aforismos e afins

31 outubro 2005

Mitigada misantropia

Ou seja, uma «special contribution» para o teu blog, minha cara.

Por uma sociedade mais liberal

Caro António: acho que sabes que concordo quase na íntegra com as intenções que descreves. A nossa Constituição de inspiração socialista tem partes que seriam perfeitamente risíveis se não fossem verdade. E os entraves a mudá-la são muitos, e extremamente poderosos. E é por isso que, quando te referes ao que escreveu o ENP - «defender acerrimamente a diminuição do Estado e a eliminação dos entraves constitucionais que a impedem» - eu optaria por substituir o advérbio de modo por outro que julgo mais valioso: inteligentemente. Porque a força das convicções não está em causa. O que importa realmente é perceber como fazer as coisas de para que algo mude de facto, como tu igualmente referes no final do teu post.

Também a propósito do que citaste do RAF - «o corpo central do ideário liberal está, cada vez mais, na ordem do dia, e começa a apresentar-se como verdadeira alternativa e solução credível para os problemas estruturais que o país enfrenta» - relembro o olhar lúcido do Manuel Pinheiro. O que se vê hoje em dia na blogosfera e cada vez mais nos jornais é não só motivo de alegria como tem reconhecidamente um impacto cada vez maior no debate político. Aquilo que me preocupa é que apesar de tudo esta "onda" ainda me parece pouco representativa no "país real": aquele que vota segundo o sistema eleitoral vigente. Por isso, parece-me necessário ter os pés bem assentes no chão e evitar certas ilusões. Se a ambição é crucial, a falta de realismo é fatal.

Certos modelos societais teóricos devem servir de inspiração para as propostas a apresentar, mas têm que ser filtrados e adaptados ao mundo que nos rodeia. O que me assuta é que certas derivas teóricas que vemos na blogosfera - inteiramente legítimas, habitualmente interessantes, e não raro soberbamente "imaginativas" - acabem por guetizar um "projecto", aniquilando a sua viabilidade. Seja por razões ligadas ao ego ou falta de visão estratégica. Por isso eu prefiro a prudência ao entusiasmo febril e facilmente contagiante. O sonho comanda a vida, é verdade.
Mas - excepção feita aos deliciosos sonâmbulos - esse comando só pode ser realmente exercido quando estamos bem acordados.

Serviço público

É o mínimo que podemos dizer das palavras tranquilamente sábias do «Provedor dos leitores» do DN, José Carlos Abrantes.

Multiculturalismo

Eu que até gosto muito de crianças*, confesso não ter grande pachorra para me levantar de meia em meia hora para distribuir rebuçados às bruxinhas que me aparecem à porta. O gozo que se obtém duma tradição depende muito do contexto e da habituação.

*no sentido clássico e não bibiano do termo.

Recomendo

Este artigo. Um precioso contributo para reflectir sobre a urgente reforma da Segurança Social, do minarquista António Duarte.
Acredito que mais do que extensos e repetidos artigos a diagnosticar o problema, precisamos de ideias concretas e realistas como esta para mudar o estado actual das coisas.

Novos colonialismos (precisam-se)

«Este sítio, definitivamente, não tem emenda. A solução
terá de vir de fora. Mais tarde ou mais cedo

Hora de simplificar

Como acho que as simplificações são essenciais nas ciências sociais, embora discorde quase sempre de João Miranda, aprecio a sua arte de simplificar. Parece-me que no caso referido dos horários de Verão há um exagero óbvio, provavelmente motivado pela sempre omnipresente vontade de mostrar como o Estado em tudo se intromete. Porque qualquer horário que se escolha prejudicará inevitavelmente "milhões de interesses individuais".

Seja mudar o horário de Verão ou mantê-lo. O tempo é, por natureza, e apenas, uma convenção. Dizer que o "o estado modifica milhões de contratos sem consentimento das partes" é verdade - mas sê-lo-ia em qualquer caso. De resto, as pessoas são livres de não "acatar" isso, e viver no seu horário preferido.

Apenas têm que ter em conta os outros. Mas isso é natural em sociedade. No limite, esta poderá insurgir-se contra tal "tirania" e viver no fuso que gosta. Só terá que ter em conta os horários "reais" das repartições públicas e dos telejornais. Dizer que esta prática é equivalente à desvalorização da moeda parece-me uma má analogia. Confundir efeitos reais com nominais não é honesto.

Ollie & Stanley

Graçola demasiado fácil sobre as presidenciais. [Não compro.]

Certezas dúbias

«Every human female has a beautiful body. The brilliant end point of millions of years of evolution loaded with amazing adjustments and subtle refinements, it is the most remarkable organism on the planet

[MORRIS, D. The Naked Woman: A Study of the Female Body]

Bla, bla, bla, politicamente correcto e marketing a quanto obrigas. Também há quem ache estas palavras pateticamente optimistas. Aliás, se fossem de levar a sério, o conceito de «belo» deixava de existir, uma vez que seria perfeitamente relativo. Uma coisa é certa: a evolução do Homem faz com que cada indivíduo se vá adaptando - geneticamente falando, ao longo de milhares de gerações - ao seu meio ambiente, de modo a "maximizar" a sua "Darwinian fitness". E isso inclui, claro, adaptar-se aos padrões de beleza que @ parceir@ tem, condicionantes fulcrais para a reprodução acontecer e os genes continuarem o seu caminho.

Isto implica que hajam inúmeros "subtis refinamentos" e "ajustamentos extraordinários". Nas mulheres, há sempre quem esteja militantemente à espera de ver publicada esta ou aquela fotografia, para poder elogiar a arte das formas "generosas" e do "bem-estar consigo próprio", resistindo às pressões sociais.
[Que interferem na evolução, mas ok.] Nos homens, também haverá certamente quem vá a correr comprar um livro destes, de elogio fácil, para exibir uma masculinidade bacoca ou porventura surpreender a parceira. Gostos não se discutem. Ou melhor, não se impõe. Tudo é discutível. Mas cuidado com os excessos dos politicamente correctos. Por mim, continuo a preferir coisas como esta, esta, ou esta. Sem poeiras proto-feministas a pairar no ar.

A arte e a beleza não se explicam: apreciam-se.

«Toda a arte é expressão de qualquer fenómeno psíquico.
(...) Não há para a arte critério exterior. O fim da arte não é ser compreensível, porque a arte não é a propaganda política ou imoral.» [Fernando Pessoa]

«There are two ways to dislike art... One is to dislike it. The
other is to like it rationally.» [Oscar Wilde]

Rejubilem

Qual destas profissões não tem limite oficial de idade?

1. Professor universitário
2. Presidente da República
3. Juíz desembargador

Agora ponderem: 1) a necessidade de lucidez para cada um dos cargos; 2) o impacto que cada um dos cargos pode ter sobre o seu «público-alvo». E digam lá de vossa justiça. Não posso estar senão de acordo com a Helena Matos, porque também me custa compreender que tanta imprensa olhe para a declaração «Fisicamente tenho boas artérias, tenho a próstata em bom estado e não tenho diabetes, portanto, tenho uma vida normal» como um acto de humor. Só me resta acreditar que houve aqui uma questão de contágio. Do dito «humor», claro.

30 outubro 2005

In praise of workaholism

«A inspiração não depende de mim. A única coisa que posso fazer é ter o cuidado de que ela me encontre a trabalhar.» [Picasso]

Agnosticismo

Caro Henrique Raposo, em relação a este tema lembro isto.

Memória

Bem sei que a idade às vezes até perdoa, mas temos processo disciplinar em curso para as violações da lei eleitoral ou não?

Coming out

Fontes próximas de ACS incentivam-no a assumir em público essa sua outra faceta - «político profissional». A mulher não comenta.

Polémica do dia

Berlusconi em declarações à imprensa italiana:

«La guerra in Iraq non la volevo. Ho tentato di convincere Bush. Con Gheddafi cercate altre vie per evitare l'attacco militare».

Leitura recomendada

Artigo de JPP na Sábado, endossado a partir daqui.

Uma questão de «direitos»

Soares irrita-se com Cavaco por este dizer que não é um político profissional, recordando que ele foi 1º ministro durante 10 anos, e terminando - em berros apoteóticos - com a pérola invejosa:

«Então porque tem direito à reforma de antigo primeiro-ministro

Incrível, esta deliciosa sugestão que Cavaco deveria renunciar à reforma por não se assumir como político profissional. É a visão
Robin-Woodesca desta esquerda. Soares não percebe que Cavaco sempre foi um professor, e as incursões que fez na política foram "excepções" a isso. O facto de elas terem sido prolongadas e exercidas em cargos de destaque não retira a "natureza-base" do homem, que sempre teve uma posição de auto-suficiência assente fora da política, ao contrário de Soares ou Santana, por exemplo.

De qualquer modo, ambos têm direito a interpretar a expressão «político profissional» com alguma subjectividade. O que é estranho é que Soares não perceba que esta forma de luta constante anti-Cavaco, com insultos e berros infantis, só o prejudica. Oxalá continue assim. Mas claro que isso não tem nada a ver com a lucidez dos seus oitentinhas - ai de quem refira a PDI! Deve ser mesmo das cócegas feitas pelos seus bichos carpinteiros.

PS1: o DN escolhe para título, em lugar de parafrasear Soares, o mais suave «Se não é político profissional porque recebe a reforma?» Não sei se estamos perante mais outro desvio editorialista, mas a palavra «direito» é essencial. E omitida.

PS2: a bem da verdade, acabo de verificar que o Público também opta por um título "ligeiro": «Soares diz que Cavaco é um político profissional». Não se percebe tanto temor, ainda para mais quando a salva de palmas maior aconteceu no momento invejoso. Deve ser o efeito das queixinhas de Soares aos media por estes andarem a "levar ao colo" o (então ainda não) candidato da direita.

29 outubro 2005

Quase-encontros de 3º grau

Pois é, caro Adolfo, a ver se um dia diminuímos esses 3 parcos graus à volta de muitos mais, exponencialmente liquefeitos, não?

O maior de sempre?

Mesmo discordando do conteúdo, mesmo desconhecendo o autor, merece algum destaque este longo comentário a favor de Soares.

Felicidade relativa?

Num país tão amigo da inveja, esta situação tem que ser familiar.

