29 novembro 2004
Uma lufada de ar fresco no país cada vez mais triste e cinzento que Portugal se vai tornando. Terça-feira, a não perder, no Paradise Garage, em Lisboa, a celebração dos 20 anos da banda. Haja humor em Portugal!
25 novembro 2004
Pessoalismos 7 [O Ideal Pagão]
"O ideal é a noção de que a Vida não basta. Pode considerar-se a vida como não bastando por uma de 3 razões: (a) por ser falsa, (b) por ser vil, (c) por ser imperfeita. São os modos [.] metafísico, ético e estético de encarar a vida e o ideal. São os conceitos budista, cristão (judaico) e pagão da existência. (...)
O ideal tem 3 formas: na sua relação com o universo - a Verdade; na sua relação com os homens - a Virtude; na sua relação consigo próprio - a Beleza. A Beleza é o Ideal Puro; é superior à Verdade e ao Bem porque é a própria substância do ideal, inaplicado e irrefracto. A Beleza é o que se prefere à vida, sem razão outra que a sua preferência.
O ideal pagão é o mais justo e acertado de todos, porque, assim como a relação fundamental entre o homem e o universo é a sensação, o conceito metafísico mais acertado é o que baseie o universo na sensação: portanto, o Misticismo, cujo ponto de partida é a crença na realidade da sensação, a «crença na sensação» (mais curtamente). Como a essencial relação entre os homens é a sociedade, ou a cidade, em que vivem, a essência da virtude está nas virtudes familiares e políticas. Como a essencial relação do ideal consigo próprio é o de ser uma afirmação de que a vida não satisfaz, a noção mais absoluta e pura do ideal é a de que a vida é imperfeita, sem se considerar as razões porque o é, se é por ser falsa, se é por ser vil, se por outra qualquer. Assim o ideal pagão, a que estas 3 formas correspondem, é o mais certo e justo de todos.
O ideal pagão é directo; os outros translatos e explicativos.
E o grego, amando a Beleza mais essencialmente do que a Virtude e a Verdade, prova a sua superioridade, porque demonstra o seu idealismo superior, pois que a Beleza seja, como revelei, a própria essência, a própria face do ideal.
O budismo é uma religião essencialmente científica, metafísica. A sua preocupação central é a Verdade. O budista despreza o mundo porque é falso. Se o acha também e às vezes vil ou feio, é porque, antes disso, o acha falso.
O judaísmo e a sua derivada, o cristismo, é uma religião sobretudo moral, rigorosamente messiânica e nacional; e se é tão radicalmente nacional e nacionalista (até ao ponto moderno do «velho Deus alemão») é que se baseia no facto político, mais do que em outro."
Ricardo Reis
O ideal tem 3 formas: na sua relação com o universo - a Verdade; na sua relação com os homens - a Virtude; na sua relação consigo próprio - a Beleza. A Beleza é o Ideal Puro; é superior à Verdade e ao Bem porque é a própria substância do ideal, inaplicado e irrefracto. A Beleza é o que se prefere à vida, sem razão outra que a sua preferência.
O ideal pagão é o mais justo e acertado de todos, porque, assim como a relação fundamental entre o homem e o universo é a sensação, o conceito metafísico mais acertado é o que baseie o universo na sensação: portanto, o Misticismo, cujo ponto de partida é a crença na realidade da sensação, a «crença na sensação» (mais curtamente). Como a essencial relação entre os homens é a sociedade, ou a cidade, em que vivem, a essência da virtude está nas virtudes familiares e políticas. Como a essencial relação do ideal consigo próprio é o de ser uma afirmação de que a vida não satisfaz, a noção mais absoluta e pura do ideal é a de que a vida é imperfeita, sem se considerar as razões porque o é, se é por ser falsa, se é por ser vil, se por outra qualquer. Assim o ideal pagão, a que estas 3 formas correspondem, é o mais certo e justo de todos.
O ideal pagão é directo; os outros translatos e explicativos.
E o grego, amando a Beleza mais essencialmente do que a Virtude e a Verdade, prova a sua superioridade, porque demonstra o seu idealismo superior, pois que a Beleza seja, como revelei, a própria essência, a própria face do ideal.
O budismo é uma religião essencialmente científica, metafísica. A sua preocupação central é a Verdade. O budista despreza o mundo porque é falso. Se o acha também e às vezes vil ou feio, é porque, antes disso, o acha falso.
O judaísmo e a sua derivada, o cristismo, é uma religião sobretudo moral, rigorosamente messiânica e nacional; e se é tão radicalmente nacional e nacionalista (até ao ponto moderno do «velho Deus alemão») é que se baseia no facto político, mais do que em outro."
Ricardo Reis
24 novembro 2004
Aforismos 31 [Mathematics]
"Mathematics not only demands straight thinking, it grants the student the satisfaction of knowing when he is thinking straight." D. Jackson
"Anyone who cannot cope with mathematics is not fully human. At best he is a tolerable subhuman who has learned to wear shoes, bathe and not make messes in the house." Lazarus Long
"I think of lotteries as a tax on the mathematically challenged." Roger Jones
"A mathematician is a blind man in a dark room looking for a black cat which isn't there." Charles R. Darwin
"Anyone who cannot cope with mathematics is not fully human. At best he is a tolerable subhuman who has learned to wear shoes, bathe and not make messes in the house." Lazarus Long
"I think of lotteries as a tax on the mathematically challenged." Roger Jones
"A mathematician is a blind man in a dark room looking for a black cat which isn't there." Charles R. Darwin
Pessoalismos 6 [Solidão IV]
"Ser solitário para ser sincero e puro na alma. O homem - ente colectivo - é um ser corrupto."
