Jakub espanta-se por o seu acto ser tão leve, por não pesar nada, por não o acabrunhar. E pergunta-se se esta leveza não é bem mais terrificante do que os sentimentos histéricos do herói russo.»
[Milan Kundera, A valsa do adeus]
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- A maior parte das pessoas evoluem num círculo idílico entre a casa e o trabalho - disse Jakub. - Vivem num território sossegado para além do bem e do mal. Ficam sinceramente aterradas ao verem um homem que assassina. Mas, ao mesmo tempo, basta fazê-las sair desse território tranquilo, para vermos as mesmas pessoas tornarem-se em assassinos, sem saberem como. Há provas e tentações a que a humanidade só se vê submetida de longe a longe na sua história. E ninguém resiste.
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Porque pouco importava que o comprimido azul pálido fosse ou não veneno, o que contava é que ele (Jakub) julgava que era e apesar disso o tinha dado à desconhecida e nada fizera para a salvar. (...) Além disso, sabia que todo o homem deseja o morte de algum outro e que só duas coisas o desviam do assassínio: o medo do castigo e a dificuldade física do acto de matar. Jakub sabia que se todos so homens tivessem a possibilidade de matar em segredo e à distância, a humanidade desapareceria em poucos minutos. Portanto, tinha que concluir pela fatuidade total da experimentação de Raskolnikov.
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Raskolnikov, quando assassinara à machadada a velha usurária, sabia perfeitamente que estava a ultrapassar um limiar aterrador; que transgredia a lei divina. (...) Raskolnikov, depois de ter matado a velha usurária, não tivera forças para dominar a formidável tempestade do remorso. Ao passo que Jakub, que estava profundamente convencido de que o homem não tem o direito de sacrificar a vida dos outros, não sentia remorsos nenhuns. (...) Raskolnikov viveu o seu crime como uma tragédia e acabou por sucumbir sob o peso do seu acto. E Jakub espanta-se por o seu acto ser tão leve, por não pesar nada, por não o acabrunhar. E pergunta-se se esta leveza não é bem mais terrificante do que os sentimentos histéricos do herói russo.»
[Milan Kundera, A valsa do adeus]
1 Comments:
medo.
não deve o desejo de morte o motor, mas sim o desejo do poder, e o facto de matar ser uma prova de imenso poder sobre a vida de outro... 8 mm é um bom filme sobre isto, indigesto, mas bom.
By ana, at 12:43 da tarde
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