Tirado do baú

Em relação a isso, caro AAA, recordo a lucidez de Pedro Lomba:

«A hipótese de Cavaco acabar Presidente da República ressuscitou agora alguns argumentos da direita anticavaquista. E com outra ênfase Cavaco não só não é de direita, como a sua eleição representa um obstáculo à recriação da direita, sobretudo à afirmação de uma direita liberal. Devo esclarecer que aprecio as primícias desta direita e as pessoas que a compõem. Mas discordo que, além de ignorar o que Cavaco eleitoralmente representa, a direita anticavaquista o defina como um político antiliberal. Exemplo: quem começou as privatizações, a abertura ao investimento estrangeiro, a revisão da constituição económica? É certo que Cavaco não reformou nem diminuiu o Estado, uma óbvia necessidade. Mas, se a direita anticavaquista quer a abolição pura e simples do Estado-Providência não é em Portugal que vai ganhar eleições. Afinal, de que liberalismo estamos a falar?»

Shame

«O BASTONÁRIO da Ordem dos Economistas, Murteira Nabo,
quer ter 20 mil associados até 2007, mais oito mil que os actuais. Presente no I Congresso dos Economistas, que termina hoje no Porto, Murteira Nabo salientou a importância de alterar os estatutos da Ordem para se universalizar a exigência da inscrição na entidade para a prática da profissão.» [Expresso]

Economista «à paisana»

Boa descoberta feita aqui, pela mão de João Aldeia. No blogue de Tom Harford, um economista que habilmente explica como se pode olhar para qualquer questão dum ponto de vista económico, não percam a coluna de resposta aos leitores «Dear Economist» e também os outros escritos.

A economia é uma metodologia. Tem uma forma própria de olhar para o mundo. Não é suficiente para o compreender, mas, desde que o engenho do analista o permita, pode ajudar a compreender qualquer aspecto da realidade que nos rodeia.

«Undercover economist» é o título do livro que este economista formado em Oxford acabou de lançar. Boas leituras.

Antevisão

Será que Jerónimo de Sousa se vai engripar para o debate presidencial? [Uma desgraça nunca vem só, lembremo-nos].

Dilemas de um blogger liberal

Será aceitável impor aos estimados leitores que percam cinco segundos por comentário a escrever a "word confirmation" com o propósito de evitar o SPAM? Ou deve o blogger assumir o custo de 1) apagar ele o SPAM constantemente (my practise so far) ou
2) deixar o SPAM na caixa? Difícil decisão. Vou optar por pedir aos leitores que aceitem esse pequeno custo. Hope it's fair enough.

PS: Obrigado ao Bruno Gonçalves pela dica! E, já agora, para os mais aversos às tecnologias (sim, estou a pensar em ti), basta optar, no profile dos "comments", pelo "yes" à "word confirmation".

Conversa de comunista

«Dizia o meu amigo, e com montanhas de razão, que não há memória de haver tanto economista no poder na Europa em geral e em cada país em particular mas não há um que sugira como aumentar a produção. Querem século XIX, com mão de obra barata (ai! Os sindicatos!) e custos sociais nulos (ai! Os "direitos adquiridos"!... - o que dá lucro

Leram bem? O escriba critica os economistas que não sugerem (provavelmente porque não querem, mais do que não conseguem) aumentar a produção. Eu levaria estes economistas à bruxa, aos búzios, e em última análise à Grande Coreia, para ver como se "aumenta a produção". É impossível não haver um conluio entre os economistas para não revelar tal "segredo". A história do descalabro da Segurança Social não tem sentido nem importância para o especialista Ruben de Carvalho, porque o problema está nos economistas não sugerirem como aumentar a produção!

E enquanto eles continuarem com este amuo classista, opressor, enfim, inaceitavelmente capitalista, a boa gente comunista vai-se opor a qualquer reforma que vise proteger as gerações futuras. Nem que seja só para os castigar. Esses economistas dum raio.

Adivinha

Que candidato presidencial terá proferido esta declaração?

«Refiro-me especialmente à construção de uma sociedade mais justa e solidária e ao reforço da coesão social; à melhoria da qualidade da nossa democracia; ao regresso do País ao caminho de aproximação aos níveis de desenvolvimento médio da União Europeia e de Espanha; à recuperação dos nossos atrasos em matéria de qualificação dos recursos humanos, à melhoria da organização do território e da qualidade ambiental e ao desenvolvimento cultural; e a um Portugal protagonista activo e credível na cena internacional.»

Uma pista: o grande candidato Vieira não foi. Mas tirando esse, qualquer um subscreveria estas palavras. Pessimismo? Nada disso. Melhor irmos por exclusão de partes. Jerónimo não foi certamente porque não se referem as "classes trabalhadoras". Louçã também não terá sido - falta a palavra "mudança". Alegre? Esse não esqueceria a "tradição de Abril". Logo, restam apenas Soares e Cavaco. Qual deles será o autor? Pelo tom sensivelmente mais "economicista" que "humanista" só pode ser Cavaco. Claro.

Isto tudo para quê? Para lembrar que infelizmente a palavra «liberal» ainda está completamente arredada do debate político nacional de "alto nível". Expuragada: porque conspurcada.
No candidato mais à direita não vemos uma menção sobre "responsabilidade individual", "menos Estado", "mais iniciativa".

Cavaco dixit (1)

«O reforço da qualidade da democracia requer também uma atenção especial à reforma da Administração Pública, no sentido da aproximação aos cidadãos, da desburocratização, da transparência e da eficiência na prestação dos serviços públicos. Os servidores do Estado devem para isso ser motivados e responsabilizados, ao mesmo tempo que é preservada a dignidade do serviço público.»

A reter: as palavras a bold, indiciando a postura meritocrática que reconhecemos em Cavaco. E, também, a expressão «servidores do Estado», a lembrar a inglesa «civil servants». Bem mais suave que «funcionários públicos», que nos leva imediatamente ao imaginário concretizado da preguiça e das manifestações recorrentes. Eu até propunha que se varresse tal expressão. De resto, se eles nem funcionam lá muito bem, porque não mudar para "servidores"?
Para não dizer "sorvedouros", mas isso seria piadinha fácil.

Cavaco dixit (2)

«Não podemos resignar-nos a um crescimento medíocre da economia e a assistir ao aumento do desemprego e ao empobrecimento relativo do nosso País. Eu não me resigno

A assinalar: a única expressão a bold no documento inteiro. E um erro gramatical por furor patrioteiro. [Como disse?] Deveria ser «país» e não «País», porque lhe antecede «o nosso». Details.

Cavaco dixit (3)

«Precisamos de determinação e de uma vontade colectiva firme para enfrentar os nossos competidores e afirmar a confiança nas nossas capacidades.»

Confesso que os plurais «nossos» e «nossas» me arrepiam um pouco. Com a quase Rousseauiana «vontade colectiva» até tremo.

Cavaco dixit (4)

«Emprenhar-me-ei no estímulo ao empreendorismo e à criatividade dos agentes económicos e sociais, (...) visando o aumento da produtividade e a alteração da estrutura de produção, no sentido de maior valor acrescentado e maior conteúdo tecnológico. Às autoridades cabe criar um ambiente favorável à actuação das empresas, estimular os empresários e gestores a assumirem-se como verdadeiros agentes de mudança e inovação, incentivá-los a investirem em I&D e a introduzirem as tecnologias de infromação nos processos produtivos.»

Destes bolds, gosto. Quanto à conversa demasiadamente fácil do «maior conteúdo tecnológico», relembro este artigo de Luís Cabral.

Cavaco dixit (5)

«Quero um País em que a igualdade de oportunidades seja uma realidade efectiva, em que a carência de recursos não impeça os jovens de alcançar um nível elevado de educação.

Quero um País em que seja garantida a equidade no acesso aos cuidados de saúde, a prontidão no atendimento humano, a cobertura atenta de toda a população, mas também a gestão rigorosa das unidades de saúde, de modo a evitar o desperdício de recursos.

Quero um País em que o sistema de segurança social seja financeiramente sustentável e assegure a todos, no presente e no futuro, um nível de vida digno perante os riscos de desemprego, doença, invalidez e velhice.

Quero um País que não se conforme com a existência de bolsas de pobreza e exclusão social e promova o combate efectivo à toxicodependência e ao alcoolismo. Não me conformo com a percentegaem relativamente elevada de portugueses que não dispõe de rendimentos para poderem usufruir de condições de vida com o mínimo de dignidade.

Quero um País que, na actual situação em que recebe trabalhadores estrangeiros, preserve o seu tradicional repúdio pelo racismo e xenofobia

Cavaco social-democrata no seu melhor. Discurso que, mais coisa menos coisa, subscrevo. Na orientação, ainda que não na extensão exacta das implicações, que de resto ele não concretiza (o que é natural neste tipo de discursos).

Cavaco dixit - executive summary

Da leitura do (demasiado) extenso documento de apresentação da sua candidatura, sobressaem algumas coisas: 1) o excesso de temas, quase a roçar um programa de governo - em bom "consultadorês": algum desenfoque; 2) a matriz social-democrata, com preocupações sociais consideráveis; 3) a inclinação liberal e meritocrática, de promover e valorizar a iniciativa privada;
4) resultante das duas anteriores, a sua postura "moderadamente" liberal; 5) a atenção dada às reformas necessárias no estado.

Globalmente, nota-se a vontade de ser presidente, num discurso que é muito politicamente correcto (nada de novo, nada de mais). A moderação de Cavaco, a juntar a uma consciência de que há coisas que têm de mudar, seria suficiente para tê-lo como escolha certa. A bagagem que ele leva como primeiro-ministro é um valor acrescentado não dispiciendo. No cômputo global, e não ignorando as diferenças de postura aqui e acolá, Cavaco é a escolha certa. Sem primarismos. Mas assumidamente.

Louçã, o transgressor-burguês assumido

«FRANCISCO Louçã reconhece, em entrevista a Margarida Marante, que já consumiu drogas leves, tendo fumado «cannabis», que considera menos nocivo do que o tabaco. O líder do BE assume ainda, na entrevista que irá hoje para o ar na TSF às 11h, que gosta de comer e beber bem e que já conduziu em excesso de velocidade.» [Expresso]

Simplificação (3)

Proposta do Miguel Madeira feita aqui: «A Esquerda considera que a propriedade limita a liberdade, enquanto a Direita considera que o respeito pela propriedade é condição necessária para que haja alguma liberdade». Que ainda recomenda este, este, e este links.