"Quem não quiser sofrer que se isole. Feche as portas da sua alma quanto possível à luz do convívio."
Pantaleão
"Quem não quiser sofrer que se isole. Feche as portas da sua alma quanto possível à luz do convívio."
Pantaleão
23 novembro 2004
Aforismos 30 [Solidão III]
"Ele supunha que era à solidão que tentava escapar, e não a si mesmo." William Faulkner
"Aquele que conhece a arte de viver consigo próprio ignora o aborrecimento." Desidério Erasmo
"Estar sozinho é treinarmo-nos para a morte." Louis-Ferdinand Céline
"Aquele que conhece a arte de viver consigo próprio ignora o aborrecimento." Desidério Erasmo
"Estar sozinho é treinarmo-nos para a morte." Louis-Ferdinand Céline
Aforismos 29 [Solidão II]
"A solidão é essencial à fraternidade." Gabriel Marcel
"Não se pode fazer nada sem a solidão." Pablo Picasso
"Não se pode fazer nada sem a solidão." Pablo Picasso
Aforismos 28 [Solidão I]
"Todo o nosso mal provém de não podermos estar sozinhos: daí o jogo, o luxo, a dissipação, o vinho, as mulheres, a ignorância, a desconfiança, a inveja, o esquecimento de nós mesmos e de Deus." Jean de La Bruyère
"É-nos possível estar sozinhos, desde que seja à espera de alguém." Gilbert Cesbron
"O solitário é um diminutivo do selvagem, aceite pela civilização." Victor Hugo
"É-nos possível estar sozinhos, desde que seja à espera de alguém." Gilbert Cesbron
"O solitário é um diminutivo do selvagem, aceite pela civilização." Victor Hugo
19 novembro 2004
"Sexuality" - by Nozick
Um brilhante ensaio sobre sexualidade, do famoso [e controverso] filósofo libertário Robert Nozick, falecido em 2002.
18 novembro 2004
Aforismos 27 [To (...) or not to (...)]
"To dare is to loose one's footing momentarily. Not to dare is to lose oneself." Kierkegaard
"To be or not to be, that is the question." Shakespeare
"To be or not to be, that is the question." Shakespeare
15 novembro 2004
Pessoalismos 5 [Pensar II]
"Para quem é guiado pelo sentimento, a solução de qualquer questão é fácil."
"Só quem nunca pensou chegou alguma vez a uma conclusão. Pensar é hesitar. Os homens de acção nunca pensam."
"O pensamento ainda é a melhor maneira de fugir ao pensamento."
Bernardo Soares
"Só quem nunca pensou chegou alguma vez a uma conclusão. Pensar é hesitar. Os homens de acção nunca pensam."
"O pensamento ainda é a melhor maneira de fugir ao pensamento."
Bernardo Soares
Pessoalismos 4 [Pensar I]
"Duvido, portanto penso."
"Feeling is extravagant thought." ["O sentir é um pensar extravagante"]
"Tudo o que em mim sente, 'stá pensando."
Bernardo Soares
"Feeling is extravagant thought." ["O sentir é um pensar extravagante"]
"Tudo o que em mim sente, 'stá pensando."
Bernardo Soares
Pessoalismos 3 [Vida]
"Custa tanto viver! Se houvesse outro modo de vida!..."
"Cada dia da minha vida é o dia mais infeliz da minha vida. Cada sonho é o sonho mais belo que tive."
"A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final."
Bernardo Soares
"Cada dia da minha vida é o dia mais infeliz da minha vida. Cada sonho é o sonho mais belo que tive."
"A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final."
Bernardo Soares
13 novembro 2004
11 novembro 2004
Pessoalismos 2 [Deus IV]
"Não haver deuses é um Deus também."
"Deus é o existirmos e isto não ser tudo."
"Os Deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser."
Bernardo Soares
"Deus é o existirmos e isto não ser tudo."
"Os Deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser."
