aforismos e afins

31 julho 2005

A destreza das dúvidas

Um blog cujo nome me lembra o aforismo de Bento de Jesus Caraça: «Se não receio o erro é porque estou sempre disposto a corrigi-lo».

Divãneios Pessoanos (5)

«Sou, bem sei, uma voz que clama no deserto. Não se esqueça
porém V. Exª. que a voz que clamou no deserto foi a que anunciou
o Salvador.»

Presidenciais (5)

«Sucede infelizmente que a Presidência da República exige um homem, e um homem com carácter; exactamente o oposto de um produto publicitário, de um ministro serviçal ou de um maquiavel de saguão. E homens não há. Excepto os dois que há.»
Diz VPV na sua crónica de hoje no Público online ou offline.

O paternalismo comunista no seu melhor

Os comunistas nunca conseguiram aprender o que é a «escolha livre», e muito menos a respeitar escolhas livres de cidadãos livres.
O paternalismo é algo genético para eles. Porque os indivíduos não são verdadeiramente livres quando são explorados pelo «grande capital». Parecem não perceber (ou aceitar) que sendo os juros de empréstimos contraídos uma das fontes de receita dos bancos, é natural - ceteris paribus - que um maior endividamento das famílias esteja associado a maiores lucros da banca. Ao comunista não interessa que esse endividamento tenha sido uma escolha livre, nem que seja esse endividamento que permite ao cidadão adquirir coisas que de outro modo não poderia comprar. Casas, carros, férias, o que quer que seja. Cada um compra o que quiser e puder.

Mas para o comunista basta saber que os bancos estão «mais gordos», independentemente da causa disso, porque tal «obesidade» é «moral e politicamente contraditório». E «nós», mesmo repudiando paternalismos e teorias de «vitimização» e «coitadinhos», sentimos dificuldade em não ter uma certa pena pelo (que o) homem (escreve).

[PS: Post actualizado. Obrigado ao JM e ao AAA pelas referências.]

The wit and humour of Oscar Wilde (11)

«Morality is simply the attitude we adopt to people whom we personally dislike.»

The wit and humour of Oscar Wilde (10)

«I like persons better than principles and I like persons with no principles better than anything else in the world.»

The wit and humour of Oscar Wilde (9)

«I never approve, or disapprove, of anything now. It is an absurd attitude towards life. We are not sent into the world to air our moral Prejudices. I never take any notice of what common people say, and I never interfere with what charming people do.»

30 julho 2005

(Pseudo) Intelectualidades

Estava eu a aproveitar o meu Sábado e a rejubilar por hoje não ter publicado nada, quando me vejo bombardeado pela Abruta (um blog «Sem-link»), que me diz que todas as frases que escrevi aqui estão mal citadas. Eu confirmo que não estão, e peço as correcções, mas não vejo nada em troca. O argumento (?) resume-se em três tempos: 1) «deves ter retirado daquelas sumulas gerais que circulam no mercado de pouca baixa credibilidade»; 2) «Precisas mesmo de saber comprar livros»; 3) «As citações não são brincos para decorar blogs!».

Eu explico-lhe que a «autoria» é o que menos me interessa, embora a citação o exija. Como expliquei aqui, os aforismos pretendem ser um convite à reflexão, sobretudo do leitor, já que da minha parte isso é uma condição necessária para a publicação do que quer que seja.
Eu não gosto de disparar para o ar. Gosto de disparar em todas as direcções mas só quando identifico o alvo preciso a atingir e quando me sinto com pontaria suficientemente afinada. No fundo, o aforismo é, como na música, a sugestão de um «tema» em busca de variações sobre ele. O leitor não é obrigado a responder ao desafio, e eu ainda menos serei. Escrevo só o que me apetece, e a mais não me obrigo.

Como sou vagamente insatisfeito, gosto de variar, quer entre os dois tipos de sugestão à reflexão, quer entre os temas abordados. Umas vezes desenvolvo um tema por completo, como aqui ou aqui, e aí (só) resta ao leitor dizer se gostou ou não da melodia, e eventualmente indicar notas que achou desafinadas ou fora da harmonia. Mas gosto de aforismos para não ter que ser sempre eu a começar o improviso. Gosto de sugerir, mas também gosto de reagir.

Tento explicar à Abruta que o acto de citação não é um mérito em si. Não tenho pretensão de ler muito, mas antes de reflectir muito sobre o que quer que leia: é a ideia que me motiva, mais que o conhecer muito. Depois, é incapaz de fazer um qualquer comentário sobre o tema proposto, e em sete frases que afiram estarem (todas) mal citadas, é incapaz de nomear o autor correcto de uma delas que seja. Talvez seja algum ressentimento por não ter acertado em nenhuma das frases que propûs neste desafio, com solução apresentada aqui. Aliás, tu eras um dos targets desse «Quizz», e posso dizer que caíste que nem uma patinha, embora sem aprender muito com isso.

Continuas a fazer quase tudo e mais alguma coisa menos discutir ideias. E depois convences-te que a tua ironia e a tua «arte da rudeza» são muito elaboradas. São interessantes, mas podiam ser muito mais. Mas com ódios e ressentimentos (não a mim, atenção!, sabes bem que isto não é pessoal, é o teu ódio aos «estúpidos!» e ao mundo em geral) é difícil criar algo genuíno. Fica manchado, infectado, por esse teu fel infinito e não assumido.

A citação é um acto de identificação antes de tudo, e não há nenhum mérito especial nela. Já disse e repito que o que eu gosto na citação é o desafio que ela lança à reflexão pessoal. Estou-me nas tintas para quem disse o quê. Só me interesso mesmo pelo «quê». O próprio nome deste blog - «Aforismos e Afins», é o título dum livro de citações de Fernando Pessoa, reunidas pela mão de Richard Zenith, e publicado pela Assírio & Alvim. As citações de Oscar Wilde tiro-as do «The wit and humour of Oscar Wilde», Alvin Redman, Dover Publications, New York. Também uso o «Oxford Quotations by Subject", Oxford University Press. E, finalmente!, o livro que tem tudo errado e que tu estás mortinha por dizimar, chama-se
«Dicionário de Citações», Editorial Inquérito, e é uma tradução do francês «Dictionnaire de Citations».

Se algumas traduções estão mal feitas, ou se alguns autores estão errados, é uma pena. Vá, podes escarnar no homem que traduziu, na editora, no que tu quiseres. E depois, pensa lá bem, em quantos minutos que aqui perdemos, no número de «ideias» que lançaste para a mesa. Eu, apesar de tudo, tentei comunicar alguma coisa neste post. Post chato, sem ironia, sem nada de demiúrgico. Muito sério, até porventura muito «naif». Mas quem não se sente não é filho de boa gente. E eu não tenho paciência para as tuas picardias infundadas. E é, sabes bem, por ter consideração por ti.
Senão, nem te respondia.

29 julho 2005

Felicidade, intelectualidade e (in)consciência

Inspirado nos comentários a este post, lembrei-me deste poema.

[Technicalities...]

Insatisfação = Utilidade marginal vertiginosamente decrescente.

«Djiza-se»...

...what a doll.

Impossibilidade lógica e ontológica (2)

1. «Será que Deus existe? (...) se crês nele, existe; se não crês, não existe.» [Maximo Gorki]

2. «É a própria fé que é Deus.» [Alain]

3. «Não há nenhum Deus e o homem é o seu profeta.»
[Jens Peter Jacobsen]

4. «Se Deus não existe, tudo é permitido.» [Fedor Dostoievsky]

5. «Se Deus não existisse, era preciso inventá-lo.» [Voltaire]

6. «Deus não passa de uma palavra inventada para explicar o mundo.» [Alphonse de Lamartine]

7. «O homem apenas inventou Deus para lhe ser possível viver sem se matar.» [Fedor Dostoievsky]

Em jeito de conselho

«Escrever é perigoso, cuidado com a fronteira entre a ficção e a vida, as palavras vêm contra nós, podemos magoar-nos.» [Jacinto L. Pires]

In praise of slow (2)

«To be able to fill leisure intelligently is the last product of civilization.» [Bertrand Russell]

28 julho 2005

On-going debate

Diz o meu caro amigo João (d'Aveiro) acerca deste post:

«Ui. A frase está muito forte! Muitos conceitos. Muitas provocações.
Haverá alguma ligação entre religião e prazer? Haverá um instinto religioso? Temos a questão da verdade? O que é a verdade? Por quais olhos? A realidade? Perceptiva? Individual? Geral?

Muda e fria. Será isto a tradução de uma incapacidade da sua compreensão na sua total extensão, algo que existe para além de nós? Algo em que o nosso impacto é mínimo?

Uma coisa é certa! Olha fizeste-me pensar! Penso que era esse o teu ponto e não o de expressão de opinião? Talvez uma ponderação para? Ponho-te aqui a definição da enciclopédia porque tinha em mente ou melhor associava a questão de hedonismo mais ao físico, e daí o despertar entre a ligação físico e religião.

Hedonismo
Doutrina que considera o prazer como supremo fim da vida (filosofia);
Busca platónica de prazer e especialmente do prazer físico (psiquiatria);
Doutrina segundo a qual o homem procura, de ordinário, conseguir o máximo de prazer à custa do mínimo de esforços (economia).

Gostei, como provocação!»

Meu caro: todos os aforismos/reflexões que coloco aqui são sempre uma "ponderação para", para usar a tua feliz expressão. Aliás, é por isso que eu gosto de aforismos - porque são sempre um bom ponto de partida para uma (qualquer) discussão, e esse é um dos meus entretenimentos favoritos, como expliquei aqui. Uma pitada de provocação ajuda a temperar. E, sim, são sempre um convite aberto à reflexão do leitor, e geralmente expressam uma opinião próxima da minha, embora não necessariamente coincidente.

Bom, tanta palheta só para agradecer o teu comment e dizer-te que vou pensar em escrever qualquer coisa sobre isto. Aliás, sobre isto e sobre este post, que também tem muito que se lhe diga... "Até já".

Momento do dia (3)

Hmmm... este foi tão especial que não o consigo trazer aqui. Definitely not. Deve ser o preço a pagar por este não ser um blog (exclusivamente) intimista... pago por quem, isso é (outro) segredo.