Proibido a meninas impressionáveis

Vejam Rodrigo Moita de Deus no seu melhor. No seu melhor, que é como quem diz "até bater novo máximo". Imparável, este homem.

Bancarrota

Com uma racha bem ao meio, esta palavrinha dá nisto.

28 outubro 2005

«Lisboa antes do terramoto»

É o tema da conferência a realizar próxima Segunda-feira, 31 de Outubro, às 21h30, no Salão Nobre do Palácio da Independência (ao Rossio - Portas de Santo Antão), dada pelo Pedro Picoito.

Estado: anafado

«O facto é chocante e dá que pensar. Portugal tem mais 250 mil funcionários do que a Inglaterra apesar de ter cinco vezes menos habitantes.» Mais que "de Sócrates", é o calcanhar de Portugal.

Cenarização

Imaginemos a situação (cada vez mais provável) de Manuel Alegre ultrapassar Soares e eventualmente ser necessária uma segunda volta (pouco provável). Será que o então (auto) designado «acto poético» se transformará em pose que assuma a possibilidade real de ser presidente? É que uma coisa é fazer uma candidatura de protesto. Outra é ter a (des)agradável surpresa de ver que afinal os poucos que queriam protestar cresceram desmesuradamente. Quem resolve o paradoxo?

«O super»

Isto está a ficar patético ou divertido, dependendo da perspectiva ser cínica ou bondosa. Refiro-me aos blogues, os bloges «jovens» de dois candidatos à Presidência da República, Mário Soares e Cavaco Silva. Já existia o Super-Mário, uma reedição para o século XXI e os novos tempos do famoso e eficacíssimo Soares é Fixe, e parece que vai passar a existir o Super-Cavaco, uma edição nova em folha.

Homenagem

Todos teremos algum primarismo. Eu [só] tenho este.

Sobre a coragem

Julgo que a Charlotte está redondamente enganada. Antes de mais, importa dizer que não ganhamos nada em não (conseguir) separar o conteúdo da forma de qualquer argumento.
Devemos apreciar o conteúdo em si mas também a forma envolvente. Na filosofia, a estética tem apenas um lugar acessório. Na arte, a ética não se deve intrometer.

Acontece que a coragem é algo que *antecede* qualquer destas duas considerações, porque só com ela é que um argumento ou uma obra de arte tem existência real - quando são partilhados no "espaço público". O que dá à coragem uma primazia sobre o conteúdo e a forma do que é partilhado. Mais, sendo a coragem um pré-requisito, ela tem que ser apreciada por si só. O resto deve ser analisado em separado. A apreciação global deve ter em conta tudo. Mas há que avaliar as coisas individualmente.
Os simplismos são sempre muito perigosos - e batoteiros.

E ter coragem para discordar nao é só louvável mas é-o tanto mais quanto maiores forem as barbaridades que se digam, dado o (incremento no) "custo social" que a (acrescida) rejeição acarreta. Sinto uma leve dor de estômago em defender tão rasgadamente o valor da coragem porque me vêm à memória os elogios que à sua conta alguns faziam ao diabrete do Santana Lopes. Mas tenho que aceitar esse efeito colateral e dizer o que penso. Por uma questão de integridade. Com quanta coragem tiver.

PS: Para apimentar a discussão, ainda tiro isto do baú.

Ser português é...

Vejam uma resposta bem fiel à realidade aqui.

Leituras do dia

Sobre a descriminalização/regulamentação da prostituição, vejam este artigo duma tipa que os tivesse, tê-los-ia bem no sítio.
E os posts do Manuel Pinheiro e do António Amaral.

Simplificando (2)

A direita privilegia a liberdade negativa ("liberty from") enquanto a esquerda privilegia a liberdade positiva ("liberty to"). De um lado a "não interferência" na esfera individual, do outro o desejo que todos tenham alguma "capacidade para", mesmo que isso obrigue a interferir na vida (ou, mais exactamente, na "propriedade") dos outros. [Dedicado ao Miguel Madeira, em seguimento disto].

«Small world, eih?»

Foi o que uma amiga minha me "SMSou" depois de ter o prazer de conhecer o Adolfo Mesquita Nunes, e descobrir que ambos nos "conhecíamos". Se o mundo em si já é pequeno, o cantinho dos bloggers melómanos liberais quase cabe numa mão fechada.

Coitados dos ratos de porão

Quer os da saudosa banda rock, quer os de estimação. Não há direito de os comparares assim a essa outra estirpe, minha cara.

Personality-wise

Só tenho dois tipos de alunos: os que se dirigem por email com um "seguro" «Dear Mr Mendes» e os que optam pelo "arriscado"
«Hi Tiago». Maior retorno, maior risco. A matter of attitude.

27 outubro 2005

Escola Nova?

Minha cara: tens todo o meu apoio para essa tua ideia. Uma nova pedagogia, um novo método, para uma ginástica mental mais rica - era isso que eu gostaria de ver surgir um dia. E exercícios como este seriam de facto bem vindos. Para estimular o pensamento em abstracto, mais "fora-da-caixa". No fundo, aumentar a "caixa", perceber como ela foi montada, e compreender o que existe para lá dela. Ideias para um projecto destes tenho muitas. Que me dizes a um dia escrevermos juntos um manual sobre isto? Boa?

Simplificando

A direita pretende maximizar a liberdade, sujeita a eventuais restrições de equidade. A esquerda pretende maximizar a equidade, sujeita a eventuais restrições de liberdade.

É uma questão de pontos de vista, ou de pontos de partida. Duas pessoas podem chegar a compromissos parecidos ainda que o seu percurso se tenha iniciado em extremos opostos. Mas são a origem e a consequente direcção desse caminho que contam para a descrição da "postura" ou "posicionamento" dum indivíduo.

Qual é a preocupação primordial: liberdade ou equidade? É nessa prioritização que se joga toda a diferença. Simplificando, claro.

Imperdível

A entrevista que Cavaco Silva concedeu a Vasco Pulido Valente em 1991, na revista Kapa. Endossando a recomendação do insurgente HFerreira, por sugestão do leitor Rui do Carmo.

Sobre a questão do aborto

Não me apetecia falar muito, mas acabei por fazê-lo, incentivado pelos interessantes comentários do João Mendes a este post do Pedro Picoito. O argumento para mim é simples:

(Premissa) 1: O direito à vida prevalece sobre o direito da mulher ao seu corpo e autodeterminação;

(Premissa) 2: Não há consenso sobre o estatuto do feto;

(Conclusão) 3: Deve haver uma abertura no sentido do direito da mulher prevalecer sobre algo que não é consensualmente tido como uma violação do direito à vida.

A premissa 1 parece-me *indiscutível* tal como está formulada.

Argumentos que *justificam* a premissa 2:

2.1 Directo: discordância nos meios científicos sobre a "definição" de vida humana e o momento em que ela começa.
O momento "exacto" não interessa muito - não é isso que invalida o argumento. O que interessa é saber se em determinada fase o embrião ou feto pode ser considerado como tendo a qualidade de "pessoa humana" ou não.

2.2 Indirecto: o facto de o aborto ser possível em quase todos os países civilizados. Isto parece contrariar a ideia de que haverá uma "barbárie" generalizada em curso. Ou seja, de assumir que um feto não é, pelo menos até certa data, eligível como "pessoa humana", é uma coisa aceitável.

Argumento que (paralelamente) *reforça* a conclusão:

3. O facto de o aborto ser permitido, não obriga ninguém a fazê-lo, nem sequer o pessoal médico.
Cada um continua a ter direito a exercer a sua moral na sua esfera privada, na boa tradição de Stuart Mill.

Argumento *demagógico* usado por quem é contra:

4. Que há muitas pessoas disponíveis para adoptar e cuidar das crianças abandonadas.
Isto é quase insultuoso para um liberal. O que se trata é de ter ou não um direito a fazer algo, e isso não depende das consequências serem mais ou menos amortecidas.

Argumento *inaceitável* usado por quem é contra:

5. Que a pessoa tem que ser responsabilizada ("castigada") por não pensar nas consequências dos seus actos.
Este argumento, por vezes utilizado por algumas pessoas (geralmente mais católicas), lembra os "castigos", "sacrifícios", e "punições", que os devotos conheciam a seguir às prevariações em tempos passados. Mas é assim: a pessoa - pelo menos para um liberal - deve ter sempre capacidade de escolha. E com ela (e só por causa dela) vem a responsabilização. Mas a responsabilização não é imposta externamente: a isso chama-se paternalismo. A pessoa pode errar e tem que aceitar isso, mas ainda assim continua a ter possibilidade de escolha. Não há nenhuma inevitabilidade "kármica" em ter que aceitar determinado destino.

Argumento (inaceitavelmente) *ignorado* por quem é a favor:

6. Que o direito à vida é a questão essencial em cima da mesa.
Ignorar - parece que nem sequer lhes passa isso ela cabeça! - que há uma questão fulcral que tem a ver com o direito à vida, que não tendo uma resposta consensual tem que ser seriamente ponderada, dado que o direito à vida é o valor supremo, parece-me desprezível.

Argumento *demagógico* usado por quem é a favor:

7. Que tudo se resume a uma luta de classes e à opressão das classes mais pobres.
Este argumento é redutor e enganador. É a cantiga do costume sobre uma certa interpretação histórica que não vingou.

Argumento *ignorado* por quem é contra:

8. Que em termos de "resultados", e dado o panorama internacional de permissão do aborto, o que acontece culmina uma discriminação em termos da capacidade financeira de cada um. Simplesmente, quem tem dinheiro vai a Espanha.

Daí, que eu tenha proposto ao Pedro uma reflexão que pode parecer algo provocadora mas não é: o «cheque-aborto»: mantemos o aborto proibido em Portugal mas damos uma cheque a quem o queira fazer. Assim, todos ficam igualmente capazes de transgredir a "boa moral" dos portugueses e irem rumar a Espanha ou a Inglaterra para fazer o dito. Seria um custo menor do que legalizar o aborto cá. Manteria as consciências tranquilas por a "letra da lei" ser consonante com a "civilização" (para o Pedro, o resto do mundo devem ser só bárbaros). E, finalmente, estaria tranquila também pela justiça de proporcionar iguais meios às classes mais pobres.