Bernardo Soares
Aforismos 25 [Deus III]
"If only God could give me a clear sign! Like making a large deposit in my name at a Swiss bank." Woody Allen
"Deus é um conceito económico. À sua sombra fazem a sua burocracia metafísica os padres das religiões todas." Álvaro de Campos
"O meu maior desgosto é que Deus não exista realmente, privando-me assim do prazer de o insultar mais positivamente." Sade
"Deus é um conceito económico. À sua sombra fazem a sua burocracia metafísica os padres das religiões todas." Álvaro de Campos
"O meu maior desgosto é que Deus não exista realmente, privando-me assim do prazer de o insultar mais positivamente." Sade
Aforismos 24 [Deus II]
"Se Deus não existisse, era preciso inventá-lo" Voltaire
"Será que Deus existe? (...) se crês nele, existe; se não crês, não existe." Maximo Gorki
"É a própria fé que é Deus." Alain
"Será que Deus existe? (...) se crês nele, existe; se não crês, não existe." Maximo Gorki
"É a própria fé que é Deus." Alain
Aforismos 23 [Deus I]
"Não há nenhum Deus e o homem é o seu profeta." Jens Peter Jacobsen
"Deus não passa de uma palavra inventada para explicar o mundo." Alphonse de Lamartine
"O homem apenas inventou Deus para lhe ser possível viver sem se matar." Fedor Dostoievsky
"Deus não passa de uma palavra inventada para explicar o mundo." Alphonse de Lamartine
"O homem apenas inventou Deus para lhe ser possível viver sem se matar." Fedor Dostoievsky
10 novembro 2004
Aforismos 22 [Ser IV]
"Ora penso, ora existo." Paul Valéry
Hoje apetece-me existir. Há dias assim. Até logo.
Hoje apetece-me existir. Há dias assim. Até logo.
Aforismos 21 [Ser III]
"Cogito, ergo sum."
"Je pense, donc je suis."
"I think, therefore I am."
"Penso, logo existo."
René Descartes
Não é certamente inútil pensar nas pequenas subtilezas das traduções inglesa e portuguesa deste tão conhecido aforismo. Será que "existo" traduz o verdadeiro significado que Descartes atribuía a "je suis"?
"Je pense, donc je suis."
"I think, therefore I am."
"Penso, logo existo."
René Descartes
Não é certamente inútil pensar nas pequenas subtilezas das traduções inglesa e portuguesa deste tão conhecido aforismo. Será que "existo" traduz o verdadeiro significado que Descartes atribuía a "je suis"?
Aforismos 20 [Ser II]
"My one regret in life is that I am not someone else." Woody Allen
"Torna-te aquilo que és." Friedrich Nietzsche
"Torna-te aquilo que és." Friedrich Nietzsche
Aforismos 19 [Ser I]
"Ser homem é tender a ser Deus; ou, se preferirmos, o homem é fundamentalmente o desejo de ser Deus."
"Nunca se é homem enquanto se não encontra alguma coisa pela qual se estaria disposto a morrer."
"O homem tem de se inventar todos os dias."
Jean-Paul Sartre
"Nunca se é homem enquanto se não encontra alguma coisa pela qual se estaria disposto a morrer."
"O homem tem de se inventar todos os dias."
Jean-Paul Sartre
09 novembro 2004
08 novembro 2004
Aforismos 18 [Religião]
"Os homens sentem uma grande atracção pela esperança e pelo receio, e uma religião sem inferno nem paraíso não poderia agradar-lhes de modo algum." Montesquieu
"Se alguém aprende a teologia antes de haver aprendido a ser homem, nunca virá a ser homem." Voltaire
"It is the confession, not the priest that gives us absolution." Oscar Wilde
"Se alguém aprende a teologia antes de haver aprendido a ser homem, nunca virá a ser homem." Voltaire
"It is the confession, not the priest that gives us absolution." Oscar Wilde
Quizz 1
Hoje apetece-me falar de paradoxos. Há dias assim. Atentemos no seguinte problema:
"Um indivíduo X é preso por nativos duma ilha, que decidem que ele deverá morrer no dia seguinte. Concedem, no entanto, que ele possa escolher entre duas alternativas; ele poderá dizer uma frase e a escolha respeitará as seguintes regras:
- se disser uma afirmação verdadeira morrerá na fogueira
- se disser uma afirmação falsa morrerá decapitado
X diz algo que lhe permite não poder ser morto, de acordo com as regras propostas."
Que afirmação é essa?
"Um indivíduo X é preso por nativos duma ilha, que decidem que ele deverá morrer no dia seguinte. Concedem, no entanto, que ele possa escolher entre duas alternativas; ele poderá dizer uma frase e a escolha respeitará as seguintes regras:
- se disser uma afirmação verdadeira morrerá na fogueira
- se disser uma afirmação falsa morrerá decapitado
X diz algo que lhe permite não poder ser morto, de acordo com as regras propostas."
Que afirmação é essa?
Paradoxos 3 [Russell - solução]
Perguntávamos nós [ver "Paradoxos 1"]:
"Quem barbeia um barbeiro que barbeia todos aqueles que se barbeiam a si próprios, e apenas esses?"
A pergunta não tem resposta lógica possível. Vejamos então porquê:
1- A resposta "ele próprio" é uma contradição, pois é dito que o barbeiro apenas barbeia aqueles que *não* se barbeiam a si próprios, portanto não se poderia barbear a ele próprio, pois não seria elegível para tal categoria [ou "conjunto"].
2- A resposta "outra pessoa" é também uma contradição, pois neste caso ele seria um dos que não se barbeiam a si próprios, e por definição estes têm que ser barbeados pelo tal barbeiro.
Este pequeno "puzzle" mudou muito na "teoria dos conjuntos", no início do século XX, basicamente ao dizer que algo que "contém todos os conjuntos que não estão contidos neles próprios"... não pode ser um conjunto! Isto tinha sido a hipótese de Cantor, que levava a um paradoxo, e de tal maneira que as bases deste ramo da matemática (e lógica) ficavam minadas. Para quem se interesse, qualquer pesquisa na net abrirá inúmeras janelas, para além da que eu proponho no título.