Blog recomendado

Para quem se interesse verdadeiramente por questões de política internacional, geoestratégica, e sobretudo pela actual questão do terrorismo islâmico, este blog é absolutamente imprescindível.
A juntar a um impressionante leque de fontes informativas, o autor presenteia-nos com a sua habitual imagem de marca: uma análise fundamentada, implacável, e sem maneirismos desnecessários. Leiam, por exemplo, isto ou isto. Há ainda espaço para algumas "notas pessoais", como esta ou esta, ou "curiosidades", como esta. Parafraseando PM, bem podemos dizer a FCG: "a malta agradece".

Impossibilidade lógica e ontológica

A propósito deste, publiquei os dois posts que se seguem (abaixo).

Teoremas Pessoanos (7)

«O agnosticismo puro é impossível. O único agnosticismo verdadeiro é a ignorância. Porque para nos radicarmos no agnosticismo é-nos preciso um argumento para nos persuadir que a razão tem certos limites. Ora quem observa pode parar; quem raciocina não pode parar. Portanto quando pelo raciocínio havemos provado a limitação ou a não-limitação destas e daquelas faculdades, não podemos dizer:'paremos aqui' mas devemos seguir no raciocínio e tirar dessa limitação ou não limitação as consequências deduzíveis. Assim fazem todos os 'agnósticos' consciente ou inconscientemente.»

Teoremas Pessoanos (6)

«No fundo, o homem religioso é um hedonista. O instinto religioso geral é um instinto de prazer, de ter tudo resolvido na vida. Deter-se só perante a Verdade é doloroso para o homem. A Realidade é muda e fria.»

Novo email

A todos aqueles que tenham enviado algum email recentemente para o antigo endereço oficial desta casa, pedia que os reenviassem para o novo, porque não consegui(mos) abrir qualquer deles. Obrigado.
[PS: os endereços pessoais estão ok. Só o oficial estava com vírus.]

Carlinhos, o «MG»

Um dos melhores apanhados de sempre que já vi, publicado aqui.
Aos mais sensíveis... cuidadinho com os passeios na Rua Augusta.

27 julho 2005

Remodelação complicada

Não há nada tão complicado como tipificar um blog alheio.
Na renovação da lista de blogs que frequento, hesito entre as prateleiras politicamente correctas e as simplesmente realistas.

1. Destaque...........(Love-me-too)
2. Curtos..............(Divertidos)
3. Políticos............(Chatos)
4. Mistos..............(Anything-goes)
5. Intimistas..........(Desorientados)
6. Muito-intimistas..(Depravados)
7. Fotos...............(Pseudo)
8. Economia..........(Out-of-this-world)
9. Consulta...........(Paternalistas)
10. Sem-link..........(-.-)

É uma dualidade difícil. E não há meio-termo. Vou ponderar.

NOTA: qualquer pedido de realocação será naturalmente satisfeito.

Actualização

O debate sobre a actuação da polícia londrina continua aqui e ali.

Meninas!

Vejam lá a sorte que têm de viver em Portugal, e poderem ver tipos giros na publicidade ao William Lawson's, J.B., Martini, Black Stout... As pobrezitas das inglesas estão à beira de lhes ser impingido o testosterónico clássico «é dos carecas que elas gostam mais».
Bem apanhado, Miguel!

Brincadeirinha...

«Avisamos que o homem na fotografia deveria ser pouco atraente, como por exemplo obeso, de meia idade, careca, etc.»

Ai se o Pedro Mexia pega nisto...

Fascismo sexual

Brincadeiras à parte, é preciso compreender a extensão do que representa esta medida, que é de um fascismo sexual sem precedentes, ainda para mais na "good old England". O original aqui.

O silêncio

«"As pausas são tão música como as notas", explicava o maestro com um sorriso natural. (...) Que o silêncio também é música. Que o silêncio também se ouve. E o som valoriza o silêncio que se aproxima, tal como o silêncio valoriza o som que se lhe segue. (...) Porque o amor sabe falar com palavras, mas sabe também (sobretudo?...) falar com o silêncio. (...) mas entre duas pessoas que se amam, pelo contrário, nunca o silêncio é constrangedor, nunca é o vazio, nunca é a distância entre palavras. É um dizer de dentro, da alma, dos olhos, do fundo. E diz-se tudo. E ouve-se tudo. Em silêncio.» A ler no PÚBLICO online, ou aqui em baixo.

Teoremas Pessoanos (5)

«O maior erro que os homens podem cometer é tentarem saltar por cima da gradualidade e da evolução da natureza e realizar hoje aquilo que a natureza previu para amanhã.»

In praise of Slow (1)

«There is more to life than increasing its speed.» [Gandhi]

Yoga


Camargo Posted by Picasa


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26 julho 2005

Relationships (24)

«Now the whole dizzying and delirious range of sexual possibilities
has been boiled down to that one big, boring, bulimic word: RELATIONSHIP.» [Julie Buchill, 1992]

Momento do dia (2)

Chego a casa, estaciono a bicicleta, e uma menina linda de 3 anos corre para os meus braços, sorridente e eufórica, a chamar-me para a brincadeira com um grito de guerra que a mãe se apressa a traduzir do letão: «Oh, it's Tiago! My dear Tiago! By beloved Tiago!». A bem dizer, ela chama-me «Tei-gô», o que na sua internacional inocência é tão mais querido que o perfeitinho «Ti-a-go». Será que um dia abdicarei da independência para ter uma coisa fofa destas aos pulos pela casa gritando «Pai!» em vez de «Tiago!»? Não sei, e não lhe dou muita importância. Honestly. It just crossed my mind, that is all.

Acto homossexual = pena de morte

No Irão, dois jovens foram condenados à morte por actos homossexuais. Quando foram presos e acusados, teriam apenas 16 anos. Actualizado aqui, inspirado ali, e relacionado com acoli. Pergunta: há voluntários para libertar o Irão, ou isso não compensa? Vamos dormir descansados com esta (entre tantas outras) afronta às liberdades individuais? Esperaremos que o Irão se torne ainda mais importante estrategicamente para depois haver uma invasão, inevitavelmente pontilhada a posteriori de justificações humanistas ? Como responder a este dilema civilizacional nos dias que correm?

Presidenciais (4)

Nunca voltes ao lugar onde já foste feliz...

O meu país

«Hoje tenho o país todo dentro de mim e sinto-o circular-me nas veias ao pulsar do coração. Assim o meu ser sensível se reparte com o que nele se repartiu.» Daqui.

Presidenciais (3)

«Nem que Cristo desça à Terra!» - versão remix.

Presidenciais (2)

Há quem argumente que não tem qualquer relevância o (próximo) Presidente da República saber alguma coisa de Economia e Finanças, porque «as responsabilidades que lhe são atribuídas na Constituição são diversas» - incontestável. Mas, on the other hand... o Governo é suposto saber alguma coisa sobre EF e, a começar pela cúpula (e para sermos comedidos), isso é no mínimo questionável. Impõe-se, então, perguntar: será que neste caso, «two wrongs might make a right»?

Presidenciais (1)

Os nossos jornalistas criticam os políticos por falta de substância, por viverem para os media, mas depois rematam os seus artigos dizendo de um possível embate entre Soares e Cavaco que será "o combate da década e talvez a eleição mais disputada de sempre. O que só é bom", ou, que "Finalmente, Cavaco Silva e Mário Soares vão constar no mesmo boletim de voto. A democracia portuguesa agradece."
A acontecer tal combate, ele será sem dúvida renhido e, em termos mediáticos, "empolgante". Ou seja, fartura para as televisões, pão e circo para os portugueses. Mas é essa a preocupação principal que devemos ter na escolha do próximo Presidente? Interessa quem pode ganhar, quem irá ganhar, ou apenas como se vai dar essa disputa, esse jogo anestésico para embriagar o país e lhe fazer esquecer momentaneamente a crise que atravessa? Os senhores jornalistas deviam perceber (e envergonhar-se) da sua incoerência. E, já agora, ponderar escrever menos, que já há por aí poluição bastante.

Desafios liberais (4)

É admissível, num país liberal, mesmo que inserido na complexa e tensa luta anti-terrorista, que a polícia abata um inocente?

A mim não me interessa que o cidadão abatido com 5 (ou 8) tiros na cabeça seja brasileiro bem que seja eletricista , como gostam de enfatizar os senhores do Bloco de Esquerda, para apelar à opressão das "classes" e dos "povos". A mim interessa-me somente que era um cidadão inocente, o que é profundamente lamentável. Interessa-me saber que ele era um emigrante ilegal apenas porque isso explica a razão de ele não ter obedecido à polícia. Interessa-me, e muito, também perceber que se a polícia suspeitar de um indivíduo ser um bombista suicida ao ponto de ter que o neutralizar, que isso só poderá ser feito através de tiros na cabeça, uma vez que tiros no coração ou uma mera imobilização seriam insuficientes para impedir o accionamento duma eventual bomba.

Interessa-me também saber que a polícia que matou este cidadão inocente o perseguiu nas ruas de Londres e não o imobilizou antes de ele entrar no metro, apesar de o considerar suspeito. E não o fez muito possivelmente por isso mesmo: por ele ser suspeito e por não querer abusar dos seus poderes. Interessa-me - e isto é o mais importante - saber qual a probabilidade Y, de uma pessoa de tom de pele escuro, que está vestida com uma gabardina, que não responde às ordens da polícia, e isto tudo a seguir aos atentados, ser um bombista suicida. Temos que concordar que é uma probabilidade razoavelmente elevada. Um cidadão minimamente consciente deveria ter a capacidade para aferir o risco elevado de ser considerado suspeito ao fugir da polícia. Um tom de pele mais claro, usar menos roupa, não fugir, tudo isso diminuiria a probabilidade Y. Isto não é ser racista nem dizer que o homem não tem direito a andar de gabardina. É apenas pormo-nos na pele do polícia que tem que tomar decisões e para tal aferir a probabilidade condicional de dado suspeito ser um bombista, de modo a melhor defender o bem-comum.