«Cheque-aborto», sim ou não? Mecanismo eficiente: é.
Equitativo: também. E ainda consegue manter a "fachada" da boa moral à portuguesa. Ou seja: melhor é impossível.

26 outubro 2005

Desafios liberais (republished)

Há tempos desafiei os leitores a fazerem um "though experiment" onde tentei disfarçar o mais que pude um problema crucial que tem a ver com os direitos e liberdades dos indivíduos. Mais concretamente, com o direito à vida e o direito à propriedade, em que o primeiro envolve uma "ameaça" que pode ou não concretizar-se - o que nos faz entrar no terreno escorregadio das probabilidades e da incerteza (lembrem-se que conduzir ou mesmo andar na rua implicam uma aceitação dum custo infinito com determinada probabilidade não nula face a um dado benefício). Há também que ter em conta a concepção de justiça a aplicar num estado de direito. A complexidade da questão tem a ver com o facto de qualquer das respostas implicar uma violação de algum direito que é tido como básico.

Volto a convidar o leitor a reflectir nesta questão, e realço que o grau de realismo do caso proposto não só é irrelevante, como até é bom que o caso pareça realmente "estúpido". Porque essa é a vantagem de qualquer "thought experiment": tentar levar a pessoa a abstrair-se de determinadas condicionantes e preconceitos, incentivando-o a pensar "fora da caixa" e a usar a intuição, mais que a tomar posições que ele tenha como consistentes com determinada visão da sociedade que ele defende (ou julga defender).

O caso reza assim (recomendo que leiam os comentários):

Imaginemos a seguinte situação. Um indivíduo, na plenitude das suas faculdades mentais, apresenta-se numa esquadra da polícia e comunica às autoridades que gostaria de passar X anos numa prisão, indicando estar disposto - caso tal pedido seja negado - a cometer um crime pelo qual receberá o desejado período de encarceramento.

Que resposta deverá o Estado dar a este caso?



1) Encarcerar um indivíduo que não cometeu um crime mas que tal pediu livre e conscientemente?


2) Negar cabalmente o seu pedido?

Lendas e lenga-lengas

Afinal o "delgadês" não passará duma variante menor do "greenspanês". Em mais uma deliciosa crónica, Luís Delgado assume a sua adoração pelo discurso de Alan Greenspan, por ser «tão simples como isto "A economia está forte, mas a inflação exige medidas, e o Katrina vai ter impacto." Ou seja, dizia tudo e nada, e nunca ninguém percebia o próximo passo do mais peculiar, bizarro, brilhante e decidido presidente do FED. Uma lenda

24 outubro 2005

"A arma do pobre é o Liberalismo"

Leitura recomendada, que endosso a partir daqui.

"Sobre Cavaco"

Não nego o carácter estatista de Cavaco Silva. Sei que é responsável pela aberração que é o sistema de remunerações da função pública. Sei do seu apreço por esse mito que é o "investimento público". Mas conheço também as suas declarações em que afirmou que esse modelo era já insustentável. E acima de tudo, reconheço o papel liberalizador que teve na sociedade portuguesa. Dirão que qualquer um o faria. Que a entrada na então CEE tornaria tudo inevitável. Talvez. Mas o que é verdade é que nessa altura, o PS rejeitava ainda a revisão da Constituição, no sentido de anular a "irreversibilidade das nacionalizações". Não é portanto líquido que qualquer tomasse as mesmas opções que Cavaco tomou. E mesmo que fosse, isso não retira o mérito de quem, efectivamente, promoveu essas mudanças.

Cavaco tem consciência que o país precisa de menos Estado. Poderá querer mais Estado do que eu gostaria, mas quer menos do que aquilo que existe. Tem consciência da absoluta necessidade de levar a cabo uma série de profundas reformas. Mais. Tem consciência das tremendas dificuldades que, em democracia, qualquer Governo terá em as levar a cabo. Tem consciência que a crescente desconfiança dos eleitores relativamente à classe política ainda as dificulta mais. Tem consciência que a imagem positiva que hoje em dia uma grande parte do eleitorado tem do seu passado lhe garante a credibilidade que o eleitorado não reconhecerá a muitos mais. Uma imagem que lhe garante as condições, que eventualmente mais ninguém terá, para falar em dificuldades, sem provocar desconfiança e ressentimento.

(...) Cavaco é, dos vários candidatos, o único que percebe a necessidade dessas reformas. Mário Soares, se tivermos em conta o precedente do seu segundo mandato, aliado ao seu percurso recente, tudo fará para se intrometer em tudo, com a sua agenda de Porto Alegre, a "defesa da utopia", e o "verdadeiro socialismo" (o "verdadeiro PS" que ele acha ter sido afastado por Sócrates). Alegre não é muito diferente. E os outros quererão mais Estado. Só Estado. Cavaco quer menos. E tem a credibilidade que permitirá ajudar a promover essas reformas.

(...) O que poderá então Cavaco fazer? O que nenhum outro candidato fará. Viabilizar as medidas positivas que o Governo pretenda fazer avançar. Bloquear os eventuais despesismos, e rejeitar as nomeações duvidosas. E ajudar a estabilizar o sistema político. Mesmo que eu ache que ele deveria ser mudado, isso não implica que eu deseje o descalabro do dito. Não desejo. O que Cavaco não poderá fazer, será instalar um paraíso liberal em Portugal. Aliás, aqueles que dizem que ele o deveria fazer não desejam que ele o faça. Desejam, isso sim, criar-lhe problemas. Não o pode fazer, porque tal não depende única e exclusivamente da sua vontade. Tal dependeria de um Governo que pensasse da mesma forma. Isto leva-nos a outra questão. Para mudar Portugal, um presidente como Cavaco será uma ajuda. Mas um Governo diferente do de José Sócrates ajudaria muito mais.


Repescado daqui.

Leitura do dia

Sobre as origens e a necessidade de reforma do modelo social europeu, ver este artigo de João Marques de Almeida no DE.

23 outubro 2005

A woman for all seasons...


Kristin Scott Thomas Posted by Picasa


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22 outubro 2005

O pássaro na mão

«NESTE clima de tragédia à esquerda, Cavaco surge como o único candidato que não se apresenta contra ninguém. Que se apresenta por si. E que, na sua área, não é combatido por ninguém. Enquanto Jerónimo e Louçã se esgatanham pela liderança da extrema-esquerda. Enquanto Soares e Alegre travam uma luta fratricida. Cavaco aparece como um candidato não envolvido em polémicas, sozinho no seu campo, não preocupado com os outros mas centrado no país. E a verdade é que, historicamente, tem sido esse o seu lugar. Enquanto Soares e Alegre foram sempre, sobretudo, «homens da oposição», Cavaco foi uma personagem do poder. Entrou na política directamente para o Governo, como ministro das Finanças de Sá Carneiro. Poucos meses depois de ganhar a liderança do PSD tornou-se primeiro-ministro. E quando saiu de primeiro-ministro abandonou a política activa.

DADA a forma como as várias candidaturas surgiram. Dada a luta que se trava na esquerda e a confusão que se verifica nessa área. Dado o facto de Cavaco Silva aparecer nestas eleições como a referência mais forte - é em relação à sua candidatura que todas as outras se situam -, prevejo que Cavaco seja eleito Presidente da República à primeira volta. Cavaco tem o pássaro na mão. É preciso cometer muitos erros daqui até Janeiro para o deixar fugir.»

Excerto da crónica de José António Saraiva, no Expresso de hoje.

Medina Carreira ao Expresso

"Sou amigo de Mário Soares, mas neste momento o país não se compadece com amizades ou cumplicidades de cor política. Com Cavaco Silva não era possível aquela tirada tola de Jorge Sampaio de que há vida para além do défice. Não ajudou o Governo nem ajudou o país. Não pode haver razões de cor. Tenho pena de ver Mário Soares nisto, porque ou ele perde e vai ter um desgosto imenso ou ele ganha e vamos nós ter um desgosto."

Exactamente. É que com qualquer dos candidatos da esquerda a cantilena contra a "obsessão" do défice, o "imperialismo" americano e a "injustiça" da globalização vai continuar, de forma alegremente irresponsável. À esquerda, são tudo candidatos "fora do tempo", a sonhar com um passado glorioso que nunca existiu - como muito bem nos lembra Henrique Raposo neste excelente ensaio.

Por isso é que Cavaco, seja na óptica do copo meio cheio ou do copo meio vazio, é o único candidato possível de "tragar".

Prostituição - que enquadramento legal?

Vamos lá ver se dentro das «entidades com palavra relevante na compreensão destes problemas» se incluem as prostitutas, das mais variadas classes (ou preços), sem medos nem preconceitos. Sobre isto, já escrevi antes.

Leituras sugeridas

Sobre o que é "ser esquerdista", por Rodrigo Adão da Fonseca, e sobre alguns "sinais do vírus liberal", por Henrique Raposo.

21 outubro 2005

O factor crítico de maturidade

Sobre as presidenciais e o dilema de certa direita, escrevi isto.

Traduções do canto esquerdo

Da menina que tem levado o vovô Mário a passear pelos cinemas:

Anos e anos para apresentar uma candidatura.
Ponderação. Sem calculismos. Sem "atiranços-para-a-frente".
Sem ataques de soberba. Sem PDI's.

Meses de preparação de detalhes. Semanas de sound check, treino ao espelho e de feng shui da sala do faraónico CCB. Dor de cotovelo pela péssima estratégia de Soares (ehehe).

Para dizer o que todos sabíamos.
Resultado de: 1) Transparência; 2) Coerência; 3) Honestidade.

Projecto para o país? Nicles.
Pois, Joana... é um candidato à Presidência, não a 1º ministro!!

E a dúvida sobre a interpretação do papel do Presidente continua. Estão a ver o azedume por Cavaco não ter advogado, nem de perto nem de longe, o famigerado «golpe de estado»?