"Quem barbeia um barbeiro que barbeia todos aqueles que se barbeiam a si próprios, e apenas esses?"
A pergunta não tem resposta lógica possível. Vejamos então porquê:
1- A resposta "ele próprio" é uma contradição, pois é dito que o barbeiro apenas barbeia aqueles que *não* se barbeiam a si próprios, portanto não se poderia barbear a ele próprio, pois não seria elegível para tal categoria [ou "conjunto"].
2- A resposta "outra pessoa" é também uma contradição, pois neste caso ele seria um dos que não se barbeiam a si próprios, e por definição estes têm que ser barbeados pelo tal barbeiro.
Este pequeno "puzzle" mudou muito na "teoria dos conjuntos", no início do século XX, basicamente ao dizer que algo que "contém todos os conjuntos que não estão contidos neles próprios"... não pode ser um conjunto! Isto tinha sido a hipótese de Cantor, que levava a um paradoxo, e de tal maneira que as bases deste ramo da matemática (e lógica) ficavam minadas. Para quem se interesse, qualquer pesquisa na net abrirá inúmeras janelas, para além da que eu proponho no título.
Paradoxos 2
1. Ainda inspirado pelo paradoxo de Russell [ver "Paradoxos 1"]: que sentido terá a seguinte afirmação A dita pelo sujeito X:
A - "Tudo o que eu digo é mentira."
Se A é uma afirmação verdadeira, isso implicaria que tudo o que o sujeito X diz é mentira. Como esse "conjunto" inclui a afirmação A, há uma contradição, dado que assumimos A ser verdadeira.
E se A for uma afirmação falsa? Neste caso, a negação de A é "Nem tudo o que eu digo é mentira" - ou, "Algo do que eu digo é verdade". Talvez a primeira reacção fosse dizer o "contrário" de A é "Tudo o que eu digo é verdade", mas isso não é correcto. Para que uma afirmação "geral" seja falsa basta [é suficiente]que exista um contra-exemplo. Por exemplo, se "Todos os homens têm menos de 2 metros de altura" é falsa, então "Pelo menos um homem têm mais de 2 metros de altura" é verdadeira.
Ou seja, no caso de a afirmação de facto ser falsa, isso não é logicamente impossível - desde que o sujeito diga "pelo menos uma verdade".
Portanto, este exemplo não é um verdadeiro paradoxo, mas apenas um "semi-paradoxo".
...................................
2. E o que dizer da frase "Não faço comentários." (Pensemos também no magazine "no comment" que passa na Euronews).
Ao dizer "no comment" não estamos implicitamente a fazer um comentário? Ainda que seja um comentário "neutro" (no sentido de não comentar), isto é também uma forma de comentar.
O que isto ilustra é que os caminhos da lógica são muito exigentes, mas no dia-a-dia certas afirmações são toleradas, dada a compreensão universal que provocam.
Ou imaginamos algum político a dizer: "O único comentário que eu faço é que não tenho comentários. Quer dizer, isto é um comentário em si mesmo, portanto o que eu quero dizer é que não tenho quaisquer outros comentários para além deste: que não tenho comentários".
Ou lhe chamavam de maluquinho, ou dizia que tinha a mania que era intelectualóide... É a vida, como dizia o outro...
A - "Tudo o que eu digo é mentira."
Se A é uma afirmação verdadeira, isso implicaria que tudo o que o sujeito X diz é mentira. Como esse "conjunto" inclui a afirmação A, há uma contradição, dado que assumimos A ser verdadeira.
E se A for uma afirmação falsa? Neste caso, a negação de A é "Nem tudo o que eu digo é mentira" - ou, "Algo do que eu digo é verdade". Talvez a primeira reacção fosse dizer o "contrário" de A é "Tudo o que eu digo é verdade", mas isso não é correcto. Para que uma afirmação "geral" seja falsa basta [é suficiente]que exista um contra-exemplo. Por exemplo, se "Todos os homens têm menos de 2 metros de altura" é falsa, então "Pelo menos um homem têm mais de 2 metros de altura" é verdadeira.
Ou seja, no caso de a afirmação de facto ser falsa, isso não é logicamente impossível - desde que o sujeito diga "pelo menos uma verdade".
Portanto, este exemplo não é um verdadeiro paradoxo, mas apenas um "semi-paradoxo".
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2. E o que dizer da frase "Não faço comentários." (Pensemos também no magazine "no comment" que passa na Euronews).
Ao dizer "no comment" não estamos implicitamente a fazer um comentário? Ainda que seja um comentário "neutro" (no sentido de não comentar), isto é também uma forma de comentar.
O que isto ilustra é que os caminhos da lógica são muito exigentes, mas no dia-a-dia certas afirmações são toleradas, dada a compreensão universal que provocam.
Ou imaginamos algum político a dizer: "O único comentário que eu faço é que não tenho comentários. Quer dizer, isto é um comentário em si mesmo, portanto o que eu quero dizer é que não tenho quaisquer outros comentários para além deste: que não tenho comentários".