É fácil a posteriori condenar os polícias, mas isso é de uma hipocrisia de todo o tamanho. É também ridículo invocar a nacionalidade do cidadão e fazer muitos loopings diplomáticos à volta dessa questão. Os polícias mataram um inocente, ponto final. Não o mataram por ser brasileiro nem eletricista. Temos que perceber que se os polícias não tivessem feito nada arriscavam-se a que com probabilidade Y uma bomba detonasse e matasse X inocentes. A decisão é entre matar 1 inocente com probabilidade (1-Y) [se ele não for culpado] e permitir com probabilidade Y [se ele for culpado] que X inocentes sejam mortos, com a agravante de se descredibilizar as forças de segurança e aumentar o medo. Sim, porque se o homem fosse de facto culpado e não tivesse sido abatido, e ao invés tivesse rebentado uma bomba causando 20 ou 50 vítimas inocentes, aqui d'el rei nosso senhor Jesus Cristo que as forças de Sua Majestade eram incompetentes e que deviam ter abatido o suspeito e mais isto e aquilo.

Ora, é isto mesmo que temos que perceber: pela natureza da situação, os agentes estão numa situação de assimetria informacional, porque não têm a certeza absoluta de certo cidadão ser suspeito ou não. E como têm informação imperfeita, e porque estão vidas em causa, a decisão é extremamente difícil. Os políticos e demais comentadores, independentemente de lamentarem a morte e de criticarem (com mais ou menos razão) a forma de actuação da polícia neste caso particular, deviam ter a ombridade de entender os trade-offs que estão em causa neste tipo de acção anti-terrorista, em que os eventuais suspeitos estão dispostos a suicidar-se e accionar uma bomba que matará outros cidadãos inocentes. O que muda muito a forma de decidir em situações de incerteza face a um suspeito que pode estar prestes a fazer-se rebentar. A decisão é, tão simplesmente, escolher que vidas inocentes se põe em questão. Mas, élas, os políticos são o que sabemos e dos jornalistas não podemos esperar muito. É o famoso PQT - o «país que temos».

25 julho 2005

Gestão empresarial rigorosa

Ou como ultrapassar o problema dos arredondamentos forçados.

Testes políticos

Para quem quiser perceber melhor onde se situa politicamente, sugiro estes dois testes, que demoram 1 minuto e 5 minutos a responder. Além de divertidamente reveladores, são também úteis para nos desabituarmos dessa mania tão portuguesa de caracterizar alguém politicamente num eixo unidimensional «esquerda-direita», o que é muito redutor. Depois, se vos apetecer, «acusem-se» na caixinha.

24 julho 2005

Momento do dia

Numa corrida de fim de tarde no South Park passo por uma árvore de tronco imponente, dois metros de diâmetro envolvidos nos braços de uma mulher. Com o peito colado, face contra face, sem a apertar demasiado. Com um olhar sereno e nada perdido, nada desesperado. Juro-vos que a mulher estava a fazer amor com quem abraçava.
Um momento de verdadeira eternuridade. Bless her. Bless them.

Em destaque

Endossando a recomendação no Blasfémias, destaco o Malfadado.

Desafios liberais (3)

1. Direito ao indivíduo prostituir-se, sim ou não?

2. Direito ao indivíduo escravizar-se, sim ou não?

Sarsfield Cabral (SC) abordou neste artigo a questão da prostituição e da escravatura, numa curiosa coincidência com a sugestão de AA a propósito do anterior desafio liberal, e do que anteriormente já publicara sobre o tema da prostituição, aqui e aqui. A prostituição não deve ser criminalizada, nem do lado de quem fornece, nem do lado de quem usufrui o serviço em causa, dado ser uma troca livre entre adultos. Contudo, e devido às suas especificidades e à forma de organização da sua comercialização, julgo que a melhor solução é a regulamentação e não apenas a descriminalização, de forma a dar alguma protecção a ambas as partes contratuais. No fundo, algo próximo do que existe na Holanda. O argumento «moral» é uma coisa sem sentido para um liberal, porque esse serviço se efectua entre duas pessoas que não incomodam mais ninguém. O argumento das «coitadinhas» é de um paternalismo inaceitável e muito anti-liberal, já que não aceita que tenha havido uma «escolha», mas antes um acaso em que a pobrezinha foi vítima de circunstância A ou B.

A questão da escravatura é muito diferente, e SC é abusivo ao dizer: «Seria coerente, então, tirar todas as consequências lógicas. Por exemplo por decisão minha, deveria poder vender-me como escravo. Se posso vender o meu corpo, porque me impedem de vender a minha pessoa?». Prostituir-se é vender o corpo. Mais exactamente, é somente alugar o corpo, já que ele continua a pertencer à pessoa e apenas é posto à disposição durante a prestação do serviço. A escravatura é, bem diferentemente, a venda da pessoa, ou aluguer, se por período estipulado. Em qualquer dos casos a escolha de ser escravo implica que não se possa voltar atrás nessa decisão no período acordado. Não há nenhum paralelo lógico a fazer, porque o corpo e a pessoa estão a níveis qualitativamente diferentes.
A escravização é uma escolha irrevogável que coarcta a possibilidade de escolha e, consequentemente, auto-determinação do indivíduo.

Uma resposta previsível (e «fácil», mas desadequada) é dizer que a escravatura é contra a dignidade humana e não deve ser tolerada. Outra é que ninguém pode em perfeita consciência fazer tal escolha. Ou, ainda, que a vida que se levaria seria profundamente imoral. Mas, aqui tratam-se de desafios, e o desafio é saber se um adulto, em consciência, numa sociedade liberal que respeite os seus direitos e as suas escolhas, nomeadamente as escolhas morais que não interfiram com a liberdade dos outros, tem ou não direito a decidir deixar de ser livre. Uma pessoa pode achar que outra leva uma vida imoral ou devassa, mas daí a achar que o que ela faz deve ser proibido vai um grande passo. O liberal não impõe modos de vida, apenas quer que o deixem em paz para viver o que escolheu para si.

Outra justificação que também será natural esperar é que um indivíduo não pode escolher livremente escravizar-se porque isso ofende o valor da «liberdade». Ou seja, impor a regra «o indivíduo terá direito a escolher tudo menos aquilo que lhe retire a possibilidade de escolha ela própria». Isto é possível, mas é também algo paradoxal, porque não permite liberdade de escolha total. Podemos, então, admitir esta regra como sendo um «axioma», aceitando-o sem exigir uma justificação. Mas convém admitirmos a incompletude do edifício de valores que se ergue sobre esta regra, aceitando que mesmo a «liberdade de escolha» tem certos limites - o não se poder coarctar a si própria.

A escravização significa perder toda e qualquer liberdade de escolha no futuro. Podemos até certo ponto fazer um paralelo entra esta escolha e o suicídio (tema do próximo desafio), já que falamos do direito à auto-determinação do indivíduo, e a medida em que ele deve incluir (ou não) o direito a por um ponto final nessa mesma auto-determinação. Mas a analogia não é totalmente legítima. Porque o suicídio significa terminar com a vivência de acordo com os valores que se defenda, enquanto a escravatura significa continuar uma existência na qual cedemos a liberdade de escolha dos valores por que ela será regida. O suicídio (bem sucedido) não permite arrependimento, ao contrário da escravização. Se bem que possamos defender que o indivíduo "perfeitamente racional" é capaz de antecipar o futuro, o argumento de que ele se pode enganar e isso depois é irreversível é um argumento forte.

Mas basta admitir que ele se pode enganar marginalmente e que a consequência desse erro é incomensuravelmente grave e destruidora para questionar esse direito. Sendo este um argumento forte, é preciso entender os diferentes planos em que se situa. Há o ponto de vista teórico - em que admitimos que o indivíduo pudesse ser absolutamente racional a antecipar sentimentos futuros -, e o ponto de vista prático - em que admitimos que o ser humano não é absolutamente racional. Se do ponto de vista prático parece ser unânime considerar que o direito à escravatura deve ser proibido, do ponto de vista teórico a questão mantém-se. E devemos ter a ombridade de dizer que o argumento prático é paternalista, porque assume que podemos proibir o indivíduo de decidir por ele próprio com base no facto de ele se poder vir a arrepender.

O que acha o leitor do assunto? Sim ou não ao direito a prostituir-se? E ao direito da pessoa absolutamente racional se escravizar?

Água e liberalismo

Ouço as notícias e pasmo. Já não há quase água no Algarve, o resto do país para lá caminha, mas não ouço ninguém defender o aumento do preço da água. Será preciso ser economista para perceber que um recurso que se torna perigosamente escasso tem que ver essa escassez reflectida no seu custo de aquisição? Gastam-se milhões em campanhas de «sensibilidade» apelando os cidadãos à poupança da água. Eu acho muito bem que as Câmaras: 1) dêem o exemplo; e
2) façam apelos à «cooperação» com base no «espírito de cidadania». Mas, entendamo-nos: isto não é Cuba e isto não é a União Soviética. Eu pago pela água que consumo. Se me apetecer, tenho todo o direito a deixar as torneiras abertas o dia inteiro. Depois, pagarei a factura. Simples. Farei uma escolha pela qual pagarei um preço, que é igual para todos. Macário Correia diz que pondera multar ou mesmo prender quem se ponha a encher piscinas privadas na sua coutada, a provar como a sua social-democracia é muito liberal. Mas chegamos aonde? Não quererão também instalar câmaras para ver quantos banhos de imersão eu tomo por dia? Ou se deixo a torneira ligada enquanto lavo a louça, ou faço a barba, ou dou banho ao cão?

Estamos quase em eleições e o país político que temos sofre a agravante na estupidez do oportunismo conjuntural. Repito: quando é que resolvem aumentar o preço da água? Nem é preciso aumentar o preço uniformemente. Pode-se aumentar o preço por escalões: o agregado familiar que consumir mais que X m3 / pessoa pagará Y, se consumir acima de W m3 / pessoa pagará Z, e assim sucessivamente. De tal forma que encher uma piscina possa custar uma exorbitância. Mas num país livre, a água, mesmo sendo um bem essencial, é isso mesmo, um bem - transaccionável. E quem quiser, até pode comprar água engarrafada. Custa? Pois custa. Mas este é o país onde Guterres um dia disse que «gostava que a água pudesse ser gratuita». Isto é uma daquelas pérolas socialistas que se adivinham na ignorância de como funciona a economia. Meu amigo, a ver se nos entendemos:
um bem escasso nunca deve ser gratuito. Compreendido?