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
Nisto concordo! A esquerda anda muito mais «animada» que a direita, que é chata, consistente, e que parece só ter uma candidatura, ainda por cima que não está ligada à excitante feira dos partidos políticos! É mesmo uma chatice, ó Joana.

[Lembram-se de eu ter falado aqui da dor de cotovelo?]

20 outubro 2005

Grato

Por tanta referência simpática ao meu artigo de estreia no DE,
ao André, Luís, Manel, e Rodrigo. E à IDI. O tempo torna-se ainda mais escasso; a responsabilidade acrescida sabe muito bem.

A face mais negra da miséria

Pelo menos 20 mil jovens com idades entre os 10 e 18 anos são vendidos por ano no Etiópia a traficantes pelo preço de pouco mais de 1 euro cada (...). Num terço dos casos, a própria família está implicada neste tráfico. (...) O preço de uma jovem etíope vendida nos países árabes é de 800 euros.

19 outubro 2005

A teoria do (des)encontro

Sobre o resultado que é hoje (muito justamente) conhecido como "ponto de Schelling", dêem uma espreitadela ao que escrevi aqui.

PS: Finalmente terminou o "amuo" do servidor - obrigado pelo reminder, caro LA-C!

Leitura quase obrigatória

Cavaco Silva combina uma leitura muito estrita da Constituição com as suas concepções, de índole social-democrata e personalista, a sua experiência política e a sua formação especializada. Tem um conhecimento profundo, tanto dos grandes problemas nacionais e internacionais como das vias para a sua solução. E tudo isso é da maior utilidade, quer para o papel moderador do Presidente da República, quer para uma colaboração qualificada com os outros órgãos de soberania. (...)

A candidatura de Cavaco Silva é humanista no mais nobre sentido da palavra. Não é de esquerda nem de direita. Afirma-se no profundo respeito da eminente dignidade da pessoa. Uma das suas mais-valias está em ver a essa luz o mundo da experiência humana e os mecanismos do funcionamento da sociedade, assentes nos pilares da liberdade, da responsabilidade e da solidariedade.

A sua dimensão cultural conjuga os valores civilizacionais que nos caracterizam, uma filosofia temperada pela realidade e os imperativos de dignificação e credibilização da vida política e social do país.

«Castro dois, direitos humanos zero»

Teresa de Sousa no seu melhor. No Público e aqui como comment.

18 outubro 2005

A esquerda redentora

Cara Joana: como é possível escrever tanta coisa tão leviana?

1. Depois de citar números (que entristecem) sobre a pobreza, deixa a inevitável pérola militante: «embora se produza comida suficiente para alimentar todo o mundo.» Já leu alguma coisa de Amartya Sen, sobre as fomes, a pobreza, e as complexidades que existem em torno dessas questões? É que a comida não cai do céu, sabe. É produzida, distribuída, e consumida por pessoas "concretas". E essas pessoas concretas têm determinados incentivos, e respondem a eles em liberdade numa sociedade livre.

Não faz sentido usar o argumento que usou precisamente porque a "possibilidade" de haver comida para toda a gente não passa disso mesmo: uma possibilidade. Como torná-la real? Isso é bastante complicado - arriscaria mesmo que complicado demais para seduzir certa esquerda "soundbytiana", para quem o simples facto de "poder ser produzida suficiente comida" em conjunto com a constatação de que "fome", só pode levar à conclusão que são os homens da cartola os ignóbeis responsáveis por tal desgraça.

Das experiências que eliminaram o carácter livre das escolhas individuais "por um mundo melhor" lembramo-nos bem. A machachada final aconteceu há 16 anos. A Joana já era crescidinha, não? Deve certamente recordar-se. De qualquer modo, tenho que louvar a sua coerência, dado que o carácter absolutamente demagógico da sua "boca" é perfeitamente consonante com o partido onde milita.

2. Depois, diz: «Se à hora a que escrevo se desconhece ainda o Orçamento do Estado para 2006, este deveria incluir dois aspectos fundamentais no combate à pobreza. Um deles é a dignificação das pensões, assegurando a convergência real das pensões mínimas com o salário mínimo nacional, revertendo o subfinanciamento da Segurança Social. Para além disto, é estritamente necessário restabelecer os princípios de inclusão do rendimento social de inserção, particularmente alargando os seus critérios de atribuição.»

Sublinho os termos "dignificação" e "estritamente necessário". Para a Joana, há certamente almoços, jantares, e até pequeno-almoços grátis. É um forró. Falar do "custo" destas medidas? Falar nos "incentivos perversos" que elas geram (nomeadamente no rendimento de inserção social)? Falar na "justeza" destas medidas? No facto de discriminar aqueles que enquanto trabalhavam descontaram no passado - com custos óbvios - face aos que se deixaram andar na boa-vai-ela sem pensar no futuro porque o "paizinho" Estado lhes iria provavelmente dar uma pensão "digna"? E a injustiça dos que esforçam face a tantos que se deixam repousar à sombra do rendimento mínimo?

3. Finalmente, afirma que: «Todos os candidatos às Forças Armadas portuguesas são sujeitos a testes de despiste do HIV, hepatite B e C. A recusa implica exclusão liminar. Não há nenhuma razão médica para que uma pessoa portadora destes vírus não possa desempenhar as funções e muito menos está em causa o risco de terceiros. Não há nenhum interesse colectivo, nenhuma justificação de saúde pública. Trata-se, portanto, de uma medida discriminatória, inconstitucional e que carece de fundamento científico.»

Ah! Afinal os soldados só servem para ficar nos quartéis, não é?
Já pensou que (por acaso) os soldados (também) existem para defender o país e garantir o Estado de Direito? Bem sei que a malta lá no Bloco é anti-belicista. Mas até por isso, deviam ter bem presente as imagens de tanta guerra que ainda acontece por aí. É óbvio (é óbvio, repitam todos: «É óbvio!») que numa situação de combate, a possibilidade de haver trocas de fluídos sanguíneos (vamos esquecer os outros) é nula. Soldado que é soldado não se deixa ferir - quanto mais sangrar. Ou gangrenar.

Eu faço gala em criticar a "direita de barricada" porque acho que para gente pouco séria já chega a esquerda que temos. Uma direita que se prese tem que ser um pouco mais calma, ponderada, e até alheia a certos burburinhos desnecessários do dia-a-dia.
Da esquerda portuguesa não podemos esperar grandes novidades quanto ao debate (?) político. Mais que "barricada", ela está
(por vontade própria) totalmente entrincheirada. Sem munições. Disparando tiros para o ar. Não assumindo a quantidade de lama que nela repousa. E assim vai moribundando por aí, numa lenta, quezilenta, e pestilenta putrefacção.

Separador

A pedido de algumas famílias, aqui fica um post para dar descanso aqueles que me enviaram mails a expressar algum incómodo ou aborrecimento com as fotos da menina Kate publicadas pelo T.M. Espero que isso não tenha nada a ver com alguns kilinhos a mais. Até porque (dizem) a gordurinha está correlacionada com o humor.

E, para isto não ser um blogue só de afins, aqui ficam umas ideais sobre (o acto d') a escrita.

1. «Devemos escrever para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros». Eugène Ionesco

2. «Quando nos sentimos incapazes de escrever, é como se estivéssemos exilados de nós próprios.» Harold Pinter

3. «Procuram-se defeitos na vida do autor quando não se encontra nenhum nos seus escritos.» Johan Henrik Kellgren

4. «Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido.»
Jules Renard

5. «O pensamento voa e as palavras vão a pé. Eis todo o drama do escritor.» Julien Green

6. «Senti sempre que o estado de autor não era, não podia ser, ilustre e respeitável sendo uma profissão (...) Para ser possível, para se ter a ousadia de dizer grandes verdades, não se pode depender do êxito.» Rousseau

7. «Tudo quanto publiquei não passa de fragmentos de uma grande confissão.» Goethe

8. «Escrever é por em ordem as nossas obsessões.» Jean Grenier

9. «É o escrever que constitui verdadeiro prazer; ser-se lido é apenas superficial.» Virginia Woolf

10. «Os verdadeiros livros devem ser filhos não da luz do dia e da conversa, mas da obscuridade e do silêncio.» Proust

17 outubro 2005

Ah... I so much want you... You sexy bitch...


Kate Moss Posted by Picasa

What have you got to offer?


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Liked my fake fragile look, have you? You twat.


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Posh girl lying in open fields of opium


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The boredom hat


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No... you ain't seeing my hot-blooded cocained cut, Mr... Unless you have a really (...) to please me, of course...


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Maldita cocaína (1)

Há duas forças grandes que fazem girar o mundo. Uma é o «politicamente correcto» - PC. Outra é a «dor de cotovelo» - DDC. Em certa perspectiva, elas até estão relacionadas. O PC existe como forma de ultrapassar certa DDC - de não poder soltar a língua como (por exemplo) o VPV. [Note-se que é condição necessária para haver PC que haja consciência: por isso as «vituperices» da velhice aguda não contam].

O PC dita que a cocaína da Kate Moss é maldita. A DDC dita que ela é «magra», ou melhor - e mais fashion - que é «magrééérrima»
(que horror). Pois enganem-se: a menina de «magrérrima» não tem nada. As meninas é que são umas invejosas (consequentemente) relativistas. Ela é magra no sentido objectivo do termo, mas não pejorativo. Melhor falar em inglês, para a gente se entender: ela é «slim» (elegante) mas não «skinny» (escanzelada).

Em Inglaterra, uma loja de roupa para mulheres resolveu alterar a numeração dos tamanhos da roupa, aumentando a talha mas mantendo os números! Uma mudança de escala, no fundo. Mas as inglesas (pudera!) ficaram todas contentes, mesmo sabendo da marosca. So much for rational expectations! Elas afirmam, contentes, que ainda vestem um tamanho 16! Apesar de serem umas bolas enormes (e em expansão), mantém o mesmo número!

Uma das justificações avançadas por uma psicóloga (gordíssima, portanto com verdadeiros in-sights) é que apesar de elas saberem do «truque», os (supostos) namorados não toparão a marosca e elas então sentir-se-ão mais «confiantes» nos momentos íntimos. No fundo, a ilusão aumentaria a «auto-estima». Por este andar, bastará ajustar os números à medida kilogrâmica dos tempos.