Ou lhe chamavam de maluquinho, ou dizia que tinha a mania que era intelectualóide... É a vida, como dizia o outro...
Aforismos 17 [Similitudes]
Dizia Henry Miller que o escritor não inventa nada, apenas reordena a sua massa cinzenta [ver "Fragmentos 1"]. Pois:
"A minha pátria é a língua portuguesa." Fernando Pessoa
"Tenho uma pátria: a língua francesa." Albert Camus
"Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer também amanhã. Nem mesmo é necessário que se faça qualquer coisa, amanhã ou hoje." Bernardo Soares
"I never put off will tomorrow what I can possibly do - the day after". Oscar Wilde
"A minha pátria é a língua portuguesa." Fernando Pessoa
"Tenho uma pátria: a língua francesa." Albert Camus
"Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer também amanhã. Nem mesmo é necessário que se faça qualquer coisa, amanhã ou hoje." Bernardo Soares
"I never put off will tomorrow what I can possibly do - the day after". Oscar Wilde
Aforismos 16 [Eternidade]
"A eternidade, o que será ela, se não o primeiro instante sem fim de um primeiro amos?" Oscar Vladislas de Lubicz-Milosz
"O eterno amor pode durar uma única noite, porque a eternidade não é aquilo que faz durar, mas o que abole a própria duração." Emmanuelle Arsan
"O eterno amor pode durar uma única noite, porque a eternidade não é aquilo que faz durar, mas o que abole a própria duração." Emmanuelle Arsan
Filosofismos 1 [«Of Merit and Demerit»]
"To reward, is to recompence, to remunerate, to return good for good received. To punish, too, is to recompence, to remunerate, though in a different manner; it is to return evil for evil that has been done."
"The man who does not recompense his benefactor, when he has it in his power, and when his benefactor needs assistance, is, no doubt, guilty of the blackest ingratitude. (...) But still he does no positive hurt to any body. He only does not do that good which in propriety he ought to have done. He is the object of hatred, a passion which is naturally excited by impropriety of sentiment and behaviour; not of resentment, a passion which is never called forth but by actions which tend to do real and positive hurt to some particular persons. His want of gratitude, therefore, cannot be punished. To oblige him by force to perform what in gratitude he ought to perform, and what every impartial spectator would approve of him for performing, would, if possible, be still mroe improper than his negleting to perform it. His benefactor would dishonour himself if he attempted by violence to constrain him to gratitude, and it would be impertinent for any third person, who was not superior of either, to intermediate."
"To be deprived of that which we are possessed of, is a greater evil than to be disappointed of what we have only expectation. Breach of property, therefore, theft and robbery, which take from us what we are possessed of, are greater crimes than breach of contract, which only disappoints us of what we are expected. The most sacred laws of justice, therefore, those whose violation seems to call loudest for vengeance and punishment, are the laws which guard the life and person of our neighbour; the next are those which guard his property and possessions; and last of all come those which guard what we called his personal rights, or what is due to him from the promises of others."
Adam Smith, in "The Theory of Moral Sentiments"
"The man who does not recompense his benefactor, when he has it in his power, and when his benefactor needs assistance, is, no doubt, guilty of the blackest ingratitude. (...) But still he does no positive hurt to any body. He only does not do that good which in propriety he ought to have done. He is the object of hatred, a passion which is naturally excited by impropriety of sentiment and behaviour; not of resentment, a passion which is never called forth but by actions which tend to do real and positive hurt to some particular persons. His want of gratitude, therefore, cannot be punished. To oblige him by force to perform what in gratitude he ought to perform, and what every impartial spectator would approve of him for performing, would, if possible, be still mroe improper than his negleting to perform it. His benefactor would dishonour himself if he attempted by violence to constrain him to gratitude, and it would be impertinent for any third person, who was not superior of either, to intermediate."
"To be deprived of that which we are possessed of, is a greater evil than to be disappointed of what we have only expectation. Breach of property, therefore, theft and robbery, which take from us what we are possessed of, are greater crimes than breach of contract, which only disappoints us of what we are expected. The most sacred laws of justice, therefore, those whose violation seems to call loudest for vengeance and punishment, are the laws which guard the life and person of our neighbour; the next are those which guard his property and possessions; and last of all come those which guard what we called his personal rights, or what is due to him from the promises of others."
Adam Smith, in "The Theory of Moral Sentiments"
05 novembro 2004
Aforismos 15 [Vida]
"Gosto da vida porque gosto de mim mesmo e compreendo a honra que me foi feita quando vim ao mundo para aí ter conhecimento de toda a luz e de toda a grande ciência humana." Santo Agostinho
"To live is the rarest thing in the world. Most people exist, that is all." Oscar Wilde
"A vida é uma criança que é preciso embalar até que adormeça." Voltaire
"To live is the rarest thing in the world. Most people exist, that is all." Oscar Wilde
"A vida é uma criança que é preciso embalar até que adormeça." Voltaire
03 novembro 2004
Reflexões 1 [Vida / Morte]
Claro que quando dizemos "Hoje é o primeiro dia do resto da tua (minha) vida", como canta o Sérgio Godinho, queremos dizer muito mais do que o sentido literal que as palavras contém. Contudo, e pegando no aforismo que aqui nos precede, a frase em si sugere-nos uma breve reflexão.
