aforismos e afins

20 junho 2005

«Amor Verdadeiro» (AV) e «Amor... somente» (AS)

Aproveito o comentário do Pedro - «A inocência não vai toda. Não vai» - para continuar o tema do meu último post. Acho crucial distinguir que se no «Amor Verdadeiro» (AV) a inocência é total, no «Amor... somente» (AS) - o que vulgarmente se chama de «Amor» - essa inocência é parcial. AV e AS são qualitativamente diferentes e é esta distinção que importa mais que tudo - porque a inocência que há no AV só é percebida a posteriori, e esta consciencialização impossibilita o retorno: o AV é irreplicável. Mas isto não implica que os subsequentes AS sejam destituídos de valor - sobretudo (mas não só) - porque ainda há alguma inocência na pessoa. [De acordo ser a[lguma] inocência uma pré-condição para o amor?]

Por os AS terem um remanescente de inocência que se vai perdendo com o passar do tempo (tornando-os apenas quantitativamente diferentes entre si), parece resultar que a relação-que-se-segue será sempre menos rica. Mas há um factor que se contrapõe a isto: as pessoas são multi-dimensionais e inimitáveis. É possível que a descoberta que uma nova relação proporciona se sobreponha ao efeito que a erosão fatal do tempo provoca sobre a nossa [in]consciência - se a «unicidade» do objecto amado num certo contexto espácio-temporal tiver um efeito suficientemente [re]compensador no [que sente o] sujeito amante. Só que por mais descobertas que se vivam... a inocência original é irrecuperável.

No fundo, buscar o AS depois de ter vivido o AV é um pouco como - quais Adão e Eva expulsos do Paraíso - tentarmos lá regressar de «foguetão»... ainda que saibamos perfeitamente que o combustível nunca chegará... porque o paraíso pertence a outra dimensão, porque «o céu não mora aqui». Mas, contudo - desculpem (!): sobretudo - não esqueçamos o poeta quando nos diz essa coisa tão simples e tão valiosa: o sonho comanda a vida...

PS: Texto que publiquei aqui, no seguimento do anterior.

2 Comments:

  • Li todos os livros de crónicas de Miguel Esteves Cardoso há muitos anos e não as reli quando escrevi estes posts. No entanto, estava mais ou menos consciente que concordava em parte - se não mesmo copiava (?) - a ideia dele numa crónica (ou mais) em que fala do «primeiro amor» ou algo parecido. No fundo, voltamos ao que disse Henry Miller, que sempre reescrevemos o que lemos. Adicionando a nossa própria experiência, a nossa leitura, a nossa escrita. Mas as fontes são também para ser honradas, ainda que só nos apercebamos delas à posterior, tão entranahadas que estavam já em nós.

    By Blogger Tiago Mendes, at 1:01 da manhã  

  • Grazie, Espelho, é bom saber ou não estava totalmente maluquinho quando escrevi isso ou estando, não seria o único :)

    By Blogger Tiago Mendes, at 1:31 da manhã  

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