Parece que se celebrou há dias o dia da saúde, ou da obesidade. Gosto da expressão "obesidade mórbida", talvez por me recordar o brilhante "Seven". Imagino aqueles gordos enormes a rebentarem pelas costuras assim que ouço a palavra "mórbida". Os gordos têm direito a ser gordos e, claro, têm direito à vida. Mas, caros, não esqueçamos a origem das coisas: quando o homem era apenas um («bom» ou «mau», escolha o leitor) selvagem, mero caçador e recolector, não havia cá dessas coisas. Os gordos vieram com a civilização e o famigerado "bem-estar". Muito bem. Nada de paternalismos. Mas nada de vitimizações também. Aguentem-se.

E, mais pó branco menos pó branco, viva a Kate Moss.

15 outubro 2005

163 mil

O número de «deficientes visuais» em Portugal. Dá que pensar.

Sampaio strikes again

«(...) isso seria um insulto ao Tribunal Constitucional, que eu não estou disponível para fazer.» A seguir ao tom que tem varrido certa direita (a propósito do Nobel da Literatura), também o chefe de Estado falou num tom que é muito adequado às suas funções, sobretudo depois de ter sugerido - em similar registo - que se estava "nas tintas" para a opinião do TC, e que fazia tal pedido apenas para que depois não o chateassem com histórias de (in)constucionalidades e coisas do género. Parece que uma pessoa já não pode acabar funções com dignidade - uma chatice, pá! Será que isto tudo é efeito do valente, bravio, marialva, discurso do Major Loureiro? E os visados deste furacão... quantos são???

O outro lado do espelho (Nobel da Literatura - «parte II»)

Estão a ver o Louçã, ou o Jerónimo, a bradir, por tudo e por nada, contra o Bush, o "grande capital", as multinacionais, os grandes "financeiros" - enfim, os "homens da cartola"? Estão, claro.
É a teoria da conspiração do lado da esquerda
. Agora virem o espelho, caros! Imaginem certos prémios Nobel (imagine-se a pouca vergonha!) atribuídos a comunistas e apoiantes de Fidel. Aqui há certamente conspiração! Entre os poderes ocultos da Internacional Comunista, da Internacional Socialista, da Maçonaria, dos lobbies ecologista, anti-racista, ou "gay", há sempre onde encontrar rifa com prémio. Estão a ver a coisa??

A ver se nos entendemos. Eu não digo que a Academia Sueca não seja vulnerável a certos efeitos de "pressão". Muito menos digo que Bush, certas multinacionais, a Maçonaria, ou a Internacional Socialista não tenham certas influências. Não é o "conteúdo" da coisa que me choca. O que me choca mesmo é o "tom". Em tudo igualzinho à esquerda marxista - quase "revanchista", a reivindicar justiça contra as influências subterrâneas das poderosas forças que contra ela conspiram. Por isso é que, ainda que não subscreva na íntegra, volto a lembrar o texto que referi aqui.
É que eu gostava de ver uma direita mais "independente", mais alheia a estes tiques de "barricada", extremismo, e análise pifa, tipo "toma lá dá cá": hoje conspiro eu, amanhã conspiras tu!

Eu compreendo muito bem que no Portugal de hoje (ainda) seja difícil "engolir" (já nem digo "digerir" nem muito menos "saborear") uma obra como "O Evangelho segundo Jesus Cristo". Aquilo é coisa intragável, venenosa. É iconoclastia a mais para quem viveu tantos séculos de abençoado apaziguamento. Mas será por total acaso que os prémios Nobel são atribuídos numa latitude bem superior à nossa? Isso não interessa. O prestígio da Suécia?
Da sua Academia Real das Ciências? Ignorem. Enquanto houver escritores malditos a receber prémios, tem de haver alguma coisa por detrás disso. Quando houver escritores de direita a ganhar, será para compensar os maus anos, ou por justiça, ou rigor estético. Nunca por "influência", que a direita só tem influência no mundo financeiro e não cultural (vai de recto, seu intelectual!), e só na óptica dos bloquistas. E o «Opus Dei» - claro!, esse não tem qualquer influência em nada mesmo: tem apenas "fins religiosos."
(«É! É!» - repete o coro em êxtase! «Ééééééé! Ahhhhhhh!»).

Estão a ver a coisa, ou não?? E partem o espelho? Partem???

14 outubro 2005

No comments

Ou como o SPAM pode limitar a liberdade de expressão.

Quizz

Quem será o autor desta frase:

«The best argument against democracy is a five-minute conversation with the average voter.»

1. Oscar Wilde
2. Harold Pinter
3. Nietzsche
4. Rousseau
5. Winston Churchill
6. Fernando Pessoa
7. "Anónimo" (escutando Valentim Loureiro, no passado domingo)

Nobel da Literatura

Sobre este Nobel não tenho muito a dizer. Nunca li nada de Harold Pinter, mas vi várias encenações suas nos "Artistas Unidos", já lá vão uns bons anos. Gostei de todas, algumas delas superlativamente. E certamente que o m´rrito não cabe apenas aos (excelentes) actores. Não compreendo lá muito bem as insurgencias baseadas no facto do homem ter posições políticas A ou B e as implicações para o prémio que lhe é atribuído. Não as conheço (demasiado mas) nem me interessa para avaliação da "obra". Sou capaz de "vomitar" quando vejo determinadas declarações de Saramago, e não é por isso que deixo de (poder) apreciar a sua obra (embora me faça alguma confusão que alguém que escreva tão bem seja - estilisticamente falando, i.e., independentemente do conteúdo - tão pobre na oralidade).

Já uma crítica "estética" me agradaria muito ler (ainda que não pudesse opinar sobre isso, por falta de evidência) - e não duvido que tal exista por aí, à esquerda e à direita. Isto não quer dizer que não ache que "possam" haver motivaçõees mais ou menos políticas por detrás deste Prémio Nobel. Quero crer que não são muito relevantes. Já no Nobel da Paz isso é (bastante) mais duvidoso. Mas parece-me demasiado fácil fazer a ligação entre o galardoado ter posição A ou B e isso influenciar a escolha da Academia Sueca. Voltamos à história da correlação vs causalidade, e das análises a posteriori. A apreciação da arte não pode - não deve - ter nada que ver com a ética (a não ser nesse imperativo de completa separação). O que me relembra este post que escrevi há tempos. É que, como dizia Oscar Wilde:
«There is no such thing as a moral or immoral book. Books are well written or badly written. That is all.»

12 outubro 2005

Post recomendado

Sobre mais uma pérola de Luís Delgado, recomendo este post.

Convite à leitura

Por vezes, quando ouço Bush ou os seus acólitos americanos a falarem, parece-me estar perante uma espécie de Bloco de Esquerda de Direita, se é que me percebem. São tão puros, tão virtuosos, tão cheios de certezas e de vontades de corrigir os males do mundo que nos assustam. Tal como os “papas” da esquerda intelectual queriam promover a “igualdade”, “a justiça”, “a solidariedade”, estes senhores da direita intelectual julgam que o Estado deve promover a “virtude cívica”, os “valores familiares”, a “religião”! O fanatismo é semelhante, a direcção é que é diferente. (...)

Na verdade, o velho credo de Reagan foi adulterado pelos neo-conservadores. Que os americanos, confundidos com o 11 de Setembro, se tenham deixado ir atrás, consigo compreender. Agora que europeus inteligentes do centro-direita apoiem entusiasticamente estes delírios, isso é uma pena.

11 outubro 2005

Aceitam-se sugestões

The Royal Swedish Academy of Sciences:

1. Academia Real Sueca das Ciências
2. Real Academia Sueca das Ciências
3. Academia Real das Ciências Sueca
4. Real Academia das Ciências Sueca

PS: Não vale propor traduções imaginativas deste tipo.

10 outubro 2005

Sem jeito

É como um tipo fica com referÊncias destas. Grazi, caro Luís.

Schelling (1) - Estratégia e Armamento

``Schelling showed that a party can strengthen its position by overtly worsening its own options, that the capability to retaliate can be more useful than the ability to resist an attack, and that uncertain retaliation is more credible and more efficient than certain retaliation,'' the academy said.`` These insights have proven to be of great relevance for conflict resolution and efforts to avoid war. [Referido aqui].

Ou seja, que por vezes a melhor defesa é a possibilidade "credível" de um ataque (ou melhor, duma retaliação) devastador(a). E é exactamente por essa ameaça ser "credível" que nunca se chega a realizar, dado que o adversário a tem em conta e prefere não iniciar qualquer hostilidade. Daí o papel que - aparentemente de forma paradoxal - "algum" armamento possa ter para contribuir a paz mundial, por constituir uma forma de prevenção de conflitos (em larga escala) por excelência.
O espectro devastador da bomba atómica é a melhor garantia que ela nunca venha a ser usada. [Lembram-se da França e dos seus testes atómicos?] E que foi, entre outras razões, usada
(ou, talvez melhor, "experimentada") exactamente para provar ao mundo a sua capacidade de destruição em massa. E, desse modo, trazer alguma paz ao mundo.

Mas isto é algo que nunca entrará nas cabecinhas de alguma esquerda, para quem qualquer política de armamento é "imoral". O que atrás foi dito não implica (como o próprio Schelling responderia) que se defenda todo e qualquer armamento, a todo e qualquer preço. Apenas pretende ajudar a compreender o lado "estratégico" por detrás da política de defesa e armamento. O facto da Guerra Fria nunca ter chegado a tornar-se "quente" deriva precisamente da ameaça "dantesca" que caía sobre os dois lados e de nenhum deles desejar o "Inferno" que se seguiria a uma provoação unilateral. Como depois vimos, foi possível uma política de desarmamento gradual dos dois lados.

E essa política demonstra uma coisa simples e muito importante: a "cooperação" é possível, mas... tem que ser bem feita. Muita negociação e, sobretudo, muita "comunicação" entre as partes, para que os acordos sejam baseadas em informação o mais simétrica possível e dessa forma serem mais credíveis. Não se ganha é nada em sermos ingenuamente utópicos ou propositadamente desonestos, e não analisarmos as questões em todas as suas dimensões. E poucas coisas coisas neste mundo terão um lado tão estratégico tão importante como a política de defesa e armamento dum país soberano.