Que "hoje" é o "primeiro dia" do "resto da minha vida" é uma tautologia - tem de ser assim por definição. Pois se o resto da minha vida é o período que vai desde hoje até ao dia da nossa morte, o "hoje" tem que ser o "primeiro" dos dias desse "resto" [assumindo a ordem cronológica usual].
É esse "resto" que constitui uma das angústias do Homem. Sobretudo o não saber quão grande é esse período [ou seja, não saber o "quanto" falta]. Claro que há inúmeras outras angústias: qual será a causa da morte [o "como"]; a asfixia da não-imortalidade [o "porquê" dessa inevitabilidade]; a morte de outros que nos são queridos; a ideia de solidão e de decadência que [habitualmente] antecede a morte; - só para enumerar alguns. A incerteza do "quanto": de saber: será que é daqui a 20 anos? Ou amanhã, num acidente de trânsito? Será que é antes da minha "outra metade"?
"Na vida, nada se resolve, tudo continua. Permanecemos na incerteza; e chegaremos ao fim sem sabermos com que podemos contar." André Gide
Chamemos "H" ao dia de hoje. E "M" o dia da morte. O resto "R" define-se então simplesmente ela equação R = M - H. Como nós não sabemos "M", estamos perante uma variável, que segue uma determinada distribuição estatística. Por exemplo, à nascença, todos enfrentamos [excluindo factores genéticos, económicos, etc] uma distribuição cuja média é a "esperança média de vida" do país onde nascemos. Mas à medida que crescemos vamos fazendo escolhas. E essas escolhas vão influenciar a distribuição do dia da nossa morte. Se fumamos ou não, se comemos bem, se fazemos desporto, etc. Ou seja, M é função duma série de variáveis: M = f(x, y, z, ...), em que x = tabaco consumido, y = número médio de horas de exercício por dia, z = rácio peso/altura, etc, e f(.) é a função que "mistura" todos os ingredientes e nos dá uma distribuição de M, com determinada média e variância.
Um exemplo duma distribuição de "M" aos 40 anos poderia involver algo do género[abreviando "probabilidade" por "prob"]:
- prob[M entre 40 e 50]=10%;
- prob[M entre 50 e 60]=15%;
- prob[M entre 60 e 70]=25%;
- prob[M entre 70 e 80]=35%;
- prob[M maior que 80]=15%
(por definição as probablidades tém de somar 100%). É também de notar que a probabilidade de morrer entre os 50 e os 60 é maior para um indivíduo com 40 anos do que para um indivíduo de 5 anos - simplesmente porque o primeiro já tem 40 anos e como tal o que nós calculamos é uma "probabilidade condicionada", neste caso, condicionada no facto de ele já ter (sobre)vivido 40 anos. Para ser mais claro, um indivíduo com 110 anos de idade tem uma probabilidade (condicionada, dado ele estar vivo aos 110 anos) de morrer entre os 110 e os 115 anos provavelmente de 90% ou mais. Enquanto um recém-nascido terá cerca de 0.005% de probabiliade de morrer entre os 110 e os 115, dado que uma percentagem ínfima da população alcança tal longevidade.
"M" é uma variável muito especial, pois a sua distribuição muda necessariamente todos os dias. Se ao nascermos existe uma determinada probabilidade [ainda que pequena] de morrermos aos 2 anos, quando tivermos 5 anos, essa probabilidade é por definição zero. E quando tivermos 70, muito menos "incerteza" teremos sobre o fatal dia. É esta a ideia expressa anteriormente quando falamos de "probabilidades condicionadas". Portanto, à medida que o tempo passa a distribuição vai-se "concentrando" [i.e., vai tendo menor variância] e a partir de certa altura a morte torna-se "estatisticamente iminente", quando toda a massa probabilística se concentra num intervalo muito pequeno.
Não admira portanto que os velhos tanto falem da "velha de bengala na mão", pois se ela se vislumbra cada vez mais próxima.
"Viver é envelhecer, nada mais." Simone de Beauvoir
Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida e amanhã - visto aos olhos de hoje - é o segundo dia do resto da minha vida [isto se eu lá chegar, claro]. Mas amanhã - do ponto de vista de amanhã, será o primeiro dia do resto da minha vida. Portanto, todos os dias tém esta mesma "propriedade", ainda que se refiram a variáveis diferentes. Porquê? Pois se M é uma variável estocástica e H é fixo (em cada dia), R = M - H é também uma variável estocástica.
"Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida." Séneca
A incerteza do R (resto)... que aliás só é incerteza porque consideramos que há uma série de factores fora do nosso controlo (como é triste exemplo os acidentes de automóvel). Mas pode deixar de ser incerto que resolvermos antecipar o dia "M"... Solução radical e irreversível se bem sucedida, o que nem sempre acontece, levando-nos a pensar que tal decisão muitas vezes representa apenas um pedido de ajuda).