Os socialistas nunca perceberam muito bem que a razão porque o comunismo implodiu foi porque não existia um sistema de preços livres que reflectissem a escassez relativa dos bens transaccionados. Em vez disso, os preços eram determinados centralmente pelos "iluminados" do partido, consoante isso fosse adequado às necessidades do "povo" (ou, melhor dizendo, da "nomenklatura").
Ora a beleza do sistema de preços numa economia de mercado é que eles constituem sinais que indicam a escassez relativa (e por consequência, o valor relativo) dos bens, e isso promove uma uma afectação eficiente dos recursos. Portugal tem políticos pouco corajosos e incompetentes, e os jornalistas é o que se sabe: o país arde novamente de forma pornográfica mas este ano ninguém critica o Governo por isso. Eu, se estivesse no Algarve, organizava uma campanha para manter as torneiras a correr até se esgotar a água toda. Ouviram bem: T-O-D-A. Todinha, até à última gota. Seria, digamos, uma espécie de «arrastão construtivo». A ver se este risível rectângulo entrava de uma vez por todas nos eixos.

23 julho 2005

Para além do Bem e do Mal (4)

«Don't knock masturbation. It's sex with someone I love.»
[Woody Allen]

Relationships (23)

«Over the years, I have been involved in a number of relationships, most of which are ongoing today. This, along with discussions with other people, has given me some insight into what makes relationships work or not work and what is the role of love, friendship, and sex in those relationships.

Two of the biggest killers of relationships are jealousy and lies. Jealousy is particularly difficult because it relates to some sort of survival mechanism in this animal we call human. On the other hand, we seem to be inherently nonmonogamous, or only monogamous for a season (serial monogamy), as in various other species. Even strong religious taboos have not changed that fact.

My solutions to this conflict have been to carefully negotiate a set of ground rules which take into account the jealousy factor and the guilt factor and to tell no lies and have no misleading expectations between those concerned. I have not always scrupulously followed these two rules. They developed over time, and sometimes the short-term gain of bending them has just been too tempting. In the end, however, I have always paid the price.

I try to apply these rules to all my relationships. A screwed-up nonprimary relationship can easily destroy your primary one as well. Lack of clarity invites trouble. It is important to be explicit about expectations before one enters any kind of long-term relationship. It is not good practise to assume that one's understanding of the rules is the same as one's partner. People come from vastly different cultural backgrounds, even within the same ethnic group, religious heritage, and economic class. In general, one has no way of knowing what effect one's partner's upbringing and past relationships have had on their ability to cope with the current situation.

Another big problem with relationships is that people often confuse love, friendship, and sex. These are three independent types of interactions, none of which should automatically imply the others. Having sex with someone does not automatically mean she or he is one's friend, or that one loves him or her, or that sex will happen again in the future. Also, there is no reason why sex should ruin a friendship. Or why one's lover cannot also be one's best friend, as mine is.

Love without sex is a perfectly normal condition. Think of how one feels about one's parents or one's siblings. Many couples who are much in love don't have sex with each other. Sex without love is equally normal, whether or not one's partner is also one's friend. The term "fuck buddies" is sometime used to describe people who have sex together just for the enjoyment of it and understand that there is not necessarily anything more to the relationship.

It is very nice when friends can sleep together without the pressure of sex and the commitment of love. Much can be said for curling up next to a close friend and spending the night cuddling and caressing, with no other expectations. I am lucky enough to have a few friends like that. It shows a great deal of trust in the friend and in the friendship.

A person can be one's friend, one's sex partner, or one's life partner. Or they can be any combination of the three. They are entirely different concepts, with entirely different responsibilities and benefits. Only when people confuse them and think that one implies the another or excludes another, do misunderstandings and rifts follow.»

[Wayne Bryant]

22 julho 2005

Comunicado do Gabinete do Ministro das Finanças

Para desanuviar um bocadinho, leiam isto que vale a pena.

Crise no Governo (9)

Recomendo mais este e este olhar sobre esta questão.

Desafios liberais (2)

Alargamento dos direitos (e deveres) inerentes à instituição "casamento" a casais do mesmo sexo, sim ou não?

Vejam aqui o debate (bem aceso) que tenho mantido hoje com outros liberais da praça.

Crise no Governo (8)

O Pedro Lomba (PL) acha que o artigo que Campos e Cunha (CC) escreveu não tinha de levar à sua demissão, argumentando que qualquer pessoa o poderia subscrever. O erro de PL é ignorar o contexto em que ele é escrito e o seu autor. O texto em si é serenamente inatacável, e penso que qualquer economista da área socialista o subscreveria num contexto apolítico. O problema está em que ele surge como um alerta, uma lição professoral, e até um desabafo, aos incompetentes colegas de Governo. Em que ele explica, muito simplesmente, que um investimento público só deve ser levado a cabo se for (socialmente) rentável e não porque seja por definição bom em si mesmo. Quem ouviu Manuel Pinho anunciar fervorosamente os 25 mil milhões de euros sem ter outra preocupação senão dizer "Pessoal! Nós vamos gastar dinheiro, muito dinheiro! Portanto, animem-se, vai haver festa, pão e circo para todos!" e continuou a pensar que este economista pode ser intelectualmente respeitado enquanto tal, só o pode fazer se juntar a hipótese de ele ser um oportunista e dizer barbaridades para gáudio próprio.

Não há nada tão interessante para um economista como olhar para situações de assimetria informacional e tentar racionalmente ler as mensagens para tentar perceber as intenções dos seus autores. As hipóteses são simples. CC é um homem inteligente, tecnicamente muito bem preparado, de carácter, bem intencionado, e com pouca experiência política. Isto não são só elogios baratos. Em Pina Moura trocaria os epítetos todos. Em Guilherme d'Oliveira Martins, trocaria os três primeiros apenas. Isto para me manter nas hostes socialistas. Sendo CCum homem inteligente, deveria ter antecipado que o artigo que escreveu seria um incómodo tal que teria que levar a alguma mexida no Governo. Ou saía ele, ou saía algum dos ministros gastadores. Mas se tivesse sido esta a última opção, não só a autoridade de Sócrates seria manchada, como abriria um precedente grave: a partir daí, os ministros independentes sentiriam ter carta verde para "desabafarem" nos jornais o que pensam e legitimamente esperar a corroboração do Primeiro.

Duas hipóteses se põe: ou CC publicou o artigo sem conhecimento de Sócrates, ou com conhecimento. Se publicou sem conhecimento, ou queria provocar a sua demissão - por estar cansado de aturar um Governo em pantanas cujas medidas manchariam a sua credibilidade, à qual tem direito -, ou não antecipou isso, e isto é justificável de algum modo com a sua inexperiência política. Se foi com conhecimento de Sócrates, ou foi por iniciativa dele ou de Sócrates. Se por iniciativa dele, foi uma demissão "abençoada". Se por iniciativa de Sócrates, foi uma demissão "aconselhada", em que Sócrates terá dito algo do género "Caro CC, veja lá... se calhar a forma mais fácil para todos nós era escrever um artigo moderado, mas que se tornasse politicamente incomportável, e depois apresentava a demissão". Eu acredito que CC, porque é um homem educado, tenha no mínimo entregue o texto que ia publicar a Sócrates, e este terá imediatamente percebido ser inevitável a demissão, e assim teve pelo menos três dias para convencer o novo ministro, que é, recorde-se, uma segunda escolha (face a CC).

Quando se tem durante mais de 3 meses uma pessoa a dar-nos aulas, percebe-se mais algumas coisas para além daquilo que os olhos do palco público vêem. No caso de CC, a diferença não é tão grande porque é unânime reconhecer nele um homem honesto e descomprometido. Quando ele disse, antes de tomar posse, que os impostos teriam muito provavelmente que aumentar no médio prazo, disse-o com a força da convicção e da coerências, não medindo as consequências políticas de tal afirmação, simplesmente porque era o que pensava. E quem tem verticalidade é assim que funciona. Seria um homem bom num lugar errado, que se sacrificou a tentar mudar alguma coisa na política podre deste país? É bem provável que sim. CC perde a oportunidade de ficar na história (dada a sua passagem fugaz na governação), mas sai de cabeça erguida e sem mancha no currículo, o que outros não podem reivindicar. O problema é a mancha que cai inabalavelmente sobre os portugueses, que vêem aquele que era o único garante de credibilidade neste Governo sair ao fim de 4 meses num governo de maioria absoluta. Por isto é que eu só consigo dizer, à la JPP, «pobre país o nosso».

Crise no Governo (7)

Vasco Pulido Valente, o crónico irascível (e imprescindível) da Nação, no Público de hoje [destaques meus]:

«Não há dúvida que o ministro das Finanças saiu, ou foi forçado a sair, por causa da sua oposição ao plano de investimentos de Sócrates, Manuel Pinho e Mário Lino. Não seria portanto mau começar por perceber esse plano. A justificação mais sofisticada vem curiosamente do pior nacionalismo reaccionário, retórico e antiespanhol: a Ota e o TGV impediriam que Madrid se tornasse o único "centro" da península. Mesmo levando a sério esta fantasia ideológica, não existe razão para supor que a Ota e o TGV fizessem no caso a menor diferença. Mas, por outro lado, têm a vantagem de encaixar perfeitamente nos vícios portugueses. Primeiro, não obrigam a qualquer reforma, ou qualquer mudança, da sociedade e do Estado. Segundo, ficam pelo terreno de uma tecnologia rasteira que não perturba nenhuma empresa ou funcionário indígena. Terceiro, alegram os lobbies abrem a porta a grandes negócios de terrenos. Sexto, criam emprego, embora não qualificado e precário. Sétimo, descansam o Governo, que, na sua irresponsabilidade, encomenda coisas majestosas, sem risco de falhar. E, oitavo, endividam o Estado.