Aumann e Schelling - Nobel da Economia

É difícil descrever a emoção de ver Schelling ganhar o Nobel. Quando o "reinvidiquei" aqui, foi uma declaração a "pedir justica", e não uma "aposta". Acho que só senti um arrepio assim quando há alguns anos (depois de acordar de proposito 'as 6h da manha), vi em directo Benigni ganhar o Óscar com o filme "A vida é bela".

E Robert Aumann, claro, fica muito bem ao lado de Thomas Schelling. Depois duma noite eleitoral emocionante, (mais) um (mais que merecido) Nobel para a "Teoria dos Jogos" é mais que motivo para festejar! Obrigado pela boa surpresa, Manuel!

Last but not least

Acabo de ouvir que Maria José Nogueira Pinto é vereadora. Uma mais que merecida recompensa por uma campanha séria, pela competência e vontade de trabalho que sempre demonstrou.

Momento da noite

Valentim Loureiro, elogia Sócrates, como «grande líder», homem «muito humano», e mostrando-se disposto a dar «o maior apoio possível na cooperação com Gondomar», dizendo tudo e mais alguma coisa sobre Marques Mendes, no que põe "irmão" madeirense num chinelo. Temos réplica do "queijo do Limiano" à vista.

Só para relembrar II (fim de emissão mesmo)

Que se espera que o dr. Soares tenha que responder perante a lei.

Só para relembrar (fim de emissão)

Carrilho não disse - claro - que ia ser vereador pela Câmara. Para quem queria as luzes da ribalta, o trabalho de bastidores não atrai. Sócrates rejubila perante a derrota dos inimigos internos, Carrilho e Sócrates. Como também ele não apresenta grande futuro, o resultado é bem agradável. Faz-me lembrar o conto "O tesouro", de Eça*, em que os três irmãos gananciosos "de Medranhos, lá no reino das Astúrias - Rui, Guanes e Rostabal - que se engalfanharam na mata de Roquelanes", aparentam querer cooperar na procura dum tesouro quando em verdade enganam os outros dois. Sem acharem que os outros fizessem o mesmo**, acabam por morrer todos. Vamos ver quem se apresenta a liderar a expedição para apanhar as moedas deixadas - daqui a 3 anos.

*o autor foi oportunamente corrigido pela minha mãe, via email (orbigado!). Apesar da "moral da história" estar bem presente, julgava erradamente ser um conto de Sophia, e não de Eça.

**precisavam de aprender um bocadinho de Teoria dos Jogos.

Os senhores que se seguem

Esperamos que Cavaco avance. Que a direita deixe de lado algum revanchismo e sobretudo vaidade, e que apoie Cavaco se ele avançar. Uma candidatura de Portas nesta altura não é mais que um acto de pura vaidade. Melhor (para ele e para o partido) seria reservar-se para uma futura candidatura, daqui a 10 anos. Há que aguentar estar algum tempo fora dos holofotes do mediatismo. O CDP-PP teve resultados negativos nestas autárquicas, mas não creio que isso seja demasiado significativo. Fugir para a frente e apresentar um candidato só para dizer que estão vivos é que não. À esquerda, esperemos que Soares não desista para poder ser humilhado, e "arrumado na gaveta", que nem o socialismo.
"Tal filho, tal pai" é o que esperamos poder dizer em Janeiro.

O problema maior é como convencer alguma direita que é "imoral" propor um outro candidato se Cavaco se apresentar a combate.

09 outubro 2005

Sócrates

Discurso morno, sério, de olhos postos no futuro. O PS leva uma "banhada" inesperada e sem grande confiança refoca-se na maioria (impotentemente) absoluta que finge governar o país. Será que o actual governo se aguentará 4 anos?

Que irritação

O Sócrates não ter quem lhe ensine a colocar a voz.

Marques Mendes

Reitera o rumo de «longo-prazo», falando do valor da credibilidade face ao valor de vitórias eleitorais adicionais. Discurso claro, fácil de entender, superado no estilo apenas por Guterres e Portas. Muitos dirão que é um líder a prazo. Mas, mesmo tendo em conta os inúmeros "desvios" e erros que algum do seu discurso tem tido, tem sido um importante bálsamo para um PSD que se estava a afundar em populismo, falta de ideias e sobretudo numa crise de valores. O PSD do futuro tem que ser o PSD da competência e da honestidade política e intelectual. Um PSD que se reconheça na postura dum Miguel Veiga, dum Rui Rio, ou dum Pacheco Pereira.
E, que se não souber ponderar os (necessários) tacticismos que se vivem no seu seio com uma coluna vertebral forte, poderá saltar alguns muros mas a consequente cambalhota será muito dolorosa.

Vitória histórica

Do meu amigo Afonso Pereira da Costa, na Junta de Freguesia de São João, pelo PSD, a suceder à coligação PS-CDU que desta ver não se formou. Sem maioria , resta-lhe encetar uma coligação. Vejam aqui o futuro presidente em pose mais relaxada, sentado ao lado do blogger aqui da casa. Força, trabalho e dedicação, meu caro!

Parabéns, caro amigo!


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A falta de vergonha de Carrilho

Carrliho não tem mesmo traquejo. Tendo lançado a sua candidatura à revelia do PS, cheio de força e «glamour», começa o discurso por agradecer ao secretário-geral do PS, a Jorge Coelho, e a mais 3 ou 4 responsáveis da campanha. Entre partilhar as culpas da derrota e vergar-se perante o aparelho à procura do tacho futuro, Manuel Maria cobre-se de ridículo. Não me lembro de um discurso de derrota não começar por felicitar o vencedor e, mais, demorar vários minutos a fazê-lo. Ainda comenta a frágil esposa, e depois elabora sobre o programa virtuoso da sua campanha. Fala do voto à esquerda que se "desagregou" - como se ele não fosse responsável!

Continua por agradecer, e deseja os "melhores votos" ao adversários. Mas reparem que nem dá os democráticos "parabéns". Não assume a derrota, como diz e muito bem o repórter da TSF. É o discurso de derrota mais vergonhoso que me lembro, mas támbém não surpreende. O pavão leva as suas penas para casa, mas pode estar descansado que os voos altos terminam aqui.

Esqueci-me de mencionar que começou por dizer que tinha sido CONVIDADO por Sócrates - ah! Isto, lembrado na série notável de posts do RMD: I, II, III, IV, V.

Os «parabéns» epidérmicos

Valentim, a perder a voz, «visivelmente emocionado», apela à táctica conhecida de dar os "parabéns aos eleitores". Parabéns? Cada voto é um acto individual. Não há que dar parabéns a ninguém por nada. Muito menos aos eleitores, que individualmente nada decidem. Dá-se os parabéns quando há algum mérito na coisa obtida. Mas isso são peanuts. Viva a emoção politiqueira.

Se for moderno, tudo bem

Armindo Abreu insurge-se contra o populismo «retrógado».

Oportunismos

É assim: quando o «povo» está do nosso lado é "lúcido", quando não está, é "estúpido". Há coisas que nunca mudam.

«Bab@seiras»

Afinal nem as quentes beijocas da «Babá» chegaram para pôr o marido na ribalta. Esperemos que não haja depressão pós-eleitoral injustificada para a ex-namorada de Portugalito cor-de-rosa.

Autárquicas (10)

O discurso de Marques Mendes na última 6ª feira, a encerrar a campanha eleitoral, foi deplorável. A acenar contra o perigo do domínio socialista no país: governo com maioria absoluta, Presidente da República, presidente do Tribunal de Contas e Tribunal Constitucional, presidente da CGD e do Banco de Portugal. Demagogia pura. Governo e Presidente da República são eleitos democraticamente, period. Dos restantes nomeados, é criminoso misturar algumas nomeações mais ou menos escandalosas com outras, como a de Vítor Constâncio, senhoras de track-record de competência irrepreensível e por todos reconhecida.

Bem sei que isto serão as contingências da política. Os meios justificam os fins. E já nem falo da falta de coerência a quem usualmente invoca a herança de Sá-Carneiro, e o célebre
«uma maioria, um governo, um presidente» (ou algo parecido).
A questão para mim é simples: eleições autárquicas não devem interpretações nacionais. Como o «dever» se deve sobrepor ao «interesse», o "não devem" passa a um "não podem". Espero que a vitória seja celebrada sem exageros e demagogias. Carrilho perdeu, Soares perdeu, Assis perdeu. Ainda bem. Mas o ataque ao governo e a Socrátes não deve - não pode, basear-se nisso. Sorry.

Autárquicas (9)

Há muitas coisas que eu não «compreendo» nos Blasfemos, e esta é uma delas. Para mim, o apoio negado de Marques Mendes aos candidatos "fora" ou "no encalce" da lei é muito simples: o líder do PSD tomou a atitude «correcta». A partir daí, os resultos dependem exclusivamente da vontade popular. Ou seja, as vitórias ou derrotas dos «marginais» não devem mudar a interpretação sobre a atitude de MM mas apenas incidir sobre a «vontade popular». As responsabilidades na "crise" que Portugal atravessa incluem (e muito) o glorioso eleitorado. Portanto, não se confundam as coisas. Valentim ganhou? Muito bem. So what? Marques Mendes esteve (estaria sempre), bem, e os populares estiveram mal, ao sancionarem o populismo e afronta ao Estado de direito. Se os blasfemos apreciam isso, pois façam bom proveito.

Autárquicas (8)

«Tudo o que disseram foi mentira» - diz Avelino Ferreira Torres.
Na TSF, o jornalista logo comenta: «temos aqui este cidadão particular (...) a atribuir culpas a todos e mais algum».
Ah, as delícias duma noite eleitoral à portuguesa!

Pausa intimista

Entre as oitocentas calorias (bem ponderadas e alegremente acomodadas) dum gelado de chocolate crocante e um agradável Graham's 1998, vai-se escrevendo e festejando por aqui. Com razoável perigo de «desgramaticalização» à vista. Hang on board.

Autárquicas (7)

Não vi mas ouvi o primeiro discurso de celebração da vitória de Rui Rio, contra ventos, marés, e «Pês-da-Cê». Grande Miguel Veiga.

Autárquicas (6)

Como denominar candidatos que reúnem certas características em comum? O Miguel chama-os de "candidatos-bandidos". Na TSF, acabo de ouvir um jornalista referir-se meio timidamente aos "candidatos menos éticos". Tá-se bem. Não há nada como o incentivo para comunicar curto e grosso.