"Não é que o suicídio seja sempre uma loucura. (...) Mas, em geral, não é num acesso de razão que nos matamos." Voltaire
Perguntará o leitor "E então? Qual é a conclusão?". Eu respondo, simplesmente, que não tem que haver conclusão. Não tem que haver sempre resposta. Duvidar por vezes é o bastante para nos alimentarmos. E assim também preenchermos parte desse "R", e ainda que pensemos nele ao escrevermos isto, um sorriso desponta pelo prazer de pensar, Somente isso.
"A felicidade, isso é quando o tempo pára." Gilbert Cesbron
Que "hoje" é o "primeiro dia" do "resto da minha vida" é uma tautologia - tem de ser assim por definição. Pois se o resto da minha vida é o período que vai desde hoje até ao dia da nossa morte, o "hoje" tem que ser o "primeiro" dos dias desse "resto" [assumindo a ordem cronológica usual].
É esse "resto" que constitui uma das angústias do Homem. Sobretudo o não saber quão grande é esse período [ou seja, não saber o "quanto" falta]. Claro que há inúmeras outras angústias: qual será a causa da morte [o "como"]; a asfixia da não-imortalidade [o "porquê" dessa inevitabilidade]; a morte de outros que nos são queridos; a ideia de solidão e de decadência que [habitualmente] antecede a morte; - só para enumerar alguns. A incerteza do "quanto": de saber: será que é daqui a 20 anos? Ou amanhã, num acidente de trânsito? Será que é antes da minha "outra metade"?
"Na vida, nada se resolve, tudo continua. Permanecemos na incerteza; e chegaremos ao fim sem sabermos com que podemos contar." André Gide
Chamemos "H" ao dia de hoje. E "M" o dia da morte. O resto "R" define-se então simplesmente ela equação R = M - H. Como nós não sabemos "M", estamos perante uma variável, que segue uma determinada distribuição estatística. Por exemplo, à nascença, todos enfrentamos [excluindo factores genéticos, económicos, etc] uma distribuição cuja média é a "esperança média de vida" do país onde nascemos. Mas à medida que crescemos vamos fazendo escolhas. E essas escolhas vão influenciar a distribuição do dia da nossa morte. Se fumamos ou não, se comemos bem, se fazemos desporto, etc. Ou seja, M é função duma série de variáveis: M = f(x, y, z, ...), em que x = tabaco consumido, y = número médio de horas de exercício por dia, z = rácio peso/altura, etc, e f(.) é a função que "mistura" todos os ingredientes e nos dá uma distribuição de M, com determinada média e variância.
Um exemplo duma distribuição de "M" aos 40 anos poderia involver algo do género[abreviando "probabilidade" por "prob"]:
- prob[M entre 40 e 50]=10%;
- prob[M entre 50 e 60]=15%;
- prob[M entre 60 e 70]=25%;
- prob[M entre 70 e 80]=35%;
- prob[M maior que 80]=15%
(por definição as probablidades tém de somar 100%). É também de notar que a probabilidade de morrer entre os 50 e os 60 é maior para um indivíduo com 40 anos do que para um indivíduo de 5 anos - simplesmente porque o primeiro já tem 40 anos e como tal o que nós calculamos é uma "probabilidade condicionada", neste caso, condicionada no facto de ele já ter (sobre)vivido 40 anos. Para ser mais claro, um indivíduo com 110 anos de idade tem uma probabilidade (condicionada, dado ele estar vivo aos 110 anos) de morrer entre os 110 e os 115 anos provavelmente de 90% ou mais. Enquanto um recém-nascido terá cerca de 0.005% de probabiliade de morrer entre os 110 e os 115, dado que uma percentagem ínfima da população alcança tal longevidade.
"M" é uma variável muito especial, pois a sua distribuição muda necessariamente todos os dias. Se ao nascermos existe uma determinada probabilidade [ainda que pequena] de morrermos aos 2 anos, quando tivermos 5 anos, essa probabilidade é por definição zero. E quando tivermos 70, muito menos "incerteza" teremos sobre o fatal dia. É esta a ideia expressa anteriormente quando falamos de "probabilidades condicionadas". Portanto, à medida que o tempo passa a distribuição vai-se "concentrando" [i.e., vai tendo menor variância] e a partir de certa altura a morte torna-se "estatisticamente iminente", quando toda a massa probabilística se concentra num intervalo muito pequeno.
Não admira portanto que os velhos tanto falem da "velha de bengala na mão", pois se ela se vislumbra cada vez mais próxima.
"Viver é envelhecer, nada mais." Simone de Beauvoir
Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida e amanhã - visto aos olhos de hoje - é o segundo dia do resto da minha vida [isto se eu lá chegar, claro]. Mas amanhã - do ponto de vista de amanhã, será o primeiro dia do resto da minha vida. Portanto, todos os dias tém esta mesma "propriedade", ainda que se refiram a variáveis diferentes. Porquê? Pois se M é uma variável estocástica e H é fixo (em cada dia), R = M - H é também uma variável estocástica.
"Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida." Séneca
A incerteza do R (resto)... que aliás só é incerteza porque consideramos que há uma série de factores fora do nosso controlo (como é triste exemplo os acidentes de automóvel). Mas pode deixar de ser incerto que resolvermos antecipar o dia "M"... Solução radical e irreversível se bem sucedida, o que nem sempre acontece, levando-nos a pensar que tal decisão muitas vezes representa apenas um pedido de ajuda).