Com tantos defeitos, tão intimamente nossos, era fatal que Sócrates se agarrasse ao TGV e à Ota. O antigo ministro das Finanças viu o que toda a gente viu: que o TGV e a Ota iam provocar despesas sem limite definido, ou definível, e que a prazo iam também comprometer drasticamente o equilíbrio financeiro do Estado e o crescimento económico do país. Sócrates não concordou com ele e o prof. Cunha, pensando talvez na sua reputação profissional, escreveu um artigo a explicar as suas dúvidas. Não sei se percebeu que a partir desse momento estava na rua ou se escreveu o artigo para o porem na rua. De qualquer maneira, a sua passagem pelo Governo revelou que ele presumia na política alguma racionalidade, para além do cálculo do interesse imediato e grosso. Erro fatal. Resta que bastaram a Sócrates 130 dias para se desacreditar. A demissão do prof. Cunha retira autoridade ao Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) para Portugal apresentado na Ecofin; e suscita uma suspeita de fundo sobre o Programa de Investimentos em Infra-Estruturas Prioritárias e a necessidade das "medidas" que se anunciaram desavergonhadamente como "reformas" e que, no fundo, nem a remendos chegavam. Sócrates começa a repetir Barroso e até Santana: na desorientação, na vacuidade, na desordem. O melodrama voltou.»

Crise no Governo (6)

Miguel Sousa Tavares, no Público de hoje [destaques meus]:

«Luís Campos e Cunha foi a primeira vítima a tombar em virtude desses crimes em preparação que se chamam aeroporto da Ota e TGV. Não se pode pedir a alguém que vem do mundo civil, sem nenhum passado político e com um currículo profissional e académico prestigiado que arrisque o seu nome e a sua credibilidade em defesa das políticas financeiras impopulares do Governo e que, depois, fique calado a ver os outros a anunciarem a festa e a deitarem os foguetes. Não se pode esperar que um ministro das Finanças dê a cara pela subida do IVA e do IRS, pelo aumento contínuo dos combustíveis e pelo congelamento de salários e reformas, que defenda em Bruxelas a seriedade da política de combate ao défice do Estado, e que, a seguir, assista em silêncio ao anúncio de uma desbragada política de despesas públicas à medida dos interesses dos caciques eleitorais do PS, da sua clientela e dos seus financiadores.

O afastamento do ministro das Finanças e a sua substituição por um homem do aparelho socialista é mais do que um momento de descredibilização deste Governo, de qualquer Governo. É pior e mais fundo: é um momento de descrença, quase definitiva, na simples viabilidade deste país. É o momento em que nos foi dito, para quem ainda alimentasse ilusões, que não há políticas nacionais nem patrióticas, não há respeito do Estado pelos contribuintes e pelos portugueses que querem trabalhar, criar riqueza e viver fora da mama dos dinheiros públicos; há, simplesmente, um conúbio indecoroso entre os dependentes do partido e os dependentes do Estado. Quando oiço o actual ministro das Obras Públicas - um dos vencedores deste sujo episódio - abrir a boca e anunciar em tom displicente os milhões que se prepara para gastar, como se o dinheiro fosse dele, dá-me vontade de me transformar em "off-shore", de desaparecer no cadastro fiscal que eles querem agora tornar devassado, de mudar de país, de regras e de gente.

Há anos que vimos assistindo, num crescendo de expectativas e de perplexidade, ao anunciar desses projectos megalómanos que são o TGV e o aeroporto da Ota. O mesmo país que, paulatinamente e desprezando os avisos avulsos de quem se informou, foi desmantelando as linhas férreas e o futuro do transporte ferroviário, os mesmos socialistas que, anos atrás, gastaram 120 milhões de contos no projecto falhado dos comboios pendulares, dão-nos agora como solução mágica um mapa de Portugal rasgado de TGV de norte a sul. Mas a prova de que ninguém estudou seriamente o assunto, de que ninguém sabe ao certo que necessidades serão respondidas pelo TGV, é o facto de que, a cada Governo, a cada ministro que muda, muda igualmente o mapa, o número de linhas e as explicações fornecidas. E, enquanto o único percurso que é economicamente incontestável - Lisboa-Porto - continua pendente de uma solução global, propõe-nos que concordemos com a urgência de ligar Aveiro a Salamanca ou Faro a Huelva por TGV (quantos passageiros diários haverá em média para irem de Faro a Huelva - três, cinco, sete mais o maquinista?).

Quanto ao aeroporto da Ota, eufemisticamente baptizado de Novo Aeroporto Internacional de Lisboa, trata-se de um autêntico crime de delapidação de património público, um assalto e um insulto aos pagadores de impostos. Conforme já foi suficientemente explicado e suficientemente entendido por quem esteja de boa-fé, a Ota é inútil, desnecessário e prejudicial aos utentes do aeroporto de Lisboa. E, como o embuste já estava a ficar demasiadamente exposto e desmascarado, o Governo Sócrates tratou de o anunciar rapidamente e em definitivo, da forma lapidar explicada pelo ministro das Obras Públicas: está tomada a decisão política, agora vamos realizar os estudos. (...)

O negócio do aeroporto é tão obviamente escandaloso que não se percebe que os candidatos à Câmara de Lisboa não façam disso a sua bandeira de combate eleitoral e que, à excepção de Carmona Rodrigues, ainda nem sequer se tenham manifestado contra. Carrilho já se sabe que não pode, sob pena de enfrentar o aparelho socialista e os interesses a ele associados, mas os outros têm obrigação de se manifestarem forte e feio contra esta coisa impensável de uma capital se ver roubada do seu aeroporto para facilitar negócios particulares outorgados pelo Estado.

A Ota e o TGV, que fizeram cair o ministro Campos e Cunha, são um exemplo eloquente daquilo que ele denunciou como os investimentos públicos sem os quais o país fica melhor. Como o Alqueva, à beira de se transformar, como eu sempre previ, num lago para regadio de campos de golfe e urbanizações turísticas, ou os pendulares do ex-ministro João Cravinho, ou os estádios do Euro, esse "desígnio nacional", como lhe chamou Jorge Sampaio, e tão entusiasticamente defendido pelo então ministro José Sócrates. Os piedosos ou os muito bem intencionados dirão que é lamentável que não se aprenda com os erros do passado. Eu, por mim, confesso que já não consigo acreditar nas boas intenções e nos erros de boa-fé. Foi dito, escrito e gritado, que, dos dez estádios do Euro, não mais de três ou quatro teriam ocupação ou justificação futura. Não quiseram ouvir, chamaram-nos "velhos do Restelo" em luta contra o "progresso". Agora, os mesmos que levaram avante tal "desígnio nacional", olham para os estádios de Braga, Bessa, Aveiro, Coimbra, Leiria e Faro, transformados em desertos de betão e num encargo camarário insustentável, e propõem-nos um TGV de Faro para Huelva e um inútil aeroporto para servir pior os seus utilizadores, e querem que acreditemos que é tudo a bem da nação?

Não, já não dá para acreditar. O pior que vocês imaginam é mesmo aquilo que vêem. Este país não tem saída. Tudo se faz e se repete impunemente, com cada um a tratar de si e dos seus interesses, a defender o seu lobby ou a sua corporação, o seu direito a 60 dias de férias, a reformar-se aos 50 anos ou a sacar do Estado consultorias de milhares de contos ou empreitadas de milhões. E os idiotas que paguem cada vez mais impostos para sustentar tudo isto. Chega, é demais!»

Crise no Governo (5)

Para a história, fica o artigo de Campos e Cunha, aqui.

21 julho 2005

Verticalidade

«O homem livre é aquele que é capaz de ir até ao fim do seu pensamento.» [Léon Blum]

Isto vem a propósito do suposto "perigo" deste pequeno sarcasmo, que não faz sentido equacionar quando se tem um espírito livre e independente, que não admite cedências estratégicas, porque escolheu andar, for the good and for the bad, de mãos dadas com

«O carácter, quer dizer, a paixão de sermos nós mesmo, por qualquer preço.» [André Suarès]

Crise no Governo (4)

Mais outra crónica muitíssimo inspirada da senhora CFA.

Crise no Governo (3)

«O escravo apenas tem um senhor, o ambicioso tem tantos quantos lhe puderem ser úteis para vencer.» [Jean de la Bruyère]

Crise no Governo (2)

Um dos melhores textos que li hoje sobre a «crise» - aqui.

Crise no Governo (1)

«A política é a única profissão para a qual se considera desnecessária qualquer preparação.» [Robert Stevenson]

«A diferennça entre o político e o homem de Estado é a seguinte: o primeiro pensa na próxima eleição, o segundo na próxima geração.» [James Clarke]

«O coração de um homem de Estado deve estar na sua cabeça.» [Napoleão I]

Será...

...que temos D. Sebastião à vista? Pelo menos o nevoeiro adensa-se.

O que a gente tem que (caric)aturar...

Se eu soubesse desenhar... faria um quadro onde um enorme saco de sarapilheira, cheio de $$$ estampados, e carregadinho de OTA's e TGV's em miniatura, tipo brinquedos de Natal, seria puxado herculeamente por um sr. dos Santos, a ele agrilhoado, e chicoteado pelo trio de dançarinos punk-rock - Coelho, Lino e Pinho - que pulariam eufóricos em cima do saco. A rematar, e para ajudar o pobre coitado a arrastar este peso enorme até à meta eleitoral seguinte, estaria um miúdo energético e preocupado, de seu nome Sócrates, a fornecer-lhe água e bebidas energéticas. A incentivá-lo a a puxar os «elefantes brancos» e os marajás-dançarinos neles empoleirados, até à meta. Isto, claro, se eu soubesse desenhar...

Cavaco Silva

Agora já só não avança se não quiser. Isto porque, com o socialismo
à solta, «valores mais altos se alevantam» - resta saber se o bastante para passar a fasquia do avô-Aníbal-contente-da-vida-que-leva.

Desafios liberais (1)

Imaginemos a seguinte situação. Um indivíduo, na plenitude das suas faculdades mentais, apresenta-se numa esquadra da polícia e comunica às autoridades que gostaria de passar X anos numa prisão, indicando estar disposto - caso tal pedido seja negado - a cometer um crime pelo qual receberá o desejado período de encarceramento.