Autárquicas (5)

Também me irrita profundamente o paternalismo de certos apelos (para não falar das críticas) à abstenção, como refere um leitor no Abrupto. Todas as escolhas são legítimas, mesmo a de "não escolher". A ressalva será que quem se abstém não tem direito a queixar-se dos resultados pelos quais não é responsável, tal como quem vota também não pode deitar a "culpa" das suas tristezas nos que ficaram em casa. Como o povo não é lá muito sereno, podemos liberalmente recomendar: vote com moderação.

Autárquicas (4)

É bom ver o comboio socialista prestes a descarril(h)ar.

Autárquicas (3)

A frase cortada de Soares: «há um empate técnico e espero que se decida a favor do candidato socialista, ou seja, o João Soares».

Soares (pai) diz que «não comenta» a violação da lei eleitoral. Faço votos para que as insurgências para que seja feita justiça não se limitem à blogosfera. Não há inimputáveis, nem o episódio é uma mera "brincadeira". Mais, a derrota de João Soares e em geral do PS não muda em NADA a necessidade de fazer cumprir a lei. O erro está no acto e não nas suas (de resto impossíveis de aferir*) consequências. É bom não esquecer isto, se quisermos acreditar que o estado do nosso «Estado de Direito» não é moribundo.

É que, como refere a notícia no Público, «De acordo com o porta-voz da CNE, esta violação da lei eleitoral é punida com uma pena de prisão até seis meses ou uma multa até 60 dias. Nuno Godinho de Matos acrescentou que "como se trata de um ilícito eleitoral de natureza criminal, é um crime da responsabilidade do Ministério Público, por isso a CNE vai dar conhecimento do caso (ao MP)".» Aguardemos serena e atentamente.

*mas mesmo sendo possíveis de aferir, isso não mudaria nada.

Autárquicas 2005 (2)

Acho algo estranho que no Jornal da Tarde da RTP (único canal a que tenho acesso do estrangeiro) tenha cortado a entrevista a Soares no momento exacto em que ele metia a pata na poça. Falta de atenção do jornalista que editou a peça ou manobra política? O facto é que o repórter que entrevistava Soares lançou a farpa a ver se apanhava alguma «gaffe» - e apanhou mesmo. Mas a peça nem sequer é anunciada como contendo esse momento provocado. O que torna a hipótese de "desatenção" ainda menos provável.

Depois de 2 minutos de conversa, termina assim a peça:
- (RTP) Lisboa e Porto podem ter influência nas presidenciais (...)?
- (Soares) Tudo pode ter influência nas presidenciais, mas são eleições diferentes, portanto, não vale a pena estarmos agora a falar sobre isso. Eu sobre isso falarei convosco extensamente durante os meses que vêm.
- (RTP) Está com expectativas relativamente a Sintra?
- (Soares) Hã??... Sim, claro. Como toda a gente sabe pelas sondagens, está em (pausa), há um empate técnico, espero que se decida (fim abrupto da reportagem).

Ou seja, no momento óbvio em que Soares ia apelar ao voto no filho, cai subitamente o pano. Esperemos que a CNE investigue o que se passou nos bastidores.

Autárquicas (1)

O animal político por glória e aclamação, homem de um faro e garra invejáveis, visionário nas suas leituras políticas, senhor de uma intuição ímpar, veio apelar ao voto no filho. Uma violação óbvia da lei eleitoral já reconhecida pela CNE. O pretenso "homem de estado", que tanto gosta de achar que fala em nome dos portugueses, não resistiu ao toque "familiar". Muito deve ele ter embalado o berço aquando da derrocada do filho em Lisboa! Para ajudar a evitar a ressaca que se adivinha, acaba por dar beber um cocktail bem explosivo - belo paradoxo! Depois da desesperada "queixinha" feita aos jornalistas por estes estarem (segundo ele) a "levar ao colo" Cavaco Silva, brinda-nos com mais esta pérola. Perante isto, acho sinceramente que o comentário coerente e mais respeitoso que podemos fazer à dita criatura é acreditar que o efeito «P(uta)D(a)I(dade)» está vir ao de cima!

08 outubro 2005

Margarida Rebelo Pinto

Confesso que há vários anos quis "descobrir" o que se esconderia por detrás do sucesso enorme de vendas da menina Rebelo Pinto - para além da cara bonita "aterrada" num invejável e apetecível corpo quase anorético -, e pedi dois livros emprestados a uma amiga: «Sei lá» e «Não há coincidências». Uma das coisas que constatei foram as coincidências nos dois livros. Temas, personagens, tiques descritivos, repetições várias, e a tão famigerada coisa que vulgarmente se apelida de "escrita feminina", onde abundam histórias de ("gajas") trintonas que adoram ("comer") homens, os conseguem ver como objectos, vingando a histórica subjugação do seu fraco sexo. Desprezam-nos ao mesmo tempo que admitem às amigas e aos amigos sensíveis (habitualmente "gays") que não conseguem viver sem eles.

É esse o dilema "existencial" deste tipo de literatura. [Nota: isto é uma "conjectura" porque (felizmente!) desconheço demais obras].
E depois há as crises que envolvem o inevitável "relógio biológico":
o marido que ainda não se encontrou, a família por construir, os filhos por parir. Mais, como as vendas se destinam ao Portugal invejoso e sonhador que aposta loucamente no Euromilhões e se endivida para comprar carros e casas de luxo, há o inevitável culto do sucesso, riqueza e "status social" nas personagens mais ou menos ocas que por lá vagueiam. "Amor e uma cabana" é coisa que não vende - claro! Sobretudo quando o público alvo é o universo das mulheres: materialista, competitivo, profundamente misógino. Nada de novo se não nos esquecermos que afinal os genes contam muito e que a biologia explica tanta coisa simples. [Vivam as barbas de Darwin. Vivam, vivam, vivam!]

Eu não fazia ideia nenhuma de escrever este "post", confesso. Mas quando vi esta brilhante análise no Esplanar, não resisti a puxar da memória para falar um bocadinho da Margarida. Ela veste bem, fala com confiança, e transporta aquele ar incomodado contra os homens em geral, sempre pronta a disparar. Invejada por elas, cobiçada por eles, como não gostar de uma mulher assim?

07 outubro 2005

Leitura (auto) sugerida

«(...) O que me causa estranheza é que em Portugal - e malgrado preciosas contribuições que se lêem por aí - simultaneamente se reconheça o poder que as sondagens têm e se esqueça que elas são na sua essência apenas um retrato da realidade; transformando-se em previsões apenas por extensão. Mas para cada paradoxo há quase sempre uma "solução" fácil. E talvez o ignorante e desmesurado interesse que temos pelas sondagens seja uma mera consequência da nacional-cuscovilhice

06 outubro 2005

Tiques socialistas

Parte do discurso do Presidente no 5 de Outubro:

«A moralidade mais elementar, e os sentimentos de justiça, continuarão gravemente dimuinuídos enquanto for possível exibir altos padrões de vida, luxos, e até reprováveis desperdícios, e ao mesmo tempo apresentar declarações fiscais de indigência, e isto anos a fio, na mais completa e alardeada impunidade, para escândalo e vergonha de todos nós cidadãos.»

Eu concordo, no "plano dos princípios", e como medida «extraordinária» e temporária, com a inversão do ónus da prova nos caso de existência de sinais de riqueza suficientemente distantes do que se adivinharia ao ler as declarações fiscais. No plano prático, há que ter em atenção os problemas do nosso sistema judicial, como refere Helena Garrido. Mas o que acho realmente giro no discurso de Sampaio (sobretudo em tão propalada época de «crise de ideologias»), é o eterno e espontâneo paternalismo socialista - eles simplesmente não aceitam a liberdade de escolha dos outros. Serão os "reprováveis desperdícios" dirigidos aos que enchiam piscinas em tempo de incêndios e falta de água? Ou aos lucros "imorais" da banca?

A esquerda portuguesa não tem emenda. Ainda bem. Ainda bem? Ainda mal. Era preciso que houvesse alguma maturidade no discurso e no debate, que não se vislumbra em qualquer dos espectros. [Vejam a BBC, e notem a qualidade, profundida, elevação, e humor do debate político.] A direita também sobre dum mal, que é ser demasiado «contra-esquerda», com pouca capacidade de afirmação própria para além de alguns conservadorismos naturais às suas origens. A insurgência de direita é frequentemente menos argumentativa que personalizada, bastando que os adversários sejam a favor de medida A ou B para que se discordo dela. Demasiada reacção, quando se pediria reflexão. É uma pena, porque acabam uns e outros por ficar bastante enlameados. E de chafurdanços permanentes nunca surgirá muita luz.

05 outubro 2005

Caras & Cartazes

Aconselho a verem este blog depois de cumprida a jorna.

Coincidencias

Nem a propósito do aqui citado "Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão", Eduardo Prado Coelho brinda-nos hoje com um artigo no Público (subscritores aqui e demais lá em baixo) intitulado "A linguagem da economia". Previsivelmente, escreve uma série de banalidades que estão quase sempre carregadas de ignorância, que é causa mas também consequência de muito preconceito pouco recomendável a um epistemólogo.

Exemplos? Três: 1. "A economia é uma ciência que o não chega a ser por inteiro, mas isso leva-nos a ter de aceitar aquilo que parece ser um veredicto unânime"; 2. "E a grande distinção: os que vêem apenas a economia na economia e os que vêem também a necessidade do social"; 3. "Mas há os outros que são insensíveis. Em nome de uma felicidade futura que nunca chega a ser nomeada, sacrificam tudo". [Quero crer que até o meu amigo "econo-céptico" se insurgiria contra esta prosa simplista e deturpadora.] De resto, EPC conclui fazendo publicidade descarada à casa que o acolhe, numa crónica que resulta sem pés nem cabeça, entre o planfetário-revanchista e o publicitário-amiguista.

PS: também eu geralmente ignoro o caderno de Economia do Expresso, tirando algumas colunas de opinião e manchetes. Globalmente, aquilo não tem "Economia" que me interesse muito - o que gosto de ler é, por exemplo, isto, ou isto, muito mais que isto ou isto.