aforismos e afins

13 dezembro 2005

O golo da jornada

É do Henrique Raposo, num grande regresso à escrita. Inteiramente válido, e sem qualquer falta a apontar. Concordo (quase) integralmente com o que ele diz. A tolerância, como a amizade, exerce-se. Não existe em si. É inter-relacional por definição. Talvez apontasse apenas três pequenas coisas (isto não são cartões amarelos, mas um verificar do estado dos pitons das chuteiras):
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1. Quando o HR diz «Tolerância é igual a Crítica», eu talvez tivesse optado por uma «Tolerância é Propensão (à) Crítica» ou «Tolerância é Crítica em Potência». Porque se a tolerância só tem sentido quando se faz, a crítica pode ser entendida num sentido de efectivação mas também de predisposição. Para dar um exemplo, uma pessoa pode, em última análise, criticar-se, mas não pode tolerar-se. [] a tolerância requer de facto um outro.
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2. Não usaria o «igual», porque isto pode sugerir uma justaposição entre os dois conceitos, de tolerância e de crítica, quanto a mim exagerada e com um sentido desnecessariamente dúbio.
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3. Discordo, apesar de entender o que o Henrique quer dizer, do «A Tolerância é o oposto de Harmonia». Porque elas estão a níveis diferentes. A tolerância é uma coisa que se exerce, é um meio, enquanto a harmonia é algo que resulta de. Se ele me disser que a tolerância é o oposto da predisposição a uma harmonia acéfala, concordaria. Mas, assim só, a «Harmonia» sai algo ferida.
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Em jeito de nota final, arrisco [como também nota o João] que provavelmente algum de nós aligeirou o seu pensamento ou a intensidade com que o afirma ou afirmou. Ou ainda, talvez se tenha alterado a interpretação que alguem de nós deu ao outro. Abençoada hermenêutica. A verdade é que esta Tolerância não me parece idêntica à que foi afirmada há tempos a propósito de outras discussões animadas. Mas isso são águas passadas.
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Em jeito de nota provocatória, e porque a harmonia aborrece:
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«A tolerância é a caridade da inteligência.» [Jules Renard]