Que resposta deverá o Estado dar a este caso? 1) Encarcerar um indivíduo que não cometeu um crime mas que tal pediu livre e conscientemente? 2) Ou negar cabalmente o seu pedido?

O trade-off a considerar neste caso meramente hipotético é entre o custo de encarceramento e a violação potencial dos direitos de algum cidadão. A questão não é simples e nela tem um papel fulcral a questão da credibilidade da ameaça do indivíduo e o papel do Estado na prevenção do crime. Isto porque se o indivíduo não ameaçar cometer um crime, a resposta será simplesmente: "Ó homem! Você vá mas é para casa ver novelas!". Mas se for credível, a questão está em saber se o Estado (isto é, todos os contribuintes) deverá aceitar os custos de encarceramento desse indivíduo a troco da prevenção de um crime que - élas - nunca se realizará (dado que o encarceramento significa a satisfação do pedido do estratega). E, depois de o Estado aceder a conceder esse «direito» a esse indivíduo, como aferir a credibilidade de outros que também o façam e como não extender a eles esse mesmo «direito»?

Em termos de direitos individuais e das consequências para os restantes indivíduos dos desejos desse indivíduo particular, a questão é simples e resume-se a saber se um indivíduo me pode obrigar a mim a pagar algo perante uma ameça de cometer determinado crime. Sim, porque para mim é-me indiferente se o homem quer ir ao cinema ou para a prisão. O que me importa é que se ele for para a prisão eu vou ter que pagar por isso. Ora, isto não é muito diferente do que chamamos vulgarmente de «roubo» - nada mesmo. Logo, em termos «morais» o Estado não deveria ceder à chantagem - é disso que se trata - de tal indivíduo. Assim deverá pensar um «liberal», e certamente um «libertário». Já um «utilitarista» estaria muito provavelmente disposto a que se aceitasse um pequeno custo individual (via impostos) para evitar um mal maior (o crime), se isso levasse a um aumento do «bem-estar social».

No limite, uma resposta positiva do Estado poderia levar a que grupos organizados de indivíduos acorressem em massa às esquadras para um «período experimental» na prisão, tipo campo de férias de 6 meses a 1 ano, o que seria uma espécie de "colonização" do sistema prisional português à custa dos contribuintes. E uma resposta negativa, seguida dum crime efectivado, faria surgir o inevitável coro de protestos "Mas porque é que não fizeram nada para prevenir isto! Ainda por cime ele bem avisou!". Sim, porque à posterior só se falará das promessas levadas a cabo, mas nunca das outras, que seriam ameaças não credíveis, cuja resposta negativa teria permitido poupar dinheiro aos indefesos contribuintes.

Em termos de estratégia, isto levanta também a interessante questão de como identificar uma «ameaça credível», dado que ela, por ser credível, nunca se consubstancia. Como provar que algo é credível quando não é, por definição, levado a cabo? (Como poderemos saber se a ameaça de retaliação na Guerra Fria era credível, se nunca se lançou nenhum míssil de qualquer dos lados?)

Que resposta daria o leitor a este pequeno desafio?

20 julho 2005

«A velhice da Gulbenkian»

Excelente artigo de Clara Ferreira Alves aqui em baixo.

A Natureza de [T.M.] (2)

A juntar a este, o outro poema que amo e no qual me confundo é este. E que juntos explicam a occupation no meu «blogger-profile».

Prostituição (2)

Já aqui falei deste tema, e este artigo do Público (online e também offline), de Alexandra Oliveira e Ana Lopes, despertou-me novamente a atenção, porque este é um tema caro e em que sempre tive a mesma opinião: a favor da liberalização da prostituição, porque acredito na soberania da escolha do indivíduo e na não intromissão do Estado naquilo que se passa entre adultos por mútuo consentimento e que a mais ninguém diga respeito. Alguns excertos do artigo:

«O tráfico de mulheres e a prostituição são fenómenos diferentes, ainda que muitas vezes se interceptem. Existe tráfico sem prostituição - lembramos o "comércio" de mulheres para tarefas domésticas - e também existe prostituição sem tráfico. (...) muitas das mulheres que conheceram os traficantes se deixaram traficar, pois precisavam de ajuda "especializada" para transpor a fortaleza de Schengen. A grande maioria dos homens e mulheres que entram na União Europeia para trabalhar no sexo sabe que o vem fazer. Optou, portanto, por esse trabalho. Ser traficado para o trabalho sexual é para muitas pessoas dos países chamados subdesenvolvidos uma forma de melhorar a sua vida - são os "cruza-fronteiras audazes", como lhes chama Laura Agustín, que tentam contrariar os efeitos da pobreza. É o encerramento das fronteiras e o endurecimento das leis de imigração que conduzem aos abusos do tráfico.

Em 1998, o Governo sueco promulgou uma lei descriminalizando o trabalho sexual, mas que, simultaneamente, criminaliza a "compra" de serviços sexuais - ou seja, criminaliza os clientes e estabelece a prostituição como algo inaceitável na sociedade. Este modelo tem sido defendido por feministas portuguesas, o que é preocupante, pois, embora à primeira vista pareça uma lei progressista, ela é profundamente nociva para o grupo que tenta proteger: os trabalhadores/as sexuais. É inaceitável que este grupo, sendo o mais afectado pelas políticas da prostituição, seja tão raramente ouvido.

(...) As feministas deviam ser, sem dúvida, aliadas fundamentais dos trabalhadores/as sexuais na luta pelos seus direitos laborais, civis e humanos. Mas para isso é necessário que ouçam os trabalhadores/as sexuais, em vez de defender políticas que são prejudiciais ao próprio grupo que, a nosso ver, erradamente consideram "vítimas". Pretender a repressão dos clientes para acabar com a prostituição, tendo em vista quer o seu fim, quer o combate ao tráfico é uma opção desajustada, injustificada e socialmente injusta.»

Ou seja, ideias simples:

1- Entender que, num país livre, e excluindo casos em que a pessoa não seja autónoma (ex: toxicodependentes e deficientes mentais), a prostituição é uma "escolha" e não uma "fatalidade";

2- Perceber que a penalização dos clientes acabará por repercutir-se (negativamente) nas pessoas que se prostituem e como tal tem o efeito contrário ao desejado;

3- Aceitar que para se compreender este tema tem que se escutar "representantes" deste grupo.

Este último ponto é o que pia mais fino, porque quando entram estatísticas ao barulho cada um pode dizer o que quer. É muito fácil entrevistar "coitadinhas" e fazer disso o retrato dum país. Mas uma amostra "representativa" tem que incluir não só quem trabalha nos Cais do Sodrés e Intendentes, mas também quem trabalha em casas de alterne, de "madames", Elefantes Brancos e afins. Também não é difícil entender que quanto maior o nível de vida de quem se prostitui menor será a probabilidade de ouvirmos falar nessa pessoa ou de ela ir ter com alguém a queixar-se. Portanto, alto risco de "selecção amostral". Claro que haverá sempre quem diga que essas "coisas estatísticas" não interessam para nada. E aqui, das duas uma: ou são ignorantes e estão inconscientes disso; ou estão conscientemente de má fé, o que equivale a ser desonesto intelectualmente. Em Portugal abundam ambos os tipos, sendo os segundos os mais perigosos, porque não estão verdadeiramente interessados em mudar algo (porque para isso têm primeiro que perceber a realidade) mas apenas em fazer vingar algumas ide(olog)ias para alimentar vaidades pessoais ou para defesa dum certo valor existencial que desapareceria logo que essas ide(olog)ias caíssem por terra.

19 julho 2005

Escutando Vergílio Ferreira (8)

«Vê se uma ideia tua se não torna um lugar-comum para te não dizerem que te serves de um lugar-comum quando por acaso a repetires.»

Relationships (19)

[And now for something deadly provocative... - Part 3/3]

«Sabe quem são os misóginos mais violentos? As mulheres (...) Porque pensam vocês que elas se esforçam por nos seduzir? Unicamente para poderem desafiar e humilhar as suas congéneres. Deus inculcou no coração das mulheres o ódio pelas outras mulheres porque queria que o género humano se multiplicasse.»

[Milan Kundera, O livro dos amores risíveis]

Oxford (1)


Sunset in a "Summer" day Posted by Picasa

Oxford (2)


Christ Church Quad in a "usual" day Posted by Picasa

Oxford (3)


Christ Church Dinning Hall (where «Harry Potter» was shot) Posted by Picasa

Oxford (4)


St. Catherine's College Quad Posted by Picasa

Oxford (5)


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Autumn in Oxford Posted by Picasa

18 julho 2005

Surdez, cegueira e memória

Entre ser cego e ser surdo, o que escolheria se tivesse que escolher? É um exercício difícil, em que temos que separar o caso de deficiência à nascença ou adquirida em vida. Pensar como seria se não tívessemos qualquer destes sentidos desde que nascemos é um exercício contrafactual muito difícil. Pormo-nos na pele de alguém que nunca viu nada ou que nunca ouviu nada, e tentar escolher o mal menor, é tarefa complexa. Já pensar na diferença entre perder um desses sentidos em idade adulta não é tão difícil de ponderar.

O surdo está mais afastado dos outros, porque não se apercebe do ritmo da vida, nem sequer de si próprio. Um surdo que fale é qualquer coisa de muito estranho. Alguém que não pode ouvir música, nem o barulho do mar. O cego percepciona tudo e apenas não vê com a visão. Socialmente pode ser mais estigmatizante, mas talvez apenas à superfície, porque a deficiência é mais fácil de identificar. Mas perder qualquer dos sentidos em idade adulta é também ter a recordação dolorosa do antigamente. Alguém que nunca (ou)viu não sofre tanto porque não sabe o que perde. Mas a recordação, sendo dolorosa, pode ser também reconfortante. A memória é algo que corrói, que mata, mas também aquilo que permite sermos algo mais que uma folha pairando no ar. Surdo ou cego, o que escolheria?

17 julho 2005

Para além do Bem e do Mal (3)

«The only unnatural sex act is that which you cannot perform.»
[Alfred Kinsey]

Axiomas Pessoanos (2)

«Sou a sombra de mim mesmo, à procura daquilo de que é sombra. Paro às vezes à beira de mim próprio e pergunto-me se sou um doido ou um mistério muito misterioso.»