"Não é que o suicídio seja sempre uma loucura. (...) Mas, em geral, não é num acesso de razão que nos matamos." Voltaire
Perguntará o leitor "E então? Qual é a conclusão?". Eu respondo, simplesmente, que não tem que haver conclusão. Não tem que haver sempre resposta. Duvidar por vezes é o bastante para nos alimentarmos. E assim também preenchermos parte desse "R", e ainda que pensemos nele ao escrevermos isto, um sorriso desponta pelo prazer de pensar, Somente isso.
"A felicidade, isso é quando o tempo pára." Gilbert Cesbron
Aforismos 14 [Morte]
"Não sabes que a origem de todas as misérias do homem é, não a morte, mas o medo da morte?" Epicteto
"Devíamos ver-nos sempre como pessoas que vão morrer amanhã. É esse tempo todo que supomos ver à nossa frente que nos mata." Elsa Triolet
"Devíamos ver-nos sempre como pessoas que vão morrer amanhã. É esse tempo todo que supomos ver à nossa frente que nos mata." Elsa Triolet
Aforismos 13 [Intelectual]
"Tudo o que em mim sente, 'stá pensando." Fernando Pessoa
"'What are you thinking?' is the only question that any civilised being should be allowed to whisper to another." Oscar Wilde
"Um intelectual não é apenas aquele a quem os livros são necessários, mas sim qualquer homem a quem a ideia, por mais elementar que seja, compromete e ordena a vida." André Malraux
"'What are you thinking?' is the only question that any civilised being should be allowed to whisper to another." Oscar Wilde
"Um intelectual não é apenas aquele a quem os livros são necessários, mas sim qualquer homem a quem a ideia, por mais elementar que seja, compromete e ordena a vida." André Malraux
02 novembro 2004
Aforismos 12 [Loucura]
"Todos nós somos doidos, mas ninguém tem o direito de impor aos outros a sua loucura." Georg Buchner
"A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser um homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser génio." Fernando Pessoa
"A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser um homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser génio." Fernando Pessoa
Aforismos 11 [Experiência]
"Experience is the name every one gives to their mistakes." Oscar Wilde
"Gastei cinco minutos a fazer este desenho, mas levei sessenta anos para lá chegar." Auguste Renoir
"Gastei cinco minutos a fazer este desenho, mas levei sessenta anos para lá chegar." Auguste Renoir
Aforismos 10 [Identidade]
"Nunca nos tornamos verdadeiramente nós próprios a não ser no dia em que os nossos pais morrem." Henry de Montherlant
"Qualquer destino, por mais longo e complicado que seja, vale apenas por um único momento: aquele em que o homem compreende de uma vez por todas quem é." Jorge Luís Borges
"Qualquer destino, por mais longo e complicado que seja, vale apenas por um único momento: aquele em que o homem compreende de uma vez por todas quem é." Jorge Luís Borges
Fragmentos 1 [Henry Miller]
"Para nascer águia, uma pessoa tem que se habituar às alturas: para nascer escritor, tem de aprender a gostar de privações, sofrimentos e humilhações. Tem, sobretudo, de aprender a viver à parte. (...) Quando e onde cessa a criação? E que pode um escritor criar que não tenha sido criado? Nada. O escritor reordena a matéria cinzenta na sua pinha. Faz um princípio e um fim - o autêntico oposto da criação! - e no meio, onde se arrasta de um lado para o outro, ou, mais correntemente, é arrastado, nasce a imitação da realidade: um livro. Alguns livros modificaram a face do mundo. Reordenamento, mais nada. Os problemas da vida permanecem. Pode-se fazer o levantamento da pele de uma cara, mas a idade da pessoa é indelével. Os livros não produzem nenhum efeito. Os autores não produzem nenhum efeito. O efeito foi produzido na primeira Causa. 'Onde estavas quando criei o mundo?' Respondam a isto e resolverão o enigma da criação!"
Henry Miller, in Nexus
Henry Miller, in Nexus
Pessoalismos 1 [Paganismo]
"O que é comum a toda a moral pagã é que, seja qual for, visa um fim humano, a organização da pessoa humana, não a transcendência dela. A moral pagã é portanto uma moral de orientação e de disciplina, ao passo que a moral cristã é uma moral de renúncia e de desapego. A moral epicurista é, no fundo, a tendência para a felicidade pela harmonização de todas as faculdades humanas - o que é, deveras, uma ideia de disciplina, pois que o é de coordenação. A moral estóica é uma moral de subordinação das qualidades inferiores do espírito às superiores, mas superiores e humanas; o auge do cristismo está no sacrifício e na dedicação ao próprio destino, e, se à humanidade, à humanidade concebida civicamente. O estoicismo é a mais alta moral pagã porque é a moral reduzida ao princípio abstracto que é a essência de todas as éticas do paganismo. A Disciplina é a única deusa ética dos estóicos; e é a disciplina, como dissemos, que é a base real das doutrinas éticas do paganismo."
Ricardo Reis [sublinhado meu]
Ricardo Reis [sublinhado meu]