O problema dos temas "fracturantes"...
...é que sempre arrepia certa direita. Para alguns, só se deve falar de PIB, desemprego, TGV. Sempre que alguém fala num tema fracturante, ouve-se sempre dizer que 1) está a tentar dividir o país, 2) pertence a lobbies, ou 3) há temas mais importantes. Claro que há temas com diferentes níveis de importância.
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De resto, eu não só respeito como entendo esta posição conservadora, de manter por predisposição o status-quo. Acho é desonesto esconder esse preconceito e aparecer como se de facto se estivesse a discutir algum tema, quando o que se quer é exactamente não discutir e manter um tabu para que nada mude.
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Seja na laicidade ou na questão dos direitos homossexuais, as intervenções têm sempre o mesmo tom. Parece que uma questão por ser fracturante não pode ser tornada prioridade (isto lembra o amor de Rousseau pela «vontade geral», mas ok). Parece que por haver questões mais importantes, elas não podem ser discutidas seriamente (so much for liberal pluralism, should I say).
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Vale a pena ler os comentários de JPT ao post de PPM:
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«O post mistura temas fracturantes (expressão sua) e política do "quanto pior melhor". Não vejo relação entre as duas.
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A Política do quanto pior melhor é praticada por todos os partidos que estão na oposição. O PP de Portas foi mestre nisso.
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Quanto aos temas fracturantes, são tabu? Há temas que, em política, não podem ser discutidos? Terá essa sua posição algo a ver com o facto de você concordar com o status quo nessas matérias? É que evitar discutir esses temas não é mais do que apoiar, de uma maneira politicamente cobarde e intelectualmente desonesta, que tudo fique na mesma, doa a quem doer.
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Quanto ao velho argumento que as pessoas têm outras preocupações... Bem, eu também não me preocupo nada que chova dentro duma escola em Carrazeira de Ansiães, tenho outras preocupações. Enquanto isso, deve haver alguns putos que têm aulas à chuva...»
8 Comments:
"prioritizada"
Esta palavra existe?
By Luís Aguiar-Conraria, at 6:37 da tarde
Priorizada, o verbo é priorizar.
Parece-me que este post assenta num processo de intenções. O que eu li do que o PPM escreveu foi uma crítica aos partidos que "ordenam a sua agenda em função dos chamados temas fracturantes". É diferente de dizer que estes temas não podem ser priorizados ou não merecem ser alvo de um debate sério.
By Anónimo, at 7:29 da tarde
Excelente post.
O argumento de Cavaco Silva é, no plano intelectual, indigente. Estou à vontade para dizê-lo, porque, em princípio (ou talvez não), votarei nele.
CS desilude-me no sentido de que aparece como um homem sem convicções; como um Sócrates ou um Durão Barroso mais velho. E vai ganhar. Isto diz muito da discussão pública em Portugal, um país onde o óbvio ululante rende votos e onde o pensamento próprio remete um candidato para a marginalidade política.
Compare-se a vitória de Cameron em Inglaterra depois de ter tomado uma posição corajosa a respeito da adopção por casais homossexuais.
By Anónimo, at 7:55 da tarde
Nao querendo contestar o MN, devo dizer que no meu dicionario o verbo priorizar tambem nao consta. So consultei um, pelo que e possivel que venha noutro, mas fico na duvida.
By Luís Aguiar-Conraria, at 8:06 da tarde
Caros LA-C e MN: agradeço mais achegas. Confesso que o "prioritizada" é bastante "anglófono", não sei de facto de existe em português. Mas assumo que "prioritizar" não deverá mesmo existir, vou mudar para "tornar prioridade". Talvez o verbo não exista mesmo...
By Tiago Mendes, at 8:41 da tarde
eu na~o leio o acidental porque o meu tempo e' finito. e este post justifica muito bem a minha escolha (ale'm de desmontar brilhantemente a reto'rica conservadora sobre o tema).
By Pedro Figueiredo, at 10:11 da tarde
Tx, Pedro :)
By Tiago Mendes, at 10:54 da tarde
Apesar de ter a ideia que existia, também não o encontrei em nenhum dicionário. Já em desespero de causa, lá encontrei sustento para a impressão:
http://ciberduvidas.sapo.pt/php/resposta.php?id=1942
Priorizar tá légal
By Anónimo, at 2:50 da manhã
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