Gymnasts


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Gymnast 4 Posted by Picasa


Gymnast 3 Posted by Picasa


Gymnast 2 Posted by Picasa


Gymnast 1 Posted by Picasa

15 julho 2005

Teoremas Pessoanos (4)

«A volúpia do ódio não pode igualar a volúpia de ser odiado.»

The wit and humour of Oscar Wilde (8)

«I like persons better than principles and I like persons with no principles better than anything else in the world.»

Relationships (22)

i like my body when it is with your
body. It is so quite a new thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows.

[e. e. cummings]

Escutando Vergílio Ferreira (7)

«A voga dos dinossauros. É um contágio quase epidémico. (...) E o problema obscuro que se insere no caso e explica a generalizada fascinação é esta simples pergunta que se ignora e ninguém faz: que significa haver Deus no tempo dos dinossauros em que o homem não existia e se ele não viesse a existir? Mais nada. O resto é folclore e diversão e inconsciência.»

Do «Manual de auto-ajuda do Blogger» (1)

Os 10 passos para diminuir o output diário de posts:

1. Não escrever sobre isso.
2. Não pensar no porquê de não poder escrever sobre isso.
3. Ter uma vida sexual activa.
4. Não publicar posts apetecíveis de ser comentados.
5. Não deixar comments noutros blogs.
6. Ter uma vida sexual mais activa.
7. Não publicitar links a outros blogs.
8. Cortar os cabos de ligação à net na casa toda.
9. Ter uma vida sexual ainda mais activa.
10. Não publicar isto.

Magic fingers

A pedido de muitas famílias (sobretudo não-mono e não-parentais), aqui está uma outra lady temporária e requintadamente só.

Quero ler

Portanto, as semelhanças entre Kafka e Sebald não se ficam pelo estilo. Se Kafka é um oráculo de uma época, Sebald também o é. Joseph K. simboliza o europeu esmagado pelo excesso de memória, pela ambiência nacionalista que rebentou na I Guerra Mundial. O narrador de Austerlitz representa o europeu de hoje, paradoxalmente esmagado pela insustentável falta de memória dos países europeus. Na Europa actual, o tempo não fluí normalmente entre o passado, o presente e o futuro. Vive-se um presente perpétuo sem ligação ao passado. E sem esse ponto de referência vital, o passado, a Europa fecha-se numa espiral ensimesmada. O vórtice desta espiral é, claro, a amnésia voluntária. Sebald foi (é) o maior cronista desta espiral.

14 julho 2005

«Hoje está mesmo de ananazes!»

De que falarão entre si os senhores da Meteorologia & afins quando não têm nada para dizer uns aos outros num qualquer elevador?

A arte da rudeza

A arte da rudeza é insulto. Mas não é apenas insulto. É um insulto perverso, insolente e demencialmente elevado. «Winston, você não passa de um bêbedo», diz Lady Astor a Churchill numa festa social. E Churchill, sem perder a compostura, responde: «E você, minha querida, é feia. Mas amanhã eu já estarei sóbrio». O mesmo Churchill, na Câmara dos Comuns, confrontado com as críticas de uma parlamentar inflamada: «Se eu fosse sua mulher, punha veneno no seu chá». E Churchill, sem perder a compostura, responde: «E se eu fosse seu marido, bebia-o». LER AQUI.

Por sugestão daqui. Vale a pena ler a crónica toda, acreditem.

Acrobats


Acrobats on the Empire State Building Posted by Picasa

O Intelectual (0/10)

Uma pessoa culta não é uma pessoa que muito, nem que sabe muito, mas que conhece muito. Um intelectual não tem que ser uma pessoa culta. Nem sequer super inteligente. Ser intelectual não é uma questão de quantidade - de ter mais ou menos capacidade de raciocínio e conhecimento -mas antes de qualidade. Ser intelectual é uma postura; é uma forma de estar na vida. Ser mais inteligente ajuda porque permite viver mais intensamente essa forma de estar na vida. E ser mais culto ajuda porque, qualquer que seja a intensidade que essa forma de estar tem, ela poderá incidir sobre uma maior variedade de temas. Mas nenhuma destas duas qualidades constitui condição necessária, nem tão-pouco suficiente, para se ser um intelectual. Há correlações (positivas), mas não causalidade.

O dicionário que sugeri é muito pobre: sugere que ser um intelectual (substantivo) é ter uma actividade onde o uso do intelecto é preponderante; ou pessoa de cultura, o que não chega: um intelectual é sobretudo aquele a quem «a ideia, por mais elementar que seja, compromete e ordena a vida». Tudo o que comprometa e ordene uma vida diz respeito à moral - melhor, à moral individual. Por isso é tão difícil identificar um verdadeiro intelectual; seria preciso conhecê-lo por dentro, conhecer a sua construção moral.

Quando dizemos que Eduardo Prado Coelho ou Vasco Graça Moura são dois grandes «intelectuais», na verdade o que queremos dizer é que são pessoas cultas, ligadas ao mundo da cultura e aos livros. Mas poucos de nós poderão afirmar algo sobre a sua forma de estar na vida. Uma coisa é o que se faz. Outra coisa é o porquê do que se faz - a origem e a causa mais profunda dos nossos actos. O intelectual é alguém que deriva prazer do acto intelectual e, mais que isso, alguém que apenas deriva prazer mediante um esforço intelectual. No limiar, é alguém que intelectualiza toda a sua existência e toda a sua vivência - mesmo nas emoções mais simples e até espontâneas.

Ser intelectual é erguer a valor máximo o «brincar com as ideias» - o desconstruir argumentos. É por isso necessariamente imoral - porque será sempre porventura imoral, e na moral basta a postura, mesmo sem consequências, para que o sujeito seja considerado imoral. Qualquer intelectual será inevitavelmente um apaixonado pela língua, porque é através dela que ele se cumpre inteiramente. Um intelectual previlegia a escrita à oralidade, que é mais dada a emoções e menos a perfeccionismos e revisionimos.

Será também - e sempre - um apaixonado pela contradição e pelo paradoxo. Um intelectual tem que ser um sofista - pelo menos em potência. Isto implica a tal capacidade destruidora de tudo o que seja intelectualizável. Por isso, um intelectual é na verdade um deus - ou aspirante a deus - da verdade. Mas não existe nenhuma verdade única, porque a contradição é sempre possível. Mas um intelectual pode dirigir a sua energia para a mera destruição argumentativa - será um sofista, ou para a construção imparcial da verdade. Estes são os dois tipos de intelectual. Mas mesmo o intelectual «bom» - o que procura a verdade - só o poderá ser se tiver capacidade para ser um destruidor. Os sofistas gregos eram tidos em conta exactamente por essa capacidade - que era necessariamente «amoral».

A marca do intelectual é, como atrás referi, ter como força moral a ideia. É certo que na interpretação de qualquer texto é necessário ter em conta o autor e o contexto, para além do que nele é expresso. Mas o intelectual não morre de amores pela Hermenêutica. Ele precisa de ideias como de pão para a boca, e não lhe interessa muito como e onde é que esse pão foi feito - quer é mastigá-lo, devorá-lo. O intelectual quer dissecar qualquer coisa que lhe seja apresentada, independentemente de quem a tiver dito - e apesar de ser indiferente, ele insistirá em não querer saber quem disse o quê.

A minha ideia ao propor o «Quizz aforístico» foi ilustrar este último ponto. O intelectual procura - tanto quanto é possível ao homem - despir-se de preconceitos. Procura a imparcialidade, a objectividade, a verdade das coisas. Não adianta dizer que a objectividade total é impossível - claro que é, por definição. Mais que não fosse, orque para que algo seja considerado objectivo, seria necessário haver «alguém» com autoridade para o dizer, e esse alguém será sempre passível de subjectividade. [Deus não mora aqui.] Mas se o «branco» da objectividade e o «preto» da subjectividade são impossíveis de atingir, isso não quer dizer que tudo o que está no meio é indeferenciável e merecedor da nossa indiferença, porque há um contínuo de tonalidades. Ora o intelectual procura a tonalidade o mais clara que lhe é humanamente possível.

Um intelectual discutirá sempre a frase «Sê aquilo que te tornares» sobretudo pelo que ela contém e não por quem a tenha dito. Ora isto torna o intelectual propenso a uma certa insociabilidade, dado que a maioria das pessoas nutre um prazer especial pelas pequenas fofoquices, os rótulos fáceis, e sobretudo a pequena vaidade - a feira de vaidades pessoais que descamba invariavelmente nos debates «ad hominem», em que não se discutem ideias mas sim supostas capacidades intelectuais.

Em Portugal, e os blogs não escapam a isso, o debate é mais uma luta de pavões do que um combate de guerreiros. Ninguém escuta ninguém. Fazem-se referências a coisas que se leram, listam-se recomendações, puxa-se dos colarinhos que se tiver à mão - e às vezes dos que não se têm. Tomara que mais pessoas soubessem o quanto se pode aprender numa conversa com qualquer pessoa, independentemente da sua inteligência. Mas há quem insista, passados 20 segundos, em chamar o outro de «estúpido!» e a partir daí partir para outros mimos.

Apesar da estética que alguns lhe possam apontar, isso é meramente circunstancial e ad-hoc. A postura do intelectual é por construção uma escolha ética e não estética. É uma moral, em que o imparcialidade e a busca da verdade surgem no topo da cadeia de valores. E, como em toda a moral, traz certos constrangimentos. Por isso, a próxima vez que ouvires alguém dizer «eu sou um intelectual» não tenhas a reacção comummente disparatada de achar a pessoa «convencida» (de que é muito inteligente). Pensa antes que pode ser um pobre coitado que já perdeu a capacidade de cheirar uma flor sem intelectualizar esse pequeno gesto.

13 julho 2005


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Carreiras alternativas...

...ao 42. Enquanto não for grande, quero ser assim.

O Intelectual (1/10)

«Não há maior tragédia do que a igual intensidade, na mesma alma ou no mesmo homem, do sentimento intelectual e do sentimento moral. Para que um homem possa ser distintivamente e absolutamente moral, tem que ser um pouco estúpido. Para que um homem possa ser absolutamente intelectual, tem que ser um pouco imoral. Não sei que jogo ou ironia das coisas condena o homem à impossibilidade desta dualidade em grande. Por meu mal, ela dá-se em mim. Assim, por ter duas virtudes, nunca pude fazer nada de mim. Não foi o excesso de uma qualidade, mas o excesso de duas, que me matou para a vida.»

[Fernando Pessoa]

Jardim e os seus jardineiros

Da sua ilha, Jardim assiste a este espectáculo colectivo de cobardia que confirma o seu desprezo pela espécie de que ele faz parte. Porque, de tão indignados e ofendidos, de tão humilhados e vilipendiados, todos eles fazem aquilo que se faz na anedota: agarrem-me senão eu mato-o! Ou seja, eu não tenho coragem de fazer nada, alguém que faça qualquer coisinha por mim.

Relationships (21)

«Is that a gun in your pocket, or are you just glad to see me?» [West]

12 julho 2005

Impossibilidades (explicativas)

Pergunta a Espelho: que impossibilidade é essa, afinal? Como este tema dava pano para mangas, sugiro este aperitivo e este digestivo. Os intermezzos serão a seu tempo colocados na mesa.

O Intelectual (2/10)

«All thought is immoral. Its very essence is destruction. If you think of anything, you kill it. Nothing survives being thought of.»

«It is only about things that do not interest one that one can find a really unbiased opinion, which is no doubt the reason why an unbiased opinion is always absolutely valueless.»

[Oscar Wilde]

O Intelectual (3/10)

«Nunca tive ideias sobre um assunto qualquer, que não buscasse logo ter outras. Achei sempre bela a contradição, assim como criador de anarquias me pareceu sempre o papel digno de um intelectual, dado que a inteligência desintegra e a análise estiola. (...)

Tenho na vida o interesse de um decifrador de charadas. Paro, decifro e passo adiante. Não emprego nenhum sentimento. Mas eu não tenho princípios. Hoje defendo uma cousa, amanhã outra. Mas não creio no que defendo hoje, nem amanhã terei fé no que defenderei. Brincar com as ideias e com os sentimentos pareceu-me sempre o destino supremamente belo. Tento realizá-lo quanto posso.»

[Fernando Pessoa]

PS: the never ending story is finally coming to an end...

The wit and humour of Oscar Wilde (7)

«Experience is the name every one gives to their mistakes.»

Relationships (20)

«Penso que todos temos nostalgia daquilo que não temos.»

[Daniel Sampaio, A arte da fuga]

Um guarda-redes existencialista

«A minha vida nunca mais foi a mesma desde que li O Ser e o Nada, em particular as partes em que Sartre disserta sobre o olhar. Sempre que estou em campo e o adversário olha para mim, sinto-me objectivado.» Daqui. [Blog em destaque].

The wit and humour of Oscar Wilde (6)

«Let me say to you that to do nothing at all is the most difficult thing in the world, the most difficult, and the most intelectual.»

Dedicado a todos aqueles que vão de férias, e sabem quão difícil é encontrar e saborear os prazeres do dolce far niente...

Fotos de Sebastião Salgado


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11 julho 2005

Neologismo

F e i t i c h e i r a - definições a ponderar:

1) Mulher que deseja enfeitiçar outros através (da consumação, ou mera publicitação) dos seus fetiches;

2) Mulher que deseja enfeitiçar outros para depois (do feitiço consumado) realizar os seus fetiches;

3) Mulher que se deixou enfeitiçar por determinados fetiches (próprios ou alheios);

4) Mulher feiticeira que apenas gosta de cozinhar fetiches em lume brando, sem outro intuito que obter uma boa sopa de fetiches;

5) Mulher que é somente fetichista, ou somente feiticeira, mas que tem graves problemas na expressão gramatical da sua identidade.

Relationships (19)

«Lolita, love of my life, fire of my loins. My sin, my soul.» [Nabokov]

Relationships (18)

«Eu sei através de um olhar se "aquela pessoa" está interessada em ter um diálogo físico comigo ou não. Digo mesmo um diálogo físico, porque me irrita um bocadinho aquela ideia de que o homossexual é aquele que, passe a expressão, "fode e anda". Penso que toda a realidade física é assim, é o consciencializar, o efectivar, e o terminar. E, depois, há todo um espaço cultural que permite a realidade afectiva.»

[Daniel Sampaio, A arte da fuga]

Ser | Ousar | Amar

Será que vale a pena amar? Será que vale a pena enlaçarmos as mãos?

«Pareceu-me sempre que ser era ousar;
que querer era aventurar-se.» [Fernando Pessoa]

«To dare is to lose one's footing momentarily.
Not to dare is to lose oneself.» [Soren Kierkegaard]

10 julho 2005

Tod@s diferentes...

...ou como diria a minha mãe: «O que vai prá-li vai não vai na rua!». Dito com carinho, bem entendido.

Descubra as diferenças

Em sequência do "polémico" post anterior, cabe-me re-perguntar:
man or woman, which would you - aesthetically speaking - choose?

Relationships (17)

«Porque o grande segredo da vida não lhe era desconhecido: as mulheres não procuram o homem bonito. As mulheres procuram o homem que teve mulheres bonitas. É, portanto, um erro fatal ter uma amante feia.»

[Milan Kundera, O livro dos amores risíveis]

Relationships (16)

[And now for something deadly provocative... - Part 2/3]

«Tudo na mulher é um enigma e tudo na mulher tem uma solução: o seu nome é gravidez. O homem é para a mulher um meio: o fim é sempre o filho. Mas que é a mulher para o homem? O homem autêntico quer duas espécies de coisas: perigo e jogo. É por isso que ele quer a mulher, o mais perigoso brinquedo. (...) Que o homem tenha receio da mulher quando ela odeia: porque, no fundo da sua alma, o homem não passa de um ser maldoso, enquanto a mulher é perversa.»

[Nietzsche, Assim falou Zaratrusta]

09 julho 2005

Relationships (15)

«Is sex dirty? Only if it's done right.» [Woody Allen]

Relationships (14)

«Sex has never been an act of freedom for me. Robert and I climb into the bath together, but we tend to talk about quantum physics.» [Toyah Wilcox]

Relationships (13)

«Ninguém compreende isto, e a minha mulher menos do que qualquer outra pessoa. Imagina que um grande amor nos faz renunciar às aventuras. Mas é um erro. Há qualquer coisa que me impele a todo o momento para outra mulher, mas logo que a possuo, arranca-me de junto dela uma mola fortíssima que me catapulta para junto de Kamila. Por vezes tenho a impressão que, se procuro outras mulheres, é unicamente por causa dessa mola, desse impulso e desse vôo esplêndido (cheio de ternura, de desejo e de humildade) que me faz regressar à minha própria mulher enquanto cada nova infidelidade me faz amá-la ainda mais.»

[Milan Kundera, A valsa do adeus]

Relationships (12)

«Eva é uma alegre caçadora de homens. Mas não os caça para o casamento, caça-os como os homens caçam as mulheres. Para ela o amor não existe, só a amizade e a sensualidade. Por isso, tem muitos amigos: os homens não temem que ela queira casar e as mulheres não têm medo que ela tente privá-las do marido.»


[Milan Kundera, O livro dos amores risíveis]

Para além do Bem e do Mal (2)

«I have never yet seen anyone whose desire to build up his moral power was as strong as sexual desire.» [Confucious]

Relationships (11)

[And now for something deadly provocative... - Part 1/3]

1. «One should always be in love. That is the reason one should never get married.»

2. «The very essence of romance is uncertainty. If ever I get married, I'll certainly try to forget the fact.»

3. «I have often observed that in married households the champagne is rarely of a first-rate brand.»

4. «I am not in favour of long engagements. They give people the opportunity of finding out each other's character before marriage, which I think is never advisable.»

5. «How marriage ruins a man! It's as demoralising as cigarettes, and far more expensive.»

6. «The one charm about marriage is that it makes a life of deception absolutely necessary for both parties.»

7. «When a woman marries again, it is because she detested her first husband. When a man marries again, it is because he adored his first wife. Women try their luck; men risk theirs.»

8. «If we men married the women we deserve we should have a very bad time of it.»

9. «It is the growth of moral sense in women that makes marriage a hopeless one-sided institution.»

10. «The proper basis for marriage is mutual misunderstanding.»

[Oscar Wilde]

Relationships (10)

«I hold this to be the highest task for a bond between two people: that each protects the solitute of the other.» [Rainer Maria Rilke]

Relationships (9)

«The meeting of two personalitites is like the contact of two chemical substances: if there is any reaction, both are trasnformed.»
[Carl Gustav Jung]

Relationships (8)

«I believe a little incompatibility is the spice of life, particularly if he has income and she is pattable.» [Ogden Nash]

Relationships (7)

«We've got this gift of love, but love is like a precious plant. You can't just accept it and leave it in the cupboard or just think it's going to get on by itself. You've got to keep watering it. You've got to really look after it and nurture it.» [John Lennon]

Relationships (6)

«Ah, the relationships we get into just to get out of the ones we are not brave enough to say are over.» [Julia Phillips]

Relationships (5)

«Here's how men think. Sex, work - and those are reversible, depending on age - sex, work, food, sports and lastly, begrudindly, relationships. And here's how women think. Relatioships, relationships, relationships, work, sex, shopping, weight, food.» [Carrie Fisher, 1956]

Relationships (3)

«Their relationship consisted in discussing if it existed.»
[Thom Gunn]

Relationships (4)

«The number one complaint women have in relationships is:
"I don't feel heard".» [John Gray, 1951]

Relationships (2)

«In the beginning of all relationships you are out there bungee jumping every weekend but after six months you are renting videos and buying corn chips just like everyone else - and the next day you can't even remember what video you rented.» [Douglas Coupland]

Relationships (1)

«I know a lot of people didn't expect our relationship to last - but we've just celebrated out two months anniversary.» [Britt Ekland]

Ar puro

Fim-de-semana cheio de Sol é dia para ir passear. Lá fora.

Para além do Bem e do Mal (1)

«O sexo é uma força tão ilimitada que não pode ser-lhe conferida a qualidade duma virtude.» [Agustina Bessa-Luís]